27.11.2016
ORGANIZAÇÃO ESPIRITUAL
Atos 6.1-7
1 Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. 2 Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. 3 Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa 4 e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”. 5 Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. 6 Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos. 7 Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé.
Iceberg
“Algumas igrejas são como icebergues”, afirmou Charles R. Swindoll. Icebergue é uma grande massa de gelo flutuante que se desprendeu da geleira, e que flutua sem rumo nos mares ou, às vezes, encalha junto à costa. A parte imersa é, em média, sete vezes mais alta que a emersa.
Por que algumas igrejas são como icebergues?
Primeiro, porque são grandes. Certamente era grande a igreja primitiva reunida em Jerusalém. A última contagem, em Atos 4.4, revela que só o numero de homens chegava “perto de cinco mil”. Juntando mulheres e crianças congregadas, John MacArthur Jr. contabiliza 20 mil pessoas.
Segundo, porque icebergues, ao se romperem da geleira, flutuam na direção da maré. Vão aonde o vento toca. A igreja primitiva estava a ponto de se desprender do essencial, daquilo que ancora e sustenta (palavra de Deus e oração – At 6.2-4) para flutuar sem rumo nos mares dos interesses pessoais. O crescimento exponencial estava quase desviando a igreja do curso.
Terceiro, algumas igrejas são como icebergues porque a maior parte do que elas realmente são não pode ser vista, pois está submersa em águas profundas. O que se enxerga é apenas a ponta do icebergue e os detritos que aquela massa poderosa acumula e arrasta consigo.
Em Atos 6.1-7 nós podemos ver sinais perturbadores de que aquela igreja tão jovem já tinha acumulado detritos de ciúme, desconfiança e preconceito. A lua-de-mel havia acabado. Não era mais só flores. Apareceram espinhos Os problemas começaram a vir à tona. Na medida em que novas pessoas chegavam e se juntavam a eles, elas somavam aos deles os pecados que traziam.
Quanto mais gente, mais problema. Assim é que se aqueles detritos não fossem descartados com urgência, muito em breve a igreja se partiria ao meio. Eles precisavam se organizar, precisavam de organização espiritual.
Atenção!
Igrejas, na medida em que crescem e os anos vão passando, precisam se atentar para alguns perigos que rondam toda e qualquer organização eclesiástica. Vejamos quatro desses perigos antes de examinarmos a solução que a igreja de Jerusalém adotou.
Perda do propósito. Reuniões, negócios, decisões e as pressões das necessidades diversas tendem fazer a igreja perder o seu propósito. Prédio e programas tomam o lugar das pessoas. A treliça se sobrepõe à videira.
Desperdício de energia. Quanto maior a igreja tanto maior as demandas. Resultado: as prioridades vão sendo deixadas de lado (Palavra, oração, relacionamentos, discipulado), pois há incêndios hoje, aqui e agora, que precisam ser apagados. Então, a igreja começa a desperdiçar energia com coisas urgentes e deixa de lado as coisas importantes ou essenciais.
Terceirização do ministério. Muita gente, muita coisa e poucos para trabalhar. O que fazer? A igreja começa a contratar pessoas para fazer o serviço, para tocar o ministério. Os membros tornam-se expectadores, sócios remidos que veem, usufruem e vão embora. Quem é pago para fazer o trabalho que se vire e quem “paga” pelo serviço exige controle de qualidade.
Indiferença com o outro. É muito fácil se acomodar na tradição e se perder na multidão. Quem está há muito tempo na igreja não quer perder “direitos adquiridos” e quem chega não consegue se encaixar. Resultado: saem e procuram outro lugar ou ficam e brigam para fazer prevalecer a sua vontade ou aprendem a conviver sem se importar.
Quais são os riscos que corremos? Perda do propósito, desperdício de energia, terceirização do ministério e indiferença com o outro. No caso da igreja primitiva foi o último perigo que precisou ser combatido; eles precisaram se organizar para combater a indiferença com o outro: as viúvas de fala gregas.
Organização espiritual
Quando se fala em organização, as igrejas, geralmente, caem em um de dois extremos. Algumas, não se organizam e desprezam estruturas, pois entendem que devem seguir o Espírito Santo. Já outra, organizam-se e se estruturam de tal forma que mais se parecem com uma corporação comercial do que com o corpo de Cristo. Ambos os extremos devem ser evitados, evidentemente.
Nesse ponto, a reação da igreja de Jerusalém ao problema nos apresenta uma forma equilibrada de construirmos uma organização espiritual. John MacArthur Jr., em seu comentário no livro de Atos, escrevendo sobre esta passagem, anotou assim:
O crescimento explosivo da igreja trouxe consigo necessidade de maior organização. Ela já era, de alguma forma, organizada. Sabiam quantos eram, reuniam-se em locais específicos, celebravam batismos e a ceia do Senhor, supriam as necessidades uns dos outros… Todas aquelas atividades requeriam algum tipo de organização. Isso ilustra um princípio importante: organização bíblica da igreja sempre responde às necessidade e ao que o Espírito já está fazendo. Organizar um programa e, então, esperar que o Espírito Santo se envolva naquilo é colocar o carro na frente dos bois. Não ousemos forçar o Espírito a se adaptar ao nosso molde. A organização nunca é um fim em si mesma, mas apenas um meio de facilitar o que o Senhor está fazendo em sua igreja.
A organização espiritual dos apóstolos revela quatro princípios de sábia liderança e atuação da igreja, bem como o resultado que sempre se espera no meio e através de povo de Deus. Observe.
Encarando o problema
At 6.1 | Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica [murmuravam contra os apóstolos], porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento.
Definindo a prioridade
At 6.2-4 | 2 Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: “Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. 3 […] Passaremos a eles essa tarefa 4 e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra”.
Selecionando as pessoas
At 6.3-6 | 3 Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria [espirituais e práticos]. […] 5 Tal proposta agradou a todos. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, além de Filipe, Prócoro, Nicanor, Timom, Pármenas e Nicolau, um convertido ao judaísmo, proveniente de Antioquia. 6 Apresentaram esses homens aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as mãos.
Executando o plano
At 6.7 | Assim, a palavra de Deus se espalhava. Crescia rapidamente o número de discípulos em Jerusalém; também um grande número de sacerdotes obedecia à fé.
Princípios de valor atemporal
O que teria ocorrido se os apóstolos não tivessem sabiamente conduzido a igreja através daquele momento turbulento? Os cristãos gregos poderiam ter dividido a igreja; os apóstolos poderiam ter abandonado a prioridade da palavra de Deus e da oração (deixado o importante para cuidar do urgente); enfim, o movimento inicial da Grande Comissão teria se enfraquecido e a chama se apagado.
Graças a Deus, porém, o oposto ocorreu, a chama ardeu ainda mais forte e o evangelho chegou aos confins da terra. Desse episódio, portanto, podemos aprender lições valiosas que poderão nos ajudar quando formos confrontados com problemas em nossa igreja.
Boa liderança não nos exime de problemas. Imagine uma igreja pastoreada pelos doze apóstolos. Mesmo assim aquela igreja enfrentaria dificuldades. Somos todos pecadores.
Crescimento explosivo não desculpa a falta de cuidado com as pessoas. Gente capacitada deve exercer seus dons e servir outras pessoas. Fomos salvos para servir.
Necessidades urgentes não requerem que se perca o que é prioritário. Capacitando e delegando, pastores não devem se sobrecarregar e negligenciar a Palavra e a oração.
Igreja grande não precisa ser fria e indiferente. Através de uma estratégia bíblica e inteligente, os Relacionamentos Discipuladores e os Pequenos Grupos Multiplicadores poderão criar uma atmosfera de fé, de esperança e de amor.
Organização espiritual
A organização espiritual que transforma a igreja na potência explosiva que foi a igreja primitiva requer membros com mentalidade totalmente diferente da que estamos acostumados a cultivar.
Pregação e ensino que sejam bíblicos, não do tipo especulativo, filosófico, psicológico, entretenimento ou autoajuda.
Atividades que enfatizem pessoas, não programas; que sejam realizadas com base nos dons espirituais e não no calendário eclesiástico.
Pessoas que vivam para Deus e para o próximo, não para si mesmas, seus desejos e suas realizações pessoais.
Igreja com membros que pensem no todo, não no seu grupo de interesse.
Fundamentada nesses princípios, organizada dessa maneira e cultivando uma mentalidade dessa natureza, a igreja primitiva cresceu para alcançar Jerusalém, Judeia, Samaria e chegar aos confins da terra. Deus abençoa a nossa igreja.
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