27.09.2017
LUGAR DE REFÚGIO
Salmo 36
7Como é precioso o teu amor, ó Deus! Toda a humanidade encontra abrigo [refúgio] à sombra de tuas asas.
Esconderijo de criança
Um lugar de refúgio, aonde correr, é uma necessidade universal, tanto de seres humanos como de animais. Sempre que nos vemos ameaçados, especialmente nós as criaturas humanas, a tendência natural é buscar um lugar de abrigo. Pense, por exemplo, nas crianças: na infância é muito comum para meninos e meninas as brincadeiras de esconde-esconde. Todas elas correm para se abrigar em baixo da mesa, atrás do sofá ou da cortina, em baixo da cama, dentro do guarda-roupas, de alguma cômoda e por ai vai…
Quando eu era pequeno, amava me esconder em baixo da mesa da casa da avó Frauzina. Era um móvel muito antigo, cuja base, no formato de um caixote, servia perfeitamente bem como esconderijo ou abrigo, principalmente com o forro enorme, cobrindo a mesa do topo até quase tocar o chão. Era fascinante me refugiar naquele local.
Na adolescência, meu lugar de refúgio era o telhado de nossa casa, na Rua Rio Verde, no 1104, St. Campinas (a casa está lá até hoje!). Lá em cima, bem no cantinho do telhado da garagem eu construí uma nave espacial — acima das telhas subia as paredes da varanda, formando uma triangulação perfeita para a construção daquele “OVNI”. Os botões de controle eram todos de tampinhas de refrigerantes e os painéis de controle e o leme todos criativamente improvisados com todo tipo de materiais. Enfim, era encantador me refugiar naquele lugar de abrigo. Sentia-me perfeitamente abrigado para voar para outros mundos encantadores e bem mais seguros. Falando em voar…
Recordo-me a primeira vez que entrei num avião. Meu pai me levou ao Aeroporto Santa Genoveva e me colocou dentro do avião do dono da empresa que ele trabalhava. Naquele tempo, os daquele porte eram chamados de teco-teco. Lembro-me que lá dentro eu fiquei encantado com o abrigo proporcionado pela aeronave. Bem pequena, tudo muito apertadinho, mas, para a cabeça inocente de uma criança, um lugar perfeito para se abrigar e voar à procura de refúgio. Disse, então, ao papai: “Papai, aqui é muito seguro! Se o avião cair ninguém morre, né?” Acho que foi à partir daquela experiência que eu tive a brilhante ideia de construir minha aeronave sobre o telhado.
Lugar de refúgio
Refúgio é sinônimo de segurança. No Antigo Testamento existem diversas palavras hebraicas que evocam imagens de refúgio ou abrigo — todas falam de alternativas para quem precisa, por exemplo, de segurança face ao perigo, defesa contra o inimigo, alívio do estresse, proteção contra o tempo, etc. As imagens bíblicas mais comuns descrevem rocha ou fortaleza (geralmente um posto militar no deserto) aonde buscar refúgio nas batalhas; casa ou lar como lugar aonde voltar e lugar permanente de abrigo e refúgio; também encontramos asas e torre (cerca de cem vezes cada no Antigo Testamento) — asas para voar em busca de abrigo ou lugar aonde se refugiar; e torre como lugar de refúgio ou abrigo.
O ser humano, definitivamente, precisa de um lugar de refúgio. O versículo que nós lemos inicialmente (Sl 36.7) não poderia ser mais claro:
7Como é precioso o teu amor, ó Deus! Toda a humanidade encontra abrigo [refúgio] à sombra de tuas asas.
Este salmo é muito parecido com o primeiro salmo do Saltério; ou seja, contrasta os caminhos dos justos com os dos ímpios, revelando suas diferentes naturezas, diferentes escolhas e diferentes destinos. Há, porém, duas diferenças básicas entre o trigésimo sexto e o primeiro dos salmos.
Primeiro, a ordem é inversa. No Salmo 1, primeiro se descreve o justo (vv. 1-3), depois o ímpio (v. 4) e, então, o destino de ambos é apresentado em contraste (vv. 5-6). No Salmo 36 a ordem é a seguinte: primeiro os ímpios (vv. 1-4), depois os justos (vv. 5-9) e, por fim, o contraste entre eles (vv. 10-12).
Segundo, a ênfase é diferente. No Salmo 36 a seção sobre o justo não foca, principalmente, no justo em si, mas em Deus, cujas qualidades ou atributos apenas os justos apreciam e desfrutam com fé e esperança. Em tudo o que se deseja destacar é que Deus, somente Deus, é o nosso lugar de refúgio.
Hoje o que faremos é passear por este salmo, o 36, fazendo algumas observações à partir de cada uma das estruturas do salmo. Então, vamos lá…
1. Precisamos de refúgio! De quê?
Nos quatro primeiros versículos, Davi desenha uma imagem falada de homens perversos, homens que não temem a Deus e que perseguem o povo de Deus. Observem:
Sl 36.1-4 | 1O pecado do ímpio sussurra ao seu coração; ele não tem o menor temor de Deus. 2Em sua cega presunção, não percebe quão grande é sua perversidade. 3Tudo que diz é distorcido e enganoso; não quer agir com prudência nem fazer o bem. 4Mesmo à noite, trama maldades; suas ações nunca são boas, e não se esforça para fugir do mal.
Nós precisamos de refúgio: em primeiro lugar, refúgio de nós mesmos, de nossas maldades, de nosso coração pecaminoso e miserável que, por natureza, sempre nos inclina para a prática da maldade; em segundo lugar, precisamos de refúgio desse mundo mal, permeado de pessoas como nós mesmos, isto é, maldosas, ímpias e perversas.
Precisamos de refúgio… bem longe do pecado e da ira de Deus.
2. A vida no refúgio! Como é?
Agora, após descrever o coração e o comportamento dos ímpios (vv. 1-4), Davi, abruptamente (vv. 5-9) — tão abruptamente que comentaristas liberais do texto bíblico, equivocadamente, falam de duas composições distintas aglutinadas no mesmo salmo (vv. 1-4 e vv. 5-9) — passa a descrever alguns atributos de Deus (i.e., amor, fidelidade, justiça e sabedoria) e os privilégios de quem encontra refúgio no Senhor (i.e., provisão, proteção, satisfação e iluminação). Observem:
Sl 36.5-9 | 5Teu amor, SENHOR, é imenso como os céus; tua fidelidade vai além das nuvens. 6Tua justiça é como os montes imponentes, teus decretos, como as profundezas do oceano; tu, SENHOR, cuidas tanto das pessoas como dos animais. 7Como é precioso o teu amor, ó Deus! Toda a humanidade encontra abrigo à sombra de tuas asas. 8Tu os alimentas com a fartura de tua casa e deixas que bebam de teu rio de delícias. 9Pois és a fonte de vida, a luz pela qual vemos.
Para desfrutar de tudo isso, quem no Senhor se refugia, precisará aprender a viver pela fé:
A vida no refúgio, portanto, é vivida pela fé na graça futura de Deus. Tanto é verdade que o salmista conclui o seu poema com uma oração de fé:
Sl 36.10-12 | 10Derrama teu amor sobre os que te conhecem, concede justiça aos sinceros de coração. 11Não permitas que os arrogantes me pisoteiem, nem que os perversos me empurrem. 12Vejam! Caíram os que praticam o mal! Foram derrubados e nunca mais se levantarão.
Percebeu?
É pela fé, em oração, que nós provamos do amor, da fidelidade, da justiça e da sabedoria de Deus. Sem fé na graça futura de Deus (fé no que Deus tem para nós) não há como desfrutar da provisão, da proteção, da satisfação e da iluminação que o Senhor, em Cristo, por meio do Espírito Santo, nos dispensa.
Refugiamo-nos em Deus pela fé. Pela fé, assim é que é a vida no refúgio.
3. Jesus Cristo é o nosso refúgio
Tudo o que Deus tem a nos oferecer só será encontrado em Jesus Cristo:
Jesus Cristo é o nosso refúgio!
Mt 23.37 | Jerusalém, Jerusalém, cidade que mata profetas e apedreja os mensageiros de Deus! Quantas vezes eu quis juntar seus filhos como a galinha protege os pintinhos sob as asas, mas você não deixou.
As massas dos dias de Jesus recusaram o refúgio oferecido por Deus e “Foram derrubados e nunca mais se levantarão” (Sl 36.12). Ainda hoje acontece a mesma coisa. A maioria foge de Jesus Cristo e procura refúgio noutros lugares. Não seja você um desses que, no final, por causa do engano do pecado, sempre tropeçam e caem por viverem na prática do mal.
Venha agora mesmo a Jesus e encontre refúgio. Cante como o salmista (Sl 36.7):
Como é precioso o teu amor, ó Deus! Toda a humanidade encontra abrigo [refúgio] à sombra de tuas asas.
Refugie-se em Jesus e viva pela fé na graça futura de Deus; viva da esperança do céu:
Hb 6.18-20 | 18A promessa e o juramento não podem ser mudados, pois é impossível que Deus minta. Portanto, nós que nele nos refugiamos estamos firmemente seguros ao nos apegarmos à esperança posta diante de nós. 19Essa esperança é uma âncora firme e confiável para nossa alma. Ela nos conduz até o outro lado da cortina, para o santuário interior. 20Jesus já entrou ali por nós. Ele se tornou nosso eterno Sumo Sacerdote, […]
Jesus é o nosso lugar de refúgio; quem nele se refugia é transportado para o reino eterno.
S.D.G. L.B.Peixoto
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