25.04.2021
[Lucas 24.25-27, 44-48] 25Então Jesus lhes disse [aos discípulos no caminho de Emaús]: “Como vocês são tolos! Como custam a entender o que os profetas registraram nas Escrituras! 26Não percebem que era necessário que o Cristo sofresse essas coisas antes de entrar em sua glória?”. 27Então Jesus os conduziu por todos os escritos de Moisés e dos profetas, explicando o que as Escrituras diziam a respeito dele. […] 44Em seguida, disse: “Enquanto ainda estava com vocês, eu lhes falei que devia se cumprir tudo que a lei de Moisés, os profetas e os salmos diziam a meu respeito”. 45Então ele lhes abriu a mente para que entendessem as Escrituras, 46e disse: “Sim 47e que a mensagem de arrependimento para o perdão dos pecados seria proclamada com a autoridade de seu nome a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vocês são testemunhas dessas coisas.
Como teria sido estudar sob a cátedra de Jesus? Já pensou sobre isto? Ler este texto de Lucas me faz imaginar como seria ter Jesus, em viva voz, com professor. Seria uma experiência para muito além de impactante. Ouça o testemunho desses discípulos à caminho de Emaús, quando, estupefatos, olhando um para o outro, exclamaram (Lc 24.32): “Não ardia o nosso coração quando ele falava conosco no caminho e nos explicava as Escrituras?”. Percebeu? Consegue imaginar como teria sido ser aluno, discípulo de Jesus em pessoa? Grande privilégio foi o daqueles homens!
Mesmo os que negam a divindade do Filho de Deus são praticamente unanimes em descrever o Jesus histórico como um grande mestre do conhecimento e da sabedoria universal. Para se ter uma ideia, o jornal El País, aos 13 de dezembro de 2013, sob a manchete “O quase nada que sabemos sobre Jesus”, escreveu com ceticismo que “a maioria dos historiadores se inclinam a aceitar a existência de Jesus, por toda uma conjunção de circunstâncias que tornam quase impossível negar dita existência, embora dela saibamos tão pouco.” E prosseguiu:
O que sim é verdade é que, embora seja um paradoxo, sobre nenhum outro personagem da história se escreveu e discutiu tanto como sobre Jesus de Nazaré. Só no Instituto Bíblico de Roma há uma biblioteca com um milhão de obras sobre o tema.
História ou mito, lenda ou realidade: o judeu Jesus conseguiu resistir ao longo de mais de 2.000 anos, não só como um fato religiosos, mas como um fenômeno inédito, capaz de seduzir a milhões de pessoas, crentes ou não.
Ora, Jesus “resistiu” aos anos e “seduziu” a milhões de pessoas porque ele é real, e sua palavra tem poder – com efeito, pessoas são salvas e transformadas pela sua Palavra viva e eficaz. Portanto, que enorme privilégio foi o daqueles discípulos de Emaús!
Decepcionados e visivelmente abatidos – posto que Jesus provou não ser o tipo de Messias que eles esperavam: libertador político, revolucionário e líder conquistador dos judeus –, o Senhor da glória, cheio de graça e de verdade, aproximou-se dos dois, ouviu suas queixas, fez-lhes perguntas e, diante do que ouviu, deu-lhes uma bronca – por constatar que lhes faltou dedicação e devida atenção no estudo do Antigo Testamento – ; então, passou a explicar-lhes como os autores das Escrituras [Antigo Testamento] falaram a respeito dele e como tudo o que está escrito sobre ele na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos deve ser cumprido. Mais uma vez, Lucas 24.25-27, 44-48:
25Então Jesus lhes disse [aos discípulos no caminho de Emaús]: “Como vocês são tolos! Como custam a entender o que os profetas registraram nas Escrituras! 26Não percebem que era necessário que o Cristo sofresse essas coisas antes de entrar em sua glória?”. 27Então Jesus os conduziu por todos os escritos de Moisés e dos profetas, explicando o que as Escrituras diziam a respeito dele. […] 44Em seguida, disse: “Enquanto ainda estava com vocês, eu lhes falei que devia se cumprir tudo que a lei de Moisés, os profetas e os salmos diziam a meu respeito”. 45Então ele lhes abriu a mente para que entendessem as Escrituras, 46e disse: “Sim 47e que a mensagem de arrependimento para o perdão dos pecados seria proclamada com a autoridade de seu nome a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vocês são testemunhas dessas coisas.
“Salmos” aqui em Lucas provavelmente se refere aos livros poéticos ou literatura sapiencial (i.e, de sabedoria: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos) das Escrituras (i.e., Antigo Testamento: Gênesis a Malaquias). Entretanto, o ponto é bastante claro em Lucas 24: na mente de Jesus, o Saltério (com seus 150 salmos) testifica claramente a respeito da vinda, vida e obra do Cristo, o Messias, o Filho eterno de Deus. Desse modo, é possível ser mais específico sobre o Saltério. Veja como:
Há um consenso entre os principais estudiosos do Antigo Testamento e dos Salmos de que o Saltério está na forma como o temos em nossa Bíblia com propósito bastante definido. Dito de outro modo: a estrutura na qual os Salmos se encontram colocados, a sequência deles, é intencional e, portanto, comunicam uma mensagem específica: eles dizem a respeito do Cristo (o Messias, o Ungido de Deus) – exatamente como Jesus disse ser. Em outras palavras: a escultura de Cristo está na estrutura dos Salmos.
Pois bem, nosso objetivo é olhar para a forma dos Salmos e contemplar nela a foto de nosso doce e amado Jesus Cristo; desse modo, alimentar nossa fé e bendita esperança no retorno do Rei, descendente legítimo de Davi, que virá estabelecer seu reino eterno que ele mesmo inaugurou na sua primeira vinda a este mundo. Ao fazermos isto, faremos exatamente o que Jesus fez com os discípulos de Emaús: deixaremos que a forma dos salmos nos revele a foto de Cristo. — A propósito, Jesus está também conosco nesta jornada, abrindo nossa mente pelo Espírito Santo (Lc 24.45).
O nome hebraico da coleção completa dos Salmos era “O Livro dos Louvores” (sefer tehillîm), ou simplesmente “Louvores” (tehillîm) – esse título corresponde à designação do Novo Testamento: “O Livro dos Salmos” (biblos psalmos) em Lucas 20.42 e Atos 1.20.
Simplesmente como Psalmoi (Cânticos) é achado nos manuscritos gregos, apesar de que em alguns deles leia-se a denominação de Psalterium (Coleção de Cânticos).
A Vulgata (bíblia em latim), seguindo a Septuaginta (Antigo Testamento em grego), atribuiu-lhe o nome de Liber Psalmorum, donde deriva o título atual: “Livro dos Salmos”.
Quando se fala da forma do livro dos Salmos, dois aspectos da escrita precisam ser considerados: a autoria dos salmos individualmente e a forma do Saltério como um todo.
Visto que pelo menos um dos salmos – o Salmo 90 de Moisés – deve ter sido escrito aproximadamente em 1.300 a.C., enquanto outros são claramente salmos pós-exílicos (ou seja, após cerca de 539 a.C.), sabemos que (1) a forma final do livro dos Salmos como hoje temos não ocorreu até algum tempo depois do exílio babilônico, e assim, (2) o editor (o organizador, a pessoa responsável por coletar e organizar os Salmos na forma final) deve ser diferenciado do autor (o compositor de salmos individuais). Por isso é importante saber distinguir entre autor e editor na hora de se estudar os Salmos.
O autor foi quem escreveu um dado salmo em um determinado momento. O editor foi quem organizou a disposição ou a forma final dos salmos, com o intuito de comunicar sua mensagem principal. Outra coisa: assim como há vários autores no Saltério (p.ex., Moisés, Davi, Asafe e seus descendentes, Salomão, Hemã, Etã, Corá e seus descendentes e outros anônimos), há também diversos editores que trabalharam (também inspirados por Deus) para a produção da forma final dos Salmos, e desse modo comunicar sua mensagem central ao povo de Deus.
É difícil determinar como Os Salmos tomaram sua forma final (do jeito que os temos), mas se sabe de antemão da existência de muitas e antigas coleções de Salmos. É praticamente consenso entre os eruditos do Antigo Testamento que o próprio Davi se preocupou em compor e iniciar uma coletânea de cânticos e colocá-los na forma de livro de salmos ou “Louvores” (tehillîm). IMPORTANTE: apesar de haver autores diferentes e editores diferentes na história da composição dos Salmos, talvez seja pelo seu pioneirismo que o Saltério como um todo seja atribuído a Davi.
O intuito litúrgico inicial para os Salmos pode ser visto, por exemplo nas Crônicas:
1Crônicas 16.4-7 4Davi nomeou os seguintes levitas para servirem diante da arca do SENHOR, invocarem as bênçãos dele e darem graças e louvarem o SENHOR, o Deus de Israel: 5Asafe, o chefe do grupo, tocava os címbalos. Depois dele vinha [vários nomes de músicos e de compositores], que tocavam harpas e liras. 6Os sacerdotes Benaia e Jaaziel tocavam trombetas continuamente diante da arca da aliança de Deus. 7Naquele dia, Davi encarregou Asafe e seus parentes levitas de louvarem com ação de graças ao SENHOR: […]
Outro texto importante que revela a função dos “salmistas”:
2Crônicas 23.18 Joiada encarregou os sacerdotes e os levitas de cuidarem do templo do SENHOR, segundo as instruções de Davi. Ordenou que apresentassem holocaustos ao SENHOR, como ordenava a lei de Moisés, com cânticos e alegria, conforme Davi tinha instruído.
O texto a seguir revela já haver coleções de salmos (livros de salmos ou de louvores, tehillîm) nos dias de Ezequias, os quais, mais tarde, comporiam o nosso Saltério:
2Crônicas 29.30 O rei Ezequias e os oficiais ordenaram aos levitas que louvassem o SENHOR com os cânticos escritos por Davi [Livro I dos Salmos, Sl 3-41] e pelo vidente Asafe [Livro III dos Salmos, Sl 73–89]. Eles o louvaram com alegria e se prostraram em adoração.
Àquela época, argumenta Bruce Waltke, é provável que os salmos dos filhos de Corá (hoje contidos nos Livros II e III dos Salmos) compusessem outra coleção já utilizada em Israel, ao lado dos salmos escritos por Davi e Asafe.
Mesmo depois do cativeiro babilônico, o que se usava na adoração em Israel eram livros de salmos para o cântico e o louvor da congregação:
Esdras 3.10 Quando os construtores terminaram os alicerces do templo do SENHOR, os sacerdotes puseram suas vestes e tomaram seus lugares para tocar as trombetas. Os levitas, descendentes de Asafe, fizeram soar os címbalos para louvar o SENHOR, conforme o rei Davi havia prescrito.
Neemias 12.24 e 27 24Estes foram os chefes das famílias dos levitas: […] e outros companheiros que ficavam em frente deles durante as cerimônias de louvor e ação de graças; um lado respondia ao outro, conforme ordenado por Davi, homem de Deus. […] 27Para a dedicação do novo muro de Jerusalém, pediu-se que os levitas de toda a terra viessem a Jerusalém para auxiliar nas cerimônias. Deviam participar dessa ocasião alegre com cânticos de ação de graças e com música de címbalos, harpas e liras.
Desse modo – com vários autores e editores inspirados pelo próprio Espírito de Deus (2Tm 3.17-17) – é que os salmos foram sendo compostos e colocados em coleções ou livros para serem cantados no culto do povo de Deus e em devoções particulares. Ezequias parece ter sido o compilador dos três primeiros livros do Saltério. Pelo menos, como já vimos, no seu tempo já existiam coleções dos Salmos de Davi, de Asafe e de Corá (2Cr 29.30). Mas e os Livros IV e V? Quando e quem os compilou? É praticamente impossível afirmar quando e como, mas afirmam os eruditos que foi Esdras o editor final da coleção completa (de diversos autores e de diferentes épocas) dos Salmos.
S.D.G. L.B.Peixoto
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