09.10.2022
[Atos 17.22-34] 22Então Paulo se levantou diante do conselho e assim se dirigiu a seus membros: “Homens de Atenas, vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, 23pois, enquanto andava pela cidade, reparei em seus diversos altares. Um deles trazia a seguinte inscrição: ‘Ao Deus Desconhecido’. Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo. 24“Ele é o Deus que fez o mundo e tudo que nele há. Uma vez que é Senhor dos céus e da terra, não habita em templos feitos por homens 25e não é servido por mãos humanas, pois não necessita de coisa alguma. Ele mesmo dá vida e fôlego a tudo, e supre cada necessidade. 26De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo. 27“Seu propósito era que as nações buscassem a Deus e, tateando, talvez viessem a encontrá-lo, embora ele não esteja longe de nenhum de nós. 28Pois nele vivemos, nos movemos e existimos. Como disseram alguns de seus próprios poetas: ‘Somos descendência dele’. 29E, por ser isso verdade, não devemos imaginar Deus como um ídolo de ouro, prata ou pedra, projetado por artesãos. 30“No passado, Deus não levou em conta a ignorância das pessoas acerca dessas coisas, mas agora ele ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. 31Pois ele estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio do homem que ele designou, e mostrou a todos quem é esse homem ao ressuscitá-lo dos mortos”. 32Quando ouviram Paulo falar da ressurreição dos mortos, alguns riram com desprezo. Outros, porém, disseram: “Queremos ouvir mais sobre isso em outra ocasião”. 33Então Paulo se retirou do conselho, 34mas alguns se juntaram a ele e creram. Entre eles estavam Dionísio, membro do conselho, uma mulher chamada Dâmaris, e alguns outros.
Não é apenas duro viver sem Deus no mundo, é degradante. A vida sem Deus, como bem escreveu G. K. Chesterton (1874—1936), faz você acreditar em qualquer coisa e viver de qualquer jeito. Foi isso que estudamos na semana passada. Ouça Chesterton:
Muitas vezes se supõe que quando as pessoas param de acreditar em Deus, elas não acreditam em nada. Infelizmente, é pior do que isso. Quando eles param de acreditar em Deus, eles acreditam em qualquer coisa!
Foi isso o que Paulo viu quando chegou a Atenas. Um bando de gente acreditando em qualquer coisa, idolatrando qualquer coisa, correndo atrás de qualquer novidade e apegando-se ao que fosse mais conveniente. Talvez seja esse o seu caso. Se for, você precisa ouvir o sermão que chocou os atenienses.
Paul Washer, dissemos na semana passada, ficou conhecido no Brasil pela sua “pregação chocante”. Só que bem antes dele, Paulo, em Atenas, pregou um sermão que chocou os atenienses. E era necessário! — O que Paulo pregou? Como ele pregou? O que se aprende do sermão chocante de Paulo em Atenas? Quais foram os resultados?
Paulo foi conduzido a pregar
Atos 17.16-21 16Enquanto Paulo esperava por eles [Silas e Timóteo] em Atenas, [o que Paulo sentiu:] ficou muito indignado [o que Paulo viu:] ao ver ídolos por toda a cidade. 17[o que Paulo fez:] Por isso, ia à sinagoga debater com os judeus e com os gentios tementes a Deus e falava diariamente na praça pública a todos que ali estavam. 18Paulo também debateu com alguns dos filósofos epicureus e estoicos. Quando lhes falou de Jesus e da ressurreição, eles perguntaram: “O que esse tagarela está querendo dizer?”. Outros disseram: “Parece estar falando de deuses estrangeiros”. 19Então levaram Paulo ao conselho da cidade [ao Areópago] e disseram: “Pode nos dizer que novo ensino é esse? 20Você diz coisas um tanto estranhas, e queremos saber o que significam”. 21(Convém explicar que os atenienses, bem como os estrangeiros que viviam em Atenas, pareciam não fazer outra coisa senão discutir as últimas novidades.)
Paulo estabeleceu contato na pregação
Atos 17.22-23 22Então Paulo se levantou diante do conselho e assim se dirigiu a seus membros: “Homens de Atenas, vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, 23pois, enquanto andava pela cidade, reparei em seus diversos altares. Um deles trazia a seguinte inscrição: ‘Ao Deus Desconhecido’. Esse Deus que vocês adoram sem conhecer é exatamente aquele de que lhes falo.
Paulo comunicou sua mensagem
D. A. Carson, uma sumidade em estudos do Novo Testamento, escreveu que os discursos que eram realizados no Areópago de Atenas tinham fama de serem bastante longos, de duas a três horas de duração. Sendo esse o caso, é provável que cada cláusula que Lucas registra a seguir seja apenas parte do esboço de Paulo. Se lermos as cartas de Paulo, no entanto, obteremos uma boa pista de como o apóstolo teria preenchido cada ponto de seu sermão lá em Atenas.
Essencialmente, o que se lê a seguir é a apresentação que Paulo fez da cosmovisão cristã aos atenienses. Ele colocou o evangelho na história maior da Bíblia, sustentando a razoabilidade da fé, a exclusividade da fé e a necessidade de arrependimento e fé no Salvador Jesus Cristo. PAULO COMEÇOU COM DEUS:
Deus é o criador de todas as coisas,
portanto, não pode ser domesticado pelos seus adoradores
Atos 17.24 Ele é o Deus que fez o mundo e tudo que nele há. Uma vez que é Senhor dos céus e da terra, não habita em templos feitos por homens
Deus é o sustentador da vida,
portanto, não tem qualquer necessidade a ser atendia pelos seus adoradores
Atos 17.25 e não é servido por mãos humanas, pois não necessita de coisa alguma. Ele mesmo dá vida e fôlego a tudo, e supre cada necessidade.
Deus é o soberano das nações,
portanto, não está a história entregue ao acaso, à capitania dos homens
Atos 17.26 De um só homem ele criou todas as nações da terra, tendo decidido de antemão onde se estabeleceriam e por quanto tempo.
Deus é o revelador de si mesmo,
portanto, não está inacessível aos que o querem encontrar
Atos 17.27 Seu propósito era que as nações buscassem a Deus e, tateando, talvez viessem a encontrá-lo, embora ele não esteja longe de nenhum de nós.
Em contraste com os ensinamentos dos epicuristas, que viam os deuses como distantes e não envolvidos nos assuntos diários, Paulo ensina que o propósito de Deus ao criar a raça humana era que se “buscassem a Deus”; Deus deseja amorosamente que as pessoas encontrem seu Criador.
A linguagem de Paulo, porém, também sugere a doutrina do pecado. A imagem que o apóstolo utiliza é a de pessoas cegas tateando atrás de Deus. James M. Boice argumentou que o verbo grego usada aqui para “tatear” é o mesmo que o poeta grego Homero usou na conhecida história do Ciclope. O gigante caolho capturou Ulisses e seus homens, mas Ulisses (ou Odisseu) embebedou o Ciclope e o cegou com uma estaca afiada. Embora Ulisses quisesse sair da caverna e encontrar seus homens, isso era difícil porque o Ciclope estava “tateando” para encontrar e matar o herói. — Portanto, ao usar esse verbo grego, é como se o apóstolo Paulo estivesse dizendo: Em nosso pecado, somos tão cegos quanto o Ciclope que foi cegado por Ulisses. A estaca afiada do pecado cegou nossos olhos. Sabemos instintivamente que Deus está lá em algum lugar, mas por causa dos efeitos ofuscantes do pecado, precisamos da graça divina para nos dar novos olhos espirituais capazes encontrá-lo. De fato, Deus não está distante e não está desinteressado ou desengajado da humanidade. Ele está perto de nós, mas precisamos da obra do Espírito para encontrá-lo. Deus se revelou a nós em Jesus Cristo. Portanto, Deus é o revelador de si mesmo, e não está inacessível aos que o querem achar.
Deus é o nosso genitor, portanto, não pode ser talhado em imagem de escultura de ouro ou prata ou qualquer outra coisa da natureza
Atos 17.28-29 28Pois nele vivemos, nos movemos e existimos. Como disseram alguns de seus próprios poetas: ‘Somos descendência dele’. 29E, por ser isso verdade, não devemos imaginar Deus como um ídolo de ouro, prata ou pedra, projetado por artesãos.
Portanto, como escreveu John Stott, porque somos descendência de Deus, nosso ser dele deriva e dele depende, então é absurdo pensar em Deus como ouro, prata ou pedra – esses ídolos criados de elementos inanimados não têm vida em si mesmos, a materialização deles se deve à imaginação e à arte dos homens. Então Paulo, sabiamente, cita seus próprios poetas – pagãos! – Epimênides de Creta e Aratus, um poeta estóico – para expor a inconsistência daqueles adoradores idólatras.
Deus é o juiz da terra,
portanto, não ficará sem julgar o pecador
Atos 17.30-31 30“No passado, Deus não levou em conta a ignorância das pessoas acerca dessas coisas, mas agora ele ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. 31Pois ele estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio do homem que ele designou, e mostrou a todos quem é esse homem ao ressuscitá-lo dos mortos”.
Paulo concluiu seu sermão voltando ao ponto de contato inicial: a ignorância dos atenienses sobre o conhecimento de Deus. Eles próprios reconheceram (em sua inscrição no altar) que são ignorantes de Deus, e Paulo (em seu sermão) realmente deu evidências dessa ignorância por parte dos atenienses. Só que agora o apóstolo declara que tal ignorância é culpável. Pois, como falou lá em Listra, Deus nunca “se deixou sem testemunho” (At 14.17). Pelo contrário, Deus se revelou através da criação, mas os seres humanos “por sua maldade impedem que a verdade seja conhecida” (Rm 1.18).
Quando Paulo disse que, no passado, Deus não levou em conta a ignorância, ele não estava dizendo que Deus não tinha notado ou não tinha se importado com a ignorância a respeito de Deus e a idolatria dos atenienses, tampouco que tinha concordado ou tratado como desculpável o pecado, mas que em sua tão paciente misericórdia, Deus não impôs sobre eles o julgamento que mereciam (Rm 3.25). Só que agora Deus ordenava que todas as pessoas em todos os lugares se arrependessem. Por quê? Por causa da certeza do juízo vindouro, o qual será: universal, justo e em dia marcado:
Atos 17.30-31 30“No passado, Deus não levou em conta a ignorância das pessoas acerca dessas coisas, mas agora ele ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. 31Pois ele estabeleceu um dia para julgar o mundo com justiça, por meio do homem que ele designou, e mostrou a todos quem é esse homem [Deus!] ao ressuscitá-lo dos mortos”.
RECAPITULANDO: O que Paulo pregou sobre Deus?
EM RESUMO, Paulo destruiu a idolatria. — Por quê? Qual é o real problema da idolatria? — Deixemos John Stott nos responder:
Esses argumentos são poderosos. Toda idolatria é indesculpável, seja antiga ou moderna, primitiva ou sofisticada, sejam suas imagens mentais ou feitas de metal, objetos de culto palpáveis ou conceitos abstratos desprezíveis. Pois a idolatria é a tentativa de [1.] confinar a Deus, limitando-o a um espaço imposto por nós, quando Deus é o Criador do universo; ou de [2.] domesticá-lo, tornando-o nosso dependente, domando-o e mimando-o, quando ele é o Mantenedor da vida humana; ou de [3.] aliená-lo, culpando-o por sua distância e seu silêncio, quando ele é o Governador das nações e não está longe de nós; ou de [4.] destroná-lo, reduzindo-o a uma imagem concebida ou feita por nós mesmos, quando ele é o Pai de quem recebemos nossa existência. Em suma, toda idolatria é uma tentativa de minimizar o abismo entre o Criador e suas criaturas, para colocá-lo sob nosso controle. E mais do que isso, ela inverte as posições entre Deus e nós, de modo que, em vez de reconhecermos humildemente que Deus nos criou e nos governa, temos a ousadia de imaginar que podemos criar e governar Deus. Não existe lógica na idolatria; ela é uma expressão perversa e confusa da nossa rebelião contra Deus. [Por isso Deus julgará o mundo.]
Será que há idolatria hoje, ou esse pecado é coisa apenas de Atenas no passado? John Stott, mais uma vez, é brilhante ao responder:
Os ídolos não estão limitados às sociedades primitivas; existem muitos ídolos sofisticados. Um ídolo é um substituto de Deus; qualquer pessoa ou coisa que ocupe o lugar que Deus deveria ocupar. A ganância é idolatria. As ideologias podem ser idolatrias. Assim como a fama, a riqueza e o poder, o sexo, a comida, o álcool e outras drogas, os pais, a esposa, os filhos e os amigos, o trabalho, o lazer, a televisão [as mídias sociais] e as propriedades, até a igreja, a religião e o culto cristão.
Paulo detonou a idolatria de Atenas, apresentando o Deus que se revela na Bíblia.
Paulo colheu seus frutos
A pregação chocante de Paulo em Atenas lhe rendeu frutos – TRÊS TIPOS DE FRUTOS: desprezo por parte de alguns (At 17.32), descaso por parte de outros (At 17.32), mas também decisão de seguir a Cristo por parte de alguns outros (At 17.34):
Atos 17.32-34 32Quando ouviram Paulo falar da ressurreição dos mortos, alguns riram com desprezo. Outros, porém, disseram: “Queremos ouvir mais sobre isso em outra ocasião”. 33Então Paulo se retirou do conselho, 34mas alguns se juntaram a ele e creram. Entre eles estavam Dionísio, membro do conselho, uma mulher chamada Dâmaris, e alguns outros.
Paulo não deixou uma igreja organizada em Atenas (é verdade!), mas certamente que deixou o embrião do que em pouco tempo poderia ser a igreja naquela cidade. Como ele mesmo escreveu aos coríntios: uns plantam, outros regam, outros colhem, mas Deus é quem faz crescer a semente do evangelho de Cristo (cf. 1Co 3).
O que se pode aprender do sermão de Paulo em Atenas?
Você crê em Cristo? Sua vida espelha a vida de Cristo? Ou você vive como quem não tem Deus e Cristo no mundo, como quem não conhece Deus e Jesus?
S.D.G. L.B.Peixoto
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