18.04.2021
[Salmo 89] Salmo [em hebraico, maskil, possivelmente um termo literário ou musical] de Etã, o ezraíta. […] 34Não quebrarei minha aliança, não voltarei atrás em minhas palavras. 35Fiz um juramento a Davi e, em minha santidade, não minto. 36Sua dinastia continuará para sempre, seu reino permanecerá como o sol. 37Será duradouro como a lua, minha fiel testemunha no céu”. Interlúdio 38Agora, porém, tu o rejeitaste e o descartaste; estás irado com o teu ungido. 39Renunciaste tua aliança com ele e jogaste sua coroa no pó.
Quanto mais eu estudo os Salmos tanto mais me encanto com este livro da Bíblia. Especialmente quando se trata de um salmo desconhecido, como este que temos hoje em tela: o Salmo 89. Aliás, na mesma proporção em que são desconhecidos, este salmo e o anterior a ele são ambos de tirar o fôlego. Os dois tocam em realidades diante das quais nem sempre nos sentimos confortáveis para nos expressar de alguma maneira.
Pegue o Salmo 88, o que estudamos na semana passada. Hemã, o ezraíta, tratou no seu salmo daquela questão mais dolorosa e comum na vida da gente: permanecer orando e adorando a Deus mesmo quando a escuridão não passa, quando amargamos uma coleção de acontecimentos sem finais felizes.
Agora, pegue o Salmo 89, o que temos para o estudo de hoje. Etã, também ezraíta, aborda o tema tão desconfortável e também bastante comum no cotidiano da vida da gente: quando Deus parece falhar em suas promessas.
É provável que jamais nos debruçaríamos sobre estes dois salmos se não estivéssemos estudando sequencialmente, expositivamente – lectio continua – o livro dos Salmos. Que perda seria para nós, não é verdade? Como seria prejudicial não aprender que mesmo os santos mais fieis também amargam as noites mais escuras da alma, a angústia mais profunda de não ver a escuridão passar e o desespero mais intenso de achar que Deus, vez ou outra, falha em cumprir suas promessas! Seria devastador não aprender sobre como perseverar quando a escuridão não passa (Sl 88) e quando Deus parece falhar em não cumprir suas promessas (Sl 89). Graças a Deus, porém, que seguindo as pisadas do Espírito Santo na inspiração e preservação dos Salmos tal como os temos na Bíblia, nós podemos chegar a um salmo como o da semana passada (Sl 88) e, hoje, a um salmo como este, o Salmo 89.
O Salmo 89 é gêmeo do Salmo 88, apenas que, enquanto o 88 traz um lamento pessoal, o 89 aborda um lamento nacional. No 88, Hemã está angustiado porque ele ora, ora e ora, mas a escuridão não passa. No 89, Etã está desestruturado porque ele sabia que Deus havia prometido uma linhagem eterna para Davi (vs. 3-4; 2Sm 7.4-17), mas vivera o bastante para tomar conhecimento de que a descendência do rei segundo o coração de Deus, após cerca de 450 anos de reinado, fora destronada (e a promessa era de que o reino duraria para sempre!) e o povo foi judiado, na queda de Jerusalém em 586 a.C., e depois foram todos levados por Nabucodonosor de Judá para a Babilônia, inclusive o rei Joaquim com toda a família e liderança da nação (vs. 34, 44; 2Rs 24.15).
É bom termos um salmo assim na Bíblia. Afinal, quantas não são as vezes em que alguém (não digo que seja todo mundo, mas muita gente) se pega com a sensação de que Deus não está cumprindo o que prometeu. É possível que você tenha uma história dessas para contar. — “Ó Senhor, eu orei e entendi que iria me casar, mas veja que não encontrei meu cônjuge!” “Ó Senhor, eu orei e o Senhor me deu um casamento, mas eu vejo agora que teria sido melhor se eu nunca tivesse me casado!” “Ó Senhor, eu orei e achei que teria filhos, mas eu não os tenho!” “Ó Senhor, eu orei e o Senhor me deu filhos, mas eles quebraram meu coração! Não foi para isso que o Senhor me deu filhos! Ou foi?” “Ó Senhor, eu sempre orei pedindo uma oportunidade para servi-lo de todo meu coração com a minha vida, mas estou enfrentando esta enfermidade que vai ceifar a minha vida!” “Ó Senhor, eu sempre orei e desejei servir ao Senhor com o meu trabalho, mas eu perdi meu emprego!” E assim por diante… Essa é uma luta que muitos travam, em maior ou menor grau. É uma crise espiritual porque Deus parece ter feito promessas específicas e bem definidas, mas tudo indica que elas não foram cumpridas! É o seu caso?
Veja, mesmo que não seja este o seu caso (e graças a Deus que não seja!), se você olhar com um pouco de sensibilidade ao redor, descobrirá que muito mais pessoas do que você imagina, lá no fundo do coração, flertam com a ideia (ou mesmo têm a certeza) de que Deus está falhando com elas, não cumprindo alguma promessa.
Por isso esse salmo é importante. O salmista está cantando a sua crise teológica: Deus prometeu uma descendência eterna para Davi, mas agora tudo estava acabado – e acabado do modo mais humilhante e trágico. Seria possível continuar confiando em Deus? É possível confiar nele quando ele parece ter falhado? O que Deus prometeu a você que ele não cumpriu? Ele falhou em suas promessas? Ele fracassou em lhe dar o que prometeu? Você já lidou com esse tipo de crise teológica? Como ajudar alguém nesta situação de crise? Percebeu o quanto é importante este salmo?
Pois bem, nós o abordaremos sob cinco divisões, e no final nós faremos algumas aplicações práticas. Veremos: [1] o amor de Deus (vs. 1-4), [2] a adoração a Deus (vs. 5-18), [3] a aliança de Deus (vs. 19-37), [4] a adversidade do povo de Deus (vs. 38-45) e [5] a atitude do povo de Deus (vs. 46-52).
O amor e a fidelidade de Deus são a base da aliança que ele fez com seu povo. As pessoas tendem a enfatizar o mérito humano (troca, barganha, recompensa), mas o fundamento de tudo é o amor eletivo (amor que escolhe) de Deus – a graça soberana de Deus:
Salmo 89.1-4 1Cantarei para sempre o teu amor, ó SENHOR! Anunciarei a tua fidelidade a todas as gerações. 2Pois sei que o teu amor dura para sempre, e a tua fidelidade permanece firme como os céus. 3Tu disseste: “Fiz uma aliança com Davi, meu servo escolhido. A ele fiz este juramento: 4‘Estabelecerei seus descendentes como reis para sempre; eles se sentarão em seu trono de geração em geração’”. Interlúdio
Observe:
A aliança com Davi se deu com base na graça. Deus escolheu Davi (e não o contrário), embora Davi fosse o menor dentre os irmãos (v. 3, veja 1Sm 16.10-13).
As palavras dos versículos 3-4 refletem a promessa de Deus mesmo feita a Davi por meio do profeta Natã (2Sm 7.16): “Sua casa e seu reino continuarão para sempre diante de mim, e seu trono será estabelecido para sempre”. O salmista, portanto, está cantando as misericórdias de Deus porque elas se tornaram concretas em Davi e na promessa da descendência (ou dinastia) eterna que lhe fora dada.
Ora, é exatamente essa promessa que está provocando a crise sobre a qual leremos adiante (vs. 38-51). Em outras palavras, o que acontece quando a palavra de Deus é abraçada com fé – “Sua descendência eu estabelecerei para sempre” –, mas em seguida a linhagem é destronada e levada cativa para a Babilônia?
O amor de Deus, fundamento de tudo, era (naquele momento) a causa da crise. Mas não deixava de ser real. Deus ama seu povo. O salmista canta esse amor:
Salmo 89.1 Cantarei para sempre o teu amor, ó SENHOR! Anunciarei a tua fidelidade a todas as gerações.
Depois das palavras de Deus (vs. 3-4), Etã, o ezraíta, volta a cantar, adorando a Deus. Essa foi a maneira que ele encontrou de aliviar sua tensão (era o seu lenitivo):
Salmo 89.5-18 5Ó SENHOR, os céus louvam as tuas maravilhas; multidões de anjos te exaltam por tua fidelidade. 6Pois quem nos céus se compara ao SENHOR? Quem é semelhante ao SENHOR entre os seres celestiais? 7Os mais altos poderes angelicais reverenciam a Deus; ele é mais temível que todos que rodeiam seu trono. 8Ó SENHOR, Deus dos Exércitos, quem é poderoso como tu, SENHOR? Tu és totalmente fiel! 9Governas os mares revoltos e acalmas as ondas agitadas. 10Esmagaste o grande monstro marinho [em hebraico, Raabe, nome de um monstro marinho mítico que representa o caos na literatura antiga, e que aqui significa a força do Egito; cf. Is 30.7; 51.9]; com o teu braço poderoso, dispersaste teus inimigos. 11Os céus são teus, a terra é tua, tudo que há no mundo pertence a ti; tu fizeste todas as coisas. 12Criaste o norte e o sul; o monte Tabor [ao sul] e o monte Hermom [ao norte] louvam o teu nome. 13Teu braço é poderoso! Tua mão é forte! Tua mão direita se levanta com força gloriosa. 14Justiça e retidão são os alicerces do teu trono, amor e verdade vão à tua frente. 15Feliz é o povo que ouve o alegre chamado para adorar, pois andará na luz de tua presença, SENHOR. 16O dia todo eles se alegram em teu nome e exultam em tua justiça. 17Tu és a força gloriosa deles; é do teu agrado nos fortalecer. 18Sim, nossa proteção vem do SENHOR; ele, o Santo de Israel, nos deu nosso rei.
A adoração a Deus se extende da terra ao céu, do homem aos seres celestiais; ninguém é como o SENHOR: ele é o Criador e o Redentor do seu povo; ele é poderoso e fiel, acima de todos os deuses. Ele é o Rei de Israel, o Israel de Deus. Esse era o consolo de Etã.
Na sequência, Etã destacará a aliança eterna que Deus fez com Davi e sua descendência. Primeiro, os versículos 19-21 falam da escolha de Davi, da aliança de Deus com ele:
Salmo 89.19-21 19Muito tempo atrás, numa visão [2Sm 7.17], falaste a teus fiéis e disseste: “Levantei um guerreiro; dentre o povo o escolhi para ser rei. 20Encontrei meu servo Davi e o ungi com meu santo óleo. 21Com minha mão o firmarei, com meu braço o fortalecerei.
Segundo, os versículos 22-27 exaltam o escolhido de Deus face ao seus inimigos:
Salmo 89.22-27 22Seus inimigos não o derrotarão, os perversos não o dominarão. 23Esmagarei seus adversários diante dele, destruirei aqueles que o odeiam. 24Minha fidelidade e meu amor o acompanharão; em meu nome, ele crescerá em poder. 25Estenderei seu governo sobre o mar, seu domínio, sobre os rios. 26Ele me dirá: ‘Tu és meu Pai, meu Deus e a Rocha de minha salvação’. 7Darei a ele os privilégios de filho mais velho, e ele será o rei mais poderoso da terra.
Terceiro, os versículos 28-34 mostram a eternidade da aliança através da descendência de Davi, desde que os descendentes permanecessem fieis:
Salmo 89.28-34 28Eu o amarei e lhe serei bondoso para sempre; minha aliança com ele jamais será quebrada. 29Farei que ele sempre tenha herdeiros; enquanto existirem os céus, seu trono não terá fim. 30Se, porém, seus descendentes abandonarem minha lei e não seguirem meus estatutos, 31se não obedecerem aos meus decretos e não guardarem meus mandamentos, 32castigarei seu pecado com a vara e sua desobediência, com açoites. 33Contudo, não desistirei de amá-lo, nem deixarei de lhe ser fiel. 34Não quebrarei minha aliança, não voltarei atrás em minhas palavras.
Quarto, os versículos 35-37 atestam que, não obstante aos pecados do povo, o trono de Davi será ocupado para sempre pelo seu descendente, o qual jamais será abatido. Deus jurou por ele mesmo, como lemos a seguir:
Salmo 89.35-37 35Fiz um juramento a Davi e, em minha santidade, não minto. 36Sua dinastia continuará para sempre, seu reino permanecerá como o sol. 37Será duradouro como a lua, minha fiel testemunha no céu”. Interlúdio
RESUMINDO: os versículos 19-37 tratam da aliança feita com o próprio Davi e sua descendência. Não se pode enfatizar o bastante que este não é apenas um discurso teológico. Esta é uma palavra divina (v. 19), uma promessa, e Deus não mente (v. 35).
Entretanto, o que dizer da experiência histórica de Israel, contradizendo esta promessa da aliança de Deus com Davi? O que dizer quando uma promessa de Deus se choca com a realidade? A aliança falhou? Afinal, Deus mentiu? O que aconteceu?
Para isso, nós nos voltamos agora para a parte final do Salmo 89 (vs. 38-52).
O salmista cantou do amor, expressou adoração, falou da aliança eterna de Deus… Mas de repente, em uma transição abrupta, a adversidade do povo de Deus é trazida à tona. A monarquia davídica que Deus prometeu que duraria para sempre entrou em colapso quando Judá foi levada cativa para a Babilônia. O salmista, então, leva sua queixa ao trono de Deus.
Recapitulando:
Salmo 89.35-37 35Fiz um juramento a Davi e, em minha santidade, não minto. 36Sua dinastia continuará para sempre, seu reino permanecerá como o sol. 37Será duradouro como a lua, minha fiel testemunha no céu”. Interlúdio
Agora o nosso texto:
Salmo 89.38-45 38Agora, porém, tu o rejeitaste e o descartaste; estás irado com o teu ungido. 39Renunciaste tua aliança com ele e jogaste sua coroa no pó. 40Derrubaste os muros que o protegiam e destruíste as fortalezas que o defendiam. 41Todos que por ali passam o saqueiam, e ele se tornou motivo de zombaria para seus vizinhos. 42Tu fortaleceste seus inimigos e lhes deste razão para celebrar. 43Tornaste inútil sua espada e não o ajudaste na batalha. 44Acabaste com seu esplendor e derrubaste seu trono. 45Fizeste-o envelhecer antes do tempo e o envergonhaste em público. Interlúdio
É importante que se diga que quem falhou foi a própria descendência de Davi. Deus não falhou. Ele não falha. Jamais falhará. Toda aquele adversidade (com as cores e os tons de Lamentações de Jeremias) foi causada pelo próprio povo idólatra e seus reis perversos tais quais Manassés e Acaz, dentre outros tantos. Vê-se, portanto, que o reino de Deus nunca será implantado pelos homens. Eles falham e caem, pois são pecadores.
Como entender a promessa de uma aliança inquebrável que foi quebrada e uma dinastia ou descendência que não cessaria e que cessou? A resposta: o descendente de Davi que não falha e é eterno é Jesus Cristo. Ele é o Senhor eterno, que jamais falhará ou terá fim. Mas nós estamos antecipando as aplicações finais. Antes delas, há um último ponto a ser estudado no próprio salmo.
A parte final do nosso salmo revela Etã com uma atitude aguerrida, em busca de Deus, querendo alguma resposta de Deus, buscando em Deus luz e revelação para as suas queixas.
Primeiro, o salmista olha para o futuro, e só consegue pensar na morte:
Salmo 89.46-48 46Até quando, SENHOR, esta situação continuará? Acaso te esconderás para sempre? Até quando tua ira arderá como fogo? 47Lembra-te de como minha vida é curta, de como é vazia a existência humana! 48Ninguém vive para sempre, todos morrem; ninguém escapa das garras da sepultura. Interlúdio
Segundo, Etã olha ao redor, e só consegue perceber o caos:
Salmo 89.49-51 49Onde está, Senhor, o teu antigo amor? Tu o prometeste a Davi com um juramento fiel. 50Considera, Senhor, como teus servos passam vergonha; levo no coração os insultos de muitos. 51Teus inimigos, SENHOR, têm zombado de mim; zombam do teu ungido por onde ele vai.
Terceiro, o salmista se agarra à fé na graça futura de Deus e se prostra adorando:
Salmo 89.52 Louvado seja o SENHOR para sempre! Amém e amém!
O versículo 52 não faz parte do salmo original, mas compõe a conclusão do Livro III dos Salmos (assim como, no mesmo tom, Salmos 41.13 conclui o Livro I, e Salmos 72.18-19 conclui o Livro II). Entretanto, apesar de não estar na composição original, Salmos 89.52 expressa uma grande verdade: não importa o quanto soframos por causa dos pecados, nossos ou dos outros, e não importa o quão perplexos possamos ficar em face da providência dolorosa do SENHOR (quando ele parece não cumprir o que prometeu), ainda assim devemos ser capazes de dizer pela fé: “Louvado seja o SENHOR para sempre! Amém e amém!” A atitude do povo de Deus terá que ser a fé. “Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos.” (2Co 5.7).
O Salmo 89, como vários outros textos da Bíblia, sobretudo no Antigo Testamento, carecem da luz de outras passagens bíblicas para o pleno entendimento. Etã estava perplexo porque assistira ao fim da dinastia terrena de Davi no trono de Israel, quando Judá foi devastada pelos babilônicos. Em parte por isso, a sua fé entrou em crise. [Mas aquela não era a história toda ou a história completa.]
O que Etã fez?
O que aprendemos com ele?
1. Cante ao SENHOR, mesmo que lágrimas de tristeza estejam embaçando seus olhos. O risco de se ler este salmo sem prestar cuidadosa atenção é o de achar que o cântico e a expressão de louvor que fluem até o versículo 37 sejam de pura alegria e prazer. Nada disso. À luz do versículo 38 e seguintes, Etã está cantando com os olhos embaçados de lágrimas de perplexidade e de tristeza.
Até o versículo 37, é como se o salmista estivesse cantando assim: “Eu não quero cantar. Não estou com vontade de cantar. Não tenho certeza se entendo o que está acontecendo na minha vida. Mas cantarei as misericórdias do Senhor! Não tenho certeza se sinto as misericórdias do Senhor, estou lutando para acreditar nas misericórdias do Senhor, mas cantarei as misericórdias do Senhor para sempre!” Talvez esse represente o seu sentimento na maioria das vezes que você se reúne para adorar na igreja, ou em qualquer lugar.
O salmista, no entanto, canta para Deus as próprias palavras e promessas de Deus, as mesmas que o faziam estar perplexo. Em outras palavras, Etã está cantando louvores do ponto de vista da perplexidade. Ele e o resto de seu povo estão mergulhados em adversidades. Mas eles não deixam de cantar os louvores de Deus, mesmo quando Deus parecia ter falhado.
E aqui está o que eu quero que você veja neste salmo e no resto da Bíblia. Cristianismo, receber Jesus como salvador, crer no evangelho, crer na Bíblia, andar com o SENHOR nesta vida… não o isenta de sofrimentos, adversidades e perplexidade. A fé cristã não é imunizante contra o sofrimento, mas ela capacita o crente a sofrer com esperança. É disso que trata este salmo.
A adversidade, o sofrimento e a perplexidade expressos no Salmo 89 envolveram todo o povo de Deus. No entanto, o que há aqui é um grito de esperança: “Senhor, vou crer na tua Palavra, embora eu não consiga neste momento fazer sentido de tudo. Vou confiar no SENHOR. Vou cantar louvores ao SENHOR.” Percebeu? Em meio à sua perplexidade, Etã e a nação estão sofrendo com esperança, eles estão cantando a palavra de Deus de volta para Deus. Eles não são como os demais, que sofrem sem ter esperança (1Ts 4.13).
EIS A NOSSA PRIMEIRA LIÇÃO: Etã está mostrando como cantar a Deus quando Deus parece ter falhado conosco. Você volta para a palavra de Deus e crê, mesmo quando você não a entende, mesmo quando a situação ao seu redor parece que não poderia ser pior. Você apenas canta a Palavra de volta para Deus e crê na palavra de Deus até que ele te dê o entendimento e abrande seu coração em face da dor – e você entenda que a graça dele te basta.
Lembre-se: não estamos isentos de sofrimentos e perplexidades, mas estamos equipados (pela Bíblia e no Espírito Santo) para sofrer com esperança; precisamente por Deus ser tudo que a Bíblia diz que ele é (bondoso e poderoso, por exemplo), nós sofremos em face de tantas coisas ruins e más (por que ele não faz alguma coisa? ele prometeu me socorrer!), e nessas horas é que mais devemos confiar no SENHOR, e cantar (afinal, ele é sábio e não mente).
2. Confie no SENHOR, mesmo quando o coração, a contingência ou as circunstâncias digam que ele está falhando com você. Confie na providência de Deus. Você tem que crer na providência de Deus mesmo quando não a entende. John Piper chama a providência de Deus de soberania com propósito – o propósito de glorificar o nome dele em nossa bendita salvação em Cristo.
Agora, a fé na providência de Deus é fruto de pelo menos três ingredientes:
Em primeiro lugar, você tem que crer que Deus é soberano. Se você não crê que ele governa todas as coisas, soberanamente, como você poderá crer que ele terá algum propósito em todo o seu sofrimento ou na sua perplexidade?
Em segundo lugar, você tem que crer que Deus é bom e perfeito. Se Ele é o governante de tudo e não é bom, então estamos todos em apuros. Certo? Deus seria um tirano, um déspota. Mas não é o caso. Deus é bom. Ele é soberano sobre todas as coisas e é bom em todo o tempo. Desse modo, bom e soberano, ele será capaz de cumprir um bom propósito em todas as coisas.
Em terceiro lugar, você tem que crer no evangelho. Ou seja: se você tem consciência de que é pecador, e se for honesto, como responderia à pergunta: “O que de fato aconteceria se Deus me desse o que eu mereço?” Ora, sabemos pelo evangelho que por causa do pecado só há uma coisa que merecemos: a justa condenação. Tudo de bom que recebemos do alto, nos vem pela graça, por meio da fé, é dom de Deus.
Pois bem, some esses três ingredientes: Deus é soberano, ele é bom, mais a mensagem do evangelho (tudo é pela graça, por meio da fé), e o que se terá é a doutrina da providência de Deus:
Romanos 8.28-30 28E sabemos que Deus faz todas as coisas cooperarem para o bem daqueles que o amam e que são chamados de acordo com seu propósito. 29Pois Deus conheceu de antemão os seus e os predestinou para se tornarem semelhantes à imagem de seu Filho, a fim de que ele fosse o primeiro entre muitos irmãos. 30Depois de predestiná-los ele os chamou, e depois de chamá-los, os declarou justos, e depois de declará-los justos, lhes deu sua glória.
Na prática, o que se vê é que as pessoas que pararam de crer na providência de Deus, de fato, pararam de crer no evangelho. Não é possível alguém crer na providência de Deus a menos que se creia no evangelho.
LOGO, UMA DAS MENSAGENS DESTE SALMO PARA NÓS É – você tem que perceber a misericórdia do Senhor por você em Jesus Cristo para realmente obter o conforto que está realmente sendo oferecido a você neste salmo. Este salmo não conforta as pessoas que não creem nas promessas do evangelho, pessoas que não creem em Jesus Cristo, não descansam somente nele para a salvação tal como ele é oferecido no evangelho. Salmo 89 não fará sentido para você, a menos que você confie em Cristo. O salmista estava perplexo porque ainda lhe faltava o entendimento completo do evangelho (e isto nos leva à terceira e última lição que extrairemos deste salmo).
3. Coloque seu coração em Jesus Cristo, o descendente prometido de Davi. Davi e todos os seus descendente falharam. O trono foi tirado da descendência de Davi – “[Disse Jesus aos fariseus:] Eu lhes digo que o reino de Deus lhes será tirado e entregue a um povo que produzirá os devidos frutos” (Mt 21.43). 1Primeiro, porque o reino de Deus não é deste mundo (Jo 18.36); e a esperança do povo de Deus está em uma pátria superior, isto é, celestial (Hb 11.16). 2Segundo, porque o reino de Davi tem seu cumprimento legítimo em Jesus Cristo. 3Terceiro, porque o Israel de Deus é segundo a eleição da graça (Rm 11.5-7).
Eis como abre e como termina o Evangelho de Mateus, o Evangelho do Rei Jesus:
Mateus 1.1, 17 1Este é o registro dos antepassados de Jesus Cristo, descendente de Davi e de Abraão: […] 17Portanto, são catorze gerações de Abraão até Davi, catorze de Davi até o exílio na Babilônia e catorze do exílio na Babilônia até Cristo.
Mateus 28.18-20 18Jesus se aproximou deles e disse: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada. 19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos”.
Jesus é o Rei, o Messias, o Ungido de Deus, o descendente prometido. Sua dinastia não terá fim. E o único meio de se entrar e desfrutar do reino de Deus é pela graça, por meio da fé em Jesus Cristo:
2Timóteo 2.8 Lembre-se de que Jesus Cristo, descendente do rei Davi, ressuscitou dos mortos. Essas são as boas-novas que eu anuncio.
Por isso, se nesta manhã você se sente como se Deus tivesse falhado com você, olhe para Cristo e clame para ver o que Deus prometeu nos dar em Cristo Jesus (bênçãos espirituais, Ef 1.3-14; que somente olhos espirituais conseguem ver, Ef 1.18). Faça como o cego Bartimeu:
Marcos 10.46-52 46Então chegaram a Jericó. Quando Jesus e seus discípulos saíam da cidade, uma grande multidão os seguiu. Um mendigo cego chamado Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. 47Quando Bartimeu soube que Jesus de Nazaré estava perto, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tenha misericórdia de mim!”. 48Muitos lhe diziam aos brados: “Cale-se!”. Ele, porém, gritava ainda mais alto: “Filho de Davi, tenha misericórdia de mim!”. 49Quando Jesus o ouviu, parou e disse: “Falem para ele vir aqui”. Então chamaram o cego. “Anime-se!”, disseram. “Venha, ele o está chamando!” 50Bartimeu jogou sua capa para o lado, levantou-se de um salto e foi até Jesus. 51“O que você quer que eu lhe faça?”, perguntou Jesus. O cego respondeu: “Rabi, quero enxergar”. 52Jesus lhe disse: “Vá, pois sua fé o curou”. No mesmo instante, o homem passou a ver e seguiu Jesus pelo caminho.
Deus jamais falhará. Quando parecer que ele falhou com você, reavalie suas motivações, seus desejos, suas expectativas. Lembre-se de que Deus é soberano e bom. Sobretudo, lembre-se do evangelho, olhe para Jesus. Clame a Jesus e peça a ele que você enxergue e o siga pelo caminho. Em Cristo, todas as promessas de Deus [para a nossa salvação e glorificação eterna] se cumpriram em um alto e claro “sim”.
2Coríntios 1.20 Pois todas as promessas de Deus se cumpriram em Cristo com um alto e claro “Sim!”. E, por meio de Cristo, confirmamos isso, de modo que nosso “Amém” se eleva a Deus para sua glória.
Deus jamais falhará. Em Cristo, o reino de Deus é eterno.
2Pedro 1.11 Assim [pela fé e pela perseverança em Cristo], sua entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo será acompanhada de grande honra.
Deus jamais falhará.
S.D.G. L.B.Peixoto
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