01.09.2024
Atos 25.23–26.32 (NVT)
Paulo se dirige a Agripa
[Atos 26.24-32] 24De repente [no meio da apologia de Paulo perante Agripa], Festo gritou: “Paulo, você está louco! O excesso de estudo o fez perder o juízo!”.
25Mas Paulo respondeu: “Não estou louco, excelentíssimo Festo. Digo a mais sensata verdade, 26e o rei Agripa sabe dessas coisas. Expresso-me com ousadia porque tenho certeza de que esses acontecimentos são todos de conhecimento dele, pois não se passaram em algum canto escondido. 27Rei Agripa, o senhor crê nos profetas? Eu sei que sim”.
28Então Agripa o interrompeu: “Você acredita que pode me convencer [persuadir] a tornar-me cristão em tão pouco tempo?”.
29Paulo respondeu: “Em pouco ou em muito tempo, peço a Deus que tanto o senhor como os demais aqui presentes se tornem como eu, exceto por estas correntes”.
30Então o rei, o governador, Berenice e todos os outros se levantaram e se retiraram. 31Enquanto saíam, conversavam entre si e concordaram: “Esse homem não fez nada que mereça morte ou prisão”.
32E Agripa disse a Festo: “Ele poderia ser posto em liberdade se não tivesse apelado a César”.
QUASE! Pense na emoção contida no advérbio “quase”. Imagine: faltam cinco segundos para o fim da partida de basquete, o time da casa está perdendo por um ponto, e o jogador favorito da torcida, o melhor da equipe, está com a bola. Rapidamente, o atleta se posiciona, salta e arremessa! A bola sobe em direção à cesta, bate duas vezes no aro… e cai para fora no exato momento em que a sirene soa, indicando o final do jogo. Os torcedores, desconsolados, soltam um gemido coletivo – seu time quase venceu, eles quase conseguiram virar a partida.
“Quase venceu” ou “quase conseguiram” – essas palavras juntas são dilacerantes. Não há segunda chance; não há troféu para o maior número de “quase vitórias”; não há aplausos, bandeiras ou danças de vitória. Não importa o quão perto o time chegou de vencer: o jogo acabou, e eles perderam.
Espiritualmente falando, expressões como “quase foi salvo”, “quase se converteu” ou “quase virou crente” são impactantes, mas as consequências que carregam são devastadoras. Como bem disse Charles Spurgeon: “Quase persuadido a ser um cristão é como o homem que foi quase absolvido, mas foi enforcado; como o homem que foi quase resgatado, mas morreu queimado no incêndio da casa. Um homem que é quase salvo está condenado.”
Na passagem que vamos examinar nesta manhã, Paulo lança a mensagem do evangelho diretamente ao rei Agripa, determinado a ganhá-lo para Cristo. A verdade atravessa a mente do rei, bate duas vezes no aro de seu coração… e cai para fora. Agripa foi quase persuadido… mas não o suficiente.
O Julgamento de Paulo Perante o Rei Agripa
O RELATO DO JULGAMENTO DE PAULO perante o rei Agripa começa em Atos 25.13 e se estende até o final de Atos 26. Trata-se de uma seção extensa do livro, que, embora longa (são 47 versículos no total!), constitui uma narrativa única e, por isso, merece ser estudada como um todo. Esses versículos descrevem a sexta e última defesa do apóstolo Paulo diante das autoridades seculares após sua prisão em Jerusalém. A seguir, recorde todas essas defesas:
AGRIPA, também conhecido como Herodes Agripa II, foi o sexto rei da longa dinastia herodiana — a família de governantes judeus de origem edomita que dominaram a Judeia e outras regiões circunvizinhas sob o domínio romano, entre aproximadamente 37 a.C. e 100 d.C. No Novo Testamento, são mencionados cinco membros dessa dinastia:
OS HERODES eram mestres em esquemas políticos e intrigas no contexto judaico-romano. O caso de Paulo, um fariseu convertido ao cristianismo, entrelaçava tanto as ambições políticas das autoridades envolvidas quanto as intrigas entre fariseus e saduceus, o que certamente despertou o interesse de Agripa. Festo, por sua vez, ao buscar o conselho de Agripa, demonstrou uma decisão politicamente astuta. Afinal, sendo romano e, portanto, gentio, Festo tinha pouquíssimo conhecimento sobre o judaísmo e ainda menos sobre o cristianismo. Por isso, ele não conseguia compreender qual era o problema apontado pelo Sinédrio, nem o que poderia ser juridicamente alegado para justificar o envio de Paulo a César.
Foi nesse exato contexto que o rei Agripa e Berenice chegaram da capital da região, localizada ao norte de Cesareia, para prestar homenagens ao novo governador romano. Festo, ao perceber que estava diante de um homem que compreendia profundamente a lei judaica, bem como os costumes e o espírito dos judeus, vislumbrou uma oportunidade decisiva. Agripa prontamente se dispôs a ouvir Paulo (At 25.13-22). Assim, o palco foi montado para a defesa do apóstolo – a última registrada por Lucas, uma vez que não há menção de uma possível defesa sustentada por Paulo em Roma. Na verdade, o que se vê aqui é uma defesa contundente do cristianismo, o desdobramento inevitável do judaísmo com a chegada de Cristo, o Messias prometido de Israel.
HÁ TRÊS ATOS no palco do julgamento de Paulo perante o rei Agripa: [1.] a pompa mundana da sociedade romana (25.23-27); [2.] a pregação cristã feita por Paulo (26.1-23); e [3.] a postura cética dos governantes em exercício (26.24-32).
1. A Pompa Mundana da Sociedade Romana
A AUDIÊNCIA DE PAULO perante o rei Agripa terá uma natureza predominantemente religiosa, pois, em sua defesa, o apóstolo relatará [1.] a educação que recebeu no judaísmo, [2.] sua experiência de conversão a Cristo e [3.] a missão que lhe foi dada pelo próprio Senhor. Dessa forma, o “réu” demonstrará que sua postura – longe de ser herética, profana ou insurgente, – estava, na verdade, em consonância com as esperanças judaicas. Isso ficará evidente em sua sustentação oral (Atos 26.1-23). Antes, porém, Lucas deseja que percebamos a pompa mundana da sociedade romana como uma forma de intimidação, tanto para o cristão Paulo quanto para o cristianismo como um todo.
Atos 25.23 (NVT)
23No dia seguinte, Agripa e Berenice chegaram à sala de audiência com grande pompa, acompanhados de oficiais militares e homens importantes da cidade. Festo mandou trazer Paulo […]
A “SALA DE AUDIÊNCIA”, longe de ser um espaço simples e funcional, era provavelmente decorada com pesadas e caras tapeçarias que adornavam as paredes, enquanto pilares de mármore se erguiam até o teto, ricamente esculpido em detalhes. Na sala, também brilhavam a madeira polida dos bancos dos juízes e os tronos reais dourados, adornados com almofadas de veludo carmesim em um tom vermelho profundo. Nesse cenário, as portas se abriram com majestosa lentidão, e, cerimoniosamente, o rei Agripa e Bernice adentraram o recinto em seus mantos púrpura. Lucas, de fato, nos relata que o casal chegou “à sala de audiência com grande pompa”.
O SUBSTANTIVO “POMPA” em grego é phantasia (φαντασια), que significa “espetáculo, exibição”. Indica-nos que os personagens — Agripa, Berenice, os oficiais militares e os homens importantes da cidade — entraram na sala em um desfile ostensivo de elegância e poder, todos em fila indiana, por ordem de importância. Então, em nítido contraste, Lucas acrescenta: “Festo mandou trazer Paulo” (v. 23b).
A descrição que se tem da APARÊNCIA DO APÓSTOLO PAULO na literatura antiga é rara, sendo encontrada apenas em Os Atos de Tecla. Nessa obra, Onesíforo teria descrito Paulo como “um homem de baixa estatura, a cabeça calva, pernas arqueadas, bem constituído, sobrancelhas que se uniam, nariz grande e uma personalidade cheia de graça. Às vezes parecia humano, outras vezes parecia um anjo”. Essa descrição contrasta fortemente com a pompa e circunstância que marcaram a entrada dos tais “sobre-humanos” (At 25.23): “No dia seguinte, Agripa e Berenice chegaram à sala de audiência com grande pompa, acompanhados de oficiais militares e homens importantes da cidade. Festo mandou trazer Paulo”.
Receber a realeza sempre foi um espetáculo visual grandioso, e os romanos eram apaixonados por cerimônias. A imagem de Agripa em seus trajes reais, acompanhado por Berenice, em toda sua elegância, e pelos oficiais civis formalmente vestidos, era certamente impressionante – e intencionalmente projetada para intimidar os meros mortais. Embora o reino de Agripa fosse relativamente insignificante, ele compensava essa limitação com teatralidade visual e pompa – literalmente, com uma exibição de fantasia. Em um contraste marcante, estava o diminuto prisioneiro, acorrentado (cf. At 26.29).
QUE IRONIA! Paulo, herdeiro do próprio reino dos céus, verdadeiramente livre pelo Filho de Deus, apresentava-se diante daquele tribunal pretensioso e imoral, acorrentado como um animal! Paulo estava, ao pé da letra, em um mundo de fantasia. Lembrando que fantasia, em sentido figurado, descreve algo puramente ideal ou ficcional, sem ligação com a realidade; uma invenção. De fato, quem estava ali acorrentado em fantasias eram todos os que se encontravam adornados de “pompa” (φαντασια). Certamente, PAULO DEVE TER RECORDADO O LEGADO HERODIANO: a violência do pai de Agripa contra Tiago e Pedro, a decapitação de João Batista pelo tio-avô de Agripa e o massacre das crianças em Belém, ordenado pelo bisavô de Agripa. PAULO TAMBÉM DEVE TER REFLETIDO SOBRE A PRESENÇA DE BERENICE, irmã de Agripa, ao lado dele – um relacionamento incestuoso! Era tudo fantasia, fantasia do horror.
Com o prisioneiro agora presente naquele palco de fantasia, meticulosamente preparado para impressionar, o julgamento tem início. Festo abre o caso, explicando o propósito de organizar essa audiência perante o régio juiz.
Atos 25.23-27 (NVT)
23[…] Festo mandou trazer Paulo e, 24em seguida, disse: “Rei Agripa e demais presentes, este é o homem cuja morte é exigida pelos judeus tanto daqui como de Jerusalém. 25Em minha opinião, ele não fez coisa alguma para merecer a morte. Contudo, uma vez que apelou ao imperador para que julgue seu caso, decidi enviá-lo a Roma.
26“Não sei, porém, o que escrever ao imperador, pois não há nenhuma acusação clara contra ele. Por isso eu o trouxe hoje diante dos senhores, especialmente do rei Agripa, para que, depois de o interrogarmos, eu tenha algo para escrever. 27Pois não faz sentido enviar um prisioneiro ao imperador sem especificar as acusações contra ele”.
Há mais de dois anos sob custódia e já tendo passado por cinco julgamentos, Paulo ainda não havia sido formalmente acusado de nenhum crime! Em breve, ele seria enviado a Roma, onde seria julgado perante César. No entanto, segundo o próprio Festo, Paulo não havia cometido nenhuma transgressão à lei. Então, o que o novo governador poderia escrever ao Imperador? — “Aqui está Paulo. Ele está sendo julgado por… nada em particular.” — O governador Festo esperava que o rei Agripa pudesse esclarecer as questões religiosas e ajudá-lo a escrever algo razoável no encaminhamento do processo para Nero. O líder judeu se dispôs a atendê-lo, e Festo, satisfeito, concedeu-lhe o controle da audiência. Atos 26.1 (NVT): “Então Agripa disse a Paulo: ‘Você pode falar em sua defesa.’”
2. A Pregação Cristã Feita por Paulo
Em um dos momentos mais significativos de sua vida, Paulo tem a oportunidade de anunciar ao influente rei Agripa o propósito e o poder de Cristo. Apesar de todo o protocolo pomposo e do poder intimidador demonstrado, esse governante vive acorrentado – acorrentado pelo pecado. Para conduzi-lo à verdadeira liberdade, Paulo – como já o vimos fazer tantas vezes antes – começa por construir uma ponte pela qual Agripa possa atravessar com segurança.
Atos 26.2-3 (NVT)
2“Rei Agripa, considero-me feliz de ter hoje a oportunidade de lhe apresentar minha defesa [απολογεομαι, apologia – representa hoje uma importante área da teologia chamada “apologética”] contra todas as acusações feitas pelos líderes judeus, 3pois sei que conhece bem todos os costumes e controvérsias dos judeus. Portanto, peço que me ouça com paciência [lit., longanimidade].
Partindo do que ele chama de “costumes e controvérsias dos judeus”, Paulo construirá sua argumentação em três etapas, aproximando gradualmente Agripa e os demais presentes a um novo e divino reino de misericórdia e alegria eternas. PRIMEIRO, Paulo abordará a educação que recebeu no judaísmo (vs. 4-11); EM SEGUIDA, falará sobre sua conversão a Cristo (vs. 13-17); e, POR FIM, tratará do cumprimento da missão que recebeu do Senhor (vs. 19-23).
A educação que Paulo recebeu no judaísmo
Atos 26.4-11 (NVT)
4“Como os líderes judeus sabem muito bem, recebi educação judaica completa desde a infância entre meu povo e depois em Jerusalém. 5Também sabem, e talvez estejam dispostos a confirmar, que vivi como fariseu, a seita mais rígida de nossa religião. 6Agora estou sendo julgado por causa de minha esperança no cumprimento da promessa feita por Deus a nossos antepassados. 7De fato, é por isso que as doze tribos de Israel adoram a Deus fervorosamente, dia e noite, e compartilham da mesma esperança que eu. E, no entanto, ó rei, acusam-me por causa dessa esperança! 8Por que lhes parece tão incrível que Deus ressuscite os mortos?
9“Eu costumava pensar que era minha obrigação empenhar-me em me opor ao nome de Jesus, o nazareno. 10Foi exatamente o que fiz em Jerusalém. Com autorização dos principais sacerdotes, fui responsável pela prisão de muitos dentre o povo santo. E eu votava contra eles quando eram condenados à morte. 11Muitas vezes providenciei que fossem castigados nas sinagogas, a fim de obrigá-los a blasfemar. Eu me opunha a eles com tanta violência que os perseguia até em cidades estrangeiras [fora de Jerusalém].
PENSE UM POUCO: por que Paulo dá tanta importância aos seus anos como perseguidor da Igreja? Esse recurso visa estabelecer sua credibilidade aos olhos de Agripa, que, assim como sua irmã Berenice, vem de uma longa linhagem de inimigos dos cristãos. Como já vimos, o bisavô de Agripa, – Herodes, o Grande, – conduziu a missão de busca e assassinato do menino Jesus (e, nesse processo, matou centenas de crianças com menos de dois anos); o tio-avô de Agripa, – Herodes Arquelau, – assassinou João Batista; e seu pai, – Herodes Agripa I, – executou Tiago e prendeu Pedro. Agripa, portanto, “sabia” o quanto os judeus ortodoxos eram determinados a tratar os cristãos como ameaças. Paulo, em resumo, lhe diz: “Foi exatamente o que fiz”.
Agripa, que provavelmente esperava encontrar um fanático com olhos esbugalhados, recitando a Torá de forma frenética, depara-se com um homem que não é tão diferente de si mesmo; um homem cuja autenticidade é transparente e surpreendentemente convincente. Com esse vínculo crucial firmemente estabelecido, Paulo avançará para o dia em que sua vida tomou um rumo absolutamente inesperado e totalmente novo.
A conversão de Paulo a Cristo
Paulo prossegue com sua defesa utilizando uma frase reveladora: “Certo dia, numa dessas missões” (v. 12a). Isso atesta que Paulo não estava em busca de respostas espirituais, nem atormentado por dúvidas sobre o rumo de sua vida. Pelo contrário, o então Saulo estava totalmente concentrado em cumprir sua vingança contra os cristãos, quando foi detido pelo próprio Cristo na estrada de Damasco. De maneira simples e direta, ele narra esse encontro transformador.
Atos 26.12-17 (NVT)
12“Certo dia, numa dessas missões, dirigia-me a Damasco, autorizado e incumbido pelos principais sacerdotes. 13Por volta do meio-dia, ó rei, ainda a caminho, [eu vi] uma luz do céu, mais intensa que o sol, brilhou sobre mim e meus companheiros. 14Todos nós caímos no chão, e eu ouvi uma voz que me dizia em aramaico: ‘Saulo, Saulo, por que você me persegue? Não adianta lutar contra minha vontade’.
15“‘Quem és tu, Senhor?’, perguntei.
“E o Senhor respondeu: ‘Sou Jesus, a quem você persegue. 16Agora levante-se, pois eu apareci para nomeá-lo meu servo e minha testemunha. Conte o que viu e o que eu lhe mostrarei no futuro. 17E eu o livrarei tanto de seu povo como dos gentios. Sim, eu o envio aos gentios
Com três simples expressões – “Eu vi… (v. 13), Eu ouvi… (v. 14) e Eu perguntei… (v. 15)” – Paulo conduz Agripa do orgulho de um fariseu radical à majestade de Cristo. Em seguida, com a mesma autenticidade, o apóstolo explica ao rei o plano de Cristo tanto para sua vida como apóstolo quanto para o mundo, em seu estado de perdição eterna:
Atos 26.17-18 (NVT)
17E eu o livrarei tanto de seu povo como dos gentios. Sim, eu o envio aos gentios 18para abrir os olhos deles a fim de que se voltem das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus. Então receberão o perdão dos pecados e a herança entre o povo de Deus, separado pela fé em mim’.
Que declaração concisa, convincente e coerente do cristianismo! Paulo não disfarça a verdade com um apelo meloso, não aterroriza Agripa com a ira de Deus e os tormentos do inferno, nem adapta o evangelho para torná-lo mais agradável. Dirigindo-se ao rei – de pessoa para pessoa, de pecador para pecador –, Paulo apresenta a Agripa os simples fatos. Fatos simples sobre a misericórdia, a generosidade e o amor de Cristo.
O cumprimento da missão que Paulo recebeu
Mas apenas conhecer os fatos não é suficiente. Agripa precisa responder com fé, e Paulo descreve como essa fé se manifestou em sua própria vida.
Atos 26.19-23 (NVT)
19“Portanto, rei Agripa, obedeci à visão celestial. 20Anunciei a mensagem primeiro em Damasco, depois em Jerusalém e em toda a Judeia, e também aos gentios, dizendo que todos devem arrepender-se, voltar-se para Deus e mostrar, por meio de suas boas obras, que mudaram de rumo. 21Alguns judeus me prenderam no templo por anunciar essa mensagem e tentaram me matar. 22Mas Deus tem me protegido até este momento, para que eu dê testemunho a todos, dos mais simples até os mais importantes. Não ensino nada além daquilo que os profetas e Moisés disseram que haveria de acontecer, 23que o Cristo sofreria e seria o primeiro a ressuscitar dos mortos e, desse modo, anunciaria a luz de Deus tanto aos judeus como aos gentios”.
Paulo estava dizendo: “Eu não ignorei a luz e a voz; eu obedeci. Rei Agripa, o senhor também precisa confiar em Cristo e viver para ele.” Porém, ao dizer isso, Paulo não pretendia chamar a atenção para si mesmo e sua fé pessoal, e sim para Deus e seu poder. “Deus mudou minha vida,” Paulo estava anunciando. “E ele pode mudar a sua vida também.” Observe que em nenhum momento Paulo apontou um dedo acusador para Agripa, apesar dos rumores sobre o relacionamento incestuoso do rei com sua irmã Berenice. Em vez disso, ele revelou Cristo – o Messias predito por Moisés e pelos Profetas, o Jesus sofredor cravado na cruz, o Salvador resplandecente ressuscitado dos mortos.
A síntese do evangelho – e por que ele é boa notícia?
Importa muito, neste ponto, destacarmos o estado do homem sem Cristo e o esboço que Paulo faz do evangelho de Cristo para a salvação do homem. Quanto ao HOMEM EM SEU ESTADO NATURAL, como diz o versículo 18, ele está condenado em seus pecados, cego para Cristo (uma vez que vive em trevas) e escravo do poder de Satanás. Sobre O EVANGELHO, Paulo faz os seguintes destaques:
PRIMEIRO, que “Cristo sofreria” (v. 23) – ou seja, ele morreria. Esse é um testemunho da morte expiatória de Cristo. SEGUNDO, que Cristo “seria o primeiro a ressuscitar dos mortos” (v. 23). TERCEIRO, que, ao ser ressuscitado dos mortos, Cristo “anunciaria a luz de Deus tanto aos judeus como aos gentios” (v. 23). Esse anúncio é feito por meio de testemunhas como Paulo.
Qual deve ser nossa resposta ao evangelho? Paulo também responde a essa pergunta, sem dúvida para o benefício explícito do rei Agripa, do governador Festo e dos demais líderes – e também para o nosso. O apóstolo afirma que, diante do evangelho, os pecadores devem “arrepender-se”, “voltar-se para Deus” e “mostrar, por meio de suas boas obras, que mudaram de rumo” (v. 20).
“Arrepender-se” significa “dar meia-volta”. Se você está indo em uma direção e se arrepende, você se volta e segue em outra direção. Isso equivale à conversão, que significa a mesma coisa. Foi o que aconteceu com Paulo no caminho para Damasco. Ele estava indo em uma direção, mas Deus o fez dar meia-volta para seguir por um caminho completamente diferente. Isso precisa acontecer com todos que desejam encontrar salvação em Cristo.
Abandonar o pecado e seguir em outra direção também significa “voltar-se para Deus”. O cristianismo não é apenas negativo. Não se trata apenas de “não peque” ou “abandone seu estilo de vida atual”. O cristianismo é positivo. Significa encontrar justiça e uma nova vida em Cristo, por meio da fé – arrependimento e fé. Essa nova vida não é apenas diferente, mas melhor. É uma vida vivida em e com Deus, para a glória de Deus.
Além disso, Paulo também disse que os pecadores precisam “mostrar, por meio de suas boas obras, que mudaram de rumo”. Como você sabe se é cristão ou não? Sabe disso simplesmente porque pode repetir as palavras certas? De modo algum. Podemos nos enganar a ponto de repetir quase qualquer coisa. Sabemos que somos cristãos quando nossas vidas são transformadas e começamos – com amor sincero – a praticar boas obras, obras de justiça. Essa é a prova – quando nós, de fato, começamos a seguir a Jesus Cristo e a obedecê-lo.
3. A Postura Cética dos Governantes
Já observamos a pompa mundana da sociedade romana (25.23-27) e a pregação cristã feita por Paulo (26.1-23). Agora, resta analisar a postura cética dos governantes em exercício (26.24-32). Primeiramente, é importante notar que Agripa permaneceu em silêncio, apenas ouvindo. Festo, por outro lado, já havia ouvido o suficiente. Enquanto Paulo apresentava sua defesa, Festo interrompeu abruptamente e, no versículo 24, exclamou aos berros: “Paulo, você está louco! O excesso de estudo o fez perder o juízo!”
Irritado com Paulo e com o evangelho, o governador o chamou de lunático. Contudo, permanecendo calmo e confiante, Paulo continuou a focar em Cristo:
Atos 26.25-29 (NVT)
25Mas Paulo respondeu: “Não estou louco, excelentíssimo Festo. Digo a mais sensata verdade, 26e o rei Agripa sabe dessas coisas. Expresso-me com ousadia porque tenho certeza de que esses acontecimentos são todos de conhecimento dele, pois não se passaram em algum canto escondido. 27Rei Agripa, o senhor crê nos profetas? Eu sei que sim”.
28Então Agripa o interrompeu: “Você acredita que pode me convencer a tornar-me cristão em tão pouco tempo?”.
29Paulo respondeu: “Em pouco ou em muito tempo, peço a Deus que tanto o senhor como os demais aqui presentes se tornem como eu, exceto por estas correntes”.
Versículo 28: “Você acredita que pode me convencer a tornar-me cristão em tão pouco tempo?” Ou, conforme a tradução da ARA: “Por pouco me persuades a me fazer cristão.” A resposta do rei parece carregada de sarcasmo. No entanto, Agripa aparentava estar “quase” convencido; ele “quase” foi salvo! Paulo, em um ato de compaixão, suplicou para que Agripa confiasse em Cristo (v. 29). Contudo, infelizmente, a verdade não encontrou lugar em seu coração. Foi só “quase”. Agripa “quase” se tornou um cristão.
A cena se encerra com Festo, Agripa e Berenice retirando-se para discutir, em particular, sobre a culpa ou inocência de Paulo.
Atos 26.30-32 (NVT)
30Então o rei, o governador, Berenice e todos os outros se levantaram e se retiraram. 31Enquanto saíam, conversavam entre si e concordaram: “Esse homem não fez nada que mereça morte ou prisão”.
32E Agripa disse a Festo: “Ele poderia ser posto em liberdade se não tivesse apelado a César”.
IRONICAMENTE, embora Paulo estivesse fisicamente acorrentado, seu coração estava livre em Cristo. Por outro lado, embora Agripa desfrutasse de liberdade física e poder ilimitado, seu coração permanecia acorrentado nas trevas. NO FIM DAS CONTAS, o prisioneiro era o homem verdadeiramente livre, enquanto o rei era o escravo de suas próprias fantasias. Dessa ironia histórica, alguns princípios brilham como faróis.
PRIMEIRO: Ouvir sobre Cristo – ainda que de forma persuasiva – não produz automaticamente uma mudança interior. As verdades de Cristo são como os raios do sol: elas podem tanto amolecer quanto endurecer corações de barro. No caso de Agripa, a pregação do evangelho endureceu ainda mais o seu coração. A abertura para Cristo e a disposição para obedecer determinam a diferença, e é o Espírito quem produz tudo isso. Portanto, VOCÊ QUE PREGA, busque, sim, ser persuasivo, mas, em última instância, uma vez entregue a mensagem do evangelho, confie no poder de Deus. E VOCÊ QUE OUVE a mensagem do evangelho, certifique-se de que há transformações e mudanças reais em sua vida, ou seja, que há arrependimento, conversão de rumo (da direção ao homem para a direção a Deus) e práticas de justiça ou boas obras como comprovação.
SEGUNDO: Responder a Cristo com arrependimento e fé não remove automaticamente as correntes externas do sofrimento. Espiritualmente, Paulo era mais livre do que qualquer pessoa ao seu redor, mas ainda assim estava preso a correntes e continuava a enfrentar dificuldades. No entanto, devido à sua fé em Cristo, ele conseguia suportar essas correntes e todas as suas dificuldades. Esse é o poder de Cristo em ação: nem sempre a remoção das adversidades, mas sempre a paz em meio a elas.
Como Paulo foi capaz de manter a calma sob a pressão de seu julgamento? Ele estava experimentando a paz que Jesus prometeu em João 14.27 (NVT): “Eu lhes deixo um presente, a minha plena paz. E essa paz que eu lhes dou é um presente que o mundo não pode dar. Portanto, não se aflijam nem tenham medo.”
John White ilustrou a paz que Jesus deu a Paulo com as seguintes palavras:
O coração que possui esse tipo de paz é como um farol em uma tempestade. Ventos uivam, ondas se chocam, relâmpagos piscam ao redor. Mas, por dentro, as crianças brincam enquanto seus pais trabalham. Elas podem olhar pela janela e se maravilhar com os poderes que rugem ao seu redor, mas têm paz – a paz de saber que a força que as protege é mais forte do que a tempestade.
Confiar em Cristo para a salvação não nos livra das tempestades da vida. De fato, na mensagem da próxima semana, veremos como Paulo enfrentou um naufrágio (e quase morreu!). Contudo, mesmo no meio da tempestade, podemos encontrar paz – essa é a promessa de Cristo.
TERCEIRO: Todos nós temos ao nosso redor alguém que ainda não se converteu. Alguns, como Agripa, podem demonstrar abertura para ouvir. Com base na apologia de Paulo, vamos formular algumas diretrizes que podem ajudar você a comunicar o evangelho de maneira persuasiva.
S.D.G. L.B.Peixoto
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