15.10.2023
PREFÁCIO. Para que serve prefácio de livro? Prefácio – é o “texto preliminar de apresentação, geralmente breve, escrito pelo autor ou por outra pessoa, colocado no começo do livro, com explicações sobre seu conteúdo, objetivos ou sobre a pessoa do autor e suas circunstâncias”. Agora, se é tão importante assim, eu te pergunto: por que as pessoas não leem prefácios? Você lê prefácios? Aliás! Você lê? Você lê livros? Bom, isso é outra história… De volta aqui, ao nosso tema: por que as pessoas sempre parecem fazer o seguinte: elas pulam o prefácio do livro e vão direto para o capítulo 1, por quê? Eu não! Eu gosto de ler prefácios. Sou fã de ler o prefácio de livros. Prefácios são instrutivos e podem nos resguardar de graves erros de interpretação do livro em mãos.
Tome como exemplo um dos livros do momento: Admirável mundo novo, de Aldous Huxley. A obra é uma crítica às tendências da sociedade em que vivia o autor, e ele simplesmente as lançou para o futuro – é um romance distópico. Romance a gente costuma saber o que é: é uma narrativa longa imaginária. Mas distopia, o que é? “Distopia é qualquer representação ou descrição de uma organização social futura caracterizada por condições de vida insuportáveis, com o objetivo de criticar tendências da sociedade atual, ou parodiar utopias que estão sendo imaginadas ou implantadas, alertando para os seus perigos; é uma antiutopia”. Muita gente, no entanto, desde que Admirável mundo novo foi publicado em 1932, principalmente entre estudantes universitários, sobretudo os lá da década de 1950, tomaram-no ou tomam-no como um plano conspiratório muito sério para se revolucionar a sociedade. Ora, quem pensa assim não entendeu a mensagem do livro, isso porque não leu ou não entendeu (ou ainda pior: insiste em ignorar) o prefácio do autor. Esse é um problema sério.
E por que eu digo isso?
É notório que muitas pessoas abordam o cristianismo de forma errada; e a razão é que elas não leram ou não compreenderam ou insistem em ignorar o prefácio. Mas, espere um pouco! — alguém poderá exclamar — Prefácio do cristianismo? Como assim, pastor? O cristianismo tem prefácio? — Sim, claro que tem! O prefácio do cristianismo é o Antigo Testamento.
Quer ver uma coisa?
Abra o seu Novo Testamento no primeiro livro: Mateus. Preste atenção às suas primeiras palavras: Mateus 1.1: “Este é o registro dos antepassados de Jesus Cristo, descendente de Davi e de Abraão: […]”. Agora no grego, o texto original desse versículo: Biblos [livro] geneseōs [gênesis] Iēsous [Jesus] Christos [Cristo] – literalmente: Livro da gênesis (genealogia) de Jesus Cristo. Ora, não tem como ler esse cabeçalho do primeiro livro do Novo Testamento e não ser remetido ao Gênesis e ao restante do Antigo Testamento. Até porque, a sequência do primeiro versículo de Mateus – tendo dito que Jesus Cristo é descendente de Davi e de Abraão – é uma longa lista de nomes, uma genealogia, com o propósito de conectar o Messias prometido de Israel: Jesus Cristo, com pessoas e histórias do Antigo Testamento. Aliás, se você ler atentamente os primeiros capítulos de Mateus, identificará já bem no começo desse Evangelho a preocupação em se demonstrar o cumprimento de profecias do Antigo Testamento na vida e no ministério de Jesus Cristo [Messias], descendente de Davi e de Abraão.
O Antigo Testamento, portanto, é o prefácio do cristianismo – daí que teólogos bíblicos colocam o Antigo Testamento como plano e promessas e o Novo Testamento como cumprimento de Deus. Agora, sinceramente, é um longo prefácio – o Antigo Testamento; aliás, como prefácio, o Antigo Testamento chega a ser maior do que o Novo Testamento: na Bíblia que consultei, 1.373 páginas do prefácio (isto é, do Antigo Testamento) contra 407 páginas do restante (isto é, do Novo Testamento). É um longo prefácio, de fato, cerca de três vezes maior do que o restante da Bíblia; mas é o prefácio: o prefácio do cristianismo. E é crucial que seja conhecido e compreendido.
Todos os grandes temas do Novo Testamento têm seu início no Antigo Testamento. Estão todos lá, e é lá, no Antigo Testamento, que esses temas são não apenas introduzidos mas também desenvolvidos para desembocarem em Jesus Cristo e na igreja, conforme se lê no Novo Testamento. Portanto, se quiser conhecer o Novo Testamento, se quiser mesmo compreender o cristianismo, você terá que ler o prefácio, o Antigo Testamento, e compreendê-lo (interpretá-lo corretamente, tendo a história da redenção em vista). É exatamente isto que estamos iniciando hoje a noite: uma jornada através de todos os livros do Antigo Testamento – um a um, de Gênesis a Malaquias –, trecho a trecho, por quanto tempo Deus nos permitir. Queremos entender o prefácio para compreender o cristianismo – e abraçar com deleite a salvação que nos é oferecida em Jesus Cristo:
Gálatas 4.4-7 4Mas, quando chegou o tempo certo [a plenitude dos tempos; desde o início de tudo, em Gênesis 1.1: quando Deus criou os céus e a terra], Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher [exatamente como fora prometido na primeira apresentação do evangelho em toda a Bíblia: Gênesis 3.15] e sob a lei [como qualquer outro ser humano, mas ele sem pecado]. 5Assim o fez para resgatar a nós que estávamos sob a lei [condenados por não conseguirmos cumpri-la], a fim de nos adotar como seus filhos. 6E, porque nós somos seus filhos, Deus enviou ao nosso coração o Espírito de seu Filho, e por meio dele clamamos: “Aba, Pai” [chamamos de Pai – veja você! em Cristo, chamamos de “Pai” o Deus Criador, o Deus da aliança com Abraão, o Deus de Israel]. 7Agora você já não é escravo, mas filho de Deus. E, uma vez que é filho, Deus o tornou herdeiro dele.
Você precisa conhecer o prefácio do cristianismo para compreender melhor a mensagem de salvação e desfrutar plenamente do privilégio de adoção como filho de Deus, herdeiro de suas promessas.
O Antigo Testamento começa com o Pentateuco (a Lei ou Torá) – que é composto pelos primeiros cinco livros (do grego, penta: cinco e teuchos: livros): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. A tradição judaica e os autores do Novo Testamento não apenas atribuíram esses livros a Moisés, como, de fato, os viam como um livro só (em cinco partes): Jesus, por exemplo, disse assim aos fariseus: João 5.46 “Se cressem, de fato, em Moisés [no Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio], creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito.”
É verdade que em lugar nenhum da obra o autor se identifica, mas ao longo das narrativas do Pentateuco é Moisés quem está mais intimamente associado à escrita do material, por exemplo: Êxodo 17.14 “Então o SENHOR disse a Moisés: “Escreva isto em um rolo como lembrança permanente e leia-o em voz alta para Josué: […]” E mais tarde se lê no livro Josué estas palavras esclarecedoras:
Josué 8.31-32 31Seguiu as ordens que Moisés, servo do SENHOR, havia escrito no Livro da Lei: “Façam um altar de pedras inteiras, em sua forma natural, que não tenham sido trabalhadas com ferramentas de ferro”. Sobre o altar, apresentaram ao SENHOR holocaustos e ofertas de comunhão. 32E, enquanto os israelitas observavam, Josué copiou nas pedras a lei que Moisés lhes tinha escrito.
Ou seja: tudo o que Moisés foi recebendo de tradição oral (de Adão até ele), tudo o que Deus foi lhe revelando diretamente (p.ex., Êx 20.1), tudo o que Moisés foi testemunhando e aprendendo, pelo Espírito de Deus, inspirado pelo Espírito Santo, ele e sucessores seus (editores ou editor – Josué? – também inspirado pelo Espírito) foram anotando e preservando como Torá ou Pentateuco ou Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Números 33.2 Por ordem do SENHOR, Moisés guardou um registro escrito de seu progresso [da jornada].
Deuteronômio 31.24-26 24Quando Moisés terminou de escrever os termos desta lei num livro, 25deu a seguinte ordem aos levitas que transportavam a arca da aliança do SENHOR: 26“Peguem este Livro da Lei e coloquem-no ao lado da arca da aliança do SENHOR, seu Deus, para que ele fique ali como testemunha contra vocês.
Contrário do que alguns podem pensar ou até ensinar, o Pentateuco não é um mosaico de ideias (um conjunto de ideias com cores e formas diferentes justapostas), mas um livro mosaico (o livro de Moisés) com propósitos teológicos bem definidos e unificados. De fato, uma leitura minuciosa de Gênesis 1.1—2.4a [que não é o cabeçalho apenas de Gênesis, mas de todo o Pentateuco] revelará que Moisés estava preocupado principalmente com três assuntos específicos: Deus, o homem e a mulher, e a terra. Deus é o dono da terra; ele a criou e a preparou para o ser humano; e, portanto, pode dá-la a quem desejar: Jeremias 27.5 – “Com minha grande força e meu braço poderoso [diz o SENHOR], fiz a terra, todas as pessoas e todos os animais. Isso tudo é meu, e posso entregá-lo a quem eu quiser.”
Quando você olha para o Pentateuco como um todo, você percebe que ele começa com a história da criação (Gn 1.1-2.4a) e da preparação da terra (Gn 2.4b-25) e conclui com o povo em face da terra prometida, preparando-se para conquistá-la. No último capítulo do Pentateuco nós lemos o seguinte:
Deuteronômio 34.4-5 4O SENHOR disse a Moisés: “Esta é a terra que prometi sob juramento a Abraão, Isaque e Jacó, quando disse: ‘Eu a darei a seus descendentes’. Sim, permiti que você a visse com seus próprios olhos, mas você não atravessará o rio para entrar nela”. 5Assim, Moisés, servo do SENHOR, morreu ali na terra de Moabe, conforme o SENHOR tinha dito.
Na sequência da revelação, Josué assumirá o posto de Moisés para conduzir o povo na conquista de Canaã, a terra prometida:
Deuteronômio 34.9 Josué, filho de Num, estava cheio do espírito de sabedoria, pois Moisés havia imposto as mãos sobre ele. Por isso, os israelitas lhe obedeceram e fizeram o que SENHOR havia ordenado a Moisés.
Josué 1.1-3 1Depois que Moisés, servo do SENHOR, morreu, o SENHOR disse a Josué, filho de Num, auxiliar de Moisés: 2“Meu servo Moisés está morto; chegou a hora de você conduzir todo este povo, os israelitas, para atravessar o rio Jordão e entrar na terra que eu lhes dou. 3Eu darei a vocês todo o lugar em que pisarem, conforme prometi a Moisés, […]
Pois bem, o Pentateuco começa com a criação e a preparação da terra (Gn 1–2) e termina com o povo prestes a conquistar a terra (Dt 34); o Deus que criou a terra a daria ao seu povo Israel, o povo da sua aliança. Com efeito, o evento mais proeminente em todo o Pentateuco, isto é, o clímax do Livro de Moisés é a aliança entre Deus e Israel estabelecida no Monte Sinai (Êx 19.1—24.18). Agora, essa aliança no Sinai está diretamente relacionada ao desejo inicial de Deus de abençoar a raça humana através da aliança dele com Abraão (Gn 12.1-3); e o Deus que chama Abraão e faz aliança com Israel é ninguém menos do que o Deus que criou os céus e a terra (Gn 1.1).
Sobre o tema da aliança de Deus com Israel, há fatos que precisam ser destacados, sob pena de se fazer o que tão comumente se faz: chamar o Antigo Testamento de “tempo da lei” e o Novo Testamento de “tempo da graça” – o que é um completo absurdo. Para você não cair nesse erro crasso, preste atenção em como já no próprio Livro da Lei de Moisés nós encontramos a graça de Deus que será plenamente dispensada ao povo de Deus na pessoa de Jesus Cristo. Veja, três coisas sobre o tema da lei e da aliança de Deus com Israel: [1.] A aliança no Sinai foi plano de Deus para restaurar a sua bênção à raça humana através dos descendentes de Abraão [Deus criou tudo bom e perfeito; o pecado devastou tudo; e Deus chamou Abraão: Gn 1—12]; [2.] contudo, a aliança no Sinai (iniciada com Abraão) não conseguiu restaurar essa bênção porque Israel não confiou em Deus e não obedeceu à sua vontade [Moisés, por não ter confiado em Deus, não entrou na terra: Nm 20.1-13, representando aqui o fracasso de Israel em não viver pela fé]; [3.] mas o próprio Moisés prossegue demonstrando que a promessa de Deus de restaurar a bênção do SENHOR será bem sucedida porque o próprio Deus prometeu dar ao seu Israel, em alguma data futura, um coração que confiaria nele e lhe obedeceria. Desse modo, a nova aliança no sangue de Jesus já está anunciada no livro de Moisés (em Dt 30.1-10). Veja, em especial, estes versículos:
Deuteronômio 30.6, 10 6O SENHOR, seu Deus, transformará o coração de vocês e de todos os seus descendentes, para que o amem de todo o coração e de toda a alma, e para que vivam! […] 10O SENHOR, seu Deus, se alegrará em vocês se lhe obedecerem e cumprirem os mandamentos e decretos escritos neste Livro da Lei, e se voltarem para o SENHOR, seu Deus, de todo o coração e de toda a alma.”
Em outras palavras, todo o foco do Pentateuco está apontado para o futuro, o tempo em que a promessa fiel de Deus seria cumprida. E foi!; foi em Jesus Cristo: Colossenses 2.11 — “Em Cristo vocês foram circuncidados [o coração foi transformado para amar o Senhor e a lei], mas não por uma operação física, e sim espiritual, na qual foi removido o domínio de sua natureza humana.” Em Cristo, – pelo sangue da nova aliança: o sangue de Cristo, – o coração do cristão é transformado, e ele passa a amar o Senhor de todo o coração, e por amá-lo, e pelo poder do Espírito Santo, o cristão cumpre a sua lei.
Graça. Graça do começo ao fim. Graça de Gênesis a Apocalipse, essa é a história da Bíblia Sagrada: o Deus gracioso que, em amor, transbordou de si mesmo em atos de criação e preparação da terra para viver em comunhão com o seu povo (também criado por ele) – como se lê em Gênesis (já nos primeiros capítulos: Gênesis 1–2). Foi assim em Gênesis, lá no início de tudo; e será assim também no final, mesmo depois de termos todos pecado e nos separado de Deus: aos que abraçaram com fé a semente da mulher (Gn 3.15), o descendente de Davi e de Abraão, o Senhor e Salvador Jesus Cristo (Gn 12.1-3; Mt 1.1), Deus mesmo, tendo transbordado de si mesmo em atos de redenção/salvação em Jesus Cristo, trará, da parte dele, novo céu e nova terra para aí viver em comunhão com eles (como era o plano original, em Gênesis). Portanto, sim, é sobre Deus, seus filhos e filhas, e a nova terra que se lê nos últimos capítulos da Bíblia, com descrições idênticas às referências da terra no Éden (Apocalipse 21–22); e é sobre Deus, o homem e a mulher, e a terra tão maravilhosamente preparada para viver em comunhão as criaturas e o Criador que se lê nos dois primeiros capítulos da Bíblia (Gênesis 1–2). E é para lá que nos voltaremos agora: Gênesis.
Lembre-se: nós não podemos ler o livro de Gênesis como se ele fosse um livro desconectado dos demais livros de Moisés. Gênesis é apenas o começo da saga. Veja.
Gênesis abre a Bíblia de maneira apoteótica. O livro – sem cerimônia ou rodeios – vai direto ao ponto e apresenta aos leitores o único Deus que existe: o Criador, o Provedor, o Juiz e o Redentor de todas as situações e pessoas. Ainda no começo da história, à partir já do capítulo 3, a narrativa expõe as raízes e as consequências do pecado humano cometido contra Deus, o próximo e a criação. Felizmente, Moisés também destaca o papel das relações de aliança entre Deus e um homem escolhido para desenrolar a história da redenção. Em síntese, Gênesis inicia o que são indiscutivelmente as principais ênfases da Bíblia, do início ao fim: criação, queda, consequências, aliança e redenção.
O livro tem duas seções principais.
A PRIMEIRA PARTE, Gênesis 1.1–11.26 oferece uma visão geral deslumbrante que começa com a criação e leva os leitores à época de Abraão e sua família. Desdobra-se assim esses primeiros capítulos: Deus cria um mundo bom e perfeito e coloca as pessoas nesse lar maravilhoso, como seus mordomos (1.1–2.25). Infelizmente, o primeiro casal peca e segue-se, como consequência, graves desdobramentos (3.1-24). Contudo, Deus promete redenção através de um filho que virá (3.15). Depois que o pecado e a violência dele decorrente se espalharam (4.1–6.4), Deus julga o pecado humano por meio do grande dilúvio (6.5–8.19). Tendo poupado Noé e sua família, Deus faz uma aliança com a criação e as pessoas que nela estavam vivendo: Noé e seus descendente que saíram da arca (8.20–9.17). A terra e as suas estações continuarão, assim como a humanidade. Depois disso, as pessoas povoam a terra, mas a rebelião contra Deus continua de modo progressivo (9.18–11.26).
A SEGUNDA PARTE, Gênesis 11.27–50.26 detalha a importância de Abraão e sua descendência para o plano de redenção de Deus e o envio da semente da mulher que Gênesis 3.15 prometeu. Deus chama Abraão, faz com ele uma aliança e lhe promete um herdeiro e uma pátria para, desse modo – essa nação que descenderia de Abraão – abençoar pessoas de todos os povos da terra que Deus criou (12.1-9). Essa aliança está ancorada na fé nas promessas de Deus, e assim continua, tanto quando Abraão obedece a Deus, quanto quando ele não o faz (12.10–25.18). Depois de Abraão, Deus continua a liderar, abençoar e corrigir a descendência direta do primeiro patriarca, preservando-a através das gerações em circunstâncias boas e más (25.19–50.26).
Nossa jornada pelo livro de Gênesis nos levará às seguintes paradas:
Capítulos 1—11: A HISTÓRIA PRIMEVA
Capítulos 12—50: A HISTÓRIA PATRIARCAL
O que estudaremos em Gênesis – Deus permitindo à partir das próximas mensagens – será a história da redenção: a história da salvação do povo de Deus; minha oração é que seja a sua história. Veremos que os quatro grandes eventos da história primeva, os capítulos 1—11, estabelecem a base sobre a qual toda a Bíblia é construída, e se concentram em quatro eventos principais:
1. Criação | Deus é o Criador soberano da matéria, energia, espaço e tempo. O homem é o ápice da Criação e para ele foi preparado uma terra especial, na qual viveria em perfeita e deleitosa comunhão como o Criador e a criação.
2. Queda | a criação boa e perfeita de Deus foi seguida pela corrupção do pecado. No primeiro pecado, o homem foi separado de Deus e uns dos outros (Adão e Eva de Deus; Adão de Eva; Caim de Abel). Apesar da maldição devastadora da queda no pecado, com todas as suas malíssimas consequências, Deus alimentou a esperança da raça humana, fazendo promessa de redenção através da semente da mulher (3.15).
3. Dilúvio | À medida que o ser humano foi se multiplicando, o pecado também se multiplicou a tal ponto que Deus se viu compelido a destruir a humanidade, com exceção de Noé e de sua família; e com Noé Deus fez uma aliança; e de Noé e seus descendentes a humanidade cresceu e avançou.
4. Nações | Gênesis ensina a unidade da raça humana: somos todos filhos de Adão, através de Noé, mas por causa da rebelião pecaminosa na Torre de Babel, Deus fragmentou em pedaços a única cultura e a única língua que havia no mundo pós-diluviano; e dispersou as pessoas pela face da terra.
Na sequência do livro de Gênesis, os quatro grandes eventos são os da história patriarcal, nos capítulos 12—50; veremos que tudo o que foi contado até esse ponto foi para destacar a aliança com um povo, à partir de Abraão (da semente de quem, a mesma semente da mulher, viria o Messias); ou seja: uma vez dispersas as nações por causa do pecado e rebelião, Deus se concentraria em um homem e em seus descendentes, por meio dos quais ele abençoaria todas as nações:
5. Abraão | O chamado de Abraão (cap. 12), como já dissemos, é o ponto central do livro de Gênesis (e que aponta para o tema central do Pentateuco, a aliança no Monte Sinai em Êxodo 19.1—24.18). As três promessas da aliança que Deus fará a Abraão (terra, descendência e bênção) são fundamentais para o programa divino de trazer salvação à terra através de seu povo escolhido.
6. Isaque | Deus estabelece sua aliança com Isaque como o elo espiritual com Abraão; mas o que se verá é que, não fosse pela graça de Deus, o pecado dos patriarcas teria colocado tudo a perder.
7. Jacó | Deus transforma este homem que era um poço de egoísmo em servo e muda seu nome para Israel, o pai das doze tribos de Israel.
8. José | O filho favorito de Jacó sofrerá nas mãos de seus próprios irmãos ciumentos (egoístas, iguais ao pai) e se tornará escravo no Egito. Entretanto, após sua dramática ascensão ao governo do Egito, José livrará a família inteira da fome e os levará de Canaã para Gósen. E no Egito José morrerá. FIM.
Mark Dever escreveu que William Shakespeare não foi o único escritor que conseguia ser dramático. Moisés também era dramático em sua arte literária. Sim! Observe que ele [1.] COMEÇOU o livro de Gênesis com tanto poder, alcance universal e esperança de vida: Gênesis 1.1 — “No princípio, Deus criou os céus e a terra.”, e [2.] TERMINARÁ, com este último versículo: Gênesis 50.26 — “José morreu com 110 anos. Os egípcios o embalsamaram e o colocaram em um caixão no Egito.” Como assim? Teria Satanás vencido? A sua rebelião malíssima contra a criação de Deus teria obtido sucesso? Veja bem: a morte tocou todos os filhos de Adão, e o último herói de Gênesis, José, termina mumificado em um caixão. O livro que começou com a Criação terminou com um caixão! Não tinha como ser mais dramático. Não é verdade? Nem Shakespeare conseguiria tanto.
Só que… Alto lá! A cena não terminou.
Veja onde está esse caixão com o corpo mumificado de José: no Egito, a nação mais poderosa do planeta. Deus sabia o que ele estava fazendo. Deus sabia onde plantar sua semente para propósitos inimagináveis. Deus sabia exatamente onde deixar o caixão de José. Como se verá no livro de Êxodo, o capítulo 2 ou a parte II do Pentateuco ou Livro de Moisés (que ainda iremos estudar), o cenário estava montado para o grande drama da redenção de Deus em favor de seu povo, onde ele mostraria ao mundo inteiro que nação nenhuma na terra, nem mesmo a maior superpotência ou o povo mais mau e perverso, nem o próprio Satanás, poderiam impedir os planos divinos de avançarem. E assim Deus mesmo deixou o caixão de José no Egito. Gênesis, o livro das origens, tem um fim; mas esta é apenas a primeira parte de uma longa e bela história; o plano de Deus ainda não terminou. Não estava nem perto de acabar! Deus estava apenas começando.
E você? O que aconteceu com você? O que aconteceu com você que te faz pensar que o plano de Deus para a sua vida chegou ao fim? Será que chegou mesmo? O que te faz pensar assim? Alguma coisa que é horrível demais? Alguma situação que é muito complicada? Algum pecado que é muito sério? O que aconteceu com você? O que te faz pensar que não tem mais esperança para você? Se está se sentindo assim esta noite – sem esperança – é porque você ainda não considerou cuidadosamente o Criador deste mundo… ou o caixão de José no Egito. Você acha mesmo que a história acabou? Deus ainda não havia terminado. O caixão contendo o corpo mumificado de José estava lá no Egito pela providência de Deus. E, graças a Deus, a história de Deus também não termina hoje, e ainda não terminou na sua vida.
Saiba que uma das lições mais preciosas do livro de Gênesis é esta: os becos sem saída de sua vida te chamam a recorrer ao SENHOR Deus com arrependimento e fé. O relato deste livro – que contém histórias como criação, queda, aliança e providência nos apontam para a mais maravilhosa de todas as histórias: Jesus Cristo, cuja vida e obra nos oferece esperança de recriação, santificação, perseverança e providência; oferece-nos, em uma palavra, salvação. Se Gênesis é o livro da aliança, Jesus é a nossa aliança com Deus e uns com os outros. Abrace-o. Receba-o com arrependimento e fé.
Voltaremos ao livro de Gênesis, queremos desembrulhar suas oito partes que estão diante de nós; faremos isso, Deus permitindo, nas próximas mensagens: queremos conhecer mais de Deus, de nós mesmos e das promessas de Deus. Por ora, fica o convite a você: receba Jesus Cristo, aquele sem o qual nada do que foi criado teria sido criado, aquele que morreu no lugar do pecador e ressuscitou para a justificação de todos os que nele creem, aquele em quem, pelo sangue dele, Deus, o Criador, faz uma aliança indestrutível com todos quantos o recebem com arrependimento e fé. Essa é a mensagem central do cristianismo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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