06.11.2022
[Atos 18.1-18a] 1Algum tempo depois, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma. 3Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele. 4Todos os sábados, Paulo ia à sinagoga e buscava convencer tanto judeus como gregos. 5Depois que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou totalmente à pregação da palavra e testemunhava aos judeus que Jesus era o Cristo. 6Mas, quando eles se opuseram a Paulo e o insultaram, ele sacudiu o pó da roupa e disse: “Vocês são responsáveis por sua própria destruição! Eu sou inocente. De agora em diante, pregarei aos gentios”. 7Então saiu dali e foi à casa de Tício Justo, um gentio temente a Deus que morava ao lado da sinagoga. 8Crispo, o líder da sinagoga, e toda a sua família creram no Senhor. Muitos outros em Corinto também ouviram Paulo, creram e foram batizados. 9Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Não tenha medo! Continue a falar e não se cale, 10pois estou com você, e ninguém o atacará nem lhe fará mal, porque muita gente nesta cidade me pertence”. 11Então Paulo permaneceu ali um ano e meio, ensinando a palavra de Deus. 12Quando Gálio se tornou governador da Acaia, alguns judeus se levantaram contra Paulo e o levaram diante do governador para ser julgado. 13Eles o acusaram de convencer as pessoas a adorar a Deus de maneira contrária à lei judaica. 14Mas, assim que Paulo começou a apresentar sua defesa, Gálio se voltou para os acusadores e disse: “Ouçam, judeus! Se sua queixa envolvesse algum delito ou crime grave, eu teria motivo para aceitar o caso. 15Mas, como se trata apenas de uma questão de palavras e nomes e da sua lei, resolvam isso vocês mesmos. Recuso-me a julgar essas coisas”. 16E os expulsou do tribunal. 17A multidão agarrou Sóstenes, o novo líder da sinagoga, e o espancou ali mesmo, no tribunal. Gálio, no entanto, não se importou com isso. 18Paulo ainda permaneceu em Corinto por algum tempo. […]
Esta será a terceira e última parada que faremos em Corinto. Na primeira vez, destacamos a fidelidade de Deus em contraste com a infidelidade dos homens. Na segunda parada, dedicamos nosso tempo a investigar as características da cidade – Corinto era uma cidade cosmopolita, comercial e carnal (perfil idêntico à maioria dos grandes centros urbanos de nosso país) – ; e vimos que Deus mesmo faz prosperar o evangelho nos lugares difíceis e conforta seus filhos no meio das piores situações. Hoje, voltaremos a Corinto na companhia de Paulo, e nos deteremos em dois pontos principais:
Quando se lê Atos 18.1-18a não se pode deixar de notar o estado de espírito do apóstolo Paulo – na ocasião em que se alojou por um ano e meio na tão contemporânea cidade de Corinto. Paulo, homem forte de Deus que era, estava sim desanimado! Não se fala nem se prega muito sobre isso – sobre o desânimo e o sofrimento – , e o fruto que se colhe é o triunfalismo – isto é, a atitude excessivamente triunfante, o sentimento exagerado de triunfo – tão característico do cristianismo contemporâneo. Entretanto, apesar de pouco apreciada a realidade do sofrimento na vida cristã, em especial no ministério cristão, os crentes estão todos sujeitos a tribulações e períodos de desânimo. Charles H. Spurgeon, falando aos seus alunos, garantiu que
neste mundo é prometido tribulações aos homens bons, e os ministros podem esperar uma porção maior do que os demais, para que aprendam a ter simpatia pelo povo sofredor do Senhor, e assim possam ser pastores adequados para um rebanho abatido.
Ora, foi exatamente isso que Paulo escreveu em sua segunda carta aos coríntios. — Você se lembra? — Leia comigo:
2Coríntios 1.3-4 3Louvado seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai misericordioso e Deus de todo encorajamento. 4Ele nos encoraja em todas as nossas aflições, para que, com o encorajamento que recebemos de Deus, possamos encorajar outros quando eles passarem por aflições.
PAULO ESTAVA ATRIBULADO QUANDO CHEGOU A CORINTO. — Por quê? — Olhando para o que lhe aconteceu no período que antecedeu sua chegada e também para a maneira como ele se comportou quando desembarcou Corinto, descobriremos algumas das razões pelas quais ele estava tão desanimado – talvez até pensando em se calar. — O que lhe teria acontecido? — Veremos os seguintes: [1.] suas recorrentes dificuldade; [2.] seus poucos resultados em Atenas; [3.] sua privação de comunhão; [4.] a falta de dinheiro; e [5.] a rejeição e o abuso dos judeus.
1. Recorrentes dificuldade
Paulo passou por momentos difíceis tanto na primeira quanto na segunda viagem missionária. Ele sofreu oposição em praticamente todos os lugares por onde passou; de fato, em vez de abrandar, as perseguições pareciam aumentar. Recapitule.
LOGO NO INÍCIO, após ser enviado pela igreja em Antioquia da Síria (At 13.1ss.), quando Paulo cruzou a ilha de Chipre na companhia de Barnabé (na primeira viagem missionárias), não se nota no relato de Lucas qualquer provação ou perseguição real na terra natal de Barnabé. Entretanto, quando chegou à Panfília e seguiu para Antioquia na Pisídia, Paulo foi tão fortemente perseguido que teve que fugir rapidamente da cidade, em um prazo muito curto de tempo. A mesma coisa aconteceu em Icônio. Quando chegou a Listra, o bando que se opunha ao apóstolo e vinha perseguindo seus passos, finalmente colocou as mãos sobre Paulo e o apedrejou tentando matá-lo. Lembrem-se: o apedrejamento de vítimas não tinha apenas a intenção de assustar, mas de matar.
Quando os que estavam com Paulo o viram cair ensanguentado sob a rajada de pedras que não paravam de o atingir e o assistiram ser arrastado para fora da cidade por acharem que estivesse morto, devem ter concluído que a viagem missionária havia terminado e Paulo estava realmente morto. Mas nos é dito que depois que os agressores se dispersaram, o apóstolo se levantou e voltou para a cidade com os irmãos. Apesar de Lucas não dizer, não seria incorreto presumir que Deus teria milagrosamente preservado e curado o apóstolo Paulo. Esse é um resumo da primeira viagem missionária.
NA SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA, quando Paulo foi para Filipos, lá foi açoitado. O açoite era a primeira de várias experiências da forma particularmente cruel de punição por parte dos romanos. Em seguida, Paulo e Silas foram jogados na prisão. Essa foi a primeira vez que Paulo foi preso por causa da fé, e foi logo após essa dolorosa experiência que ele viajou pela costa de Filipos, passando em Tessalônica, Bereia, Atenas e, finalmente, chegando a Corinto.
Tenho certeza de que Paulo não disse isso, mas se você e eu tivéssemos passado por essas mesmas experiências, PODERÍAMOS TER DESABAFADO: “Quem merece uma coisa dessa!? Eu tinha uma vida boa e tranquila em Jerusalém. Lá eu era alguém, era reconhecido e admirado. Comecei a servir a Jesus Cristo, e ele prometeu, dizendo: ‘estou sempre com vocês, até o fim dos tempos’. No entanto, aqui estou: sendo maltratado, perseguido de cidade em cidade, apedrejado, espancado e preso. Sou tratado como um cachorro sem dono! Para mim, basta. Chega! Eu não preciso disso.” — Veja bem, tenho certeza de que Paulo não disse isso (talvez nós em seu lugar tivéssemos desabafado, Paulo não!); tenho certeza de que ele nem pensou nisso (talvez nós tivéssemos pensado, Paulo não!); ao contrário, Paulo considerava um privilégio não apenas crer em Cristo, mas também sofrer por ele (Fl 1.29). Mas conhecendo a natureza humana como conheço, inclusive a minha natureza, posso dizer que esses abusos recorrentes, de algum modo, causaram algum efeito sim sobre a moral de Paulo. Ele era humano.
2. Poucos resultados em Atenas
Quando estivemos estudando a passagem de Paulo por Atenas, você irá se recordar, indagamos se Paulo teria fracassado por não ter deixado uma igreja plantada na capital cultural do mundo. De fato, o discurso acadêmico que Paulo proferiu aos intelectuais daquela cidade é uma maravilha de comunicação bem sucedida. Demonstra sua mente aguçada, incluindo sua extraordinária capacidade de se adaptar e aplicar a mensagem do evangelho a qualquer situação. Somente alguém com o treinamento e a perspicácia de Paulo poderia ter feito um discurso tão brilhante quanto o que ele fez em Atenas.
Entretanto, quando chegamos ao final da história narrada por Lucas em Atos 17, descobrimos que foram poucos os que creram no evangelho. Nada é dito sobre a organização de uma igreja em Atenas. Sabemos que com o tempo uma igreja floresceu naquela cidade. Sabe-se da história que essa igreja prevaleceu por muitos anos em Atenas. Só que quando Paulo deixou Atenas e foi para Corinto, como o achamos aqui em Atos 18, deve ter sido com um sentimento, se não de fracasso, pelo menos de desapontamento ou desencorajamento, porque apesar de tudo o que ele havia feito em Atenas não tinha saltado aos olhos dele qualquer evidência especial da bênção de Deus sobre o seu ministério entre os atenienses. Sim, houve conversões, mas nada de mais ou especial.
Talvez Paulo também tivesse ficado em alguma medida desapontado com o tipo de discurso que fez em Atenas. Quando escreveu aos coríntios mais tarde e em retrospecto, Paulo recordou seu ministério na cidade de Corinto, e disse:
1Coríntios 2.1-5 1Irmãos, na primeira vez que estive com vocês, não usei palavras eloquentes nem sabedoria humana para lhes apresentar o plano secreto de Deus. 2Pois decidi que, enquanto estivesse com vocês, me esqueceria de tudo exceto de Jesus Cristo, aquele que foi crucificado. 3Fui até vocês em fraqueza, atemorizado e trêmulo. 4Minha mensagem e minha pregação foram muito simples. Em vez de usar argumentos persuasivos e astutos, me firmei no poder do Espírito. 5Agi desse modo para que vocês não se apoiassem em sabedoria humana, mas no poder de Deus.
Algo parecido com essas palavras se pode ler em Atos 18.5 — “Depois que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou totalmente à pregação da palavra e testemunhava aos judeus que Jesus era o Cristo.”
Enfim, apesar de saber que uns plantam e outros regam, mas é Deus quem dá o crescimento e todos nós somos colaboradores de Deus na lavoura e edifício de Deus (1Co 3.7-9), apesar de saber dessas coisas, quando Paulo chegou a Corinto ele estava sim de algum modo desanimado não só pelas recorrentes e cruéis dificuldades pelas quais passou em viagens anteriores, mas também pelos poucos resultados em Atenas.
3. Privação de comunhão
Paulo havia deixado seus colaboradores na Macedônia, por um bom motivo. Ele havia organizado igrejas naquela região, mas precisou sair de lá correndo para não ser morto; e, portanto, não teve tempo hábil para discipular os novos convertidos. Obviamente que aqueles recém-nascidos de novo precisavam de ensino. Então Silas e Timóteo foram estrategicamente deixados na Macedônia para ensiná-los. Era a coisa certa a se fazer.
No entanto, tendo deixado Silas e Timóteo para trás e tendo prosseguido sozinho, como se sentiu chamado a fazer, Paulo não ficou muito bem. Algumas pessoas aparentemente se dão bem sozinhas; nós as chamamos de “solitárias”. Apesar de não ser bom viver só, tem gente que faz amizade com a solidão. Mas é difícil ficar sozinho. Há, inclusive, efeitos da solidão na saúde das pessoas que vivem sozinhas — alguns desses efeitos são: pressão alta, alteração do açúcar no sangue, predisposição ao desenvolvimento de câncer, estresse e ansiedade, depressão, insônia ou dificuldade para dormir, dores musculares e nas articulações e maior chance de dependência de medicamentos, álcool e cigarro. Não é bom viver ou estar só, e é especialmente difícil quando você está tentando realizar algum trabalho importante ou está enfrentando alguma tarefa particularmente difícil. — Paulo deve ter ficado um pouco para baixo por causa desse tempo de solidão.
4. Falta de dinheiro
Não foi só as experiências que Paulo teve antes de chegar a Corinto – as recorrentes e cruéis dificuldades e os poucos resultados em Atenas – que devem ter pesado sobre ele, mas também as dificuldades que ele teve uma vez instalado na cidade. Além da solidão que ele já vinha amargando desde os dias em Atenas, podemos aprender muito sobre a condição de Paulo se lermos Atos 18 cuidadosamente.
A primeira coisa que nos é dito neste capítulo, logo nos versículos 2 e 3, é que Paulo precisou se juntar ao um casal recém-conhecido (casal cristão) e trabalhar com eles, ajudando-os em seus negócios. Por quê? Sem dúvida, para se sustentar! Ouça:
Atos 18.1-3 1Algum tempo depois, Paulo deixou Atenas e foi para Corinto. 2Ali encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, que havia chegado recentemente da Itália com sua esposa, Priscila, depois que Cláudio César expulsou todos os judeus de Roma. 3Paulo foi morar e trabalhar com eles, pois eram fabricantes de tendas, como ele.
Nos círculos missionários evangélicos (e entre igrejas também), muitas vezes ouvimos o termo “fazedores de tendas”. — Já ouviu? — Refere-se a alguém que se dispõe a servir no ministério cristão – pastor ou missionário – que por não ter o sustento integral vindo de uma igreja ou de uma junta missionária, precisa trabalhar com outra coisa para obter seu sustento total. Esses são “fazedores de tendas”. “Fazedores de tendas” também são aqueles missionários que usam seus negócios ou empresas para fazer missões. Só que geralmente “fazedores de tendas” são aqueles que precisam trabalhar com alguma outra coisa para se sustentarem, de outro modo não conseguirão se dedicar ao ministério cristão. São obreiros, pastores ou missionário de tempo parcial.
No entanto, embora “fazer tendas” possa ser comum entre nós, esta é a primeira vez nas viagens missionárias do apóstolo Paulo, até onde sabemos, que ele se viu precisando trabalhar, fazendo tendas (literalmente!), para se sustentar na obra missionária. — Como ele conseguiu sobreviver até então? — Sem dúvida, aqueles que o enviaram – a igreja em Antioquia da Síria – lhe deram dinheiro o suficiente para sustento. Outras igrejas também o apoiaram. Sabemos disso porque Paulo escreveu sobre essas ofertas em suas cartas, agradecendo pelas ajudas. Por exemplo, leia:
2Coríntios 11.7-9 7Será que fiz mal quando me humilhei e os honrei anunciando-lhes as boas-novas de Deus sem esperar nada em troca? 8Para servir vocês sem lhes ser pesado, tomei contribuições de outras igrejas que eram mais pobres que vocês. 9E, quando estive com vocês e não tinha o suficiente para me sustentar, não fui um peso para ninguém, pois os irmãos que vieram da Macedônia trouxeram tudo de que eu precisava. Nunca fui um peso para vocês, e nunca serei.
Pois bem, chegando a Corinto, o dinheiro de Paulo acabou e ele precisou dividir seu tempo de preparo e de pregação com a fabricação de tendas para se sustentar na obra missionária. Isto deve também tê-lo abatido: a falta de dinheiro.
5. Rejeição e abuso dos judeus
Além das recorrentes e cruéis dificuldades, dos poucos resultados em Atenas, da privação de comunhão e da falta de dinheiro, Paulo amargou a rejeição e o abuso dos judeus na cidade de Corinto. Leia comigo:
Atos 18.4-6 4Todos os sábados, Paulo ia à sinagoga e buscava convencer tanto judeus como gregos. 5Depois que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou totalmente à pregação da palavra e testemunhava aos judeus que Jesus era o Cristo. 6Mas, quando eles se opuseram a Paulo e o insultaram, ele sacudiu o pó da roupa e disse: “Vocês são responsáveis por sua própria destruição! Eu sou inocente. De agora em diante, pregarei aos gentios”.
A política de Paulo era ir às sinagogas: “primeiro os judeus, e também os gentios” (Rm 1.16). Ele tinha uma preocupação especial com seu povo. Ele orava por eles. No entanto, apesar de suas orações, apesar de seu ministério, apesar de seu conhecimento das Escrituras e de sua capacidade para explicá-las tão claramente, poucos judeus creram. Inicialmente, talvez ninguém tivesse crido lá em Corinto (cf. 1Co 31.ss.). Paulo não se viu apenas impedido de pregar aos judeus na sinagoga de Corinto, como também sofreu abusos por parte de seu próprio povo. Leia (e preste atenção na crueldade dessa gente, sangue do sangue de Paulo):
Atos 18.12-17 12Quando Gálio se tornou governador da Acaia, alguns judeus se levantaram contra Paulo e o levaram diante do governador para ser julgado. 13Eles o acusaram de convencer as pessoas a adorar a Deus de maneira contrária à lei judaica. 14Mas, assim que Paulo começou a apresentar sua defesa, Gálio se voltou para os acusadores e disse: “Ouçam, judeus! Se sua queixa envolvesse algum delito ou crime grave, eu teria motivo para aceitar o caso. 15Mas, como se trata apenas de uma questão de palavras e nomes e da sua lei, resolvam isso vocês mesmos. Recuso-me a julgar essas coisas”. 16E os expulsou do tribunal. 17A multidão agarrou Sóstenes, o novo líder da sinagoga, e o espancou ali mesmo, no tribunal. Gálio, no entanto, não se importou com isso.
A rejeição e o abuso dos judeus certamente que contribuíram para atribular o coração do apóstolo Paulo.
Quando chegou a Corinto e começou seu ministério naquela cidade, Paulo estava atribulado. Não era por pouca coisa. Como vimos, o apóstolo era vítima de recorrentes e cruéis dificuldades, colheu poucos resultados em Atenas, estava privado de comunhão, faltava-lhe dinheiro e foi rejeitado e abusado pelo seu próprio povo judeu. Paulo, portanto, tinha amplos motivos para estar desanimado ou se sentir desencorajado. Mas agora vem a boa notícia. Neste exato momento, quando Paulo estava no mais baixo nível de desânimo, Deus interveio de várias maneiras importantes para encorajá-lo.
1. Deus enviou Silas e Timóteo (comunhão)
Paulo tentou realizar sozinho a obra em Atenas, e ele estava tentando realizá-la sozinho também em Corinto. Mas parece que o apóstolo tinha atingido seu limite. Às vezes achamos que conseguiremos continuar sozinhos, mas não conseguimos, pelo menos não por muito tempo. Precisamos um do outro. Essa é uma razão pela qual Deus nos deu a igreja, e é por isso que ele estabeleceu uma pluralidade de liderança na igreja. O trabalho cristão deve ser um esforço de equipe. Embora por razões perfeitamente válidas, Paulo foi sozinho e começou sozinho a obra em Corinto, mas Deus sabia que ele precisava de ajuda e, portanto, fez com que Silas e Timóteo fossem do sul da Macedônia até Paulo para ajudá-lo em Corinto. Leia:
Atos 18.4-5 4Todos os sábados, Paulo ia à sinagoga e buscava convencer tanto judeus como gregos. 5Depois que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou totalmente à pregação da palavra e testemunhava aos judeus que Jesus era o Cristo.
Deus enviou Silas e Timóteo. Tem mais.
2. Deus supriu Paulo financeiramente (provisão)
Quando Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, trouxeram ajuda financeira das igrejas macedônias: 2Coríntios 11.9 (ARA) — os irmãos [Silas e Timóteo], quando vieram da Macedônia [Filipos, Tessalônica e Bereia], supriram o que me faltava”. As igrejas em Filipos, Tessalônica e Bereia devem ter concluído: “Paulo está lá em Corinto sozinho! Como ele deve estar? E se ele não tiver dinheiro suficiente para prosseguir, se não puder nem comprar comida para comer? Ele terá que trabalhar! Se for esse o caso, tomará tempo de seu preparo e de sua pregação. Vamos fazer uma coleta e fazer com que Silas e Timothy levem dinheiro para ele.” Então eles enviaram ofertas a Paulo, via Silas e Timóteo.
Penso que é assim que Atos 18.5 deve ser interpretado. Paulo não precisava mais trabalhar na fabricação de tendas. A ajuda financeira dos macedônios o liberou para fazer o que ele foi particularmente chamado por Deus para fazer — Atos 18.5 — “Depois que Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo se dedicou totalmente à pregação da palavra e testemunhava aos judeus que Jesus era o Cristo.”
Deus supriu Paulo financeiramente.
3. Deus abençoou a atividade missionária de Paulo (frutificação)
Embora Paulo não tivesse tido grande sucesso em sua pregação inicial na sinagoga (At 18.4-6), Deus agora começou a dar-lhe frutos por seus esforços. Observe:
Atos 18.7-8 7Então saiu dali e foi à casa de Tício Justo, um gentio temente a Deus que morava ao lado da sinagoga. 8Crispo, o líder da sinagoga, e toda a sua família creram no Senhor. Muitos outros em Corinto também ouviram Paulo, creram e foram batizados.
De fato, foi lento e penoso o começo do trabalho na cidade de Corinto. Só que agora, pela graça de Deus, a palavra de Deus estava começando a fazer efeito. O Espírito Santo estava abençoando os esforços de Paulo. Resultado: homens e mulheres – um aqui, dois ali, outro acolá – estavam começando a colocar sua fé em Jesus Cristo.
Deus abençoou a atividade missionária de Paulo.
4. Deus falou com Paulo (edificação)
Outra coisa que Deus fez para encorajar Paulo foi falar com ele, garantido-lhe que seu trabalho – árduo trabalho! – não seria vão no Senhor lá na cidade de Corinto:
Atos 18.9-10 9Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Não tenha medo! Continue a falar e não se cale, 10pois estou com você, e ninguém o atacará nem lhe fará mal, porque muita gente nesta cidade me pertence”.
Cada expressão do que Deus disse a Paulo merece atenção especial.
1. “Não tenha medo!” (v. 9). O quê? Paulo com medo? Paulo, que resistiu a um apedrejamento, que se permitiu ser espancado, que cantou canções de louvor enquanto estava no tronco e na prisão em Filipos… poderia esse mesmo Paulo estar com medo? Sim. Ele deve ter ficado com medo. Afinal, Deus não desperdiça palavras e Deus estava lhe dizendo para não temer — “Não tenha medo!”. Paulo deve ter ficado com medo por causa da hostilidade dos judeus e do que poderia acontecer com ele novamente.
2. “Continue a falar e não se cale” (v. 9). Por que essas palavras? Afinal, falar é o que Paulo sempre fazia. Esse era o seu chamado. Como Paulo poderia fazer outra coisa senão continuar falando? Obviamente, o apóstolo deve ter sido tentado a parar de falar. — NA SITUAÇÃO DELE HOJE, PODERÍAMOS PENSAR: temos pregado e ensinado; não está dando frutos; talvez devêssemos procurar uma metodologia diferente; dança litúrgica, talvez; talvez devêssemos perguntar qual é o interesse das pessoas; talvez algum método novo; algo diferente tem que ser tentado… MAS Deus não disse a Paulo para mudar seus métodos. Os resultados era sim escassos, mas Deus disse: “Continue falando. Continue ensinando. Continue pregando.” Por quê? Porque Deus escolheu trazer homens e mulheres a Cristo através de sua Palavra pregada. 1Coríntios 1.21 — “Visto que Deus, em sua sabedoria, providenciou que o mundo não o conhecesse por meio de sabedoria humana, usou a loucura de nossa pregação para salvar os que creem.”
3. “Eu estou com você” (v. 10). De fato, essa é uma reafirmação ipsis litteris do que Jesus havia dito aos discípulos na Grande Comissão, e tenho certeza de que Paulo a reconheceu como tal: Mateus 28.20 (ARA) — “E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.” — Será que Paulo havia se perguntado se Deus realmente estava com ele? Penso que nunca pensou nesses termos. Paulo sabia que Deus estava com ele, assim como você e eu sabemos que Deus está conosco. Deus disse: Deuteronômio 31.6 — “Portanto, sejam fortes e corajosos! Não tenham medo e não se apavorem diante deles. O SENHOR, seu Deus, irá adiante de vocês. Ele não os deixará nem os abandonará.” O autor de Hebreus (Hb 13.5) repete essa verdade: “Não o deixarei; jamais o abandonarei.” Se ele disse, é verdade. Ao mesmo tempo, pergunto-me se, em seu desânimo, Paulo também não se sentiu abandonado, assim como nós nos sentimos.
4. “Ninguém o atacará nem lhe fará mal” (v. 10). O mesmo tipo de problema que Paulo havia anteriormente experimentado estava prestes a se repetir aqui em Corinto. Lemos sobre isso dois versículos adiante: Atos 18.12 — “alguns judeus se levantaram contra Paulo e o levaram diante do governador para ser julgado.” — Eles tentaram machucá-lo, mas falharam. Gálio era o procônsul (governador) em Corinto. Ele foi sábio e reconheceu que isso não era uma questão de jurisdição civil. Era uma disputa sobre religião – ele sabia! – e por isso, corretamente, retirou o caso de seu tribunal. Como John Stott escreveu: “A recusa de Gálio em levar a sério o caso judaico contra Paulo e julgá-lo no tribunal foi muito importante para o futuro do evangelho. De fato, essa recusa foi um veredicto favorável à fé cristã e, assim, estabeleceu um precedente significativo. O evangelho não podia agora ser acusado de ilegalidade, pois sua liberdade como religio licita havia sido assegurada como política imperial.”
5. “Muita gente nesta cidade me pertence” (v. 10). De todas as coisas que Deus disse a Paulo na visão, sem dúvida, esta foi a mais importante: “Muita gente nesta cidade me pertence”. — De quais pessoas Deus estava falando? — Não eram aquelas às quais Paulo já havia falado, que já haviam crido, porque não eram muitos, apenas alguns. Se Deus disse: “Muita gente nesta cidade me pertence”, deve ter sido porque Deus, que é o único capaz de ver o futuro e determiná-lo, estava olhando para frente, dizendo que pela pregação da Palavra através do ministério de Paulo ele levaria muitas pessoas (os eleitos de Deus) à fé em Jesus Cristo. Eles eram seu povo e eles permaneceriam juntos como igreja e dariam testemunho nessa cidade tão corrompida.
Imediatamente após ter recebido essa palavra do céu, lemos em Atos 18.11: “Então Paulo permaneceu ali um ano e meio, ensinando a palavra de Deus.” Antes disso, Paulo estava se mudando de um lugar para outro. Ele passava uma semana aqui, três semanas ali e um mês em outro lugar. Mas estava sempre seguindo em frente. Só que assim que Deus falou com ele nos termos que lemos em Atos 18.9-10, Paulo mudou de tática e permaneceu. E sabe o que aconteceu? As pessoas vieram a Cristo e creram nele para a salvação. Além disso, sua experiência em Corinto foi um ponto de virada que afetou tudo o que Paulo fez a partir deste ponto.
A próxima grande cidade que Paulo visitou foi Éfeso; ficou lá três anos. Então foi preso em Cesareia por dois anos. Eventualmente, chegou a Roma, e lá passou vários anos. Paulo não era mais um missionário beija-flor, embora reconhecesse que ainda tinha o mesmo chamado para levar o evangelho por todo o mundo romano. É como se ele agora criasse raízes e começasse a ensinar com profundidade por um período mais longo de tempo, para que aqueles que estavam sendo ganhos para Cristo pudessem ser fielmente fundamentados na Bíblia.
Não podemos pegar um texto como este e simplesmente transferi-lo para nós mesmos, como se Deus estivesse dizendo coisas idênticas para nós: Ninguém jamais o atacará… Ninguém irá prejudicá-lo… Tenho muitas pessoas na cidade… No entanto, não podemos deixar de pensar que, se Deus nos colocou em um determinado lugar, é porque ele tem uma obra para nós fazermos lá, e por isso mesmo devemos ser encorajados e permanecer e fazer essa obra da melhor maneira possível, com o melhor de nossas habilidades. Nosso trabalho é seguir em frente, sabendo que Deus está conosco, buscando salvar suas ovelhas espalhadas pelo mundo.
Vimos o estado de perturbação de Paulo (e suas possíveis razões) e abordamos o modo como Deus confortou Paulo na tribulação – enviou Silas e Timóteo (comunhão), supriu suas necessidades financeira (provisão), abençoou sua atividade missionária (frutificação) e falou com ele em intimidade (edificação). Para terminar, permitam-me traçar algumas estratégias indispensáveis para alcançarmos Goiânia, Goiás, Brasil e o mundo com o evangelho.
Concluo com estas palavras de Paulo Anglada:
Que segurança! Aquele a quem todo poder foi conferido sobre os céus e sobre a terra continua a acompanhar e a cuidar do seu povo [a promessa da Grande Comissão em Mateus 28.19-20]. O “Deus que conforta os abatidos” (2Co 7.6) continua a encorajar os seus servos em momentos de dúvida, temor e abatimento, por meio da sua soberana providência e graça, como fez com Paulo, e tem feito com todos os seus servos no decurso da história [tudo isso para o avanço do evangelho].
S.D.G. L.B.Peixoto
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