26.02.2017
A VIDA EM 3D
Atos 9.1-6 | 1 Enquanto isso, Saulo, motivado pela ânsia de matar os discípulos do Senhor, procurou o sumo sacerdote. 2 Pediu cartas para as sinagogas em Damasco, solicitando que cooperassem com a prisão de todos os seguidores do Caminho, homens e mulheres, que ali encontrasse, para levá-los como prisioneiros a Jerusalém. 3 Quando se aproximava de Damasco, de repente uma luz do céu brilhou ao seu redor. 4 Ele caiu no chão e ouviu uma voz lhe dizer: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?”. 5 “Quem és tu, Senhor?”, perguntou Saulo. E a voz respondeu: “Sou Jesus, a quem você persegue! 6 Agora levante-se e entre na cidade, onde lhe dirão o que fazer”.
Atos 16.9 | Naquela noite, Paulo teve uma visão, na qual um homem da Macedônia em pé lhe suplicava: “Venha para a Macedônia e ajude-nos!”.
Atos 18.9-10 | 9 Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Não tenha medo! Continue a falar e não se cale, 10 pois estou com você, e ninguém o atacará nem lhe fará mal, porque muita gente nesta cidade me pertence”.
3D sem truques de imagens
Nos últimos anos, animadores e cineastas transformaram o mundo do cinema; tudo por causa do recurso de imagens em 3D (três dimensões) – i.e.: imagens que refletem a ilusão de terem altura, largura e profundidade. Com essa tecnologia eles conseguem enganar os nossos olhos de uma forma muito mais real, como se nós realmente estivéssemos vendo o filme através de uma janela entre o mundo real e o mundo fantástico da tela.
A nova geração de filmes é realmente impressionante, tanto que quem gosta de ir ao cinema sente que não tem mais graça assistir algo que não seja em 3D. Mas não se esqueça: somente quando colocamos o par de óculos 3D é que a imagem se transforma, pois tudo depende de ilusão de ótica para criar cenas panorâmicas e com profundidade. Nada é real. Tudo não passa de truque de imagem para enganar a visão. Digite no Google “Como funciona a tecnologia 3D?” e descubra por você mesmo o que estamos dizendo.
Agora surge um problema: na vida real tudo é sim real, muito real. É tudo em 3D (três dimensões), mas sem truques de imagens, como no caso dos cinemas.
Deus planejou que a vida de seus filhos fosse vivida em três dimensões: com altura, largura e profundidade. Essas três dimensões podem ser assistidas na projeção das três visões que Paulo teve, e que ficaram registradas no livro de Atos – os texto que lemos inicialmente: At 9.1-6; 16.9; 18.9-10.
Paulo em 3D
Em nosso estudo no livro de Atos dos apóstolos, nós chegamos a Saulo de Tarso. Quando se fala em cristianismo, além de Jesus, Paulo é a pessoa mais reconhecida como o seu representante. O nome desse homem é de fundamental importância para a história da igreja e também, porque não, do mundo como hoje nós o concebemos.
Através de Paulo, a fé cristão chegou “nos lugares mais distantes da terra”, conforme Jesus determinou que fosse (At 1.8). Foi através dele que a semente do evangelho caiu pela primeira vez em solo europeu (cf. At 16.6 e seguintes – Macedônia, à época, era província romana, situada ao norte da Grécia). De lá, o evangelho se espalhou, atingindo todos os demais continentes do globo. Devemos muito a esse homem de Deus.
Coube a Paulo ser a pessoa que mais doutrinou a Igreja em todas as épocas: dos 27 livros canônicos contidos no Novo Testamento, nós temos nada menos do que 13 cartas de sua autoria. Portanto, não é à toa que Paulo seja carinhosa e simbolicamente considerado o primeiro teólogo da igreja e o seu segundo fundador (depois de Cristo, claro).
Pois bem, antes de nos determos nos detalhes do texto de Atos 9 e seus subsequentes, seguindo com a nossa exposição do livro, desejo apontar algo peculiar na vida de Paulo e ao mesmo tempo aplicar tudo às nossas vidas. Feito isso, na mensagem de hoje, à partir do próximo domingo, Deus permitindo, continuaremos com o texto de Atos dos Apóstolos na sequência.
O detalhe para o qual eu chamo a sua atenção é que, provavelmente, ninguém tenha tido as mesmas três visões que Paulo teve – com certeza não da mesma forma. Mas todos somos convidados a experimentar a mesma realidade espiritual dessas visões.
Ou seja: cada uma dessas três visões nos apontam para uma das três dimensões da vida que todo cristão é chamado a viver – i.e.: conversão (profundidade); comissão (largura); e consolação (altura). Portanto, vejamos, separadamente, cada uma dessas três dimensões. Ao final, saberemos que a vida em 3D, além de glorificar a Deus, tem muito mais graça.
1. A dimensão da conversão
A dimensão que dá profundidade à vida de qualquer pessoa – aquela que dá destaque a tudo o mais; aquela que da beleza a tudo; aquela que coloca todas as coisas na perspectiva adequada – é a conversão. Ela está ilustrada na primeira visão que Paulo teve na estrada para Damasco, quando ele, ainda Saulo, perseguia, aprisionava e intentava matar cristãos.
Atos 9.3-6 | 3 Quando se aproximava de Damasco, de repente uma luz do céu brilhou ao seu redor. 4 Ele caiu no chão e ouviu uma voz lhe dizer: “Saulo, Saulo, por que você me persegue?”. 5 “Quem és tu, Senhor?”, perguntou Saulo. E a voz respondeu: “Sou Jesus, a quem você persegue! 6 Agora levante-se e entre na cidade, onde lhe dirão o que fazer”.
É provável que nenhum outro tenha tido ou ainda terá experiência tão dramática e tão intensa como Saulo de Tarso. Porém, as razões e as realidades transformadoras da dimensão da visão que ele teve é para todos, em todos os tempos e em todos os lugares.
Que motivos levaram Paulo a se render, convertendo-se a Cristo? Vejamos quatro deles:
1) Tudo começou com o reconhecimento de sua alienação, de sua separação de Deus. O farisaísmo não funcionou nem foi o bastante para Paulo. Mesmo tendo vivido de forma exemplar aos olhos dos homens, por dentro ele vivia uma guerra civil.
Ou seja: a religião em nada o ajudou; ela apenas camuflou o seu distanciamento de Deus; ela tão somente escondeu os dilemas mais profundos de sua alma sedenta de Deus. Observe os relatos de Paulo, quando ele escreveu às igrejas:
Fl 3.6 | Era tão zeloso que persegui a igreja. E, quanto à justiça, cumpria a lei com todo rigor.
Rm 7.7 | Por acaso estou dizendo que a lei de Deus é pecaminosa? Claro que não! Na verdade, foi a lei que me mostrou meu pecado. Eu jamais saberia que cobiçar é errado se a lei não dissesse: “Não cobice”.
Rm 7.21-25 | 21 Assim, descobri esta lei em minha vida: quando quero fazer o que é certo, percebo que o mal está presente em mim. 22 Amo a lei de Deus de todo o coração. 23 Contudo, há outra lei dentro de mim que está em guerra com minha mente e me torna escravo do pecado que permanece dentro de mim. 24 Como sou miserável! Quem me libertará deste corpo mortal dominado pelo pecado? 25 Graças a Deus, a resposta está em Jesus Cristo, nosso Senhor. Na mente, quero, de fato, obedecer à lei de Deus, mas, por causa de minha natureza humana, sou escravo do pecado.”
Percebeu? Nada no judaísmo foi capaz de ajudar Paulo a resolver esse dilema do pecado que o separava de Deus. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento.
2) Além do reconhecimento do pecado que o separava de Deus, outra coisa que na conversão de Paulo foi o impacto causado pela pessoa e pelas palavras de Jesus de Nazaré. Historiadores nos dão conta de que, sendo mais ou menos da mesma idade, Paulo e Jesus podem ter sido contemporâneos em Jerusalém. Ou seja: como ninguém deixava de ser impactado pela presença e pelas palavras do Senhor, Paulo também foi tocado.
3) Outra coisa: o testemunho dos crentes, aos poucos foi tocando o coração de Paulo. Não teve como Saulo de Tarso deixar de observar e de se impressionar com o semblante e a atitude de Estevão, enquanto aquele morria apedrejado:
At 7.57-8.1 | 57 Eles taparam os ouvidos e, aos gritos, lançaram-se contra ele. 58 Arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. Seus acusadores tiraram os mantos e os deixaram aos pés de um jovem chamado Saulo. 59 Enquanto atiravam as pedras, Estêvão orou: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”. 60 Então caiu de joelhos e gritou: “Senhor, não os culpes por este pecado!”. E, com isso, adormeceu. 8.1 E Saulo concordou inteiramente com a morte de Estêvão.
Saulo não tinha como explicar aquela coragem e aquela compaixão dentro de um mesmo coração. É certo que o testemunho de Estêvão contribuiu para a conversão de Paulo.
4) Ainda sobre o apóstolo: com tanta informação (conflitos internos, a voz de Jesus, as lembranças do passado, o testemunho dos crentes), o que mais Paulo precisaria para processar tudo no coração? Tempo para reflexão, é claro. Deus, então, lhe deu tempo.
At 9.8-9 | 8 Saulo levantou-se do chão, mas, ao abrir os olhos, estava cego. Então o conduziram pela mão até Damasco. 9 Lá ele permaneceu, cego, por três dias, e não comeu nem bebeu coisa alguma.
A viagem de perseguição para Damasco forçou Paulo a interromper o seu frenesi por tempo bastante para reflexão, em jejum e em oração. Irmãos, muitos outros poderiam ter o mesmo encontro com Cristo se parassem o seu ritmo louco e se pusessem a pensar.
Analisados os motivos que levaram Paulo a se render, convertendo-se a Cristo, observemos agora as realidades que correspondem à dimensão da conversão: ela é repentina, iluminadora, pessoal e intransferível, também transformadora.
A conversão é repentina. Conquanto Paulo vinha sendo aos poucos preparado, a visão foi abrupta. Ou seja: nós nunca achamos que estamos preparados para tão grande mudança.
A conversão é iluminadora. Saulo viu uma luz mais brilhante do que o sol do meio-dia! Cristo traz luz à vida; luz que ofusca à tudo e que nos cega por um tempo, a fim de nos ensinar a enxergar de novo através de novas luzes.
A conversão é pessoal e intransferível. Nesta ocasião, Paulo não viu apenas luz resplandecente e ofuscante. Ele viu o próprio Senhor (1Co 9.1), de forma pessoal. Não foi energia cósmica. Foi Cristo em pessoa. É uma realidade pessoal e relacional, mas também é intransferível. Afinal, os outros também viram luzes e ouviram trovões, mas somente Saulo experimentou a realidade. Não se impressione se você ficar só nesta dimensão.
A conversão é transformadora. Ao confrontar Saulo no caminho para Damasco, Cristo não ficou remoendo o passado, jogando-lhe na cara as dívidas do passado, mas preocupou-se em perdoar-lhe e restaurar-lhe para uma missão no futuro. A conversão é transformadora.
Atos 9.10-16 | 10 Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor o chamou numa visão: “Ananias!”. “Sim, Senhor!”, respondeu ele. 11 O Senhor disse: “Vá à rua Direita, à casa de Judas. Ao chegar, pergunte por um homem de Tarso chamado Saulo. Ele está orando neste momento. 12 Mostrei-lhe numa visão um homem chamado Ananias chegando e impondo as mãos sobre ele para que voltasse a enxergar”. 13 Ananias, porém, respondeu: “Senhor, ouvi muita gente falar das coisas horríveis que esse homem vem fazendo ao teu povo santo em Jerusalém. 14 E ele tem autorização dos principais sacerdotes para prender todos que invocam o teu nome!”. 15 O Senhor, no entanto, disse: “Vá, pois Saulo é o instrumento que escolhi para levar minha mensagem aos gentios e aos reis, bem como ao povo de Israel. 16 E eu mostrarei a ele quanto deve sofrer por meu nome”.
Isso nos leva à próxima dimensão: a dimensão do comissionamento.
2. A dimensão da comissão
Se a dimensão da conversão coloca profundidade na existência humana, a dimensão da comissão coloca largura – lembre-se de que estamos falando da vida em 3D e que uma imagem para ser em 3D precisa ser projetada na tela com altura, largura e profundidade.
A maravilha da realidade 3D é a profundidade – é a conversão. É a profundidade que faz 3D ser 3D. Sem profundidade, sem conversão, a vida é vivida em tela plana, em 2D. É sem graça; literalmente falando, sem graça. Bom, mas disso nós já falamos acima. Falemos agora sobre a largura, sobre a dimensão da comissão.
Já deu para perceber que implícito na dimensão da conversão está a dimensão da comissão ou do comissionamento – foi o que lemos a pouco em Atos 9.15-16. Ou seja, todo cristão é salvo e, automaticamente, comissionado para uma vocação. Pode não ser o ministério pastoral nem missões transculturais, mas todos nós temos dons e talentos que devem ser exercidos no corpo de Cristo e na sociedade, para a glória de Deus, a construção dos outros e o bem comum de todos na sociedade.
Como Deus nos insere nesta dimensão da comissão?
Ele usa, por exemplo, portas fechada, becos sem saídas e apelos pessoais. Em tudo isso está a voz do Espírito Santo para nos guiar.
Atos 16.6-10 | 6 Em seguida, Paulo e Silas viajaram pela região da Frígia e da Galácia, pois o Espírito Santo os impediu de pregar a palavra na província da Ásia. 7 Então, chegando à fronteira da Mísia, tentaram ir para o norte, em direção à Bitínia, mas o Espírito de Jesus não permitiu. 8 Assim, seguiram viagem pela Mísia até o porto de Trôade. 9 Naquela noite, Paulo teve uma visão, na qual um homem da Macedônia em pé lhe suplicava: “Venha para a Macedônia e ajude-nos!”. 10 Então decidimos partir de imediato para a Macedônia, concluindo que Deus nos havia chamado para anunciar ali as boas-novas.
Note que Paulo e seus companheiros responderam prontamente – aqui Lucas se juntou a Paulo (v. 10), depois ficou em Filipos pastoreando a igreja, e só reapareceu em At 20.5. Em tudo eles viram a mão de Deus. Ouviram a voz do Espírito. Não se endureceram nem procrastinaram.
Eles largaram suas agendas, abandonaram seus planos e se colocaram à disposição de Deus para alargarem o Reino de Deus na Europa, e não na Ásia, conforme haviam planejado. Gente, nós jamais poderemos calcular o impacto de um “sim” ao chamado de Deus. Quando entramos na dimensão da comissão celestial nós entramos no melhor dos mundos.
3. A dimensão da consolação
A dimensão da conversão a Cristo coloca profundidade na existência humana e a dimensão da comissão divina confere largura à vida. Agora, a dimensão da consolação adiciona altura. Essa dimensão, com o consolo de Deus, nos leva sempre aos lugares mais altos. Nela nós jamais pensamos em desistir, pois seguimos nas alturas como a corsa.
Hc 3.17-19 | 17 Ainda que a figueira não floresça e não haja frutos nas videiras, ainda que a colheita de azeitonas não dê em nada e os campos fiquem vazios e improdutivos, ainda que os rebanhos morram nos campos e os currais fiquem vazios, 18 mesmo assim me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus de minha salvação! 19 O SENHOR Soberano é minha força! Ele torna meus pés firmes como os da corça [firmes e rápidos!], para que eu possa andar em lugares altos.
Em outras palavras, aqueles cujos corações Deus converte a Cristo e depois comissiona aos campos, ele também conforta. Sabe por quê? A missão é árdua. É certo que colheremos os frutos de nossa missão como alegria, mas a semeadura é árdua.
Sl 126.4-6 | 4 Restaura, SENHOR, nossa situação, como os riachos revigoram o deserto. 5 Os que semeiam com lágrimas colherão com gritos de alegria. 6 Choram enquanto lançam as sementes, mas cantam quando voltam com a colheita.
A ida de Paulo para a Macedônia o fez parar em Corinto, na mais carnal e infame das cidades do império romano. Ali Paulo sofreu muito, desde simples oposições até ameaças físicas aterrorizantes por parte dos judeus (At 18.1-8, 12-17). É nessa hora que Deus entra em cena e leva os seus servos às alturas, à sua presença, à dimensão da consolação, fazendo-os perseverar no cumprimento de sua missão.
Atos 18.9-11 | 9 Certa noite, o Senhor falou a Paulo numa visão: “Não tenha medo! Continue a falar e não se cale, 10 pois estou com você, e ninguém o atacará nem lhe fará mal, porque muita gente nesta cidade me pertence”. 11 Então Paulo permaneceu ali um ano e meio, ensinando a palavra.
Note que
A vida em três dimensões
Jamais se esqueça: a vida é para ser vivida em 3D. De outra forma, em 2D, ela não tem graça, pois não terá profundidade, largura nem altura. As coisas ficarão sem perspectiva. Não parecerão tão reais.
Hoje, portanto, o SENHOR te convida à maravilha da vida em 3D: 1 para ter profundidade – para a dimensão da conversão; 2 para ter largura – para a dimensão do comissionamento divino; 3 para ter altura – para a dimensão da consolação de Deus.
Viva a vida em todo o seu potencial: salvo por cristo (profundidade); com a missão de fazer discípulos (largura); sendo consolado, protegido, tratado e cuidado pelo Pai (altura).
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