17.07.2022
[Atos 17.1-9] 1Então Paulo e Silas passaram pelas cidades de Anfípolis e Apolônia e chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga judaica. 2Como era seu costume, Paulo foi à sinagoga e, durante três sábados seguidos, discutiu as Escrituras com o povo. 3Explicou as profecias e provou que era necessário o Cristo sofrer e ressuscitar dos mortos. “Esse Jesus de que lhes falo é o Cristo”, disse ele. 4Alguns dos judeus que o ouviam foram convencidos e se uniram a Paulo e Silas, bem como muitos gregos tementes a Deus e várias mulheres de alta posição. 5Alguns judeus, porém, ficaram com inveja, reuniram alguns desordeiros e desocupados e, com a multidão, começaram um tumulto. Invadiram a casa de Jasom em busca de Paulo e Silas para entregá-los ao conselho da cidade, 6mas, como não os encontraram, arrastaram para fora Jasom e alguns outros irmãos e os levaram diante do conselho. Gritavam: “Aqueles que têm causado transtornos no mundo todo agora estão aqui, perturbando nossa cidade, 7e Jasom os recebeu em sua casa! São todos culpados de traição contra César, pois afirmam que existe um outro rei, um tal de Jesus”. 8Ao ouvir isso, o povo da cidade e o conselho se agitaram. 9Então os oficiais obrigaram Jasom e os outros irmãos a pagarem fiança, e depois os soltaram.
O evangelho da cruz de Cristo perturba o mundo secularizado (vs. 5-9). Lógico! Afinal, – no coração deles – não dá para viver como se Deus existisse. Se Deus existe, se a realidade espiritual é de verdade, se o Filho eterno de Deus é pra valer, tudo e todos deverão se submeter ao Criador e ao Redentor – à sua palavra e ao seu padrão sagrados. E aí? Ora, é mais fácil decidir viver como se Deus não fosse relevante. De fato, ESTE É O PROBLEMA DO SECULARISMO: Jesus não é ou não pode ser soberano sobre nada nem ninguém, sob pena de se destruir a sociedade ou seus “avanços”.
Pois bem, em um mundo no qual não se aceita o Criador Deus e o Rei Jesus, senão César, senão o prazer, o dinheiro, o sexo, o poder ou qualquer ídolo que atenda aos interesses pessoais, em uma cultura assim, onde a mensagem da cruz não passa de perturbação e de ameaça à “civilidade”, de que modo a palavra de Deus prosperará?
Começamos a ver – na semana passada – que há no ministério de Paulo em Tessalônica um padrão que caracterizava sua obra missionária e que poderá nos servir de modelo para o ministério da Palavra em qualquer época, lugar ou cultura.
O PADRÃO A SER OBSERVADO É O SEGUINTE:
[1.] a estratégia do ministério da Palavra (vs. 1-2);
[2.] o exercício do ministério da Palavra (vs. 2-3); e
[3.] a expectativa que se deve cultivar no ministério da Palavra (vs. 4-9).
Ficará claro que em face do secularismo ou de quaisquer outros “ismos” perseguidores ou perversores do cristianismo, o ministério da Palavra se mantém como está modelado por Paulo: jamais se muda a estratégia do ministério da Palavra, tampouco o exercício do ministério da Palavra nem a expectativa que se deve cultivar no ministério da Palavra.
O que vimos na semana passada:
Atos 17.1-2 1Então [depois de partirem de Filipos] Paulo e Silas passaram pelas cidades de Anfípolis e Apolônia e chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga judaica. 2Como era seu costume, Paulo foi à sinagoga […]
Na última mensagem, destacamos três elementos na estratégia de Paulo no exercício do ministério da Palavra em Tessalônica, e um mais amplo extraído de outros contextos de Atos dos Apóstolos:
Aprende-se da estratégia de Paulo que ele não somente evangelizava, como também ensinava e doutrinava (direta ou indiretamente) as igrejas recém-estabelecidas. O apóstolo discipulava, visando a maturidade cristã de seus membros – visando a formação de liderança para que os crentes fossem aperfeiçoados, desempenhassem seu ministério e assim edificassem a igreja em amor.
Atos 17.2-3 2Como era seu costume, Paulo foi à sinagoga [em Tessalônica] e, durante três sábados seguidos, discutiu as Escrituras com o povo. 3Explicou as profecias e provou que era necessário o Cristo sofrer e ressuscitar dos mortos. “Esse Jesus de que lhes falo é o Cristo”, disse ele.
Os versículos 2 e 3 do nosso texto resumem as atividades do ministério da Palavra exercido por Paulo em Tessalônica. Eles nos ajudam a compreender [1.] a base, [2.] o método e [3.] o conteúdo de sua pregação.
A BASE DA PREGAÇÃO do apóstolo Paulo era a Bíblia Sagrada: “as Escrituras” (v. 2). Sua mensagem, portanto, brotava das Escrituras – à sua época, o Antigo Testamento, composto dos mesmos livros que compõem o cânon protestante atual (embora agrupados e contados de maneira diferente do nosso; Lc 11.49-52). A expressão (no versículo 2) “as Escrituras” (na NVT) ou “acerca das Escrituras” (na ARA) traz a formação grega melhor traduzida por “a partir das Escrituras”. Isto é, a fonte, a base ou o fundamento da argumentação de Paulo era a palavra de Deus. Não era outra coisa ou ideia, mas a Bíblia.
O MÉTODO DA PREGAÇÃO do apóstolo para anunciar o evangelho de Deus é descrito em quatro verbos que Lucas utiliza nos versículos 2 e 3: “discutir” (ou arrazoar), “explicar” (ou expor), “provar” (ou demonstrar) e “falar” (ou anunciar). — Ouça, mais uma vez (vs. 2-3): “Como era seu costume, Paulo foi à sinagoga [em Tessalônica] e, durante três sábados seguidos, discutiu as Escrituras com o povo. Explicou as profecias e provou que era necessário o Cristo sofrer e ressuscitar dos mortos. ‘Esse Jesus de que lhes falo é o Cristo’, disse ele.” — TROCANDO EM MIÚDOS: o método de Paulo consistia em defender uma ideia à partir do texto bíblico; ele abria o texto, interpretava o texto e aplicava o texto; essa era sua proclamação; envolvia fidelidade bíblica, competência interpretativa, sensibilidade cultural para aplicação, didática, apologética e habilidade de comunicação. Paulo, portanto, presava pela lógica, dialética, gramática, retórica e oratória.
O CONTEÚDO DA PREGAÇÃO do apóstolo era Cristo. Versículo 3: “Explicou as profecias e provou que era necessário o Cristo sofrer e ressuscitar dos mortos. ‘Esse Jesus de que lhes falo é o Cristo’, disse ele.” — O apóstolo começa argumentando que, à luz das Escrituras, o Messias prometido a Israel precisava sofrer e ressuscitar vitorioso dentre os mortos. Contrariando as expectativas judaicas de um Messias político-militar conquistador, que libertaria o povo de Israel da dominação romana e restabeleceria a glória do reinado de Davi, Paulo demonstra, a partir das Escrituras, que o Cristo deveria sofrer, morrer e triunfar sobre a morte.
Certamente, [1.] o apóstolo dissertou mais pormenorizadamente sobre o tema, explicando o caráter expiatório da obra de Jesus, o qual se ofereceu como Cordeiro pascal, para redimir o seu povo do poder e da culpa do pecado. [2.] Ele deve ter argumentado também que a ressurreição do Messias significava não somente o seu triunfo sobre o pecado, Satanás e a morte, mas também a aprovação divina, o testemunho do SENHOR sobre a sua identidade e natureza. O fato de que a morte não pôde retê-lo foi uma evidência concreta da declaração de Deus, por ocasião do batismo de Jesus e no monte da transfiguração: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17 e 17.5, ARA), e garantia da ressurreição dos mortos em Cristo (1Co 15). Dessa maneira, Paulo conclui que Jesus é o Messias prometido, o Salvador do seu povo.
João Calvino comenta o teor da pregação de Paulo em Tessalônica, dizendo:
Este é o sumário da nossa fé: que saibamos que o Filho de Maria é aquele Cristo e Mediador que Deus prometeu desde o princípio; isso feito, que saibamos e entendamos porque ele morreu e ressuscitou; a fim de que não nos confiemos a nenhum rei terreno, mas busquemos justificação nele, bem como toda a nossa salvação.
A base da pregação de Paulo era a Bíblia, o método da pregação de Paulo era expositivo – ele expunha a Bíblia (texto bíblico, ideia central, explicação e aplicação) e o conteúdo da pregação de Paulo era Cristo.
Analisamos a estratégia e o método do ministério de Paulo; vimos a estratégia para o exercício do ministério da Palavra e o exercício em si do ministério da Palavra. Tudo isso no contexto de uma cultura “secularizada”, igualzinha à nossa. Portanto, o que se esperar? Qual expectativa se deve cultivar no exercício do ministério da Palavra?
POR UM LADO, HOUVE RECEPTIVIDADE E FRUTOS:
Atos 17.4 Alguns dos judeus que o ouviam foram convencidos e se uniram a Paulo e Silas, bem como muitos gregos tementes a Deus e várias mulheres de alta posição.
Essas pessoas foram regeneradas pelo Espírito Santo, foram levadas a crer em Cristo, abraçaram o evangelho da glória e da graça de Deus, dando início à igreja cristã na capital da província romana da Macedônia: Tessalônica. Pela leitura das cartas de Paulo aos tessalonicenses, descobrimos que Paulo – à médio prazo – obteve êxito naquela cidade:
1Tessalonicenses 1.4-10 4Sabemos, irmãos, que Deus os ama e os escolheu. 5Pois, quando lhes apresentamos as boas-novas, não o fizemos apenas com palavras, mas também com poder, visto que o Espírito Santo lhes deu plena certeza de que era verdade o que lhes dizíamos. E vocês sabem como nos comportamos entre vocês e em seu favor. 6Assim, apesar do sofrimento que isso lhes trouxe, vocês receberam a mensagem com a alegria que vem do Espírito Santo e se tornaram imitadores nossos e do Senhor. 7Com isso, tornaram-se exemplo para todos os irmãos na Grécia, tanto na Macedônia como na Acaia. 8Agora, partindo de vocês, a palavra do Senhor tem se espalhado por toda parte, até mesmo além da Macedônia e da Acaia, pois sua fé em Deus se tornou conhecida em todo lugar. Não precisamos sequer mencioná-la, 9pois as pessoas têm comentado sobre como vocês nos acolheram e como deixaram os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro. 10Também comentam como vocês esperam do céu a vinda de Jesus, o Filho de Deus, a quem ele ressuscitou dos mortos e que nos livrará da ira que está para vir.
1Tessalonicenses 2.13 Portanto, nunca deixamos de agradecer a Deus, pois, quando vocês receberam de nós a mensagem dele, não consideraram nossas palavras meras ideias humanas, mas as aceitaram como palavra de Deus, o que sem dúvida são. E essa mensagem continua a atuar em vocês, os que creem.
2Tessalonicenses 1.3-4 3Irmãos, não podemos deixar de dar graças a Deus por vocês, pois sua fé tem se desenvolvido cada vez mais, e seu amor uns pelos outros tem crescido. 4Por isso nos orgulhamos de falar às outras igrejas de Deus sobre sua perseverança e fidelidade em todas as perseguições e aflições que vocês têm sofrido.
POR OUTRO LADO, HOUVE OPOSIÇÃO E PERSEGUIÇÃO:
Atos 17.5-9 5Alguns judeus, porém, ficaram com inveja, reuniram alguns desordeiros e desocupados e, com a multidão, começaram um tumulto. Invadiram a casa de Jasom em busca de Paulo e Silas para entregá-los ao conselho da cidade, 6mas, como não os encontraram, arrastaram para fora Jasom e alguns outros irmãos e os levaram diante do conselho. Gritavam: “Aqueles que têm causado transtornos no mundo todo agora estão aqui, perturbando nossa cidade, 7e Jasom os recebeu em sua casa! São todos culpados de traição contra César, pois afirmam que existe um outro rei, um tal de Jesus”. 8Ao ouvir isso, o povo da cidade e o conselho se agitaram. 9Então os oficiais obrigaram Jasom e os outros irmãos a pagarem fiança, e depois os soltaram.
É verdade que PAULO PREGAVA O REINO DE CRISTO, que Jesus era o descendente prometido de Davi, e que ele retornaria em glória real para estabelecer o seu reino eterno universal. Entretanto, O APÓSTOLO NÃO PROMOVIA NENHUMA REVOLTA CONTRA O IMPÉRIO ROMANO, pelo contrário (cf. Rm 13.1-7).
O reino de Cristo é de natureza espiritual, e a pregação de Paulo em Tessalônica parece ter enfatizado o seu aspecto futuro, a julgar pela ênfase escatológica das suas cartas a essa igreja. Apesar disso, a mensagem do evangelho, embora pacífica, produz realmente uma profunda transformação social e política onde prospera, perturbando o status quo social corrompido pelo pecado. EM CERTO SENTIDO, PORTANTO, “a acusação de que os missionários estão transtornando o mundo inteiro é correta. O fato é que o evangelho transtorna, penetra e altera a sociedade em toda parte do mundo”, escreveu Kistemaker.
O evangelho de Jesus Cristo sempre perturbará o mundo secularizado, podendo desencadear oposição e até perseguição. Por outro lado, há de se esperar que todos quantos forem dados pelo Pai ao Filho, quando ouvirem a voz do SENHOR ecoando do evangelho, chamando (pelo Espírito) o pecador ao arrependimento e à fé, iluminando a glória de Deus na face de Cristo, esses seguirão e se submeterão ao Rei Jesus; o abraçarão como Sacerdote e buscarão aprender dele como Profeta. Nossa pregação nunca será em vão.
O mundo muda a cada instante, e muda para pior, fica cada vez mais secularizado; mas a nossa estratégia continua a mesma, ela não muda: ir fazer discípulos; nosso exercício do ministério da Palavra continua o mesmo: pregar a palavra de Deus, todo o conselho de Deus revelado na Escritura o qual se cumpre na vida e obra de nosso Profeta, Sacerdote e Rei Jesus Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto