16.10.2016
A PALAVRA, PELA ORDEM
Atos 3.11-26
11 Apegando-se o mendigo a Pedro e João, todo o povo ficou maravilhado e correu até eles, ao lugar chamado Pórtico de Salomão. 12 Vendo isso, Pedro lhes disse: “Israelitas, por que isto os surpreende? Por que vocês estão olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar por nosso próprio poder ou piedade? […] 16 Pela fé no nome de Jesus, o Nome curou este homem que vocês vêem e conhecem. A fé que vem por meio dele lhe deu esta saúde perfeita, como todos podem ver.
Regra parlamentar
Quando um deputado ou um senador, reunido com seus pares no Congresso Nacional, interrompe os trabalhos da mesa com a expressão: “Pela ordem, senhor presidente”, o que ele está dizendo? Essa prática também é comum em Assembleias na igreja.
O que significam as solicitações “pela ordem”, “questão de ordem” e “aparte”?
Aparte é a interrupção feita ao discurso ou fala de alguém a fim de acrescentar algum comentário ou manifestar uma opinião, seja ela a favor ou contra.
Questão de ordem é uma solicitação de esclarecimento (tirar dúvida) quanto a interpretação do Regimento ou do Estatuto ou do andamento da matéria.
Pela ordem tem como objetivo solicitar informações sobre o andamento dos trabalhos da sessão, fazer reclamação quanto à observância do Regimento ou do Estatuto e apontar falha ou equívoco em relação à proposição da pauta.
Pela ordem é diferente da chamada questão de ordem. Questão de ordem visa esclarecer dúvidas. Pela ordem visa manter a legalidade dos trabalhos.
Pedro, pela ordem
Pois bem, Atos 3.11-26 é o que nós poderíamos chamar de “palavra de ordem”.
Pedro e João tinham acabado de serem usados por Deus como instrumentos na realização de um milagre. A seguir, tomaram o ex-aleijado pela mão e adentraram com ele ao templo (At 3.6-11). Todos estavam maravilhados. Uma onda chocante de sussurros, suspiros e olhares arregalados se espalhou entre pessoas que assistiam àquela cena incomum. Pedro, então, literalmente, traz a Palavra, pela ordem. Observe mais uma vez:
At 3.11-12 | 11 Apegando-se o mendigo a Pedro e João, todo o povo ficou maravilhado e correu até eles, ao lugar chamado Pórtico de Salomão. 12 Vendo isso, Pedro lhes disse: “Israelitas, por que isto os surpreende?
Esse é o segundo sermão de Pedro no livro de Atos e tem como objetivo trazer informações e fazer esclarecimentos quanto ao “nome de Jesus” (At 3.16). Maravilhados, mas confusos, aquela gente carecia de uma Palavra que trouxesse ordem aos seus corações; o mesmo tipo de ordem que milhares e milhares de “evangélicos” por esta Goiânia afora, por este Goiás afora e por este Brasil afora hoje tanto precisam.
Quanta gente maravilhada com o poder de Deus, mas que continuam com seus corações equivocados, com suas mentes confusas e sua fé desordenada. Sempre que olho para esse cenário e penso sobre esse quadro, recordo-me do que Paulo disse a respeito dos judeus piedosos de seus dias.
Rm 10.1-4 | 1 Irmãos, o desejo do meu coração e a minha oração a Deus pelos israelitas é que eles sejam salvos (Sim, gente piedosa, gente de “fé”, gente religiosa também precisa ser salva, independentemente do credo! Por quê? Veja a seguir…). 2 Posso testemunhar que eles têm zelo por Deus, mas o seu zelo não se baseia no conhecimento [têm zelo, mas sem entendimento]. 3 Porquanto, ignorando a justiça que vem de Deus (Cristo) e procurando estabelecer a sua própria (Rituais, símbolos, festas judaicos, campanhas, concentrações de milagres, etc.), não se submeteram à justiça de Deus (o Evangelho de Cristo). 4 Porque o fim da Lei é Cristo, para a justificação de todo o que crê.
Paulo falava dos judeus que insistiam em olhar para a Lei sem olhar para Cristo. Arrisco a dizer que, da mesma forma hoje, milhares de “evangélicos” olham para o poder e para os milagres de Deus sem olharem para Cristo. A motivação ainda é a mesma: a glória e o benefício pessoais. Nada de Cristo.
Ainda hoje, Paulo diria: “o seu zelo não se baseia no conhecimento” ou “têm zelo por Deus, porém não com entendimento”. Precisamos da Palavra, pela ordem.
O que a Palavra de Pedro traz de ordem ao cenário evangélico brasileiro, à nossa igreja e a cada um de nossos corações?
1. O poder e a glória são de Deus, não do homem
Quem fez o milagre? O que aquilo tudo significava? Claro que todos lá no Pórtico de Salomão e no seu entorno, imediatamente, focaram suas atenções e dedicaram suas admirações aos apóstolos Pedro e Joao, que adentravam ao templo com aquele mendigo apegado a eles como um filhote se arrastando atrás da mãe. Pedro, porém, traz a Palavra, pela ordem, esclarecendo que tudo aquilo se tratava do poder e da glória de Deus, não do homem.
At 3.12-13 | 12 Vendo isso, Pedro lhes disse: “Israelitas, por que isto os surpreende? Por que vocês estão olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar por nosso próprio poder ou piedade? 13 O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus dos nossos antepassados, glorificou seu servo Jesus, […]
O poder para curar veio de Deus em Cristo. O foco é Cristo, não os homens. A glória é dele, não do ministério de alguém ou de alguma igreja. As atenções devem se voltar para Cristo, não para o milagre ou para a pessoa curada.
Na espiritualidade apostólica não há espaço para personalismo, estrelismo, sobrenaturalismo… o espaço é de Cristo.
O poder e a glória são de Deus, não do homem.
2. A fé é em Cristo, não na fé
Assim que esclareceu que o poder e a glória são de Deus em Cristo, não do homem, Pedro relembrou à multidão quem era o Cristo autor do milagre e, portanto, digno de fé: o mesmo Cristo que eles mandaram para a cruz.
At 3.13-16 | 13 O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus dos nossos antepassados, glorificou seu servo Jesus, a quem vocês entregaram para ser morto e negaram perante Pilatos, embora ele tivesse decidido soltá-lo. 14 Vocês negaram publicamente o Santo e Justo e pediram que lhes fosse libertado um assassino. 15 Vocês mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós somos testemunhas disso. 16 Pela fé no nome de Jesus, o Nome curou este homem que vocês vêem e conhecem. A fé que vem por meio dele lhe deu esta saúde perfeita, como todos podem ver.
Quem salva e quem cura é o Nome (v. 16), não é a fé. Sim, é preciso ter fé (confiar, pedir e se entregar), mas até a fé a nós nos vem “por meio dele” (v. 16), não vem de nós, “é dom de Deus” (Ef 2.8). É dele, por ele e para ele todas as coisas; a glória, portanto, é dele (Rm 11.36), não de nossa fé nem de nosso sacrifício de fé.
Pensem comigo sobre a fé do tamanho de um grão de mostarda.
Quando Jesus declarou que basta ter fé do tamanho de um grão de mostarda para um milagre acontecer, ele não estava dizendo que o milagre depende do tamanho de nossa fé, mas que simplesmente depende de se ter fé e ponto.
Na verdade, os apóstolo não tinham fé. Eles eram incrédulos. Por isso que Jesus usa como exemplo o tamaninho ridículo de um grão de mostarda para descrever que “tamanho” de fé é necessário para Deus agir. Em outras palavras, não é o tamanho da fé. É simplesmente ter fé. Ela pode ser do tamanho de um grão de mostarda, mas tem que se ter fé. Observem o que disse Jesus.
Lc 17.5-6 | 5 Os apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!” 6 Ele respondeu: “Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: ‘Arranque-se e plante-se no mar’, e ela lhes obedecerá.
Perceberam?
Os apóstolos achavam que precisavam de uma fé maior. Jesus disse que não. Na verdade, eles não tinham fé. Eles precisavam de fé.
Quando eu vejo tantos “sacrifícios de fé” entre evangélicos, fico com a sensação de que na verdade não é fé. Para mim, é pura ansiedade fazendo pressão em Deus: “Faça, Deus. Olhe para mim. Veja o meu sacrifício de fé. Faça, Deus. Faça logo.” Aliás, era assim que os israelitas viviam. Eles guardavam suas regras e diziam: “Veja Deus. Olhe como eu sou bom. Guardei o mandamento. Mereço perdão.” Se antes o povo de Deus fazia por merecer o perdão (através de sacrifícios ritualísticos), hoje esse povo faz por merecer a bênção (através de sacrifícios de fé).
Pedro, com Palavra de ordem, diz: a fé é em Cristo, não na fé.
A fé na fé, além de não glorificar a Deus, faz-nos correr agitados de um lado para o outro até conseguirmos o que tanto desejamos. Já a fé em Cristo, além de glorificar a Deus, faz-nos descansar satisfeitos com o leite da graça. Como eu amo o quadro pintado pelas palavras de Davi no Salmo 131.2!
Assim, como a criança desmamada fica quieta nos braços da mãe, assim eu estou satisfeito e tranquilo, e o meu coração está calmo dentro de mim.
A fé é em Cristo, não na fé.
3. O tesouro está no céu, não na terra
A esperança dos israelitas estava em um messias que restauraria a supremacia nacional de Israel sobre todos os povos da terra. Pedro, porém, alertou: o tesouro está no céu, não na terra.
At 3.17-21 | 17 “Agora, irmãos, eu sei que vocês agiram por ignorância, bem como os seus líderes. 18 Mas foi assim que Deus cumpriu o que tinha predito por todos os profetas, dizendo que o seu Cristo haveria de sofrer. 19 Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados, 20 para que venham tempos de descanso da parte do Senhor, e ele mande o Cristo, o qual lhes foi designado, Jesus. 21 É necessário que ele permaneça no céu até que chegue o tempo em que Deus restaurará todas as coisas, […]
No céu está o Cristo que virá para nos buscar. De lá é que vem o ar fresco da graça de Deus. Portanto, lá é que deve estar o nosso tesouro, não na terra.
Os crentes não podem colocar seus corações nas coisas da terra; ou seja: suas paixões devem ser as coisas celestiais; seus compromissos com as coisas da terra é fazer com que venha a nós o reino de Deus e a sua justiça, e assim seja feita a vontade do Senhor assim na terra como no céu: amor, cuidado, justiça, mordomia, etc.
O tesouro está no céu, não na terra.
4. A espiritualidade é regida pela Bíblia, não pela experiência
Pedro termina o seu sermão corrigindo o equívoco messiânico dos israelitas a partir das Escrituras do Antigo Testamento. Ele usa as três grandes correntes proféticas, associadas a Moisés, Samuel e Abraão. Os judeus se guiavam por suas interpretações de experiências pessoais. Pedro disse que eles deveriam reger a espiritualidade pela Bíblia.
At 3.21-26 | 21 […] como falou há muito tempo, por meio dos seus santos profetas. 22 Pois disse Moisés: ‘O Senhor Deus lhes levantará dentre seus irmãos um profeta como eu; ouçam-no em tudo o que ele lhes disser. 23 Quem não ouvir esse profeta, será eliminado do meio do seu povo’. 24 “De fato, todos os profetas, de Samuel em diante, um por um, falaram e predisseram estes dias. 25 E vocês são herdeiros dos profetas e da aliança que Deus fez com os seus antepassados. Ele disse a Abraão: ‘Por meio da sua descendência todos os povos da terra serão abençoados’. 26 Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês, para abençoá-los, convertendo cada um de vocês das suas maldades”.
Nossa espiritualidade é regida pela Bíblia, não pela experiência pessoal de alguém, seja a sua própria, seja a de outra pessoa. Aos profetas e aos apóstolos, conforme a revelação de Deus nas Escrituras, é que nós ouvimos.
Ouvimo-los na leitura devocional, no estudo pessoal da Bíblia, nos cursos da EBD, nas exposições bíblicas feitas no púlpito, nos pequenos grupos, etc. A nossa espiritualidade não se aparta da Bíblia, em busca de experiências. É na Bíblia que Deus corrige o nosso foco e é nela que ele se manifesta ao seu povo.
1Sm 3.21 | O Senhor continuou aparecendo em Siló, onde havia se revelado a Samuel por meio de sua palavra.
A espiritualidade é regida pela Bíblia, não pela experiência.
A Palavra, pela ordem
Nestes dias de tanta confusão, nós precisamos da Palavra para trazer ordem ao caos evangélico e aos nossos corações.
Pedro, pregando seu segundo sermão, nos ensina que
Este é um bom momento para uma auto-avaliação.
Precisamos da Palavra, pela ordem.
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