08.09.2024
Atos 27.1-44 (NVT)
Paulo vai a Roma
1Quando chegou a hora, zarpamos para a Itália. Paulo e muitos outros prisioneiros foram colocados sob a guarda de um oficial romano chamado Júlio, capitão do Regimento Imperial. 2Aristarco, um macedônio de Tessalônica, nos acompanhou. Partimos num navio que tinha vindo do porto de Adramítio, no litoral noroeste da província da Ásia. Estavam previstas diversas paradas em portos ao longo da costa.
John Pollock (1924–2012), autor e biógrafo britânico amplamente reconhecido por suas biografias de figuras cristãs proeminentes, pintou com cores vivas o pânico, a confusão e a experiência de quase morte dos passageiros que embarcaram no navio – Paulo entre eles – com destino a Roma, conforme descrito em Atos 27.
Um dia miserável após outro, uma noite aterrorizante após outra, eles subiam e desciam em mares montanhosos. Nuvens espessas e ininterruptas impediam qualquer cálculo preciso: o capitão não tinha ideia da posição do navio. Lucas descreve que a sensação era de estarem sendo jogados de um lado para o outro, quando, na verdade, eles derivavam a uma velocidade de dois quilômetros e meio por hora na direção de oito graus a noroeste. Se tivessem mapas e meios de averiguar sua posição, não teriam se preocupado tanto, pois não poderiam ter planejado um curso mais vantajoso – isso, claro, se não afundassem antes. A principal carga de trigo estava completamente encharcada – os sacos estavam pesados e ensopados demais para serem transportados em um navio que balançava violentamente, sem parar, e que, ao mesmo tempo, continuava a ganhar peso.
O nível da água subia e, na mesma proporção, o navio afundava em relação ao mar, até que, por volta do décimo primeiro ou décimo segundo dia da tempestade, todos perderam qualquer esperança de salvamento. O naufrágio parecia inevitável – apenas uma questão de poucos dias, no máximo, mesmo que a tempestade cessasse – e significaria a perda de toda a tripulação se abandonassem o navio!
O quadro era terrível! Estavam bem no meio de uma “tempestade perfeita”. Essa metáfora – “tempestade perfeita” – tem origem no contexto meteorológico, referindo-se ao momento em que várias condições climáticas extremas se combinam, criando uma tempestade de intensidade incomum e devastadora. Foi nesse furacão que Paulo, Lucas e os demais lutaram desesperadamente para se manter à tona, até que, eventualmente, todos – soldados, marinheiros, navegantes e até Lucas! – perderam qualquer esperança de sobrevivência… Todos, exceto um: o apóstolo Paulo. Para descobrir por que Paulo nunca perdeu a esperança ou entrou em pânico, vamos voltar e embarcar naquele navio, navegando com o apóstolo em sua incrível odisseia até Roma.
Descobriremos, nessa viagem de Cesareia a Roma, que a situação fez surgir o líder. Esse momento de crise foi a oportunidade para Paulo se destacar, mesmo sem formação, experiência e, portanto, sem o reconhecimento das pessoas na navegação marítima. De fato, Paulo não era marinheiro; Paulo era apóstolo. Entretanto, o verdadeiro potencial de liderança de Paulo – como tantas vezes acontece com líderes de verdade – foi revelado àquela tripulação e aos passageiros quando foram colocados à prova, e as habilidades e forças humanas (até mesmo dos especialistas) se esgotaram. A situação demandava um líder – exigia direção, decisão e ação –; os encarregados pela embarcação estavam perdidos e, se algo não fosse feito, todos pereceriam. Paulo, então, demonstrou suas habilidades de liderança, que talvez não tivessem sido percebidas por aquele grupo em tempos normais, durante uma viagem tranquila.
Alguns dos princípios bíblicos de liderança – nem todos, mas os principais, aqueles que são fundamentais para qualquer líder cristão, em qualquer área de atuação, seja secular ou eclesiástica – estão estampados aqui em Atos 27. O texto começa com Paulo como prisioneiro, sem estar responsável por ninguém ou nada. No entanto, tudo isso mudou quando uma “tempestade perfeita” atingiu o navio no qual ele embarcou e, consequentemente, o grupo com o qual ele viajava. Ao final do capítulo, porém, Paulo, o prisioneiro, havia se tornado o líder reconhecido por todos. Sua capacidade de lidar com a crise – acima de tudo, sua capacidade de lidar com as pessoas no meio daquela crise – o elevou a essa posição destacada.
Entre outros aspectos que poderiam ser destacados em Atos 27, será útil nos determos na grandeza da liderança de Paulo, pois é desse tipo de líder que os lares, a sociedade, as igrejas e, enfim, o mundo estão necessitando. A HISTÓRIA de como a liderança do apóstolo emergiu durante uma jornada atormentada pela tempestade no mar Mediterrâneo, culminando em um naufrágio, DESENROLA-SE EM QUATRO ESTÁGIOS: o início (vs. 1-8), a navegação (vs. 9-12), a tempestade (vs. 13-26) e o naufrágio (vs. 27-44).
Não se deve perder de vista que os eventos da viagem de Paulo a Roma (Atos 27.1 a 28.10) revelam-no como vaso escolhido, cuja vida Deus protegeu e cujo ministério entre os gentios fez prosperar.
1. O início (vs. 1-8)
Por anos, o apóstolo Paulo planejou visitar os santos em Roma para encorajá-los na fé. Agora, finalmente, a viagem teria início para tornar esse projeto realidade. Atos 27.1 (NVT): “Quando chegou a hora, zarpamos para a Itália. Paulo e muitos outros prisioneiros foram colocados sob a guarda de um oficial romano [centurião] chamado Júlio, capitão do Regimento Imperial.”
Compactamente contidos nesse único versículo estão vários detalhes importantes sobre a viagem – detalhes que John Pollock explicou como se fosse ele próprio um marinheiro conduzindo-nos a bordo do navio.
Festo entregou Paulo a um centurião chamado Júlio, que servia na coorte imperial, ou augustana, cujos oficiais e homens viajavam por todo o império em missões de escolta e correio. Júlio comandava um destacamento de cerca de uma dúzia de soldados. Paulo era o único prisioneiro de prestígio, sendo permitido a ele levar dois acompanhantes, que estavam listados como seus escravos pessoais: Aristarco e Lucas, o médico. Os outros prisioneiros seriam condenados, a caminho de sua sombria jornada para “preencher um feriado romano”, seja como alimento para leões nos jogos ou, se fossem fortes o suficiente, para treinamento como gladiadores. Esses estariam todos acorrentados às vigas no porão; contudo, Paulo e seus acompanhantes podiam se movimentar livremente, embora ele devesse sempre usar uma corrente solta, símbolo de seu status.
Quando o Senhor prometeu a Paulo, dois anos antes, que ele testemunharia a respeito de Cristo também em Roma (23.11), o apóstolo provavelmente não fazia ideia de que seria enviado para lá acorrentado, cortesia do judiciário romano. Mas o Senhor pode usar qualquer circunstância para cumprir sua palavra.
Antes de iniciarmos a viagem, vamos primeiro examinar alguns detalhes desse itinerário. Primeiro, fatores técnicos: a jornada começa em Cesareia. É final de agosto do ano 59 d.C.; os ventos estão leves e sopram do oeste; e a embarcação costeira levará a tripulação e os passageiros a um porto onde o centurião está confiante de que encontrará outro navio com destino a Roma. O plano é chegar à capital do império até o final de outubro. Registrando a viagem está o meticuloso Dr. Lucas, e será através dos olhos dele que nós leitores vivenciaremos esta jornada.
Segundo, perigos físicos: os ventos de fim de verão no Mediterrâneo oriental impediam a navegação pelo mar aberto ao sul de Creta, então navegarão cerca de cento e cinco quilômetros ao longo da costa até Sidom.
Atos 27.2-8 (NVT)
2Aristarco, um macedônio de Tessalônica, nos acompanhou. Partimos num navio que tinha vindo do porto de Adramítio, no litoral noroeste da província da Ásia [Turquia]. Estavam previstas diversas paradas em portos ao longo da costa.
3No dia seguinte, quando ancoramos em Sidom, Júlio demonstrou bondade a Paulo permitindo-lhe que desembarcasse para visitar amigos e receber ajuda material deles. 4Quando partimos de lá, fomos costeando a ilha de Chipre, devido aos ventos contrários que tornavam difícil manter o rumo. 5Prosseguindo por mar aberto, passamos pelo litoral da Cilícia e da Panfília, chegando a Mirra, na província de Lícia. 6Ali, o oficial no comando encontrou um navio egípcio de Alexandria que estava de partida para a Itália e nos fez embarcar.
7Navegamos vagarosamente por vários dias e, depois de muita dificuldade, nos aproximamos de Cnido. Por causa dos ventos contrários, atravessamos para Creta, acompanhando o litoral menos exposto da ilha, defronte ao cabo de Salmona. 8Costeamos a ilha com grande esforço, até que chegamos a Bons Portos, perto da cidade de Laseia.
Em relação ao que viria pela frente, esse início da viagem, no trecho de Cesareia a Creta, transcorreu relativamente sem problemas (1-8). A segunda perna do itinerário (9-12), no entanto, seria bem diferente, castigada por tormentas.
2. A navegação (vs. 9-12)
9Havíamos perdido muito tempo. As condições climáticas estavam se tornando perigosas para a navegação, pois se aproximava o fim do outono [ARA: “Dia do Jejum”. O jejum em questão estava associado ao Dia da Expiação ou Yom Kippur, que caía no final de setembro ou início de outubro e, portanto, no outono do Hemisfério Norte.], e Paulo tratou dessa questão com os oficiais do navio.
10Disse ele: “Senhores, se prosseguirmos, vejo que teremos problemas adiante. Haverá grande prejuízo para o navio e para a carga, e perigo para nossa vida”. 11Mas o oficial encarregado dos prisioneiros deu mais ouvidos ao capitão e ao proprietário do navio que a Paulo. 12E, uma vez que Bons Portos era uma enseada aberta, um péssimo lugar para passar o inverno, a maioria da tripulação desejava ir a Fenice, que ficava mais adiante na costa de Creta, e passar o inverno ali. Fenice era um bom porto, com abertura apenas para o sudoeste e o noroeste.
Em Bons Portos, toda esperança de chegar à Itália naquela estação do ano já estava perdida. Os ventos eram muito contrários, e muito tempo havia se passado (v. 9). A explicação oferecida por John Pollock é bastante elucidativa:
Chegou e passou o dia 5 de outubro, o Dia da Expiação judaico. […] As “condições climáticas… perigosas para a navegação” indicavam o fim da época viável para se navegar com segurança. O dia 11 de novembro marcava o término do período para qualquer navegação possível em mar aberto, pois o sol e as estrelas poderiam ficar encobertos por dias, eliminando a oportunidade de determinar a posição e a rota dos navios. Esses céus cobertos por nuvens tenebrosas, mais do que o perigo inevitável das tempestades, eram o fator que parava o tráfego marítimo no inverno.
A tripulação, portanto, enfrentava um dilema vital: passar o inverno no porto desprotegido de Bons Portos ou arriscar seguir para o porto mais seguro de Fenice, localizado pouco mais adiante na costa de Creta. Paulo advertiu a todos, contrário a que se seguisse a viagem: “Senhores, se prosseguirmos, vejo que teremos problemas adiante. Haverá grande prejuízo para o navio e para a carga, e perigo para nossa vida” (v. 10). No entanto, o piloto e o capitão do navio discordaram dele e, no fim, convenceram Júlio e a maioria da tripulação de que poderiam chegar a Fenice (vs. 11-12).
3. A tempestade (vs. 13-26)
A decisão de zarpar tão rapidamente prova ser uma má escolha:
13Quando um vento leve começou a soprar do sul, os marinheiros pensaram que conseguiriam chegar lá a salvo. Por isso, levantaram âncora e foram costeando Creta. 14Mas o tempo mudou de repente, e um vento com força de furacão, chamado Nordeste, soprou sobre a ilha e nos empurrou para o mar aberto. 15Como os marinheiros não conseguiam manobrar o navio para ficar de frente para o vento, desistiram e deixaram que fosse levado pela tempestade.
16Navegamos pelo lado menos exposto de uma pequena ilha chamada Cauda, onde, com muito custo, conseguimos içar para bordo o barco salva-vidas que viajava rebocado.
Bem, se está ruim é claro que pode piorar!
17Então os marinheiros amarraram cordas em volta do casco do navio para reforçá-lo. Temiam ser arrastados para os bancos de areia de Sirte, diante do litoral africano, por isso baixaram a âncora flutuante para desacelerar o navio e deixaram que fosse levado pelo vento.
18No dia seguinte, como ventos com força de vendaval continuavam a castigar o navio, a tripulação começou a lançar a carga ao mar. 19No terceiro dia, removeram até mesmo parte do equipamento do navio e o jogaram fora. 20A tempestade terrível prosseguiu por muitos dias, escondendo o sol e as estrelas, até que perdemos todas as esperanças. 21Fazia tempo que ninguém comia. […]
Não deixe de observar que a última e mais preciosa carga lançada ao mar foi a “esperança” dos passageiros e da tripulação (v. 20). Eles já haviam esgotado todos os recursos para salvar o navio, mas sem sucesso. Então, simplesmente se amontoaram, à deriva em seu próprio desespero. Nesse momento de impotência, contudo, é que os verdadeiros líderes se levantam. O apóstolo Paulo se ergueu e lançou as ÂNCORAS ESPIRITUAIS necessárias para assegurar a esperança das pessoas no único lugar seguro — o Senhor (v. 21). Vamos examinar essas âncoras e ver a segurança que elas ofereceram.
Primeiro, Paulo lançou a âncora da presença de Deus. Leia:
21Fazia tempo que ninguém comia. Por fim, Paulo reuniu a tripulação e disse: “Os senhores deveriam ter me dado ouvidos no princípio e não ter deixado Bons Portos. Teriam evitado todo este prejuízo e esta perda. 22Mas tenham bom ânimo! O navio afundará, mas nenhum de vocês perderá a vida. 23Pois, ontem à noite, um anjo do Deus a quem pertenço e sirvo se pôs ao meu lado 24e disse: ‘Não tenha medo, Paulo! É preciso que você compareça diante de César. E Deus, em sua bondade, concedeu proteção a todos que navegam com você’. 25Portanto, tenham bom ânimo! Creio em Deus; tudo ocorrerá exatamente como ele disse. 26É necessário, porém, que sejamos impulsionados para uma ilha”.
Veja: duas vezes (vs. 22, 25), o apóstolo disse aos seus companheiros de bordo para manterem o ânimo [lit., alegria, entusiasmo]. — Ora, por quê? — Porque Deus estava presente com eles e prometeu que não os deixaria perecer. Meu povo, nada é mais aterrorizante do que enfrentar o perigo sozinho. Mas, com a percepção da presença de Deus, somada à certeza da missão ainda inacabada: ‘Não tenha medo, Paulo! É preciso que você compareça diante de César’ (v. 24), a confiança e a coragem são renovadas.
Contudo – saiba disto, meu povo – a presença do Senhor e a missão ainda inacabada não pressupõem que a tempestade acabará rapidamente. Em alguns casos, sim; mas não necessariamente. Deus não prometeu a Paulo que a tempestade cessaria, mas sim que sua presença lenitiva (sua presença aliviadora, suavizadora ou confortadora) os guiaria através do furacão. Na verdade, Lucas nos diz que – preste atenção! – foi só à meia-noite da décima quarta noite da tempestade que a tripulação conseguiu perceber que estavam próximos de terra firme (v. 27a).
4. O naufrágio (vs. 27-44)
27Por volta da meia-noite, na décima quarta noite de tempestade, enquanto éramos levados de um lado para o outro no mar Adriático [no primeiro século o mar Adriático abrangia a parte central do mar Mediterrâneo], os marinheiros perceberam que estávamos perto de terra firme. 28Lançaram a sonda e verificaram que a água tinha 37 metros de profundidade. Um pouco depois, lançaram a sonda novamente e encontraram apenas 27 metros. 29Temiam que, se continuássemos assim, seríamos atirados contra as rochas na praia. Por isso, lançaram quatro âncoras da parte de trás do navio e ansiavam para que o dia chegasse logo.
30Dando a entender que iriam lançar as âncoras da parte da frente, os marinheiros baixaram o barco salva-vidas, na tentativa de abandonar o navio.
Paulo, no entanto, percebeu o plano dos desertores e rapidamente alertou o centurião romano e seus soldados:
31Paulo, então, disse ao oficial no comando e aos soldados: “Se os marinheiros não permanecerem a bordo, vocês não conseguirão se salvar”. 32Então os soldados cortaram as cordas do barco salva-vidas e o deixaram à deriva.
É neste momento que Paulo lança a sua segunda âncora espiritual. Lembrando que a primeira foi a âncora da presença de Deus.
Segundo, Paulo lançou a âncora do encorajamento prático. Leia:
33Enquanto amanhecia, Paulo insistiu que todos comessem. “De tão preocupados, vocês não se alimentam há duas semanas”, disse ele. 34“Por favor, comam alguma coisa agora, para seu próprio bem. Pois nem um fio de cabelo de sua cabeça se perderá.” 35Em seguida, tomou um pão, deu graças a Deus na presença de todos, partiu-o em pedaços e comeu. 36Todos se animaram e começaram a comer. 37Havia um total de 276 pessoas a bordo. 38Depois de se alimentar, a tripulação aliviou o peso do navio mais um pouco, atirando ao mar toda a carga de trigo.
É uma cena impressionante: 276 sobreviventes encharcados comendo calmamente em meio a um furacão no mar! Detalhe: Lucas, o mesmo Lucas que escreveu o Evangelho, narra o episódio em Atos fazendo uma analogia com a última Páscoa de Jesus com os apóstolos e com a refeição dele com os discípulos no caminho para Emaús. Leia Atos 27.35: “Em seguida, [Paulo] tomou um pão, deu graças a Deus na presença de todos, partiu-o em pedaços e comeu.” Agora compare com a narrativa da ceia com os discípulos, em Lucas 22.19: “[Jesus] tomou o pão e agradeceu a Deus. Depois, partiu-o e o deu aos discípulos.” Compare ainda com a cena dos discípulos no caminho para Emaús, Lucas 24.30: “Quando estavam à mesa, [Jesus] tomou o pão e o abençoou. Depois, partiu-o e lhes deu.” Ah, meu povo! Paulo desejava que os olhos daqueles homens se abrissem para Jesus, pois “estavam como que impedidos de reconhecê-lo” (cf. Lc 24.30-31).
Mas volte comigo para a cena de Atos 27. Aqui estão 276 sobreviventes encharcados, comendo calmamente em meio a um furacão no mar! O que mudou? As circunstâncias não mudaram. O furacão continuava castigando o navio, a embarcação balançava. — O que mudou, meu povo? — O que mudou foi a atitude deles. O encorajamento contínuo e confiante de Paulo trouxe uma perspectiva totalmente nova, firmemente ancorada na confiança absoluta dele no Senhor. Em meio à tormenta, Paulo mantinha a fé na presença de Deus e, por isso, mostrou-se incrivelmente prático, a ponto de preparar uma mesa para a refeição. Comer é imprescindível, gente, mesmo sem apetite. Meu Deus!, o realismo prático de Paulo, sem perder a espiritualidade, é impressionante e absolutamente necessário. Afinal, somos todos propensos a ser 8 ou 80: ou práticos demais ou espirituais demais. Deus nos fez para sermos ambos ao mesmo tempo.
Depois da âncora da presença de Deus e da âncora do encorajamento prático, Paulo lançará a última neste episódio.
Terceiro, Paulo lançou a âncora da fé inabalável. Lucas nos relata que:
39Ao amanhecer, não reconheceram a terra, mas viram uma enseada com uma praia e cogitaram se seria possível chegar ali e atracar o navio. 40Então cortaram as âncoras e as deixaram no mar. Depois, afrouxaram as cordas que controlavam os lemes, levantaram a vela da frente e foram rumo à praia,
Imaginem a cena. Dá até para ser poético. Alguém grita: “Terra à vista!” e o capitão responde: “Ótimo, vamos em direção a ela!” E assim seguem, navegando à esmo, com olhos que mal enxergam o destino, mas guiados pela fé na promessa de Deus. Pois ele prometeu que encalhariam em uma ilha, e, mesmo em meio à tormenta, a certeza brilha: o Senhor cumpriu sua palavra, e à terra, enfim, chegarão. Sim, a duras penas, mas chegarão. Atos 27.41: “mas o navio foi apanhado entre duas correntezas contrárias e encalhou antes do esperado. A parte da frente se encravou e ficou imóvel, enquanto a parte de trás, atingida pela força das ondas, começou a se partir.”
Abandonando o navio, chegando em segurança
Em meio ao caos das ondas furiosas e da popa do navio se despedaçando, a tripulação e os passageiros se preparam rapidamente para abandonar a embarcação. E mais uma vez, a mão da Providência agiu em favor de Paulo, poupando a vida de muitos outros por causa dele. Ah! Se o mundo se desse conta do quanto é poupado por causa dos crentes! Observe:
42Os soldados queriam matar os prisioneiros para que não nadassem até a praia e depois fugissem. 43O oficial no comando, porém, desejava poupar a vida de Paulo e não permitiu que executassem seu plano. Ordenou aos que sabiam nadar que saltassem ao mar primeiro e fossem em direção a terra. 44Os outros se agarraram a tábuas ou pedaços do navio destruído. Assim, todos chegaram à praia em segurança.
Ufa! Eles conseguiram – talvez com fome, fortes náuseas, encharcados e exaustos, mas conseguiram. Chegaram em segurança! Todos. Mas, onde eles “chegaram”? Que “praia” era esta? Ora, esta ilha, cuja praia estava coberta pelos destroços do navio e pelos sobreviventes maltrapilhos, ainda não é a Roma tão movimentada que Deus destinou para Paulo. Ainda não chegaram lá, o que levanta uma pergunta importante, que talvez até tenha passado pela mente de Paulo enquanto, anestesiado, se arrastava pelas areias da praia: Meu Deus, por que ocorrem naufrágios quando estamos indo na direção certa?
Como todos enfrentamos naufrágios, mesmo quando seguimos à risca a vontade de Deus, essa questão é universal. Portanto, para concluir nossa jornada juntos, vamos brevemente apontar QUATRO RAZÕES pelas quais barreiras se levantam, mesmo quando estamos fazendo o que é certo e vivendo no centro da vontade de Deus.
PRIMEIRO, a oposição satânica. Ray Stedman, em seu livro Atos 21–28: Triunfos da Igreja, escreveu:
Na carta aos Romanos, Paulo testemunhou que tentou muitas vezes ir a Roma, mas foi impedido, obstruído. O apóstolo sempre afirmou que foi Satanás quem colocou esses obstáculos em seu caminho. O inimigo não queria Paulo em Roma, pois essa era o centro estratégico do império e também a sede do mal. Satanás não queria que esse poderoso apóstolo, vindo na força e no poder do Senhor ressuscitado, entrasse na cidade e começasse a derrubar as fortalezas das trevas com as quais mantinha o mundo civilizado sob seu domínio. Assim, Satanás atrasou Paulo de todas as maneiras possíveis, lutando a cada passo.
Embora a oposição satânica seja real, é importante lembrar que nada pode tocar um filho de Deus sem antes passar pelo controle onisciente do Senhor. O exemplo claro é o testemunho de Jó (cf. Jó 1–2). No caso de Paulo, SUPONDO que tenha sido Satanás agindo nas forças do furacão, pense bem: o Senhor poderia muito bem ter cancelado os planos do maligno para naufragar e matar Paulo, mas, em vez disso, permitiu que acontecesse (e poupou a vida do apóstolo). Ora, por quê? Talvez porque Deus quisesse usar a habilidosa liderança de Paulo para testemunhar aos outros 275 a bordo daquele navio. Sim, às vezes, Deus decreta naufrágios para que possa agir através de nós. Imagine o impacto que Paulo teve sobre aqueles soldados, sobre Júlio e sobre os outros passageiros, que nada sabiam sobre o único Deus verdadeiro. Ainda que Satanás seja o agente, Deus faz tudo cooperar para o bem daqueles que o amam e a salvação de pecadores.
SEGUNDO, o aperfeiçoamento da fé. Talvez haja lições que precisamos aprender e que somente os naufrágios podem nos ensinar. Pense, por exemplo, na queda do homem em pecado, o verdadeiro naufrágio da humanidade. Por que Deus nos criou sabendo que Satanás se rebelaria, tentaria Eva e Adão, o primeiro casal cairia no pecado, e nós herdaríamos o pecado original? Por que Deus agiria assim? Bem, eu não tenho a mente de Deus. Mas uma coisa é certa: há atributos e qualidades de Deus que só conhecemos por causa deste mundo caído, e que provamos mais intensamente neste mundo mau. Exemplo: graça, misericórdia e justiça. Agora, sobre Paulo, por mais forte que fosse sua fé, talvez ainda houvesse áreas em sua vida que precisavam ser testadas e aprovadas, como, por exemplo, sua liderança. O mesmo ocorre conosco.
TERCEIRO, ninguém realmente sabe por que enfrentamos naufrágios. Paulo poderia ter feito a viagem em poucas semanas; no entanto, levou sete meses! Por quê? As Escrituras não dizem. Assim como o Senhor nunca explicou a Jó por que permitiu que Satanás destruísse sua vida, ele também não nos explica o porquê todas as vezes que naufragamos. UMA COISA É CERTA: nem sempre os naufrágios são a mão de Deus pesando sobre nossa desobediência ou qualquer outra razão negativa. No caso do profeta Jonas, sim. No de Paulo, não. Jonas, de fato, estava fugindo da vontade de Deus, e Deus precisava corrigir sua rota. Já o apóstolo Paulo, não; ele estava no centro da vontade de Deus. Portanto, não seja rápido em julgar ou tirar conclusões precipitadas. O FOCO DA BÍBLIA não está em quem causa a dor ou por que ela é permitida, mas em como respondemos a ela. Se o seu navio foi desviado do curso, se você naufragou, o que você fará agora? Essa é a questão importante. Viva para a glória de Deus e busque o bem – sobretudo a salvação – de todos ao seu redor. A SITUAÇÃO FAZ SURGIR O LÍDER.
A A SITUAÇÃO TAMBÉM FAZ PESSOAS SE CONVERTEREM A CRISTO. O testemunho de Paulo talvez sirva de farol para você que está no meio de uma tormenta.
2 Coríntios 1.8-11 (NVT)
8Irmãos, queremos que saibam das aflições pelas quais passamos na província da Ásia. Fomos esmagados e oprimidos além da nossa capacidade de suportar, e pensamos que não sobreviveríamos.9De fato, esperávamos morrer. Mas, como resultado, deixamos de confiar em nós mesmos e aprendemos a confiar somente em Deus, que ressuscita os mortos. 10Ele nos livrou do perigo mortal, e nos livrará outra vez. Nele depositamos nossa esperança, e ele continuará a nos livrar. 11E vocês nos têm ajudado ao orar por nós. Então muitos darão graças porque Deus, em sua bondade, respondeu a tantas orações feitas em nosso favor.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Atos dos Apóstolos
Mais episódios da série Atos dos Apóstolos
Mais Sermões
31 de maio, 2020
18 de fevereiro, 2018
10 de novembro, 2019
31 de dezembro, 2022
Mais Séries
Liderança
Pr. Leandro B. Peixoto