01.03.2017
DIREÇÃO
Salmo 23
Salmo de Davi.
1 O SENHOR é meu pastor, e nada me faltará. 2 Ele me faz repousar em verdes pastos e me leva para junto de riachos tranquilos. 3 Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome. 4 Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem. 5 Preparas um banquete para mim na presença de meus inimigos. Unges minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. 6 Certamente a bondade e o amor me seguirão todos os dias de minha vida, e viverei na casa do SENHOR para sempre.
O lugar para se viver
O verso 3 é o nosso texto para hoje:
3 Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome.
Sendo um ex-pastor, acostumado a manter vigilância sobre os rebanhos no deserto, Davi – compositor do Salmo 23, compreendia a natureza das ovelhas, incluindo os seus maus hábitos de vagarem sem direção.
Atraída por uma vegetação que está longe de seu pasto – mesmo que esteja bem cuidada, alimentada e saciada, a ovelha se distancia do rebanho e, às vezes, é seguida por várias outras que se desgarram do pastor. Longe do aprisco, indefesas e, algumas vezes, tombadas – de pernas para o ar, elas ficam vulneráveis às garras e aos dentes de animais famintos. Charles R. Swindoll nos dá uma bela imagem do que tantas vezes acontecia:
Chegada a hora de as recolher, o pastor conta as suas ovelhas, chamando cada uma pelo nome. Percebendo a falta de uma delas, ele saí para “restaurar” ou “trazer de volta” aquele membro de seu rebanho que está vagando sem direção, chamando-o pelo seu nome e aguardando, em resposta, um balido vindo do deserto. A ovelha desgarrada é restaurada ao grupo, mesmo contra a sua vontade.
Às vezes, uma jovem ovelha em particular adquire o hábito de vagar sem direção. Por diversas vezes o pastor terá que sair para procurar a ovelha desgarrada. Se isso acontecer com muita frequência, o pastor arrebatará o cordeiro do meio dos cardos e cactos, segurando-o bem junto a si, e de forma abrupta quebrará uma de suas pernas. Ele fará uma tala para a perna quebrada e carregará a ovelha – antes desobediente – sobre os seus ombros. O que se espera é que, durante o período de recuperação, a ovelha aprenda a não se afastar e a depender completamente do seu pastor.
A ovelha precisa aprender a viver a vida do aprisco, sob os cuidados do pastor. Sua jornada depende da direção daquele que cuida de sua vida preciosa. Ele é quem determina a hora de mudarem de lugar, à procura de novos pastos. Quando partir, aonde ir e qual caminho seguir são decisões tomadas pelo pastor e obedecidas pelas ovelhas.
Em seu discurso de despedida, Samuel, o profeta, descreveu muito bem como deve ser o relacionamento entre Deus e seu povo:
1Sm 12.20-22 | 20 “Não tenham medo”, disse Samuel. “Certamente agiram mal, mas, agora, sirvam ao SENHOR de todo o coração e não se afastem dele. 21 Não se desviem dele para adorar deuses sem valor que não podem ajudar ou livrar vocês; eles são completamente inúteis! 22 O SENHOR não abandonará seu povo, pois isso traria desonra para seu grande nome. Pois agradou ao SENHOR fazer de vocês seu próprio povo.”
A ovelha submissa ao pastor descobre, mesmo que através de uma graça severa (perna quebrada, seguido de longo período de recuperação, visando aprendizado), que ele é bom e que, fora do aprisco, não há lugar melhor para se viver:
Jo 10.7-15 | 7 […] “Eu lhes digo a verdade: eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos que vieram antes de mim eram ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os ouviram. 9 Sim, eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo. Entrará e sairá e encontrará pasto. 10 O ladrão vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para lhes dar vida, uma vida plena, que satisfaz. 11“Eu sou o bom pastor. O bom pastor sacrifica sua vida pelas ovelhas. 12 O empregado foge quando vê um lobo se aproximar. Abandona as ovelhas porque elas não lhe pertencem e ele não é seu pastor. Então o lobo as ataca e dispersa o rebanho. 13 O empregado foge porque trabalha apenas por dinheiro e não se importa de fato com as ovelhas. 14 “Eu sou o bom pastor. Conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15 assim como meu Pai me conhece e eu o conheço; e eu sacrifico minha vida pelas ovelhas.
Junto ao bom pastor é o lugar para se viver.
A direção do pastor
Mesmo na presença e sob os cuidados do bom pastor, chegam os momentos em que precisamos levantar e seguir para outro lugar. Há decisões que precisam ser tomadas, novos caminhos que precisam ser percorridos e atitudes que precisam ser assumidas. O que fazer? Qual caminho escolher? Como agir? Aonde Deus está conduzindo?
Falando sobre os caminhos na vida de uma ovelha na Palestina dos dias de Davi, Swindoll foi, mais uma vez, esclarecedor:
O pastor palestino era um mestre em identificar trilhas. Muitas marcas e trilhas espalhavam-se pelo terreno acidentado. Algumas eram feitas por animais do deserto; outras por ladrões que ficavam deitados à espreita. O vento também deixava a sua “marca” sutil na areia. Para os olhos não treinados das ovelhas, todas elas pareciam iguais – como trilhas reais. Mas não levavam a lugar algum. As ovelhas eram suficientemente sábias para seguirem apenas o seu pastor, que sempre as guiava pelas “veredas da justiça”. Afinal, era a reputação do pastor que estava em jogo: “por amor do seu nome”.
A ovelha precisava da direção do pastor não apenas para saber qual caminho seguir, mas também para discernir a hora de se levantar e partir. Phillip Keller comenta:
As ovelhas são, reconhecidamente, criaturas que observam hábitos. Se entregues a si mesmas, seguirão sempre os mesmos caminhos até que estes se tornem gastos. Pastam na mesma colina até que elas fiquem destruídas de vegetação: defecam na própria terra até que se torna poluída com vermes e parasitas… Um número excessivo de ovelhas, pastando durante um período de tempo demasiadamente longo, nada deixa em seu rastro, a não ser pobreza e destruição.
A ovelha, portanto, precisa saber: a hora de seguir e qual caminho escolher. O pastor é quem determinará tanto um como o outro – ele dirá a hora certa e qual o caminho correto.
A maneira do pastor
Não é suficiente saber o que fazer. Precisa-se também saber quando e como fazer. Moisés, por exemplo, sabia que a vontade de Deus para a vida dele era conduzir a libertação do povo hebreu para fora do Egito. O que ele fez? Matou um egípcio e por isso precisou sair correndo de lá. Eis aqui um homem que sabia o que fazer, mas não sabia quando nem como fazer. Moisés sabia qual era a vontade de Deus para a vida dele, mas não sabia quando nem como cumpri-la.
O Senhor Deus, por sua vez, graciosamente, o tomou para o deserto (quebrou a patinha dele!) e lá o ensinou por quarenta anos; e, quando já tinha aprendido como fazer a vontade de Deus, exatamente como Deus queria que fosse, então foi enviado de volta, no tempo de Deus, e assim foi cumprida a poderosa libertação de Israel.
Direção
Pois bem, o povo de Deus precisa de direção, i.e.: saber qual é a vontade de Deus para tudo em suas vidas; também precisa discernir o tempo e a maneira de se cumprir os planos do Senhor. Fácil, não? De jeito nenhum! Ouvir Deus pode ser muito difícil.
Não foram poucas as vezes em que já me vi sem saber que caminho seguir nem quando e como agir; outras tantas vezes precisei auxiliar pessoas nesta mesma questão: descobrir a vontade e a maneira de Deus. Pensando nisso, permitam-me apresentar para vocês o que John Piper resumiu como “quatro maneiras de Deus guiar o seu povo” – i.e.: decreto, direção, discernimento e declaração.
1. Decreto
Deus soberanamente decreta e planeja circunstâncias que nos levam ao ponto onde ele quer que cheguemos, mesmo que não tenhamos qualquer participação consciente na chegada ao destino.
Por exemplo, Paulo e Silas foram colocados na prisão, e por conta disso tanto o carcereiro como toda a sua família creram em Deus (At 16.24-34). Esse era o plano de Deus, mas não o de Paulo. Deus age dessa forma frequentemente – colocando-nos em lugares onde não tínhamos planejado ou decidido chegar.
Esta é a condução por decreto. É uma forma especial dentre as três seguintes porque inclui as outras (já que os decretos de Deus incluem todas as nossas decisões) e também porque é infalível (já que “ninguém pode frustrar teus [de Deus] planos” – Jó 42.2). As outras três formas de Deus nos guiar envolvem sermos guiados conscientemente.
2. Direção
Deus nos guia quando nos dá os mandamentos e os ensinamentos explícitos na Bíblia. Eles nos direcionam especificamente sobre o que fazer e o que não fazer. Os Dez Mandamentos são um exemplo: não roube; não mate; não minta etc. O Sermão do Monte também: ame os seu inimigos etc. Ou as Epístolas: seja cheio do Espírito Santo; revesti-vos com humildade; não se ponham em jugo desigual com os descrentes etc.
Esta é a condução através de direção. Deus revela suas direções na Bíblia.
3. Discernimento
A maioria das decisões que tomamos não estão especificamente escritas na Bíblia. Discernimento é como seguimos a direção de Deus pelo processo de aplicação espiritualmente sensível da verdade bíblica nas particularidades da nossa situação.
Romanos 12.2 descreve isso: “Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês.”
Nesse caso, Deus não declara especificamente o que fazer, mas seu Espirito ajusta a nossa mente e o nosso coração usando a Palavra e nossas orações para que tenhamos inclinações para o que trará mais glória a ele e mais ajuda ao próximo. É a condução através de decreto.
4. Declaração
Essa é a forma mais incomum que Deus usa para nos guiar. Ele simplesmente declara para nós o que devemos fazer. Por exemplo, de acordo com Atos 8.26, “Um anjo do Senhor disse a Filipe: ‘Vá para o sul, para a estrada no deserto que liga Jerusalém a Gaza’.” E também de acordo com Atos 8.29, “Então o Espírito disse a Filipe: ‘Aproxime-se e acompanhe a carruagem’.”
Incomum, mas Deus certamente declara sua vontade de forma pessoal e aplicada. Paulo e João, no entanto, nos apresentam alguns parâmetros de comparação que são indispensáveis: “Deus não é de confusão, e sim de paz” (1Co 14.33); “não acreditem em todo espírito, mas ponham-no à prova para ter a certeza de que o espírito vem de Deus, pois há muitos falsos profetas no mundo.” (1Jo 4.1); “Minha consciência está limpa, mas isso não prova que estou certo. O Senhor é quem me avaliará e decidirá.” (1Co 4.4); “Que dois ou três profetizem e os outros avaliem o que for dito.” (1Co 14.29); “Se alguém afirma ser profeta ou se considera espiritual, será o primeiro a reconhecer que o que lhes digo é uma ordem do Senhor. ” (1Co 14.37).
Esta é a condução através de declaração.
Direção
Deus guia o seu povo por decreto, direção, discernimento e declaração. Tudo isso fica mais fácil quando cultivamos comunhão íntima com o Senhor, a ponto de sua voz tornar-se inconfundivelmente confiável. Agora, quando o assunto é saber a vontade de Deus, a maior dificuldade nem sempre é saber qual ela seja, mas é fazer aquilo que sabemos que devemos fazer. O segredo? Colar no pastor e obedecer a sua voz.
Jo 10.25-27 | 25 Jesus respondeu: “Eu já lhes disse, e vocês não creram em mim. A prova são as obras que realizo em nome de meu Pai. 26 Mas vocês não creem em mim porque não são minhas ovelhas. 27 Minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem.”
Se o Senhor for o seu pastor, não lhe faltará direção; você poderá dizer com fé, esperança e amor: “Ele… Renova minhas forças e me guia pelos caminhos da justiça; assim, ele honra o seu nome.”
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