06.04.2016
PEDAGOGIA DA ORAÇÃO
Salmo 5
[Para o mestre de música. Para flautas. Salmo davídico.]
1 Escuta, Senhor, as minhas palavras, considera o meu gemer. 2 Atenta para o meu grito de socorro, meu Rei e meu Deus, pois é a ti que imploro. 3 De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança. 4 Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não pode habitar. 5 Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal. 6 Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o Senhor detesta. 7 Eu, porém, pelo teu grande amor, entrarei em tua casa; com temor me inclinarei para o teu santo templo. 8 Conduze-me, Senhor, na tua justiça, por causa dos meus inimigos; aplaina o teu caminho diante de mim. 9 Nos lábios deles não há palavra confiável; suas mentes só tramam destruição. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam sutilmente. 10 Condena-os, ó Deus! Caiam eles por suas próprias maquinações. Expulsa-os por causa dos seus muitos crimes, pois se rebelaram contra ti. 11 Alegrem-se, porém, todos os que se refugiam em ti; cantem sempre de alegria! Estende sobre eles a tua proteção. Em ti exultem os que amam o teu nome. 12 Pois tu, Senhor, abençoas o justo; o teu favor o protege como um escudo.
Música do coração
A boa música geralmente nasce do momento em que o compositor está vivendo. A circunstância é tão marcante que ele não consegue deixar de escrever e compor o que está latente na mente e no coração. Assim como a letra, a melodia e os arranjos são cuidadosamente escolhidos, de forma a expressar com exatidão o que se passa na alma do autor. É isso que costumamos chamar de música do coração.
Salmo 5 não é exceção. Uma leitura atenta dessa música de Davi irá nos revelar que ela nasceu numa atmosfera de fortes conflitos e dura opressão. Davi estava no fundo do poço do desencorajamento. Já no cabeçalho do Salmo nós descobrimos que a música terá um tom melancólico, afinal, ela é “para flautas” (ou “instrumentos de sopro”), e muitos dos salmos de lamento foram compostos “para flautas”, por causa de suas melodias contemplativas, lúgubres e tristes.
Interessante que Davi não tocava instrumento de sopro, mas a harpa (1Sm 16.23). No entanto, ao escrever esta canção que expressava seu profundo desencorajamento, ele decidiu que ela deveria ser tocada no instrumento que melhor expressasse o seu sofrimento – o “Nehiloth” – instrumento de sopro, ou flauta.
Esse cuidado de Davi com a música deveria nos ensinar que para cada mensagem há uma melodia apropriada. Cada momento impõe seu próprio ritmo. Cada circunstância tem sua melodia única. A vida não é sempre balada e rock and roll, não é só gargalhada, não é só dança.
Tg 4.9-10 – 9 Entristeçam-se, lamentem-se e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. 10 Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará.
O poder do sofrimento
Essa música do coração de Davi nos ensina outra lição preciosíssima, sobre a qual nós iremos nos concentrar na mensagem de hoje. O sofrimento tem o poder de expor o que está no íntimo da gente. No caso de Davi, o sofrimento expôs o quanto ele dependia de Deus. Através do sofrimento, Davi nos ensinou a orar.
Esse é o quinto Salmo de Davi, o próximo, o sexto Salmo, também é de Davi. Tudo indica que, com exceção dos Salmos 1 e 2, que compõem a introdução do Saltério, os Salmos 3 a 6 tenham sido escritos no mesmo período – quando Davi fugia de seu filho Absalão.
Outro fato curioso é que os Salmo 3 a 6 se alternam entre Salmo da manhã e Salmo da noite, Salmo da manhã e Salmo da noite.
Salmo 3 – Salmo da manhã (v. 5)
Eu me deito e durmo, e torno a acordar, porque é o Senhor que me sustém.
Salmo 4 – Salmo da noite (v. 8)
Em paz me deito e logo adormeço, pois só tu, Senhor, me fazes viver em segurança.
Salmo 5 – Salmo da manhã (v. 3)
De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança.
Salmo 6 – Salmo da noite (v. 6)
Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito.
Podemos extrair algumas lições dessa disposição dos Salmos de Davi:
Sobre esses Salmos, Charles H. Spurgeon escreveu:
“Oração deve ser a chave que abre o dia e o cadeado que tranca a noite. Devoção deveria ser tanto a estrela da manhã quanto a estrela da noite.”
Pedagogia da oração
Feitas essas considerações, vejamos o que o sofrimento de Davi lhe ensinou sobre oração, e o que nós podemos aprender. A pedagogia da oração nos ensina: (1) Apelar ao Senhor; (2) Analisar a situação; e (3) Aclamar ao Senhor.
1. Apele ao Senhor (Sl 5.1-3)
Há seis observações que podemos fazer sobre nosso apelo em oração:
1.1. Oração é prioridade (v. 3):
De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração…
1.2. Oração é necessidade urgente, e como tal ela deve ser feita com fervor – note os imperativos (v. 1-2):
1 Escuta, Senhor, as minhas palavras, considera o meu gemer. 2 Atenta para o meu grito de socorro, meu Rei e meu Deus, pois é a ti que imploro.
Tg 5.16-18 – A oração de um justo é poderosa e eficaz. Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Orou outra vez, e os céus enviaram chuva, e a terra produziu os seus frutos.
1.3. Oração é com palavras, sem palavras e com poucas palavras (v. 1-2)
1 Escuta, Senhor, as minhas palavras, considera o meu gemer. 2 Atenta para o meu grito de socorro, meu Rei e meu Deus, pois é a ti que imploro.
1.4. Oração é também pensada, planejada, organizada e listada (v. 3):
De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento [coloco de forma organizada] a minha oração e aguardo com esperança.
1.5. Oração deve ser feita com fé (v. 3):
De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança.
1.6. Oração é expressão de intimidade – note os pronomes possessivos (v. 1-2):
1 Escuta, [meu] Senhor, as minhas palavras, considera o meu gemer. 2 Atenta para o meu grito de socorro, meu Rei e meu Deus, pois é a ti que imploro. 3 De manhã ouves, [meu] Senhor, o meu clamor; de manhã te apresento a minha oração e aguardo com esperança.
Apele ao Senhor em oração.
2. Analise a situação (Sl 5.4-10)
Neste salmo de lamento, após apelar ao Senhor (Sl 5.1-3), Davi começa a analisar a situação que ele tinha diante de si naquele dia. Interessante que esta análise fez Davi refletir em três situações.
2.1. O caráter de Deus – Deus e os nossos problemas (Sl 5.4-6)
4 Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não pode habitar. 5 Os arrogantes não são aceitos na tua presença; odeias todos os que praticam o mal. 6 Destróis os mentirosos; os assassinos e os traiçoeiros o Senhor detesta.
2.2. A condição do orante – nós e os nossos problemas (Sl 5.7-8)
7 Eu, porém, pelo teu grande amor, entrarei em tua casa; com temor me inclinarei para o teu santo templo. 8 Conduze-me, Senhor, na tua justiça, por causa dos meus inimigos; aplaina o teu caminho diante de mim.
2.3. A categoria dos problemas – os tipos de problemas (Sl 5.9-10)
9 Nos lábios deles não há palavra confiável; suas mentes só tramam destruição. Suas gargantas são um túmulo aberto; com suas línguas enganam sutilmente. 10 Condena-os, ó Deus! Caiam eles por suas próprias maquinações. Expulsa-os por causa dos seus muitos crimes, pois se rebelaram contra ti.
Portanto, quando orar: (1) Apele ao Senhor e (2) Analise a situação diante do Senhor, mas também…
3. Aclame ao Senhor (Sl 5.11-12)
Tendo apelado ao Senhor em oração e analisado a situação diante de Deus, aclame ao Senhor pelo seu cuidado para conosco…
11 Alegrem-se, porém, todos os que se refugiam em ti; cantem sempre de alegria! Estende sobre eles a tua proteção. Em ti exultem os que amam o teu nome. 12 Pois tu, Senhor, abençoas o justo; o teu favor o protege como um escudo.
Pedagogia da oração
Ao refletir sobre a forma de Davi orar, lembre-se:
O justo, aquele cuja vida tem como fonte a Palavra (Sl 1) e como foco o Cristo (Sl 2), também passa por aflições, ele também sofre (Sl 3 a 6).
O sofrimento é a melhor escola de oração (Sl 5).
O dia deve começar (Sl 3 e 5) e terminar (Sl 4 e 6) com oração, e durante o dia todo nós devemos orar sem cessar.
Ao orar:
Apele ao Senhor; Analise a situação diante do Senhor; Aclame ao Senhor.
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