Salmo 10 – Os Ouvidos de Deus

OS OUVIDOS DE DEUS

Salmo 10

¹⁷ Tu, Senhor, ouves a súplica dos necessitados; tu os reanimas e atendes ao seu clamor.

Deus está longe?
A vida de Davi era uma montanha russa, com altos e baixos. Para conhecer as situações – as montanhas e os vales – pelos quais passou o rei de Israel, podemos recorrer aos livros de Samuel e ao capítulo 1 de 1Reis. Se alguém desejar investigar as emoções – as alegrias e as tristezas – do homem segundo o coração de Deus, temos para leitura os Salmos.
A leitura dos Salmos nos revela a instabilidade do coração de Davi. Os constantes problemas pelos quais ele passava não lhe permitiam períodos prolongados de sossego. É reconfortante saber disso, pois contrário do que comumente se pensa e se prega, homens e mulheres de fé também enfrentam problemas, pranteiam de dor e passam por vales profundos. A vida não é só alegria. Nem sempre tudo estará tranquilo e favorável.
Fica pior quando Deus parece não estar por perto para nos ajudar. A gente ora e nada acontece. Pede e não é atendido. Suplica e não obtém resposta. Quem foi que nunca pediu e ficou sem ser atendido? Quem nunca sentiu que Deus está longe e que suas orações não passam do teto? Todos nós já passamos por esses eclipses da alma.
Mas, Deus está longe? Por mais que tantas vezes sintamos que sim, a verdade é que Deus nunca se afasta de nós. Ele prometeu estar conosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28.20). Seus ouvidos estão sempre atentos aos nossos clamores.

Sl 10.17 | Tu, Senhor, ouves a súplica dos necessitados; tu os reanimas e atendes ao seu clamor.

Os ouvidos de Deus
Quem lê apenas o verso 17 pode pensar que não, mas Davi estava sim passando por muitos problemas. Não sabemos quais eram as aflições, mas a principal delas era que Deus parecia estar longe. É neste contexto, de eclipse da alma, que nasce o Salmo 10. Graças a Deus que foi assim, pois o Salmo 10 ensina-nos lições sobre os ouvidos de Deus.

• Os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas inquietações;
• Os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas indagações;
• Os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas intercessões.

Vejamos uma dessas lições de cada vez…
1. Os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas inquietações
Para alguns, o Salmos 9 e 10 compõem um só Salmo. As justificativas para esse argumento nós as avaliamos na semana passada. Cremos, porém, não ser este o caso. Salmo 9 é de louvor. Salmo 10 é de lamento. Quem lê o Salmo 9 e na sequência o Salmo 10 verifica de imediato as diferenças.
A bipolaridade (lamento e louvor), no entanto, é bastante edificante. Aprendemos que homens e mulheres de fé ora louvam, ora lamentam, mas estão sempre nos pés do Senhor. O que caracteriza o cristão é que ele – na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza – sempre recorre ao Pai de amor.
O lugar para o crente lamentar, e também louvar, é nos pés do Senhor.

Sl 10.1-2 | ¹ Senhor, por que estás tão longe? Por que te escondes em tempos de angústia? ² Em sua arrogância o ímpio persegue o pobre, que é [^ARA seja ele] apanhado em suas tramas.

Você notou que, mesmo perplexo (v. 1), Davi pediu a Deus (v. 2)? Davi não usou o silêncio de Deus para correr da presença dele, mas como um incentivo para buscá-la mais. Davi estava sentindo Deus distante, estava com a sensação de que ele não o ouve, mas não desistiu de buscá-lo. Ele suplicou pela justiça de Deus: “seja ele [o ímpio que me atormenta] apanhado em suas tramas” (v. 2).
A lição de Davi para nós é que os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas inquietações. Quando sentirmos que Deus está longe, lembremos nossos corações de que ele está perto (ele prometeu estar conosco até o fim – Mt 28.20). A melhor forma de nos lembrarmos da proximidade de Deus é perseverando em oração, é continuar falando com ele.
Lembre-se: os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas inquietações.
2. Os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas indagações
A inquietação de Davi era que ele sentia Deus distante, longe dele. Aliás, ele só sentia. No fundo, no fundo ele sabia que Deus estava bem perto, perto o bastante para ouvir suas inquietações (v. 1: Por que estás tão longe? Por que te escondes?) e suas indagações (v. 2: Por que o ímpio persegue o pobre?).
Indagando a Deus, Davi descreve de forma bem viva o caráter do ímpio. Pior de tudo é que tal ímpio, diferentemente dos ímpios do Salmo 9 (v. 10), parece ser alguém de dentro, um irmão de Israel. Afinal, como Davi mesmo diz, o ímpio “fica à espreita perto dos povoados” (Sl 10.8).
Por que Davi optou por registrar com tanta vivacidade o caráter do ímpio? O objetivo dele é nos deixar cara a cara com o mundo real. Ele pinta com cores vivas a dor que todos sentimos por estarmos vivendo num mundo caído, corrompido pelo pecado.
Não existe lugar seguro neste mundo, nem mesmo “perto dos povoados” (v. 8). Não deveria ser, mas até mesmo na igreja nós convivemos com homens e mulheres que nos causam dor.
Indagando a Deus sobre o ímpio impune, o que Davi nos revela sobre o seu caráter?
2.1 – O ímpio é arrogante
Como se expressa a arrogância?

Sl 10.2-6 | ² Em sua arrogância o ímpio persegue o pobre, seja ele apanhado em suas tramas. ³ Ele se gaba de sua própria cobiça e, em sua ganância, amaldiçoa e insulta o Senhor. ⁴ Em sua presunção o ímpio não o busca; não há lugar para Deus em nenhum dos seus planos. ⁵ Os seus caminhos prosperam sempre; tão acima da sua compreensão estão as tuas leis que ele faz pouco caso de todos os seus adversários, ⁶ pensando consigo mesmo: “Nada me abalará! Desgraça alguma me atingirá, nem a mim nem aos meus descendentes”.

2.2 – O ímpio é agressivo
Como se expressa a agressão?

Sl 10.2-6 | ⁷ Sua boca está cheia de maldições, mentiras e ameaças; violência e maldade estão em sua língua. ⁸ Fica à espreita perto dos povoados; em emboscadas mata os inocentes, procurando às escondidas as suas vítimas. ⁹ Fica à espreita como o leão escondido; fica à espreita para apanhar o necessitado; apanha o necessitado e o arrasta para a sua rede. ¹⁰ Agachado, fica de tocaia; as suas vítimas caem em seu poder. ¹¹ Pensa consigo mesmo: “Deus se esqueceu; escondeu o rosto e nunca verá isto”.

O ímpio assume no seu coração que não há Deus, ignoram a lei de Deus, vive para o seu próprio ventre e agride quem estiver no seu caminho. E Deus com isso? Davi sente que Deus está longe. Sente, mas não deixa de clamar.
Aprendemos que os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas inquietações nem para as nossas indagações. Esses fatos nos levam à nossa última lição.
3. Os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas intercessões
Importante para quem está inquieto e indignado, mesmo que com Deus, é que tal pessoa não deixe de orar, não deixe de clamar, não abandone a comunhão. Perseverando, a pessoa conseguirá orar gostoso mais uma vez. Ele voltará a interceder.
Aqui no Salmo 10 Davi intercedeu baseado em três convicções: a percepção, a posição e o poder de Deus.
3.1 – Intercede quem tem convicção da percepção de Deus

Sl 10.12-14 | ¹² Levanta-te, Senhor! Ergue a tua mão, ó Deus! Não te esqueças dos necessitados. ¹³ Por que o ímpio insulta a Deus, dizendo no seu íntimo: “De nada me pedirás contas!”? ¹⁴ Mas tu enxergas o sofrimento e a dor; observa-os para tomá-los em tuas mãos. A vítima deles entrega-se a ti; tu és o protetor do órfão.

3.2 – Intercede quem tem convicção da posição de Deus

Sl 10.15-16 | ¹⁵ Quebra o braço do ímpio e do perverso, pede contas de sua impiedade até que dela nada mais se ache. ¹⁶ O Senhor é rei para todo o sempre; da sua terra desapareceram os outros povos.

3.3 – Intercede quem tem convicção do poder de Deus

Sl 10.17-18 | ¹⁷ Tu, Senhor, ouves a súplica dos necessitados; tu os reanimas e atendes ao seu clamor. ¹⁸ Defendes o órfão e o oprimido, a fim de que o homem, que é pó, já não cause terror.

Irmãos queridos, os ouvidos de Deus não estão surdos para as nossas inquietações nem para as nossas indagações e muito menos para as nossas intercessões.
Oremos, pois, ao Senhor.
Os ouvidos de Deus
Na última noite que passou com os discípulos, Jesus lhes disse:

Jo 14.18 | Não os deixarei órfãos; voltarei para vocês.

De fato, após a ressurreição, ele voltou para os discípulos. E depois dessa aparição ele voltou para o céu, mas não os deixou órfãos.

Jo 15.26-27 | ²⁶ Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim; ²⁷ e vós também testemunhareis, porque estais comigo desde o princípio.

O que aprendemos com tudo isso?
Por mais que sintamos que Deus está longe, que ele se escondeu e que não nos responde, isso não passa de impressão de nossas almas equivocadas. A promessa do Senhor é de que nunca ficaríamos sós. Ele prometeu estar conosco.
A verdade é que os ouvidos de Deus não estão surdos para que não nos ouça. Nós é que tantas vezes, inquietos e indignados não paramos para ouvi-lo. Por isso que, através de Isaías, ele nos disse:

Is 55.3 | Dêem-me ouvidos e venham a mim; ouçam-me, para que sua alma viva.

Os ouvidos de Deus continuam abertos para nos ouvir.