17.03.2024
DESCONFIADO. Você é assim? Não confia em ninguém? Pessoas desconfiadas não costumam acreditar nos outros. Elas viram a cara para promessas. Aliás, parece que hoje em dia, cada vez mais, a postura padrão tem sido esta: suspeite de todo mundo, não confie em ninguém, esqueça promessas. Confiar é coisa de tolos. Acreditar é para idiotas. Aliás, costumam-se dizer: “Você é idiota de acreditar. Você é besta de confiar.”
Eu sei! Há, realmente, razões para tanta desconfiança.
Desde cedo, já na mais tenra idade dos filhos, os pais costumam fazer promessas que eles não conseguem cumprir. Então a criança vai crescendo desconfiada. Frustrada. E para se proteger, o menino e a menina vão se blindando com desconfiança. E piora muito quando elas vão testemunhando papai e mamãe assumindo compromissos ou dizendo coisas que não conseguem cumprir. Inda mais trágico: há os casos de abusos infantis, principalmente aqueles em que o abusador é alguém do círculo íntimo, que deveria ter protegido e provido, mas, em vez disso, escravizou com promessas e abusou como pôde. Vítimas de abuso sexual costumam crescer sem confiar em ninguém, desconfiando de todo mundo. Foi a maneira que encontraram de se proteger.
Depois, não preciso dizer, vêm os políticos. E praticamente a cada dois anos a gente precisa votar neles. Você já sabe: eles prometem, prometem, fazem caras e bocas de heróis e salvadores da pátria e, na hora “H”, agem em benefício próprio, guiam-se pela conveniência partidária e fazem nada do que prometeram. De fato, tantas vezes, fazem o completo oposto. Até cometem crimes de alguma natureza, ocupando o cargo público. Você diz: “São uns cara lavadas! Caras de pau. Deveriam usar Óleo de Peroba como protetor solar. Todos eles.”
E a imprensa? Dá para confiar? Existe neutralidade e jornalismo de verdade nesta era de flagrante militância ideológica e fake news? Você responda!
E o mercado financeiro, dá para confiar? Dá para confiar na economia? Você já sabe: não, não dá! Afinal, vira e mexe aparece algo novo nesse universo de bolsas de valores, grandes corporações, criptomoedas e contabilidades financeiras. Além do quê, basta a declaração mal feita do político para que os ventos derrubem tudo no chão.
Meu Deus! Tem também os líderes religiosos. Padres, pastores, não importa! Tem gente ruim em todos os arraiais – do terreiro ao templo, da paróquia ao púlpito. É tão verdade que, frequentemente, a gente se depara com escândalo envolvendo padre, pastor ou líder de igreja. Tem de tudo! Abusos sexuais. Crimes financeiros. Quebra de confiança, vazando conversas de confessionário ou gabinete pastoral. Fofoca. Charlatanismo. Heresia. Enfim, é tanta coisa desgraçada em nome de Deus que até o diabo fica desconfiado, e as pessoas vão perdendo não apenas a confiança, elas perdem, de fato, a fé.
Meu povo, no meio do lixão de promessas quebradas, que é o mundo em que vivemos, o que nós devemos fazer com o Deus da Bíblia? Afinal, escreveu Moisés, em Números 23.19, “Deus não é homem para mentir, nem ser humano para mudar de ideia. Alguma vez ele falou e não agiu? Alguma vez prometeu e não cumpriu?” Claro que não! Paulo, apóstolo, também escreveu – em Tito 1.2 – que a verdade revelada de Deus na Bíblia promove a nossa esperança, “a esperança da vida eterna que Deus, aquele que não mente, prometeu antes dos tempos eternos.” E foi o próprio Jesus quem garantiu que se buscarmos a Deus ele nos atenderá, ouça:
Mateus 7.7-8 7Peçam, e receberão. Procurem, e encontrarão. Batam, e a porta lhes será aberta. 8Pois todos que pedem, recebem. Todos que procuram, encontram. E, para todos que batem, a porta é aberta.
Será mesmo, meu Deus? E as minhas tantas orações que não foram respondidas?
Gente, sinceramente!, o que nós faremos desse Deus cheio de promessas, considerando o nosso próprio coração desconfiado, as nossas tantas decepções, feridas e ainda esta era tão descrente de promessas, seja de quem for? O que faremos? — A história de Jacó, de Gênesis 28.10 a 37.1, tem muito a nos ensinar sobre Deus e sobre as promessas de Deus.
Pois bem, depois da decepção que foi Isaque e Rebeca, o que será dos filhos deles? O que será de Jacó? Você descobrirá que Jacó teria seguido o mesmo caminho materialista de Esaú, se não fosse pelas promessas de Deus, se não fosse a aliança de Deus.
Sobre Esaú, sabemos que ele escolheu o caminho fora da aliança de Deus. Leia:
Gênesis 26.34-35 34Quando Esaú tinha 40 anos, casou-se com duas mulheres hititas [cananitas]: Judite, filha de Beeri, e Basemate, filha de Elom. 35Essas duas mulheres causaram grande desgosto a Isaque e Rebeca.
Gênesis 28.6-9 6Esaú soube que seu pai, Isaque, havia abençoado Jacó e o enviado a Padã-Arã para encontrar uma esposa e que, ao abençoá-lo, tinha advertido a seu irmão: “Não se case com uma mulher cananita”. 7Também soube que Jacó havia obedecido aos pais e ido a Padã-Arã. 8Quando ficou evidente que seu pai não aprovava as mulheres cananitas, 9Esaú foi visitar a família de seu tio Ismael e, além das duas mulheres cananitas com as quais havia se casado, tomou para si uma das filhas de Ismael. O nome de sua nova mulher era Maalate, irmã de Nebaiote e filha de Ismael, filho de Abraão.
Gênesis 36.6-8 6Esaú tomou suas mulheres, seus filhos e filhas e todos os de sua casa, além de seus rebanhos e o gado, toda a riqueza que havia adquirido na terra de Canaã, e se mudou para longe de seu irmão, Jacó. 7Seus rebanhos e bens eram tantos que a terra onde moravam não era suficiente para sustentá-los. 8Portanto, Esaú (também chamado Edom) se estabeleceu na região montanhosa de Seir.
Jacó, como veremos, não teria seguido um caminho muito diferente do de Esaú, se não fosse pelas promessas de Deus, se não fosse pela aliança de Deus. De fato, o que nós já estudamos até aqui, nesta série de mensagens em Gênesis, já esclareceu que O FIO DA MEADA DESTA HISTÓRIA não é o heroísmo ou as qualidades de caráter de seus personagens humanos – seja Adão, Noé, Abraão, Isaque, Esaú ou Jacó; também não é sobre Eva, Sara, Rebeca, Lia ou Raquel; a história não corre pela vontade de homem ou mulher –; O FIO DA MEADA É A GLORIOSA GRAÇA DE DEUS ou, nas palavras de John Newton, é a maravilhosa graça, a preciosa graça de Deus despejada em aliança.
RECORDE (as alianças de Deus). [1.] Após a queda no pecado, Deus fez a primeira promessa carregada de esperança, a Adão: Gênesis 3.15 — “Farei que haja inimizade entre você e a mulher, e entre a sua descendência e o descendente dela. Ele lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”. [2.] Depois, quando o mundo todo estava impregnado de pecado, Deus fez uma aliança com Noé:
Gênesis 6.17-18 17Preste atenção! Em breve, cobrirei a terra com um dilúvio que destruirá todos os seres vivos que respiram. Tudo que há na terra morrerá. 18 Com você, porém, firmarei minha aliança. Portanto, entre na arca com sua mulher, seus filhos e as mulheres deles.”
Após o dilúvio, com a raça humana irremediavelmente pervertida e em declarada oposição a Deus, na torre de Babel, [3.] Deus fez uma aliança com Abraão, avô de Jacó:
Gênesis 12.1-3 1O SENHOR tinha dito a Abrão: “Deixe sua terra natal, seus parentes e a família de seu pai e vá à terra que eu lhe mostrarei. 2Farei de você uma grande nação, o abençoarei e o tornarei famoso, e você será uma bênção para outros. 3Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem. Por meio de você, todas as famílias da terra serão abençoadas”.
Essa aliança com Abraão foi reiterada diversas vezes ao longo da narrativa bíblica que já estudamos. [4.] Segue a história, e apesar do que se tornou (um apaixonado pelo gosto de caça na boca, conforme estudamos na semana passada), Isaque também recebeu a promessa que o pai Abraão havia recebido, quando Deus firmou aliança com ele:
Gênesis 26.1-6 1Uma fome terrível atingiu a região, como havia acontecido antes no tempo de Abraão. Por isso, Isaque se mudou para Gerar, onde vivia Abimeleque, rei dos filisteus. 2O SENHOR apareceu a Isaque e disse: “Não desça ao Egito. Faça o que eu mandar. 3Habite aqui como estrangeiro, e eu estarei com você e o abençoarei. Com isso, confirmo que darei todas estas terras a você e a seus descendentes, conforme prometi solenemente a Abraão, seu pai. 4Farei que seus descendentes sejam tão numerosos quanto as estrelas do céu e darei a eles todas estas terras. Por meio de sua descendência, todas as nações da terra serão abençoadas. 5Farei isso porque Abraão me deu ouvidos e obedeceu ao que lhe ordenei: meus mandamentos, decretos e instruções”. 6Portanto, Isaque ficou em Gerar.
Daí, toda a história do restante de Gênesis 26, longe de ser para destacar as qualidades de caráter de Isaque (o desentupido de poços!), servirá para demonstrar que, assim como esteve em aliança com Abraão, o pai, Deus estava em aliança com Isaque, o filho. É tão verdade que, observe, o livramento que Rebeca teve, foi nos mesmos moldes do livramento de Sara, sua sogra. E os poços que abençoaram Isaque, foram os mesmos de seu pai, Abraão. É sobre Deus e a aliança com Abraão. Não é sobre Isaque.
[5.] Quando chegou a hora de os filhos gêmeos de Isaque nascerem, Deus deixou claro qual deles seria o filho da aliança – seria Jacó –, Gênesis 25.23: “Os filhos em seu ventre se tornarão duas nações. Desde o começo, elas serão rivais. Uma nação será mais forte que a outra, e seu filho mais velho servirá a seu filho mais novo”. E A HISTÓRIA TODA DA VIDA DE ISAQUE E REBECA girou em torno de, por um lado, Isaque – indo contra a vontade de Deus – buscando garantir que a aliança ficasse com Esaú; e Rebeca, com atitudes nada republicanas, buscando garantir o contrário, que Jacó recebesse a bênção do pai. Entre os dois, entre pai e filho, entre Isaque e Rebeca, acham-se os irmãos, longe de serem santinhos. Jacó era trapaceiro e Esaú era leviano. Pronto! Você tinha então todos os ingredientes para que essa novela terminasse em tragédia. Realmente! Como nós vimos, Esaú buscava se consolar com planos de matar o irmão. E Jacó, para poupar a própria vida, fugiu para a casa do tio, Labão (irmão de Rebeca), que morava em Harã (Gn 27.41–28.9).
É NESTE PONTO, em Gênesis 28.10, que nós chegamos à história de Jacó. Ela se estenderá até Gênesis 37.1. Claro que nós não leremos todos os textos. O que faremos será sobrevoar esta narrativa com olhos para as promessas de Deus, a aliança de Deus com Jacó – para ver que desta aliança nascerão aqueles que virão a ser os cabeças das doze tribos de Israel, o povo da aliança. SPOILER: Você verá que se não fossem as promessas de Deus, a graça de Deus na aliança com Jacó, o patriarca trapaceador teria colocado tudo a perder.
Eis as lições sobre as promessas de Deus que desejo destacar na vida de Jacó:
1. As promessas de Deus são motivadas pela graça
Isso é absolutamente impressionante! Maravilhoso. Veja que Jacó não estava buscando a face de Deus; ele estava era fugindo para proteger a própria vida, – e ele estava dormindo! – depois de ter feito besteira. E eis que Deus, motivado pela graça, tão somente pela graça, vai ao encontro de Jacó, alcança-o e faz a ele promessas, estabelece com ele a mesma aliança que havia feito com Adão, Noé, Abraão e Isaque. Leia e se maravilhe:
Gênesis 28.10-22 10Nesse meio-tempo, Jacó partiu de Berseba e rumou para Harã. 11Quando o sol se pôs, chegou a um bom local para acampar e ali passou a noite. Encontrou uma pedra para descansar a cabeça e se deitou para dormir. 12Enquanto dormia, sonhou com uma escada que ia da terra ao céu e viu os anjos de Deus, que subiam e desciam pela escada. 13No topo da escada estava o SENHOR, que lhe disse: “Eu sou o SENHOR, o Deus de seu avô, Abraão, e o Deus de seu pai, Isaque. A terra na qual você está deitado lhe pertence. Eu a darei a você e a seus descendentes. 14Seus descendentes serão tão numerosos quanto o pó da terra! Eles se espalharão por todas as direções: leste e oeste, norte e sul. E todas as famílias da terra serão abençoadas por seu intermédio e de sua descendência. 15Além disso, estarei com você e o protegerei aonde quer que vá. Um dia, trarei você de volta a esta terra. Não o deixarei enquanto não tiver terminado de lhe dar tudo que prometi”.
16Então Jacó acordou e disse: “Certamente o SENHOR está neste lugar, e eu não havia percebido!”. 17Contudo, também teve medo e disse: “Como é temível este lugar! Não é outro, senão a casa de Deus; é a porta para os céus!”. 18Na manhã seguinte, Jacó se levantou bem cedo. Pegou a pedra na qual havia descansado a cabeça, colocou-a em pé, como coluna memorial, e derramou azeite de oliva sobre ela. 19Chamou o lugar de Betel, embora anteriormente se chamasse Luz.
20Então Jacó fez o seguinte voto: “Se, de fato, Deus for comigo e me proteger nesta jornada, se ele me providenciar alimento e roupa, 21e se eu voltar são e salvo à casa de meu pai, então o SENHOR certamente será o meu Deus. 22E esta coluna memorial que eu levantei será um lugar de adoração a Deus, e eu entregarei a Deus a décima parte de tudo que ele me der”.
A fé cristã não é sobre obras e merecimento. É sobre graça. Graça maravilhosa. Graça irresistível. Graça decisiva, iniciando tudo no coração do pecador. Em resposta, o pecador, sustentado pela graça, age com arrependimento e fé. Que imagem maravilhosa é esta de Jacó: pecador, fugitivo, exausto, dormindo, sem merecer; MAS DEUS vem e, pela graça, estabelece uma aliança com ele, coloca uma escada para ele, até o céu. Sabe por quê? É que as promessas de Deus são motivadas pela graça. Veja como Paulo colocou esta questão:
Romanos 5.8-11 8Mas Deus nos prova seu grande amor ao enviar Cristo para morrer por nós quando ainda éramos pecadores. 9E, uma vez que fomos declarados justos por seu sangue, certamente seremos salvos da ira de Deus por meio dele. 10Pois, se quando ainda éramos inimigos de Deus nosso relacionamento com ele foi restaurado pela morte de seu Filho, agora que já estamos reconciliados certamente seremos salvos por sua vida. 11Agora, portanto, podemos nos alegrar em Deus, com quem fomos reconciliados por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.
A fé cristã não é sobre obras e merecimento. É sobre graça. As promessas de Deus são motivadas pela graça – para nos salvar, santificar e (como Paulo escreveu em Romanos 5.11) nos alegrar em Deus, com quem fomos reconciliados por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”
As promessas de Deus são motivadas pela graça.
2. Desafios familiares não frustrarão as promessas de Deus
O primeiro desafio familiar de Jacó foi com o próprio pai, Gênesis 25.28: “Isaque amava Esaú porque gostava de comer a carne de caça que ele trazia, mas Rebeca amava Jacó.” A graça de Deus, porém, prevaleceu, garantindo a Jacó a bênção da primogenitura. De posse dela, Jacó fugiu para não morrer (27.41–28.9). Deus, no entanto, como já vimos, o cercou no caminho e fez uma aliança graciosa com esse, inicialmente, trapaceiro (28.10-22). É tudo graça, e desafios familiares não frustrarão as promessas de Deus.
Gênesis 29. Jacó chega a Harã e, pela mão da providência de Deus, é colocado, imediatamente, cara a cara com a sua parentela (29.1-14). Agora, note, é MUITO IMPORTANTE: diferentemente do servo de Abraão que orou (24.12-27), buscando discernimento, tendo ele estado naquele mesmo poço, quando foi buscar a esposa (Rebeca) para Isaque, JACÓ NÃO OROU. E ele não observou o princípio de Provérbios 31.30, que diz: “Os encantos são enganosos, e a beleza não dura para sempre, mas a mulher que teme o SENHOR será elogiada.” Observe e tire suas próprias conclusões:
Gênesis 29.9-20 9Jacó ainda conversava com eles quando Raquel chegou com o rebanho de seu pai, pois era pastora. 10Uma vez que Raquel era sua prima, filha de Labão, irmão de sua mãe, e as ovelhas pertenciam a seu tio Labão, Jacó foi até o poço, removeu a pedra que o cobria e deu de beber ao rebanho de seu tio. 11Então Jacó beijou Raquel e chorou em alta voz. 12Explicou para Raquel que era seu primo por parte do pai dela e filho de Rebeca, tia dela. Raquel foi correndo contar a seu pai, Labão. 13Assim que Labão soube que seu sobrinho Jacó havia chegado, correu ao seu encontro. Ele o abraçou, o beijou e o levou para casa. Depois que Jacó lhe contou sua história, 14Labão exclamou: “Você é, de fato, sangue do meu sangue!”. Quando Jacó estava na casa de Labão havia cerca de um mês, 15Labão lhe disse: “Você não deve trabalhar de graça para mim só porque somos parentes. Diga-me qual deve ser o seu salário”. 16Labão tinha duas filhas. A mais velha se chamava Lia, e a mais nova, Raquel. 17Os olhos de Lia eram sem brilho, mas Raquel tinha bela aparência e rosto atraente. 18Visto que Jacó estava apaixonado por Raquel, disse a Labão: “Trabalharei para o senhor por sete anos se me der Raquel, sua filha mais nova, para ser minha esposa”. 19“Melhor entregá-la a você do que a qualquer outro”, respondeu Labão. “Fique aqui e trabalhe comigo.” 20Então Jacó trabalhou sete anos por Raquel. Ele a amava tanto que lhe pareceram apenas alguns dias.
Agora, veja: o trapaceiro será trapaceado. Jacó provará do próprio veneno. Leia:
Gênesis 29.21-30 21Chegada a hora, Jacó disse a Labão. “Cumpri minha parte do acordo. Agora, dê-me minha esposa, para que eu me deite com ela.” 22Labão convidou toda a vizinhança e preparou uma grande festa de casamento. 23À noite, porém, quando estava escuro, Labão tomou Lia e a entregou a Jacó, e Jacó se deitou com ela. 24(Labão deu sua serva Zilpa a Lia para servi-la.) 25Na manhã seguinte, quando Jacó acordou, viu que era Lia. Então Jacó perguntou a Labão: “O que o senhor fez comigo? Trabalhei sete anos por Raquel! Por que o senhor me enganou?”. 26Labão respondeu: “Aqui não é costume casar a filha mais nova antes da mais velha. 27Espere, contudo, até terminar a semana de núpcias, e eu também lhe entregarei Raquel, desde que você prometa trabalhar mais sete anos para mim”. 28Jacó concordou em trabalhar mais sete anos. Uma semana depois de Jacó ter se casado com Lia, Labão lhe entregou Raquel. 29(Labão deu sua serva Bila a Raquel para servi-la.) 30Jacó se deitou também com Raquel, a quem ele amava muito mais que a Lia. Então permaneceu ali e trabalhou mais sete anos para Labão.
Neste ponto da narrativa você não pode ignorar o fato de que, na providência de Deus, Jacó recebeu Lia como esposa. Mas ele amava Raquel. E trabalhou para ter Raquel, como segunda esposa, desprezando Lia, a esposa (v. 31)! Algo que o próprio Deus sempre abominou. Mas Jacó ignorou. Ignorou porque andava ainda por vista, não por fé.
VOCÊ PODERÁ DIZER: mas ele foi trapaceado! Ele trabalhou para ter Raquel, não Lia. EU TE DIGO: tome cuidado. — Voto é voto. Palavra é palavra. — Quer dizer então que a palavra de Isaque, abençoando Jacó com a benção da primogenitura, enquanto Jacó trapaceava o próprio pai, em nome de Deus, valeu, não poderia ser quebrada? E a aliança de Jacó com Lia, a palavra dele a ela em casamento poderia ser relativizada? Claro que não! Cuidado com a interpretação.
Com efeito, a narrativa inteira aqui em Gênesis 29 demonstra que LIA ERA A MULHER DE DEUS PARA JACÓ, NÃO ERA RAQUEL. Primeiro porque Lia era a mais velha (29.16). Segundo porque Jacó se apaixonou por Raquel pela formosura e se perdeu nessa paixão (29.17, 20, 30). Terceiro, Lia considerava que Raquel roubara dela o marido, manipulando-o com a beleza (30.15). Quarto, Deus jamais estipulou a bigamia. Quinto, pelo que o texto mesmo dirá a seguir, veja:
Gênesis 29.31-32 31Quando o SENHOR viu que Lia não era amada, permitiu que ela tivesse filhos; Raquel, porém, era estéril. 32Lia engravidou e deu à luz um filho. Chamou-o de Rúben, pois disse: “O SENHOR viu minha infelicidade, e agora meu marido me amará”.
O restante do capítulo 29 e o 30 se ocuparão de um emaranhado de ciúme entre as mulheres pela atenção de Jacó; essas esposas gerarão filhos em amarga rivalidade (e colocarão, inclusive, as servas na jogada, em disputa, para darem ainda mais filhos a Jacó). Haverá até superstição, por parte de Lia, com as mandrágora, a fruta do amor. Haverá aluguel de marido, também por parte de Lia. E muito mais. Coisa de novela.
Lendo Gênesis 29 e 30, você não consegue deixar de pensar em como essa família virou uma bagunça. Só que você também não poderá deixar de notar que DEUS AINDA ASSIM OS USARÁ: dos filhos de Jacó com essas mulheres virão as doze tribos de Israel. Por exemplo: da descendência de Levi, filho de Lia, nascerão Moisés, Arão e Miriã. Da descendência de Judá, outro filho de Lia, nascerá o leão da tribo de Judá, Jesus, o Messias. E de Raquel, pela graça de Deus, nascerão José e Benjamim (e da descendência de Benjamim nascerão Mardoqueu, Ester e o apóstolo Paulo).
Como bem escreveu o apóstolo Paulo, “sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito” (Rm 8.28). É certo que os pecados de Jacó, Lia e Raquel, ou seja, os meios utilizados por eles para verem seus desejos realizados não se justificam, jamais. Entretanto, desafios familiares não frustrarão as promessas de Deus. Ele torna o mal em bem.
3. Desafios de trabalho não frustrarão as promessas de Deus
A história corre e Jacó entende que chegara a hora de virar a página:
Gênesis 30.25-30 25Logo depois que Raquel deu à luz José, Jacó disse a Labão: “Por favor, libere-me para que eu volte à minha terra natal. 26Permita-me levar minhas mulheres e meus filhos, pelos quais o servi, e deixe-me partir. O senhor sabe muito bem como trabalhei arduamente a seu serviço”. 27Labão respondeu: “Se mereço seu favor, fique. Eu enriqueci, pois o SENHOR me abençoou por sua causa. 28Diga-me qual será seu salário e, qualquer que seja o valor, eu lhe pagarei”. 29Jacó respondeu: “O senhor sabe como trabalhei arduamente a seu serviço e como seus rebanhos cresceram sob meus cuidados. 30De fato, o senhor tinha pouco antes de eu chegar, mas sua riqueza aumentou consideravelmente. O SENHOR o abençoou por meio de tudo que eu fiz. Mas e quanto a mim? Quando começarei a cuidar de minha própria família?”.
Jacó propõe ficar com as ovelhas e cabras salpicadas e malhadas, além de todas as ovelhas pretas como salário. Labão concorda, mas retira do rebanho todos os bodes listrados e malhados, todas as cabras salpicadas e malhadas ou com manchas brancas, e todas as ovelhas pretas. Jacó, então, recorre à superstição para poder superar a esperteza do sogro. Deus, no entanto, apesar dos desafios e da superstição, mantém suas promessas a Jacó — Gênesis 30.43: “O resultado foi que Jacó se tornou muito rico, dono de grandes rebanhos e também de servos e servas e muitos camelos e jumentos.” — Mais tarde, explicando-se às suas mulheres, Jacó conta que sempre tinha sido a boa mão de Deus cumprindo suas promessas, apesar dos desafios de trabalho:
Gênesis 31.10-13 10“Certa vez, na época do acasalamento, tive um sonho e vi que os bodes que se acasalavam com as cabras eram listrados, salpicados e malhados. 11 Então, em meu sonho, o anjo de Deus me disse: ‘Jacó!’. E eu respondi: ‘Aqui estou!’. 12“E o anjo disse: ‘Levante os olhos e você verá que apenas os machos listrados, salpicados e malhados estão se acasalando com as fêmeas de seu rebanho, pois vejo como Labão tem tratado você. 13Eu sou o Deus que lhe apareceu em Betel, o lugar onde você ungiu a coluna de pedra e fez seu voto a mim. Agora, apronte-se, saia desta terra e volte à sua terra natal’”.
Desafios de trabalho não frustrarão as promessas de Deus, ainda que no caminho se ache um Labão e seus filhos ambiciosos (cf. Gn 31).
4. As promessas de Deus são cumpridas pela graça
Gênesis 31.3 Então [no meio da ciumeira toda e da inveja de Labão e de seus filhos] o SENHOR disse a Jacó: “Volte para a terra de seu pai e de seu avô, a terra de seus parentes, e eu estarei com você”.
Gênesis 32.1-2 1Quando Jacó seguiu viagem, anjos de Deus vieram encontrar-se com ele. 2Ao vê-los, Jacó exclamou: “Este é o acampamento de Deus!”. Por isso, chamou o lugar de Maanaim.
A essa altura, Jacó já deveria ter aprendido a andar por fé, não por vista. Mas não! Tendo ele de encarar o irmão, depois de tantos anos, Jacó resolveu agir como o velho Jacó: temendo vingança por parte de Esaú, recorreu ao suborno para alcançar seus objetivos (32.3-21).
A vitória pessoal da fé sobre a trapaça e o engano e o suborno na vida de Jacó aconteceu quando, em sua luta contra o anjo de Deus, ele foi forçado à plena dependência de Deus (32.22-32). Na luta de Jacó com Deus, o resultado foi este:
Gênesis 32.30-32 30Jacó chamou aquele lugar de Peniel, pois disse: “Vi Deus face a face e, no entanto, minha vida foi poupada”. 31O sol estava nascendo quando Jacó partiu de Peniel, mancando por causa do quadril deslocado. 32(Até hoje, o povo de Israel não come o tendão perto da articulação do quadril, por causa do que aconteceu naquela noite em que o homem feriu o tendão do quadril de Jacó.)
Foi nessa luta que que Jacó passou de trapaceiro para homem de fé:
Gênesis 32.26-28 26O homem disse: “Deixe-me ir, pois está amanhecendo!”. Jacó, porém, respondeu: “Não o deixarei ir enquanto não me abençoar”. 27“Qual é seu nome?”, perguntou o homem. “Jacó”, respondeu ele. 28O homem disse: “Seu nome não será mais Jacó. De agora em diante, você se chamará Israel [lit., Deus luta], pois lutou com Deus e com os homens e venceu”.
Em Gênesis 33 nós lemos a respeito da reconciliação de Jacó com Esaú, demonstrando que Deus de fato lhe concedera proteção – dizendo-nos que as promessas de Deus são sim e sempre cumpridas pela graça. Veja, apesar de os irmãos terem, no final, seguido caminhos separados, Esaú se reconciliou com Jacó (pelo menos por ora) — Gênesis 33.4: “Esaú correu ao encontro de Jacó e o abraçou; pôs os braços em volta do pescoço do irmão e o beijou. E os dois choraram.” — Agora, o final do capítulo:
Gênesis 33.18-20 18Depois de percorrer todo o caminho desde Padã-Arã, Jacó chegou em segurança à cidade de Siquém, na terra de Canaã, e acampou em seus arredores. 19Jacó comprou da família de Hamor, pai de Siquém, o terreno onde estava acampado, por cem peças de prata. 20Ali, construiu um altar e o chamou de El-Elohe-Israel.
As promessas de Deus são cumpridas pela graça.
5. As promessas de Deus não dependem de nossas habilidades pessoais
Gênesis 34 está posto em um contraste absurdo com o que se acabou de ler no final do capítulo anterior. Em Gênesis 33.18-20 nós lemos que Jacó construiu um altar em Siquém e adorou o SENHOR. Depois, em Gênesis 35.1 nós lemos que o SENHOR apareceu a Jacó e lhe disse: “Apronte-se, mude-se para Betel e estabeleça-se ali. Ao chegar, construa um altar para o Deus que lhe apareceu quando você estava fugindo de seu irmão, Esaú”. Agora, no capítulo 34 inteiro não há qualquer menção de Deus, e no capítulo 35, lê-se o seguinte, é estarrecedor!, observe:
Gênesis 35.2-5 2[Após ouvir de Deus que deveria se mudar para Betel,] Jacó disse à sua família e a todos que estavam com ele: “Joguem fora todos os seus ídolos pagãos, purifiquem-se e vistam roupas limpas. 3Vamos a Betel, onde construirei um altar para o Deus que respondeu às minhas orações quando eu estava angustiado. Ele tem estado comigo por onde ando”. 4Então entregaram a Jacó todos os ídolos pagãos e as argolas que usavam nas orelhas, e ele os enterrou ao pé da grande árvore perto de Siquém. 5Quando partiram, o terror de Deus se espalhou de tal forma entre os moradores das cidades próximas que ninguém atacou a família de Jacó.
Temos aqui um triste comentário sobre a liderança espiritual de Jacó, para se dizer o mínimo. A tal ponto que, em Gênesis 34, um problema pessoal, envolvendo a filha Diná, cresceu tanto que poderia ter colocado tudo a perder. Veja:
Gênesis 34.30-31 30Depois de tudo isso, Jacó disse a Simeão e a Levi: “Vocês arruinaram minha vida! Serei odiado por todos os povos desta terra, pelos cananeus e ferezeus. Somos tão poucos que eles se unirão e nos esmagarão. Eles me atacarão, e toda a minha família será exterminada!”. 31Mas eles responderam: “Por acaso deveríamos permitir que nossa irmã fosse tratada como prostituta?”.
As promessas de Deus – a aliança de Deus – não dependem de nossas habilidades pessoais! Isso nos leva à próxima lição sobre as promessas de Deus.
6. Pela graça, as promessas de Deus serão cumpridas
Gênesis 35. Neste capítulo se lê que Jacó realmente recebeu as promessas que Deus o havia feito em aliança. Jacó voltou para Betel, onde ele cumpriu seu antigo voto (cf. Gn 28); em Betel, Jacó consagrou sua família e experimentou tanto a alegria da chegada de um novo filho quanto a perda de sua amada esposa Raquel (35.1-29).
Alguns detalhes são dignos de nota aqui neste capítulo:
E A LIÇÃO É ESTA: pela graça, as promessas de Deus serão cumpridas, ainda que com dores e lágrima, perdas e perigos, erros e acertos. Então, a última lição a respeito das promessas de Deus – é esta:
7. O povo de Deus chegará à terra prometida
Gênesis 36. Este é um daqueles capítulos chatos de ler. Cheio de nomes e dados que você lê e fica pensando: pra quê isto? Ora, dentre tanto, este capítulo, Gênesis 36, serve para demonstrar a fidelidade de Deus, o cuidado generoso de Deus – a graça comum de Deus – até com os que não estão na aliança.
Lemos aqui o relato do que se deu com os descendentes de Esaú (irmão de Jacó), indicando como Esaú foi abençoado por Deus, enquanto ainda estava em Canaã, e como seu clã, ao conquistar Seir, cumpriu a predição de Isaque (36.1-43). Só que tem um detalhe: Esaú e seus descendentes não estão na terra prometida. Sim… Ficaram prósperos. Tornaram-se rei poderosos. Deles nasceu a robusta nação de Edom, que teve rei antes mesmo da monarquia ser instituída em Israel. MAS TEM UM DETALHE TRÁGICO: Esaú e seus descendentes não estão na terra prometida. Leia:
Gênesis 36.6-8 6Esaú tomou suas mulheres, seus filhos e filhas e todos os de sua casa, além de seus rebanhos e o gado, toda a riqueza que havia adquirido na terra de Canaã, e se mudou para longe de seu irmão, Jacó. 7Seus rebanhos e bens eram tantos que a terra onde moravam não era suficiente para sustentá-los. 8Portanto, Esaú (também chamado Edom) se estabeleceu na região montanhosa de Seir.
EM CONTRASTE, leia a que fim chegou Jacó e a descendência da aliança, Gênesis 37.1: “Jacó passou a morar na terra de Canaã, onde seu pai tinha vivido como estrangeiro.” De fato, o autor de Hebreus, resumindo a história de fé de Jacó, foi poético ao descrever o homem que morreu mancando, por ter lutado com Deus e perseverado – Hebreus 11.21 “Pela fé, Jacó, prestes a morrer, abençoou cada um dos filhos de José e se curvou para adorar, apoiado em seu cajado.”
JACÓ foi um homem que nasceu trapaceando, trapaceou boa parte da vida dele, foi trapaceado, falhou na liderança como pai e governante de seu clã, enfim, Jacó foi um homem pecador com todas as rugas e verrugas, mas ele chegou ao fim de sua vida adorando, “apoiado em seu cajado”, ele prevaleceu, perseverou. Ele estava no Egito quando morreu, junto ao filho que amava, José, mas o fez prometer que seria sepultado em Canaã, jamais no Egito. E foi (cf. Gn 49.29–50.13)! Todos os patriarcas foram. Mas, como disse o autor de Hebreus, na conclusão do tão magistral capítulo 11:
Hebreus 11.39-40 39Todos eles obtiveram aprovação por causa de sua fé; no entanto, nenhum deles recebeu tudo que havia sido prometido. 40Pois Deus tinha algo melhor preparado para nós, de modo que, sem nós, eles não chegassem à perfeição.
Que algo melhor havia sido prometido e que eles não receberam?
Como assim, sem nós eles não chegariam à perfeição?
A nova aliança. A nova aliança com o sangue de Jesus Cristo – Hebreus 7.22: “Jesus é aquele que garante uma aliança superior.” Superior, sim!, posto que a anterior não foi perfeita (cf. Hb 8.7-13). Ou seja: a aliança de Deus com Abraão, Isaque e Jacó apontava para Jesus Cristo. E a terra prometida de Canaã aponta para “uma pátria superior, um lar celestial” (Hb 11.16), a que foi e está sendo preparada por Cristo:
João 14.1-6 1“Não deixem que seu coração fique aflito. Creiam em Deus; creiam também em mim. 2Na casa de meu Pai há muitas moradas.. Se não fosse assim, eu lhes teria dito. Vou preparar lugar para vocês 3e, quando tudo estiver pronto, virei buscá-los, para que estejam sempre comigo, onde eu estiver. 4Vocês conhecem o caminho para onde vou.” […] 6[…] “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém pode vir ao Pai senão por mim.
A VIDA DE JACÓ é uma estampa das promessas e da aliança de Deus: elas são motivadas pela graça de Deus, e os desafios familiares e de trabalho não as frustrarão; essas promessas e a aliança são cumpridas pela graça, não dependem de nossas habilidades pessoais; pela graça, elas serão cumpridas e o povo de Deus chegará à terra prometida.
CONFIE EM DEUS. Não seja desconfiado. Abrace as promessas de Deus disponíveis a você em Jesus Cristo, sobretudo a salvação e a santificação da sua vida,
NÃO IMPORTA QUEM VOCÊ SEJA, NÃO IMPORTA O SEU PECADO. Vá a Cristo com arrependimento. Confie em Cristo. Abrace a justiça de Cristo, pela fé. Aproprie-se, pela fé, da aliança com Deus pelo sangue de Cristo. Juste-se ao povo de Deus, o povo da aliança, a igreja, uma igreja local. E JAMAIS SE ESQUEÇA, pois esta é a lição para nós, quando estudamos a vida de Jacó: Filipenses 1.6 – “aquele que começou a boa obra [de fé, de aliança com o sangue de Cristo… aquele que começou a boa obra] em vocês irá completá-la até o dia em que Cristo Jesus voltar.”
S.D.G. L.B.Peixoto
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