19.03.2017
A VIDA TRANSFORMADA
Atos 9.1-31
At 9.17-22 | 17 Ananias foi e encontrou Saulo. Ao impor as mãos sobre ele, disse: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho para cá, me enviou para que você volte a enxergar e fique cheio do Espírito Santo”. 18 No mesmo instante, algo semelhante a escamas caiu dos olhos de Saulo, e sua visão foi restaurada. Então ele se levantou, foi batizado 19 e, depois de comer, recuperou as forças. Saulo permaneceu alguns dias em Damasco, com os discípulos. 20 Logo, começou a falar de Jesus nas sinagogas, dizendo: “Ele é o Filho de Deus!”. 21 Todos que o ouviam ficavam admirados. “Não é esse o homem que causou tanta destruição entre os que invocavam o nome de Jesus em Jerusalém?”, perguntavam. “E não veio aqui para levá-los como prisioneiros aos principais sacerdotes?” 22 A pregação de Saulo tornou-se cada vez mais poderosa, pois ele deixava os judeus de Damasco perplexos, provando que Jesus é o Cristo.
Pessoas de verdade
Você conhece uma pessoa de verdade? Gente de carne e osso, com rugas e verrugas… gente como a gente, sem máscaras e que ainda assim você continua admirando, relacionando, dando e recebendo amor… Sejamos honestos: é muito difícil encontrar gente assim… é muito difícil achar uma pessoa diferenciada. Millôr Fernandes, desenhista e jornalista bastante conhecido dos brasileiros, falecido em 2012, cunhou uma frase que reflete a mais pura verdade:
Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem!
Elas são admiráveis, mas à distância, com toques e retoques, com máscaras e make ups. Quando chegam perto da gente, retiram a maquiagem e descobrimos seus furos, enxergamos suas cicatrizes e encaramos seus pecados, nós desistimos delas. Por quê? Primeiro, porque nós não sabemos amar de verdade e, segundo, porque nós ansiamos por pessoas de verdade, mas que sejam transformadas, diferenciadas.
Gozado que o que nós esperamos dos outros, geralmente não buscamos para nós mesmos. Confúcio dizia assim:
Ainda não vi ninguém que ame a virtude tanto quanto ama a beleza do corpo.
Esperamos do outro virtude, mas não nos esforçamos o bastante para sermos virtuosos; focamos na beleza do corpo trabalhado e desprezamos a bênção do caráter transformado. Para o outro, virtude e para nós, vaidade. É uma insanidade!
O mundo precisa desesperadamente de pessoas de verdade: de gente transformada pela graça de Deus e que vive em processo de santificação progressiva, de transformação diária – da mesma forma que Paulo buscava viver.
Fl 3.12 | Não estou dizendo que já obtive tudo isso, que já alcancei a perfeição. Mas prossigo a fim de conquistar essa perfeição para a qual Cristo Jesus me conquistou.
Segundo o apóstolo Paulo, pessoas de verdade não são perfeitas, mas admitem que precisam de graça – da mesma graça que as salvou, para viverem perseguindo a perfeição em Cristo: é gente quebrantada e amável, gente de fé.
A vida transformada
Pessoas de verdade são pessoas transformadas por Deus. Como elas são?
Graças a Deus que a Bíblia está repleta de exemplos de vidas transformadas que nos apontam o caminho para essa mesma realidade em nossas vidas. Hoje, eu chamo mais uma vez a sua atenção para a história da conversão de Paulo. Estudaremos algumas características da vida transformada por Deus.
Veremos cinco… a vida transformada é a que: 1 respondeu ao chamado de Cristo; 2 rompeu com o “eu” do passado; 3 relaciona-se na comunhão da igreja; 4 reconfigura a mente pela Palavra; e 5 reverbera o evangelho de Cristo. Vejamos uma de cada vez…
1. A vida transformada é a que respondeu ao chamado de Cristo
Vida transformada é fruto de conversão. Mas, o que é conversão? Fala-se tanto disso entre nós, mas temo que poucos saibam o que de fato seja conversão. Wayne Grudem assim define esse marco na vida de uma pessoa transformada:
Conversão é nossa resposta espontânea ao chamado do evangelho, pela qual sinceramente nos arrependemos dos nossos pecados e colocamos a confiança em Cristo para receber a salvação.
A palavra conversão significa “volta” – aqui ela representa uma volta espiritual, voltar-se do pecado para Cristo. O voltar-se do pecado é chamado arrependimento, e o voltar-se para Cristo é chamado fé… um não pode ocorrer sem o outro, e eles devem ocorrer juntos quando se dá a conversão.
Quando lemos o relato da viagem de Saulo de Tarso para Damasco, nós aprendemos sobre o momento em que a vida daquele homem começou a ser transformada – o momento de sua conversão. Note o que está envolvido no chamado de Cristo (ou do evangelho):
At 9.3-9 | CONTATO 3 Quando se aproximava de Damasco, de repente uma luz do céu brilhou ao seu redor. CONFRONTAÇÃO 4 Ele caiu no chão e ouviu uma voz lhe dizer: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?”. CONVERSÃO 5 “Quem és tu, Senhor?”, perguntou Saulo. E a voz respondeu: “Sou Jesus, a quem você persegue! 6 Agora levante-se e entre na cidade, onde lhe dirão o que fazer”. 7 Os homens que estavam com Saulo ficaram calados de espanto, pois ouviam uma voz, mas não viam ninguém. 8 Saulo levantou-se do chão, mas, ao abrir os olhos, estava cego. Então o conduziram pela mão até Damasco. CONSAGRAÇÃO 9 Lá ele permaneceu, cego, por três dias, e não comeu nem bebeu coisa alguma.
A vida transformada é a que respondeu ao chamado de Cristo; i.e.: ao se ter contato com o evangelho, recebe-se o confronto, arrepende-se do pecado e deposita-se fé em Jesus.
2. A vida transformada é a que rompeu com o “eu” do passado
Lucas resume como era a vida de Paulo antes de sua conversão:
At 9.1-2 | 1 Enquanto isso [enquanto o evangelho se espalhava de Jerusalém pela Judeia e Samaria], Saulo, motivado pela ânsia de matar os discípulos do Senhor, procurou o sumo sacerdote. 2 Pediu cartas para as sinagogas em Damasco, solicitando que cooperassem com a prisão de todos os seguidores do Caminho, homens e mulheres, que ali encontrasse, para levá-los como prisioneiros a Jerusalém.
John Stott observa que Lucas já havia mencionado Paulo três vezes, sempre como feroz adversário de Cristo e sua igreja (At 7.58; 8.1; 8.3). Em Atos 8.3 nós lemos o seguinte:
Saulo, porém, procurava destruir a igreja. Ia de casa em casa, arrastava para fora homens e mulheres e os lançava na prisão.
João Calvino aponta que alguns dos termos que Lucas usou para descrever Saulo antes de sua conversão parecem ser propositadamente escolhidos para retratá-lo como “um animal selvagem e feroz”. Para se ter uma ideia, o verbo destruir, cuja única ocorrência no Novo Testamento se encontra em Atos 8.3 (“Saulo, porém, procurava destruir a igreja”), em referência à “destruição” que Saulo causou à igreja, é empregado na versão grega (LXX) do texto do salmista:
Sl 80.13 | Os javalis da floresta devoram a videira, animais selvagens se alimentam dela.
Antes da conversão, Paulo – o Saulo de Tarso – era como um bicho, um animal selvagem que se alimentava de ira e de ódio, devorando a igreja. Aliás, era assim que os crentes o definiam. Tanto é que, um pouco mais tarde, os cristãos de Damasco disseram assim:
At 9.21 | Todos que o ouviam ficavam admirados. “Não é esse o homem que causou tanta destruição [grego: espancamento] entre os que invocavam o nome de Jesus em Jerusalém?”, perguntavam. “E não veio aqui para levá-los como prisioneiros aos principais sacerdotes?”
Falando dessa imagem de Paulo antes da conversão, John Stott cita um autor que sugere que a menção – “Saulo, motivado pela ânsia de matar os discípulos do Senhor” ou “respirando ameaças e morte” – em Atos 9.1 era uma alusão “ao arfar e ao bufar dos animais selvagens”.
Paulo tinha consciência dessa vida selvagem que ele levava antes de Cristo o salvá-lo no caminho para Damasco. Testemunhando a Agripa, ele disse assim:
At 26.11 | Muitas vezes providenciei que fossem castigados nas sinagogas, a fim de obrigá-los a blasfemar. Eu me opunha a eles com tanta violência que os perseguia até em cidades estrangeiras.
Mas, esse que falava ao rei não era mais a mesma pessoa. Ele tinha rompido com o “eu” do passado. Falando sobre essa transformação e rompimento com o passado por parte de Paulo, João Calvino escreveu algo que chega a ser poético:
[Em Paulo, a graça de Deus é vista] não apenas em um lobo tão cruel sendo transformado numa ovelha, mas também em ele assumir o caráter de um pastor.
A vida transformada é a que rompeu com o “eu” do passado, tornando-se motivo de alegria e sendo fonte de bênção para outras pessoas. Escrevendo aos Gálatas, Paulo testemunha desse rompimento com o “eu” do passado:
Gl 1.13 e 22-24 | 13 Vocês sabem como eu era quando seguia a religião judaica, como perseguia com violência a igreja de Deus. Não media esforços para destruí-la. […] 22 As igrejas em Cristo que estão na Judeia ainda não me conheciam pessoalmente. 23 Sabiam apenas o que as pessoas diziam: “Aquele que nos perseguia agora anuncia a mesma fé que antes tentava destruir”. 24 E louvavam a Deus por minha causa.”
A vida transformada é a que rompeu com o “eu” do passado.
3. A vida transformada relaciona-se na comunhão da igreja
Quem responde ao chamado de Cristo (conversão) e rompe com o “eu” do passado (santificação) precisa da comunhão da igreja. Nem mesmo Paulo caminhou sozinho. Ele precisou dela para acolhê-lo, cuidar dele, batizá-lo, ser discipulado e enviado a pregar. Leiam comigo e observem como é importante para os que vão sendo salvos a vida em comunhão na igreja de Cristo e o que se requer dos já convertidos que os recebem.
At 9.8-19 | 8 Saulo levantou-se do chão, mas, ao abrir os olhos, estava cego. Então o conduziram pela mão até Damasco. 9 Lá ele permaneceu, cego, por três dias, e não comeu nem bebeu coisa alguma.” 10 Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor o chamou numa visão: “Ananias!”. “Sim, Senhor!”, respondeu ele. 11 O Senhor disse: “Vá à rua Direita, à casa de Judas. Ao chegar, pergunte por um homem de Tarso chamado Saulo. Ele está orando neste momento. 12 Mostrei-lhe numa visão um homem chamado Ananias chegando e impondo as mãos sobre ele para que voltasse a enxergar”. 13 Ananias, porém, respondeu: “Senhor, ouvi muita gente falar das coisas horríveis que esse homem vem fazendo ao teu povo santo em Jerusalém. 14 E ele tem autorização dos principais sacerdotes para prender todos que invocam o teu nome!”. 15 O Senhor, no entanto, disse: “Vá, pois Saulo é o instrumento que escolhi para levar minha mensagem aos gentios e aos reis, bem como ao povo de Israel. 16 E eu mostrarei a ele quanto deve sofrer por meu nome”. 17 Ananias foi e encontrou Saulo. Ao impor as mãos sobre ele, disse: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que lhe apareceu no caminho para cá, me enviou para que você volte a enxergar e fique cheio do Espírito Santo”. 18 No mesmo instante, algo semelhante a escamas caiu dos olhos de Saulo, e sua visão foi restaurada. Então ele se levantou, foi batizado 19 e, depois de comer, recuperou as forças. Saulo em Damasco e em Jerusalém Saulo permaneceu alguns dias em Damasco, com os discípulos.
A vida transformada relaciona-se na comunhão da igreja.
4. A vida transformada reconfigura a mente pela Palavra
Paulo precisava repensar todo o seu conteúdo do Antigo Testamento à luz de Jesus de Nazaré, o Messias de Deus. Assim é que, por dura providência divina, ele se retira para pensar tudo à luz da Palavra e sob a direção do Espírito; e “depois de certo tempo” (At 9.23) procura os apóstolos em Jerusalém para mais aprendizado e crescimento.
A seguir, observe a sequência dos fatos na vida de Paulo (não necessariamente em ordem cronológica), enquanto ele buscava reconfigurar a mente pela Palavra.
Enviado para o anonimato
At 9.22-25 | 22 A pregação de Saulo tornou-se cada vez mais poderosa, pois ele deixava os judeus de Damasco perplexos, provando que Jesus é o Cristo. 23 Depois de certo tempo, alguns judeus conspiraram para matá-lo. 24 Dia e noite, vigiavam a porta da cidade com a intenção de assassiná-lo, mas ele foi informado desse plano. 25 Então, durante a noite, alguns de seus discípulos o baixaram pela muralha da cidade num grande cesto.
As aulas do deserto
Gl 1.15-17 | 15 Contudo, ainda antes de eu nascer, Deus me escolheu e me chamou por sua graça. Foi do agrado dele 16 revelar seu Filho a mim, para que eu o anunciasse aos gentios. Quando isso aconteceu, não consultei ser humano algum. 17 Tampouco subi a Jerusalém para pedir o conselho daqueles que eram apóstolos antes de mim. Em vez disso, fui à Arábia e depois voltei à cidade de Damasco.
Aos pés dos apóstolos
Gl 1.18-20 | 18 Então, passados três anos, fui a Jerusalém para conhecer Pedro, com quem permaneci quinze dias. 19 O único outro apóstolo que vi naquela ocasião foi Tiago, irmão do Senhor. 20 Afirmo diante de Deus que o que lhes escrevo não é mentira.
Sob os cuidados de um discipulador
At 9.26-28 | 26 Quando Saulo chegou a Jerusalém, tentou se encontrar com os discípulos, mas todos estavam com medo dele, pois não acreditavam que ele tivesse de fato se tornado discípulo. 27 Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como Saulo tinha visto o Senhor no caminho para Damasco e como ele lhe havia falado. Contou também que, em Damasco, Saulo havia pregado corajosamente em nome de Jesus. 28 Saulo permaneceu com os apóstolos e andava com eles por Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor.
Em tudo isso Paulo estava reconfigurando a mente pela Palavra: em silêncio e solitude; com os textos dos profetas e a palavra dos apóstolos – discipulado por homens piedosos.
5. A vida transformada reverbera a Palavra de Deus
A vida transformada é a que respondeu ao chamado de Cristo, rompeu com o “eu” do passado, relaciona-se na comunhão da igreja, reconfigura a mente pela Palavra e, por fim, reverbera a palavra de Deus.
At 9.20-25 | 19 […] Saulo permaneceu alguns dias em Damasco, com os discípulos. 20 Logo, começou a falar de Jesus nas sinagogas, dizendo: “Ele é o Filho de Deus!”. 21 Todos que o ouviam ficavam admirados. “Não é esse o homem que causou tanta destruição entre os que invocavam o nome de Jesus em Jerusalém?”, perguntavam. “E não veio aqui para levá-los como prisioneiros aos principais sacerdotes?” 22 A pregação de Saulo tornou-se cada vez mais poderosa, pois ele deixava os judeus de Damasco perplexos, provando que Jesus é o Cristo. 23 Depois de certo tempo, alguns judeus conspiraram para matá-lo. 24 Dia e noite, vigiavam a porta da cidade com a intenção de assassiná-lo, mas ele foi informado desse plano. 25 Então, durante a noite, alguns de seus discípulos o baixaram pela muralha da cidade num grande cesto.”
A forma corajosa e destemida com que Paulo pregou o evangelho em Damasco testificava ao apóstolo amedrontados que ele era uma pessoa transformada.
At 9.26-27 | 26 Quando Saulo chegou a Jerusalém, tentou se encontrar com os discípulos, mas todos estavam com medo dele, pois não acreditavam que ele tivesse de fato se tornado discípulo. 27 Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como Saulo tinha visto o Senhor no caminho para Damasco e como ele lhe havia falado. Contou também que, em Damasco, Saulo havia pregado corajosamente em nome de Jesus.
Desde o momento em que foi agarrado pela graça de Deus, Paulo jamais deixou de reverberar a palavra de Cristo. Seguiu com fé, esperança e amor – lançando fora o medo.
At 9.28-31 | 28 Saulo permaneceu com os apóstolos e andava com eles por Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor. 29 Também conversava e discutia com alguns judeus de fala grega, mas estes procuravam matá-lo. 30 Quando os irmãos souberam disso, levaram Saulo a Cesareia e de lá o enviaram a Tarso.
Em tudo isso a igreja estava sendo abençoada.
At 9.31 | A igreja tinha paz em toda a Judeia, Galileia e Samaria e ia se fortalecendo à medida que andava no temor do Senhor. E, encorajada pelo Espírito Santo, crescia em número.
A vida transformada
Precisamos de pessoas de verdade no mundo – de vidas transformadas por Deus. Que outros Paulos surjam entre nós. Comentando a conversão dele, John Stott escreveu:
Se perguntarmos o que causou a conversão de Saulo, só existe uma resposta possível. O que sobressai na narrativa é a graça soberana de Deus através de Jesus Cristo. Saulo não se “decidiu por Cristo”, como poderíamos dizer. Pelo contrário, ele estava perseguindo Cristo. É melhor dizer que Cristo se decidiu por ele e interveio em sua vida. A evidência disso é inquestionável.
Jesus começou e completou a transformação na vida de Paulo. Ele é o autor e o consumador de nossa fé (Hb 12.2).
Quando ele nos chama para a salvação, arrependemos-nos e respondemos com fé – nós rompemos com o “eu” do passado, buscamos a comunhão da igreja, reformatamos a mente pela Palavra e reverberamos o evangelho de Cristo.
Que sejamos admirados mesmo quando nos conhecerem na intimidade.
Seja a sua uma vida transformada em Jesus Cristo.
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