13.04.2016
ORAÇÃO DE CURA
Salmo 6
[Para o mestre de música. Com instrumentos de cordas. Em 8a. Salmo davídico]
1 Senhor, não me castigues na tua ira nem me disciplines no teu furor. 2 Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo! Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem: 3 todo o meu ser estremece. Até quando, Senhor, até quando? 4 Volta-te, Senhor, e livra-me; salva-me por causa do teu amor leal. 5 Quem morreu não se lembra de ti. 6 Entre os mortos, quem te louvará? Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito. 7 Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa de todos os meus adversários. 8 Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal, porque o Senhor ouviu o meu choro. 9 O Senhor ouviu a minha súplica; o Senhor aceitou a minha oração. 10 Serão humilhados e aterrorizados todos os meus inimigos; frustrados, recuarão de repente.
Brasileiro não gosta de ficar doente… Quem gosta?
A FEBRAFAR – Federação Brasileira das Redes Associativistas de Farmácias, com sede administrativa na cidade de São Paulo, revelou, há pouco tempo, alguns dados interessantes sobre os brasileiros:
* A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda 1 farmácia para cada grupo de 10 mil habitantes, mas no Brasil a proporção é de 3,34 farmácias para cada 10 mil habitantes.
A Gazeta do Povo, jornal da cidade de Londrina, no Paraná, publicou alguns dados impressionantes.
O varejo farmacêutico cresce em ritmo chinês no Brasil. Embalado pelo aumento do consumo, a forte concorrência e a abertura de novas lojas, o setor vem aumentando suas receitas a taxas de 15% ao ano e não deve parar por aí. A projeção é que as vendas dobrem em cinco anos, atingindo a casa dos R$ 100 bilhões. Por causa disso as duas maiores redes de farmácias norte-americanas, a CVS e a Walgreens, estão fincando bandeiras no Brasil.
Por que o mercado brasileiro está tão fértil para farmácias? Será o rápido envelhecimento da população? Facilidade de automedicação? Perfumaria e cosméticos demais sendo oferecidos? Enfim, uma coisa é certa, o brasileiro parece não gostar de ficar doente. Mas, quem gosta?
Davi estava doente
O Salmo 6 é de Davi. Tudo indica que ele foi escrito no período entre a fuga de Absalão seu filho, e a confissão a Deus de seu pecado contra Bate-Seba e o marido dela, Urias (Sl 32 e 51).
É o primeiro dos sete salmos penitenciais – sendo eles os Salmos 6, 32, 38, 51, 102, 130 e 143. Ao escrevê-lo, Davi parece estar enfrentando três problemas principais:
Alguma enfermidade física (v. 2-3)
2 Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem: 3 todo o meu ser estremece.
Algum transtorno emocional decorrente do sofrimento (v. 3-6)
3 Até quando, Senhor, até quando? 4 Volta-te, Senhor, e livra-me; salva-me por causa do teu amor leal. 5 Quem morreu não se lembra de ti. 6 Entre os mortos, quem te louvará? Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito.
Alguns ataques inimigos (v. 7)
Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa de todos os meus adversários.
Davi sabia que seu estado deplorável era fruto de seu pecado.
Sl 6.1-2 – 1 Senhor, não me castigues na tua ira nem me disciplines no teu furor. 2 Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo!
A cultura hebraica sempre enxergou o ser humano holisticamente.
Para o judeu, o que afetava a alma também afetava o corpo, e o que afetava o corpo também afetava a alma.
Pv 17.22 | O coração bem-disposto é remédio eficiente, mas o espírito oprimido resseca os ossos.
Eles sabiam que coração não tratado diante de Deus adoece o corpo.
Pv 14.30 | O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos.
Essa crença era tão forte que muitas vezes eles não conseguiam desassociar doença física de consequência de pecado, por exemplo. Generalizavam tudo.
Jo 9.1-2 – 1 Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. 2 Seus discípulos lhe perguntaram: “Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?
Pecados, demônios e doenças
Nem toda doença é consequência de pecados. Algumas doenças, como, por exemplo, a desse cego de nascença, são para a glória de Deus. Veja…
Jo 9.3 – Disse Jesus: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.
Outras doenças, no entanto, parecem ser fruto de pecados (Sl 32 e Sl 51); ou de ataques demoníacos na vida de alguém (Jó 2.7; Lc 11.14; 13.11). Nesses casos, a cura total passa principalmente pela restauração espiritual, iniciada na salvação e desenvolvida no processo de santificação progressivo.
Quando a obra de Cristo é recebida pela fé na vida de alguém, ela parece colocar fim nos casos de enfermidades físicas realmente causadas por pecados e ou obras demoníacas.
Mt 8.14-17 – 14 Entrando Jesus na casa de Pedro, viu a sogra deste de cama, com febre. 15 Tomando-a pela mão, a febre a deixou, e ela se levantou e começou a servi-lo. 16 Ao anoitecer foram trazidos a ele muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra e curou todos os doentes. E assim se cumpriu o que fora dito pelo profeta Isaías: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças”.
A cura final para as nossas doenças ocorrerá quando, em glória, recebermos nossos corpos glorificados. Até lá, alguns sofrerão sim de alguma enfermidade que possa ser fruto de pecado específico ou ataque demoníaco. Mas, lembre-se, nem toda doença é por causa de pecados específicos ou ataques diabólicos. Nem toda doença será curada.
2Tm 4.20 | Erasto permaneceu em Corinto, mas deixei Trófimo doente em Mileto.
Sejamos sempre muito cautelosos.
Oração de cura
A doença de Davi parecia ser consequência de seus pecados não confessados a Deus. Tudo indica que a somatização da culpa latente na alma, e não confessada a Deus, era tão forte que ele começou a sofrer algum tipo de enfermidade no corpo (fibromialgia? Parece que sim!).
Sl 6.2-3,5 – 2 Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo! Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem: 3 todo o meu ser estremece. Até quando, Senhor, até quando? (…) 5 Estou exausto de tanto gemer.
Agora compare com o que ele disse noutros dois Salmos, após ter confessado os seus pecados a Deus.
Sl 32.3 – Enquanto eu mantinha escondidos os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer.
Sl 51.8 – Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria, e os ossos que esmagaste exultarão.
O pecado e a culpa de Davi estavam destruindo-o de dentro para fora. Ele estava doente, na alma e no corpo. Sua oração de cura, portanto, tem muita coisa a ensinar para quem se encontra nesse estado deplorável de angústia e dor, mas tenta seguir pela vida encobrindo seus pecados e convivendo com eles.
Quais pecados? Por exemplo: inveja, ira, ressentimento, cobiça, lascívia, vaidade, domínio, orgulho, etc. Você precisa fazer oração de cura, de confissão… Sigamos com as lições do Salmo 6.
1. A agonia da disciplina (Sl 6.1-3)
Quando Deus resolve disciplinar o pecador, o resultado pode ser agonizante. Davi que o diga. Note que sobre ele pesava:
(1) a ira de Deus por causa do pecado;
(2) a debilidade do seu corpo adoecido pela somatização da culpa;
(3) o medo de sua alma em fuga do Criador; e
(4) a demora de Deus em lhe responder e socorrer.
Inimigo de Deus por um momento, Davi sofria a agonia da disciplina:
Sl 6.1-3 – 1 Senhor, não me castigues na tua ira nem me disciplines no teu furor. 2 Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo! Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem: 3 todo o meu ser estremece. Até quando, Senhor, até quando?
É por causa dessa agonia que no Salmo 32 Davi nos adverte.
Sl 32.8-9 | 8 Eu o instruirei e o ensinarei no caminho que você deve seguir; eu o aconselharei e cuidarei de você. 9 Não sejam como o cavalo ou o burro, que não têm entendimento mas precisam ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não obedecem.
Não corra de Deus como um cavalo e nem teime com Deus como uma mula. Antes, viva pela Palavra de Deus (Sl 32.8). Do contrário, você será guiado pelas rédeas da agonia da disciplina de Deus, até ele conseguir te domar.
É a agonia da disciplina.
2. O argumento do desesperado (Sl 6.4-7)
É impressionante como a agonia da disciplina de Deus, como o sofrimento que nos acomete como consequência dos nossos pecados, tem o poder de nos fazer refletir naquilo e sobre aquilo que de alguma forma nunca teríamos pensado, não fosse pela dor.
Dos versos 4 a 7 Davi passa a argumentar com Deus sobre porque ele deveria ser liberto daquele estado. Ao assim proceder, ele nos apresenta o que de fato importa na vida. O sofrimento (a doença, por exemplo) nos faz colocar as coisas na perspectiva correta.
Sl 6.4-7 – 4 Volta-te, Senhor, e livra-me; salva-me por causa do teu amor leal. 5 Quem morreu não se lembra de ti. 6 Entre os mortos, quem te louvará? Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito. 7 Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa de todos os meus adversários.
O argumento desesperado de Davi diante de Deus ensina 3 lições sobre valores fundamentais:
2.1. Satisfaça-se com o amor leal de Deus – v. 4
Volta-te, Senhor, e livra-me; salva-me por causa do teu amor leal.
2.2. Queira viver para adorar a Deus enquanto é tempo – v. 5-6
5 Quem morreu não se lembra de ti. 6 Entre os mortos, quem te louvará?
2.3. Cresça com todos os seus sofrimentos – v. 6b-7
6b Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito. 7 Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa de todos os meus adversários.
Aprendemos que na agonia do sofrimento sempre há espaço para um argumento respeitoso, construtivo e que glorifique a Deus. Aprendemos que (1) o melhor da vida é o amor de Deus; (2) o sentido da vida é adorar a Deus; e (3) a lição da vida é conhecer melhor a Deus.
É o argumento do desesperado.
3. A alegria do discípulo (Sl 6.8-10)
Após expor sua agonia e seus argumentos, Davi termina falando de sua alegria. Ele sabe que a libertação final ainda está por vir – sua cura final será no futuro (v. 10), mas ele tem a certeza de sua vitória pela fé na graça Deus (v. 8-9).
Sl 6.8-10 – 8 Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal, porque o Senhor ouviu o meu choro. 9 O Senhor ouviu a minha súplica; o Senhor aceitou a minha oração. 10 Serão humilhados e aterrorizados todos os meus inimigos; frustrados, recuarão de repente.
A oração pode não mudar as coisas que desejamos ver mudadas, mas uma coisa sempre ela faz: faz-nos agarrar a Deus de tal forma que, por ela, Deus nos transforma – da mesma forma que Jacó foi transformado quando ele se agarrou ao anjo que lutava com ele no vau de Jaboque. E, muitas vezes, no meio da oração, o Senhor nos dá uma imensa certeza de que nós fomos ouvidos.
A alegria do discípulo consiste nisso: sempre que nos agarramos a Deus em oração, ou as coisas mudam, ou nós mudamos, ou as coisas e nós mudamos. Deus sempre nos ouve. Oremos, pois, a Deus.
C. S. Lewis: “Pensar em nossas orações como ‘causas’ apenas daria a impressão de que a importância da oração estaria na realização da coisa pedida. Na verdade, porém, para nossa vida espiritual como um todo, a ‘aceitação’ ou ‘consideração’ importa mais do que o recebimento.”
Oração: cartas a Malcolm – reflexões sobre o diálogo íntimo entre homem e Deus, p. 70.
Oração de cura
Há uma última observação que desejo fazer nesse Salmo. Leia o seu título em itálico ou negrito, mais uma vez:
[Para o mestre de música. Com instrumentos de cordas. Em 8a. Sl davídico.]
“Em oitava” ou “sheminith” pode significar “grave” (voz do baixo), em contraste com “alamoth” que significa agudo (voz soprano) – cf. 1Cr 15.20-21. Dessa forma, o Salmo 6 (e também o Salmo 12) deveria ser cantado por vozes graves masculinas.
Imaginem um coro de homens cantando a oração de cura de Davi! Não seria essa uma belíssima forma cantada de se ensinar o que Paulo disse em 1Timóteo 2.8, que diz: “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões.”?
Que o Senhor nos ensine a orar! Que homens possam orar mais. Que todos possamos orar mais a Deus.
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