14.06.2017
A VOZ DO SENHOR
Salmo 29
Salmo de Davi.
1 Honrem o SENHOR, seres celestiais, honrem o SENHOR por sua glória e força. 2 Honrem o SENHOR pela glória de seu nome, adorem o SENHOR no esplendor de sua santidade. 3 A voz do SENHOR ecoa sobre o mar, o Deus da glória troveja; sobre o imenso mar, o SENHOR fala. 4 A voz do SENHOR é poderosa, a voz do SENHOR é majestosa. 5 A voz do SENHOR quebra os grandes cedros, o SENHOR despedaça os cedros do Líbano. 6 Faz os montes do Líbano saltarem como bezerros, faz o monte Hermom pular como novilhos selvagens. 7 A voz do SENHOR risca o céu com relâmpagos. 8 A voz do SENHOR sacode o deserto, o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. 9 A voz do SENHOR torce os fortes carvalhos e arranca as folhas dos bosques; em seu templo todos proclamam: “Glória!”. 10 O SENHOR comanda as águas da inundação, o SENHOR governa como Rei para sempre. 11 O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR os abençoa com paz.
Hino ao Senhor da tempestade
É muito antigo o medo de tempestade. Tão assustadora é a sensação que os fenômenos da natureza causam no ser humano que, com medo e sem explicações, desde os povos mais primitivos, tornou-se comum atribuir divindade à chuva e às trovoadas, por exemplo.
Tupã, que na língua tupi significa “trovão”, é uma entidade da mitologia tupi-guarani. Os indígenas rezam a Nhanderuvuçu e a seu mensageiro Tupã. Para eles, Tupã não é exatamente um deus, mas uma manifestação de um deus na forma do som do trovão (Tu-pá, Tu-pã ou Tu-pana — golpe ou baque estrondeante). Assim é que por não saberem a causa e por desconhecer o fenômeno, o índio temia a tempestade, chamava-a de deus.
Osvaldo Orico, escritor brasileiro, diz assim:
A despeito da singela idéia religiosa que os caracterizava, os índios tinha noção de “Ente Supremo”, cuja voz se fazia ouvir nas tempestades — Tupã-cinunga, ou “o trovão”, cujo reflexo luminoso era Tupãberaba, ou relâmpago. Os índios acreditavam ser esse “Ente Supremo” – cuja voz é o trovão e cujo reflexo é o relâmpago, o deus da criação, o deus da luz. Sua morada seria o sol.
Na crença do cananeus, comunidades antigas que habitavam a região da Síria e da Palestina — cuja lógica certamente seguia o padrão da dos tupi-guaranis, Baal, dentre outras coisas, era o deus da tempestade.
Quando Davi escreveu o Salmo 29, provavelmente no meio de uma tempestade natural, ele assim o fez de forma a contrastar a visão de mundo pagã com a bíblica. Alguns chegaram a pensar que esse salmo se baseou em salmo cananita ou fenício, mas a evidência desse argumento é pobre. Parece razoável, no entanto, supor que a composição do salmo em meio à uma tempestade estabeleça o Senhor Deus sobre Baal — que era o deus da tempestade amplamente adorado na região sírio-palestina.
A cosmovisão bíblica jamais apresenta os fenômenos da natureza em si mesmos como problemas, tais quais: castigos dos deuses, maldições divinas, etc.; eles são a criação de Deus, servem aos seus propósitos e demonstram o seu poder, sabedoria, glória, fidelidade e até mesmo amor. Essa é a visão da Bíblia para a tempestade.
O Salmo 29, portanto, é um hino de louvor a Deus por seu poder incrível, onde uma tempestade serve como um emblema visível da majestosa voz do Senhor.
A tempestade em que estava Davi
Quando lemos o salmo, nós discernimos a sensação que foi sentida por Davi, que talvez estivesse assistindo de algum campo aberto ou abrigado numa caverna, esperando que passasse a fúria daquela tempestade. Observe:
A tempestade em que estava Davi arrancou de todos, no céu e na terra, um grito de glória. Assim que deve ser diante de qualquer fenômeno natural.
Os efeitos da Palavra de Deus
Pois bem, de todas as formas que nós poderíamos abordar esse salmo, parece mais apropriado ver nele os efeitos da Palavra de Deus na vida das pessoas — afinal, Davi destaca “a voz do SENHOR”, que aparece sete vezes do verso 3 ao verso 9.
Davi era o homem da Palavra. Ele amava a Palavra de Deus. Leia, por exemplo os Salmos 1, 19 e 119, onde ele destacou os encantos e as especiarias da Palavra de Deus. Aqui, no Salmo 29, quando ele fala da “voz do Senhor”, Davi destaca os efeitos da Palavra de Deus na vida das pessoas. Observem comigo os três efeitos da Palavra de Deus: ela conclama ao louvor — vv. 1-2; ela converte o pecador — vv. 3-9; e ela cala o temor — vv. 10-11.
1. A voz do Senhor conclama ao louvor — vv. 1-2
O salmo é puro louvor, na verdade, um “Hino ao Senhor da tempestade”. Destaca-se a majestade de Deus na tempestade. No entanto, diferentemente dos deuses pagãos, o Deus de Davi é um Deus pessoal — há 18 registros do nome Iahweh (SENHOR); esse é o nome de Deus no pacto ou na aliança com Israel. Ele, portanto, não é um Deus impessoal (uma força que se expressa pela natureza). Antes, ele se relaciona com os seus nos termos de sua Palavra de aliança. A esse Deus nós somos conclamados a louvar:
1 Honrem o SENHOR, seres celestiais, honrem o SENHOR por sua glória e força. 2 Honrem o SENHOR pela glória de seu nome, adorem o SENHOR no esplendor de sua santidade.
Nos céus e na terra é imperioso e urgente que se adore o Senhor (“honrem”, “tributem” ou “adorem” aparecem três vezes na forma imperativa aqui nesses dois versos).
Todos, no céu e na terra — anjos e homens, devem louvar ao Senhor (vv. 1-2 e 9).
A razão para se adorar, além do pacto e da aliança que conosco ele fez, Deus é glorioso, forte e esplendoroso em santidade.
Diante desse Deus, não resta outra alternativa, mas “adorar” — hb.: “curvar”, prostrar-se com reverência e regozijo diante do Senhor Deus.
A voz do Senhor conclama ao louvor. Sua Palavra revela quem ele é e o que ele faz. Toda essa beleza nos leva a adorar.
2. A voz do Senhor converte o pecador — vv. 3-9
Percorra comigo através das afirmações que se faz da voz de Deus nesse salmo e veja como a Palavra de Deus age para converter o pecador:
A Palavra de Deus se sobrepõe à agitação do pecado no coração do pecador
Veja como Isaías descreveu o coração do perverso sem Deus (Is 57.20): “Os perversos, porém, são como o mar agitado que nunca se aquieta e revolve lama e sujeira sem parar.” Agora, observe como Davi fala da voz do Senhor (Sl 29.3): “A voz do SENHOR ecoa sobre o mar, o Deus da glória troveja; sobre o imenso mar, o SENHOR fala.”
A Palavra de Deus seduz o coração do pecador
Observe como Davi fala da voz do Senhor na tempestade (Sl 29.4): “A voz do SENHOR é poderosa, a voz do SENHOR é majestosa.”
A Palavra de Deus quebra os poderes do pecado no coração do pecador
Observe como Davi fala da ação da tempestade (Sl 29.5-6): “5 A voz do SENHOR quebra os grandes cedros, o SENHOR despedaça os cedros do Líbano. 6 Faz os montes do Líbano saltarem como bezerros, faz o monte Hermom pular como novilhos selvagens.”
A Palavra de Deus ilumina a escuridão do coração do pecador
Observe como Davi fala dos relâmpagos da tempestade (Sl 29.7): “A voz do SENHOR risca o céu com relâmpagos.”
A Palavra de Deus esculpe o coração do pecador
Observe como Davi fala do rastro da tempestade (Sl 29.8-9): “8 A voz do SENHOR sacode o deserto, o SENHOR faz tremer o deserto de Cades. 9 A voz do SENHOR torce os fortes carvalhos e arranca as folhas dos bosques;”
A voz do Senhor converte o pecador, transformando-o num adorador:
9 […] em seu templo todos proclamam: “Glória!”.
3. A voz do Senhor cala o temor — vv. 10-11
Davi está no olho do furacão, e o que se nota é uma pessoa pacificada. Por quê?
Primeiro, porque Deus é soberano sobre a Criação
10 O SENHOR comanda as águas da inundação, o SENHOR governa como Rei para sempre.
Segundo, porque Deus é o salvador e o sustentador de seu povo
11 O SENHOR dá força ao seu povo, o SENHOR os abençoa com paz.
A fé no Senhor soberano, salvador e sustentador cala os temores do coração; traz paz.
A voz do Senhor
Em conclusão, permitam-me fazer algumas aplicações:
1. Confie em Deus: tempestades sempre têm começo, meio e fim, e o Senhor é soberano sobre todas elas; ele as usa em favor de seu povo — todas as coisas cooperam para o bem daqueles que o amam;
2. Cante a Deus: tempestades servem para ensinar o povo de Deus a confiar na bondade e na sabedoria de Deus, levando-os a adorar pelo que aprenderam de Deus;
3. Creia em Cristo: esse salmo começa com “glória a Deus nas alturas” (vv. 1-2) e termina com “paz aos homens” (v. 11). Anjos louvam no começo e o rei traz a paz no final. Algo lhe vem a memória?
Irmãos, esse salmo aponta para Cristo, é um salmo cristológico. Ele aponta para o nascimento de Jesus, conforme anunciado aos pastores em Belém (Lc 2.8-15).
A glória de Deus hoje se manifesta não apenas em tempestades, mas em Jesus Cristo. Ele declarou-se EU SOU, nome aqui no Salmo usado 18 vezes para Deus. Ele é a nossa paz — paz com Deus, paz de Deus e paz uns com os outros.
Adoremos, louvemos e exaltemos nosso Grande Rei e Salvador Jesus Cristo. Curvemo-nos diante dele.
4. Conheça a voz de Deus: leia, memorize, medite e estude a Palavra de Deus — a voz de Deus nos conclama ao louvor, converte o pecador e cala o temor.
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