20.09.2020
[Salmo 79] Salmo de Asafe. 1Ó Deus, as nações invadiram a terra que te pertence; profanaram teu santo templo e transformaram Jerusalém num monte de ruínas. 2Deixaram os corpos de teus servos para servirem de alimento às aves do céu. A carne de teus fiéis se tornou comida para os animais selvagens. 3O sangue correu como água ao redor de Jerusalém, e não resta ninguém para sepultar os mortos. 4Nossos vizinhos zombam de nós; somos objeto de riso e desprezo para os que nos rodeiam. 5Até quando, SENHOR, ficarás irado conosco? Será para sempre? Até quando teu zelo arderá como fogo? 6Derrama tua fúria sobre as nações que não te reconhecem, sobre os reinos que não invocam teu nome. 7Pois devoraram teu povo, Israel, e transformaram suas casas em ruínas. 8Não nos culpes pelos pecados de nossos antepassados! Que a tua compaixão venha depressa nos socorrer, pois é grande o nosso desespero! 9Ajuda-nos, ó Deus de nossa salvação, pela glória do teu nome. Livra-nos e perdoa nossos pecados, pela honra do teu nome. 10Por que permitir que as nações digam: “Onde está o seu Deus?” Mostra-nos tua vingança contra as nações, pois elas derramaram o sangue de teus servos. 11Ouve os gemidos dos prisioneiros; por teu grande poder, salva os condenados à morte. 12Ó Senhor, retribui sete vezes mais a nossos vizinhos pelos insultos que lançaram contra ti. 13Então nós, teu povo, ovelhas do teu pasto, para sempre te daremos graças e louvaremos tua grandeza por todas as gerações.
É uma coisa impressionante, que mesmo a destruição da cidade de Davi, Sião, a devastação do templo de Jerusalém, serviria (e ainda serve) como tema para o louvor público do povo de Deus! É absolutamente surpreendente! Há uma lição nisso para nós ao nos debruçarmos para estudar este salmo de lamento: como louvar em meio às lágrimas? De que maneira nosso lamento se transforma em louvor? É o que passaremos a responder.
Dividiremos o salmo em quatro estrofes:
Lembre-se de que a congregação de Israel está reunida para o culto. O momento é de louvor e adoração. Entoam-se os instrumentos sob o comando da batuta, e o regente dá sinal para a entrada das vozes. O que se ouvirá será surpreendente. Imagine-se naquela congregação, cantando com eles:
1Ó Deus, as nações invadiram a terra que te pertence; profanaram teu santo templo e transformaram Jerusalém num monte de ruínas. 2Deixaram os corpos de teus servos para servirem de alimento às aves do céu. A carne de teus fiéis se tornou comida para os animais selvagens. 3O sangue correu como água ao redor de Jerusalém, e não resta ninguém para sepultar os mortos. 4Nossos vizinhos zombam de nós; somos objeto de riso e desprezo para os que nos rodeiam.
O que eles estão dizendo?
Estão historiando o que lhes aconteceu: O inimigo invadiu o país, a capital foi destruída, o templo foi profanado, um banho de sangue perpetrado. A visão é dantesca: cadáveres não sepultados estão espalhados, sendo comidos por abutres e chacais encharcados do sangue que escorre como água ao redor da cidade. Não há ninguém para honrar seus mortos com algum sepultamento digno que é devido ao semelhante. Os vizinhos zombam. A cena é horrorosa.
Quando um fiel sofre, os incrédulos zombam dele. Fizeram assim até com Jesus. O que ele fez? Três vezes o Filho de Deus, em estado de lamento, entoou ao Pai sua petição: “Meu Pai! Se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”. (Mt 26.39, 42, 44). Aprendemos com o Salvador que na hora da crise ou da dor nós podemos lamentar com Deus pelo que nos acomete. Não é falta de fé. É ter um coração aberto. Isto é orar. O verdadeiro louvor tem o seu começo no coração rasgado e que se achega a Deus pelo sangue de Cristo.
O hino Just As I Am ficou famoso por ser cantado na hora do apelo nas cruzadas evangelísticas de Billy Graham. A letra – por mim, em tradução livre e alguma adaptação (sem, contudo, perder a mensagem do hino) – descreve como e por que nós devemos ir a Deus, levando o nosso lamento (no Cantor Cristão é o hino 266 e no Hinário Para o Culto Cristão é o 300, mas em ambos, é outra a letra):
TAL QUAL ESTOU, sem qualquer alegação
Apenas que Teu sangue foi derramado para o meu perdão
E que Tu me chamas a Ti com todo o meu coração
Ó Cordeiro de Deus, eis-me aqui, eis-me aqui!
TAL QUAL ESTOU, embora perdido
Com muitos conflitos, o coração dividido
Tomado de medo, totalmente partido
Ó Cordeiro de Deus, eis-me aqui, eis-me aqui!
TAL QUAL ESTOU, pobre, cego e miserável
Mas querendo ver e desfrutar de vida mais agradável
Sim, vista, tesouro, cura da alma, tudo de que preciso no Cristo todo adorável
Ó Cordeiro de Deus, eis-me aqui, eis-me aqui!
TAL QUAL ESTOU, Tu irás me receber
Boas-vindas, perdão, pureza e alívio hás de me conceder
Tudo pela graça de em Ti crer e do pecado me arrepender
Ó Cordeiro de Deus, eis-me aqui, eis-me aqui!
Tudo pela graça de em Ti crer e do pecado me arrepender
Ó Cordeiro de Deus, eis-me aqui, eis-me aqui!
Sim, louvor em lágrimas é possível; e tudo começa quando nós vamos a Deus, levando a ele o nosso lamento. Portanto, vá a Deus com seu lamento.
Considere, entretanto, o que de fato está em questão no lamento do cristão. É um lamento do coração, sim; mas, em última análise, é um lamento de fé na hora da perplexidade, não um lamento de dúvida – não é o lamento e um amargurado. Como sabemos?
Note que o salmista não está simplesmente horrorizado por um acontecimento terrível, mas horrorizado por um acontecimento terrível que parece questionar o poder, a soberania e o governo de Deus, e que sugere atrapalhar a causa do reino de Deus. Ouça, mais uma vez, como ele diz, e dessa vez preste atenção nos pronomes:
1Ó Deus, as nações invadiram a terra que te pertence; profanaram teu santo templo e transformaram Jerusalém num monte de ruínas. 2Deixaram os corpos de teus servos para servirem de alimento às aves do céu. A carne de teus fiéis se tornou comida para os animais selvagens. 3O sangue correu como água ao redor de Jerusalém, e não resta ninguém para sepultar os mortos. 4Nossos vizinhos zombam de nós; somos objeto de riso e desprezo para os que nos rodeiam. […] 10Por que permitir que as nações digam: “Onde está o seu Deus?” Mostra-nos tua vingança contra as nações, pois elas derramaram o sangue de teus servos.
A imagem que se tem não é apenas da tragédia que desabou sobre Jerusalém, embora tenha sido um massacre da maior crueldade. O que realmente derrubou o salmista – e o povo em nome de quem ele cantava – foi o dano que tudo parecia ter causado à reputação de Deus mesmo perante as nações. O lamento era de fé, perguntava a Deus o que estava acontecendo. O versículo 3, por exemplo, traz um toque de ironia.
Enquanto no passado o sangue de animais dos sacrifícios era derramado pelos sacerdotes com o fim de limpar o pecado do povo e santificar o lugar, agora era o sangue do povo que estava sendo derramado por guerreiros estrangeiros e estava contaminando o local mesmo da pureza sacrificial. Tudo isso aumentava a vergonha dos judeus diante de seus vizinhos escarnecedores (v. 4). Daí a indagação (v. 5): “Até quando, SENHOR, […] Até quando […]?”
O que realmente se buscava com o lamento está claro no versículo 9:
Ajuda-nos, ó Deus de nossa salvação, pela glória do teu nome. Livra-nos e perdoa nossos pecados, pela honra do teu nome.
Em outras palavras: Embora o povo tivesse sofrido uma calamidade, ele não havia perdido a condição de povo de Deus e podia continuar apelando a ele – que foi o que Asafe fez. Você tem essa confiança? Você apela a Deus? Você leva a ele os seus lamentos? Não há nada que melhor possa ajudá-lo a atravessar os momentos difíceis do que o lamento levado a Deus, banhado em lágrimas.
A palavra de Deus não é realmente maravilhosa? Ela sempre terá uma mensagem de Deus para o povo, uma maneira para o povo de Deus a ele se expressar ou recorrer, independentemente do momento ou do lugar. Nunca há uma situação que a igreja enfrente para a qual não haja uma palavra de Deus em tempo de necessidade.
Louve a Deus! Tal qual estás, pelo sangue de Cristo, venha e traga o seu lamento.
Segue-se ao lamento a confissão do pecado. Leia os versículos 5-8, note o que Asafe destaca diante de Deus:
5Até quando, SENHOR, ficarás irado conosco? Será para sempre? Até quando teu zelo arderá como fogo? 6Derrama tua fúria sobre as nações que não te reconhecem, sobre os reinos que não invocam teu nome. 7Pois devoraram teu povo, Israel, e transformaram suas casas em ruínas. 8Não nos culpes pelos pecados de nossos antepassados! Que a tua compaixão venha depressa nos socorrer, pois é grande o nosso desespero!
Não era de pouco que Israel pecava contra o SENHOR. Vinha desde muito tempo – “Não nos culpes pelos pecados de nossos antepassados!” (v. 8). Importante: Não é que haja maldição hereditária. De fato, não há. Deus não pune por erros alheios. Pelos nossos, sim (Ez 18.20):
Aquele que pecar é que morrerá. O filho não será castigado pelos pecados do pai, e o pai não será castigado pelos pecados do filho. Os justos serão recompensados por sua justiça, e os perversos serão castigados por sua perversidade.
Asafe, portanto, estava reconhecendo que os pecados eram antigos entre eles, recorrentes, e pelos quais eles estavam finalmente arrependidos. Então, clamaram por perdão, compaixão e socorro.
Entretanto, só consegue orar assim quem aprende pelo menos três verdades as mais absolutas:
PRIMEIRO, nenhum mal nos sobrevém sem que antes passe pelo crivo de Deus ou venha da mão dele mesmo. Deus é soberano, não os babilônios, por exemplo. Veja que o salmista não atribui a ira última aos agressores, tampouco ao diabo, mas à Deus mesmo – “Até quando, SENHOR, ficarás irado conosco?” (v. 5). Que vantagem há nisto, em se exaltar a soberania de Deus ao dosar ou decretar o nosso sofrimento?
Ocorre que a ira de Deus, neste tempo em que vivemos, é sempre despejada na mesma proporção da graça e da misericórdia, enquanto a ira dos homens é tremenda e sempre implacável. Davi, por exemplo, atestou sua preferência:
“Não tenho para onde correr nesta situação!”, respondeu Davi a Gade. “Mas é melhor cair nas mãos do SENHOR, pois sua misericórdia é grande. Que eu não caia nas mãos de homens.”
SEGUNDO, todas as coisas cooperam para o nosso bem. Veja que o salmista, em face do sofrimento todo pelo qual estava passando, e que vinha sim das mãos de gente ímpia (v. 6-7), reconheceu que, havia muito, eles estavam em pecado, de alguma forma em pecado e, portanto, – só então –, clamou (v. 8): “Não nos culpes pelos pecados de nossos antepassados! Que a tua compaixão venha depressa nos socorrer, pois é grande o nosso desespero!” O sofrimento espremeu a devida confissão.
TERCEIRO, suplicar pela graça de Deus só a exalta ainda mais na nossa própria vida. Interessante que a mensagem deste salmo está em franco paralelo com a do anterior. No 78, vimos que Deus rejeitou Efraim e escolheu Judá (Sl 78.67-72). Aqui no 79, a mesma Judá, eleita de Deus, está sendo destruída por causa do pecado. De fato, não há justo, nenhum sequer. John H. Sailhamer, grande teólogo do Antigo Testamento, escreveu:
O objetivo do compositor do livro de Salmos era mostrar que nenhum dos reinos históricos [do Norte, Efraim e do Sul, Judá] se mostrou fiel a Deus e, portanto, ambos estavam sujeitos ao julgamento de Deus. O salmo [79] começa com uma representação gráfica da destruição de Jerusalém e do templo (vs.1-4). Isso é seguido pelo clamor de um sobrevivente: “Até quando, SENHOR, ficarás irado conosco?” (v. 5). O salmista reconhece a justiça de Deus ao trazer destruição sobre seu próprio povo pecador (vs.7-8), mas ele ora pela misericórdia de Deus sobre a sua geração, os filhos e filhas daqueles que falharam em obedecer a Deus (vs.9-11). A base de seu apelo não é a justiça própria, mas sim a vindicação do santo nome de Deus (v. 12) e a eleição que Deus mesmo fez de Israel como seu próprio povo (v.13).
Portanto, crente, louve a Deus, tal qual estás, venha a ele, pelo sangue de Cristo, traga o seu lamento e confesse tudo o que você sabe ser pecado.
Tendo lamentado com fé e confessado com arrependimento o pecado, Asafe passa a clamar a Deus por socorro. Leia comigo, veja que só há um desejo no coração do salmista: a glória e a honra do nome do SENHOR. Versículos 9-12:
9Ajuda-nos, ó Deus de nossa salvação, pela glória do teu nome. Livra-nos e perdoa nossos pecados, pela honra do teu nome. 10Por que permitir que as nações digam: “Onde está o seu Deus?” Mostra-nos tua vingança contra as nações, pois elas derramaram o sangue de teus servos. 11Ouve os gemidos dos prisioneiros; por teu grande poder, salva os condenados à morte. 12Ó Senhor, retribui sete vezes mais a nossos vizinhos pelos insultos que lançaram contra ti.
Jesus ensinou a pedir perdão e a perdoar (70 x7) os que nos perseguem. Mas não é errado pedir justiça, que é o que o salmista estava fazendo. Paulo, por exemplo, reconheceu que justiça da parte de Deus sucederia a Alexandre, o latoeiro, o qual lhe havia causado muitos males (2Tm 4.14).
“Até quando, SENHOR?” (v. 5) é a pergunta dos fiéis no Antigo Testamento (Hc 1.2) e também no Novo (Ap 6.10):
Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?
Atenção: não é pedir vingança. É pedir justiça.
Uma questão: estamos em condições de pedir justiça? Duas coisas deverão sempre estar diante de nós: devemos, primeiro, tirar a trave do nosso olho e, segundo, pedir para a glória e a honra do nome de Deus, não nossa.
Crente, louve a Deus, mesmo na época das lágrimas – venha a ele, traga o seu lamento, confesse tudo o que você sabe ser pecado em sua vida e clame pelo seu socorro. Mas tem uma última lição…
O salmo que começou com lamento (o qual está resumido no versículo 12) terminou com louvor. Versículo 12-13:
12Ó Senhor, retribui sete vezes mais a nossos vizinhos pelos insultos que lançaram contra ti. 13Então nós, teu povo, ovelhas do teu pasto, para sempre te daremos graças e louvaremos tua grandeza por todas as gerações.
O salmista não exultaria com a ruína dos outros. Louvaria a Deus pelo seu juízo. Não é um juízo para satisfazer sua sede de vingança, mas para mostrar a moralidade de Deus, a justiça divina. Mesmo na ruína e na dor, o maior desejo de um fiel cristão deve ser o de ver o nome e a honra do SENHOR glorificados. Cuidado com o ego ferido. Em qualquer momento, busque a glória de Deus. Não haverá erro.
Derek Kidner colocou de forma irretocável a mensagem do salmo:
Olhar para trás, para o versículo 1, é maravilhar-se com a fé que permitiu a composição de tal salmo; de tal angústia, terminar, mesmo que apenas em antecipação, com uma palavra dessa de louvor.
O segredo da fé e da confiança de Asafe está no que o versículo 13 destaca: o povo sempre será o povo de Deus, as ovelhas de seu pasto. Em certo sentido, isso nos leva de volta para onde o salmo começou, pois ele iniciou falando de “tua terra (tua herança)… teu santo templo… teus servos… teus fiéis” (vs. 1-2). Ou seja, o que quer que tenha acontecido, tudo aconteceu porque o povo pertence a Deus e não o contrário. O salmo termina com a mesma nota do início, porque ainda é verdade que “nós, [somos] teu povo, ovelhas do teu pasto, [portanto,] para sempre te daremos graças e louvaremos tua grandeza por todas as gerações.”
Neste ponto é bom recordar de Hebreus 12.7-13:
7Enquanto suportam essa disciplina de Deus, lembrem-se de que ele os trata como filhos. Quem já ouviu falar de um filho que nunca foi disciplinado pelo pai? 8Se Deus não os disciplina como faz com todos os seus filhos, significa que vocês não são filhos de verdade, mas ilegítimos. 9Uma vez que respeitávamos nossos pais terrenos que nos disciplinavam, não devemos nos submeter ainda mais à disciplina do Pai de nosso espírito e, assim, obter vida? 10Pois nossos pais nos disciplinaram por alguns anos como julgaram melhor, mas a disciplina de Deus é sempre para o nosso bem, a fim de que participemos de sua santidade. 11Nenhuma disciplina é agradável no momento em que é aplicada; ao contrário, é dolorosa. Mais tarde, porém, produz uma colheita de vida justa e de paz para os que assim são corrigidos. 12Portanto, revigorem suas mãos cansadas e seus joelhos enfraquecidos. 13Façam caminhos retos para seus pés a fim de que os mancos não caiam, mas sejam fortalecidos.
Povo de Deus, que demore – e demore muito – a chegar a cada um de nós o dia do nosso lamento, mas quando chegar, o Salmo 79 estará aqui para nos guiar e nos ensinar a louvar, mesmo que em lágrimas. Venha e traga o seu lamento. Confesse tudo o que você sabe ser pecado. Clame a Deus por socorro. Cante e proclame o louvor do SENHOR.
O Salmo 79 poderia ter sido um dos salmos de Jesus lá na Cruz. Em vez de dizer: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparastes?”, o Cristo poderia muito bem ter recitado:
4[Ímpios] zombam de [mim]; [sou] objeto de riso e desprezo para os que [me] rodeiam. 5Até quando, SENHOR, ficarás irado [comigo]? Será para sempre? Até quando teu zelo arderá como fogo?
Suportou Cristo esse sofrimento lá na cruz para que, ao chegarmos na época das lágrimas – ah! e elas sempre vêm e vão –, saibamos que nunca estaremos tão arrasados a ponto de lamentarmos como os que não tem esperança ou de não conseguirmos louvar como quem recebeu do SENHOR mesmo o poder para, com o bom ânimo da fé, vencer o mundo.
Que o SENHOR abençoe sua Palavra e nos conceda a graça de sempre louvarmos e buscarmos a glória e a honra de seu nome, mesmo quando estivermos no vale das lágrimas.
Talvez você esteja atravessando o mesmo vale de lágrimas de Santo Agostinho. Em suas Confissões ele descreveu alguns detalhes das horas de suas lutas mais profundas da alma, antes de sua conversão, citando precisamente o Salmo 79. Ouça (Livro VIII, XII, 28):
Eu me joguei não sei como sob uma figueira, e soltei as rédeas às lágrimas; rios derramaram de meus olhos, sacrifício aceitável para ti, e te disse muitas coisas, não com estas palavras, mas com este sentido: “E tu, Senhor, até quando? Até quando vai tua ira, Senhor? Não guardes memória das faltas de nossos antepassados”. Com efeito, sentia que eram eles que me retinham. Lançava gritos miserandos: “Por quanto tempo, por quanto tempo ‘amanhã e amanhã’? Por que não agora? Por que não acabar neste instante com minha indignidade?”.
Nessa hora de angústia e lamento, o SENHOR o visitou. Agostinho continua (Livro VIII, XII, 29):
Dizia isso e chorava, no despedaçamento amarguíssimo de meu coração. E eis que de uma casa próxima ouço uma voz, como de meninos ou meninas, não sei, que diziam e repetiam sem parar, cantando: “Pega, lê, pega, lê”. Imediatamente, mudando de expressão, comecei a cogitar se alguma vez, em algum tipo de brincadeira, as crianças costumavam cantar algo parecido, mas não me ocorreu tê-lo ouvido em lugar nenhum; então, reprimido o impulso das lágrimas, me levantei, julgando que não podia interpretar aquela ordem divina de outra maneira, senão abrindo o livro e lendo o primeiro versículo que encontrasse. […] Voltei rapidamente, portanto, ao lugar onde se sentava Alípio: ali, de fato, deixara o livro do apóstolo, quando me levantara. Peguei-o, abri-o e li em silêncio o versículo sobre o qual primeiro caiu meu olhar: “Não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes, mas vesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis satisfazer os desejos da carne” [Rm 13.13-14]. Não quis ler mais, nem era preciso. Porque, logo que acabei aquela frase, foi como se uma luz de certeza derramada no meu coração dissipasse todas as trevas da dúvida.
Considere: Não estaria o SENHOR, em seu vale de lágrimas, chamando-o, chamando-a a abandonar o pecado e se vestir, pela fé, do Senhor Jesus Cristo?
Foi assim com Santo Agostinho (e tantos outros). Poderá ser assim com você.
S.D.G. L.B.Peixoto
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