08.03.2020
João 12.1-11
1Seis dias antes de começar a Páscoa, Jesus chegou a Betânia, onde morava Lázaro, o homem que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Prepararam um jantar em homenagem a Jesus; Marta servia, e Lázaro estava à mesa com ele. 3Então Maria pegou um frasco de perfume caro feito de essência de óleo aromático, ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa se encheu com a fragrância do perfume. 4Mas Judas Iscariotes, o discípulo que em breve trairia Jesus, disse: 5“Este perfume valia trezentas moedas de prata. Deveria ter sido vendido, e o dinheiro, dado aos pobres”. 6Não que ele se importasse com os pobres; na verdade, era ladrão e, como responsável pelo dinheiro dos discípulos, muitas vezes roubava uma parte para si. 7Jesus respondeu: “Deixe-a em paz. Ela fez isto como preparação para meu sepultamento. 8Vocês sempre terão os pobres em seu meio, mas nem sempre terão a mim”. 9Quando o povo soube da chegada de Jesus, correu para vê-lo, e também a Lázaro, a quem Jesus havia ressuscitado dos mortos. 10Então os principais sacerdotes decidiram matar também Lázaro, 11pois, por causa dele, muitos do povo os haviam abandonado e criam em Jesus.
NOTAS OLFATIVAS
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher (hoje, 08 de março) e sustentado pela ideia central do texto que nós acabamos de ler, permitam-me começar esta mensagem falando de perfume. Fantástico!, seja dito de passagem, como Deus, em soberana providência, cuidou que tivéssemos essa história para hoje à noite: Maria de Betânia e o Dia Internacional da Mulher! Então, vamos ao perfume…
Os especialistas dizem que cada perfume — o bom perfume — conta com três classes de notas, uma sentida logo no início (as notas de cabeça); uma no meio, mais marcante (as notas de coração); e uma no final, de mais longa duração (notas de base ou de fundo). Sabendo disto, meninas, vocês serão quase perfumistas, especialistas em perfumes, o que com certeza fará vocês verem os perfumes com outros olhos, ou melhor, fará vocês sentirem as fragrâncias com outro nariz!
Mas não é para os perfumes que eu quero chamar sua atenção. Maria, Maria de Betânia, a irmã de Marta e de Lázaro é quem eu desejo trazer para a sua reflexão. Quero que você sinta o perfume de Maria. Não o perfume que ela usou para ungir os pés de Jesus, mas o perfume do coração dessa mulher. O aroma do perfume do coração de Maria. Sinta comigo as três notas olfativas desse perfume: a nota de cabeça, a nota de coração e a nota de fundo do perfume de Maria. A nota de cabeça é exalada pela ação de Maria. A nota de coração, pela motivação de Maria. E a nota de fundo fica marcada pela afeição de Maria.
A ÚLTIMA SEMANA DE JESUS
Antes de degustarmos o perfume do coração de Maria, imaginemos a cena como um todo. O cenário no qual exalou a fragrância do perfume.
João começa assim, João 12.1: “Seis dias antes de começar a Páscoa”. Esta informação é importante, pois situa-nos no tempo: estava começando a última semana de Jesus, a qual concluiria com cruz e sepultamento, seguida de ressurreição.
Outro fato interessante, veja você!, metade do Evangelho de João será dedicado à última semana de vida de Cristo. Veja você: 33 anos de vida — dos quais, 3 foram de ministério público — contados em apenas 21 capítulos ao todo, sendo que (veja bem!) 10 capítulos (do 12 ao 21) são dedicados à última semana: despedidas, discursos íntimos, orações, crucificação, sepultamento e ressurreição. Por quê? A centralidade da crucificação e da ressurreição de Jesus Cristo fica destacada na proporção dedicada a narrar estes fatos. Não houvesse a crucificação e a ressurreição de Jesus Cristo, não haveria cristianismo.
João também se importou em registrar os primeiros sete dias do ministério público de Jesus (veja: João 1.19-51). Mas a enorme importância da última semana do Senhor pode ser vista no fato de que João dedicou quase metade do seu Evangelho a ela — em contraste com os 32 versículos dedicados à primeira semana, uma ênfase que vemos refletida também nos outros Evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas).
É muito interessante, porém, observar a diferença entre o que João registrou em comparação com o conteúdo dos outros Evangelhos. Enquanto Mateus, Marcos e Lucas se concentraram, principalmente, nos eventos públicos de Jesus, João escreveu sobre a comunhão particular que Jesus desfrutou com seu círculo íntimo de discípulos. Por ter desfrutado de forma especial da intimidade de Jesus (Ouça: João 13.23 — “O discípulo a quem Jesus amava ocupava o lugar ao lado dele à mesa.”), João se concentrou no tema da comunhão com Cristo. Como é especialmente afetivo o Evangelho de João!
A AÇÃO DE MARIA
Pois bem, de volta ao jantar.
A última semana de Jesus começa com um jantar em homenagem e celebração a Cristo pela ressurreição de Lázaro. E João faz questão de nos narrar alguns detalhes que nos permitem visualizar as ações dos principais personagens. Observe. Leia comigo mais uma vez a narrativa, atentando-se para as ações e reações dos protagonistas. João 12.1-2a:
1Seis dias antes de começar a Páscoa, Jesus chegou a Betânia, onde morava Lázaro, o homem que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Prepararam um jantar em homenagem a Jesus;
“Prepararam um jantar”? Quem preparou o jantar?
Marta, Maria, Lázaro e Simão, o leproso, que cedeu a casa dele para o banquete (Mc 14.3). Por que na casa de Simão? Por pelo menos dois motivos: Primeiro, tendo certamente sido, em algum momento no passado, curado de lepra pelo Senhor, Simão desejava expressar-lhe gratidão. Segundo, provavelmente para despistar os olheiros do conselho do sinédrio que buscavam oportunidade de prender e matar Jesus (Jo 11.56-57). E a casa de Lázaro deveria estar sendo fortemente vigiada.
Simão, portanto, cheio de gratidão, gentil e corajosamente, generosamente, sem medir custos e esforços, sem se importar com riscos, abriu a porta de sua casa para que se realizasse nela o jantar de celebração à ressurreição e à vida, celebração a Jesus.
Simão é desprendido.
Mas tem mais. Tem Marta. E Marta é, como sempre, dedicada. Leia comigo o texto e veja tanto a dedicação dessa mulher como o decoro de Lázaro. João 12.2:
Prepararam um jantar em homenagem a Jesus; Marta servia, e Lázaro estava à mesa com ele.
Curioso que desta vez Marta está servindo, mas não leva advertência alguma de Jesus, como foi lá em Lucas 10. Mas também não a vemos reclamando de estar servindo sozinha na cozinha ou criticando Maria por estar aos pés de Jesus (Lc 10.38-41). Conhecendo o que vai no coração das pessoas (Jo 2.24-25), certamente o Senhor não via mais em Marta qualquer motivação errada para servir. Se antes ela servia pelos aplausos, agora ela servia pela alegria de ser de Jesus.
Marta é dedicada. Mas você notou Lázaro?
João diz assim, vs. 1-2:
1Seis dias antes de começar a Páscoa, Jesus chegou a Betânia, onde morava Lázaro, o homem que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Prepararam um jantar em homenagem a Jesus; Marta servia, e Lázaro estava à mesa com ele.
Encanta-me o decoro de Lázaro! O recato e a decência desse homem à mesa com Jesus é de fazer cair o queixo. Ressuscitou dos mortos, mas não reclamou. Afinal, quem não teria reclamado de ter sido trazido de volta do seio de Abraão para esse mundo de devassidão. Um pregador até brincou, dizendo: “Talvez por não ter nada melhor a dizer, Lázaro preferiu ficar calado.” Ressuscitou dos mortos, mas não alardeou. Afinal, quantos não são os pregadores de hoje em dia que saem por aí, cobrando até cachê — “oferta de amor” — para contar que morreram, mas ressuscitaram. Como essas pessoas têm a aprender com o decoro de Lázaro! Se é que de fato elas ressuscitaram. Duvido muito.
Tudo o que Lázaro quer, após ser ressuscitado dos mortos, é ficar bem quietinho, caladinho, aconchegado silenciosa e discretamente ao lado de seu Senhor.
Então, veja você que imagem bonita de uma “igreja” de Jesus: Simão é desprendido, Marta é dedicada e Lázaro é decoroso! Mas tem mais. Como nem tudo são flores, tem Judas Iscariotes.
Pulemos Maria, por um instante, e olhemos para a reação de Judas. Sim, na igreja de Jesus ainda há joio, ainda há os Judas. Ouça. Observe o descaro de Judas, vs. 3-6:
3Então Maria pegou um frasco de perfume caro feito de essência de óleo aromático, ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa se encheu com a fragrância do perfume. 4Mas Judas Iscariotes, o discípulo que em breve trairia Jesus, disse: 5“Este perfume valia trezentas moedas de prata. Deveria ter sido vendido, e o dinheiro, dado aos pobres”. 6Não que ele se importasse com os pobres; na verdade, era ladrão e, como responsável pelo dinheiro dos discípulos, muitas vezes roubava uma parte para si.
Judas é um descarado! Ele é cínico.
Primeiro, repreendendo a devoção de Maria, ele critica um ato genuíno de adoração. Segundo, fazendo-se passar por caridoso, ele se esconde atrás das desgraças dos pobres para acobertar os seus roubos. Terceiro, colocando-se acima de qualquer suspeita — ele que era ladrão! — , repreende todo mundo, inclusive Jesus, por estarem todos concordando com aquela atitude de Maria. Ele até quantifica o que julgava ser um grande desperdício: “perfume que valia trezentas moedas de prata” (v. 5).
Judas é descarado. Judas é cínico. E a história desse homem está na Bíblia para ilustrar com todas as cores mais vívidas possíveis que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Afinal, que tipo de gente você acha que Paulo tinha em mente quando escreveu 1Timóteo 6.9-10? Gente do tipo de Judas, pois o que se lê do apóstolo descreve perfeitamente bem o caminho escolhido pelo ladrão. Ouça, 1Timóteo 9.9-10
9Mas aqueles que desejam enriquecer caem em tentações e armadilhas e em muitos desejos tolos e nocivos, que os levam à ruína e destruição. 10Pois o amor ao dinheiro é a raiz de todo mal. E alguns, por tanto desejarem dinheiro, desviaram-se da fé e afligiram a si mesmos com muitos sofrimentos.
Cuidado com o que você acoberta no coração! Cuidado com o amor ao dinheiro! Não seja descarado como Judas. Não seja cínico como o homem que, em nome dos pobres, brigou com Jesus e com todo mundo por 300 moedas de prata, mas que logo em seguida se vendeu para entregar o Senhor por apenas 30 daquelas mesmas moedas (Mt 26.14-16).
Judas é descarado. Judas é cínico. Mas, ah, meu Deus! Quanta gente como ele!Quanta gente brigando tanto, brigando por tanto, fazendo-se passar por tanto, mas se vendendo por tão pouco! Judas é descarado. Judas é cínico. Judas é ladrão. Não siga por esse caminho de morte.
De Judas, passemos aos discípulos. Por um instante, os discípulos entraram na de Judas. Mateus, narrando o mesmo episódio, escreveu-nos (Mt 26.8-9):
8Ao ver isso, os discípulos ficaram indignados. “Que desperdício!”, disseram. 9“O perfume poderia ter sido vendido por um alto preço, e o dinheiro, dado aos pobres!”
Até os discípulos duvidaram que o ato de Maria era um ato digno, nobre e de adoração. Vejam como é perigoso julgarmos pelas aparências, segundo padrões quantificados, monetários e meramente humanos. Os discípulos duvidaram da nobreza, da piedade, da devoção do ato de Maria. E talvez tenham duvidado pela forma tão convincente como Judas falava e arguia.
Ah o poder da influência dos Judas! Não foi sem razão que Jesus repreendeu Judas da forma como o fez no verso de número 7 de João 12. Pena que na NVT não está tão claro o motivo da repreensão. Ouçamos o mesmo versículo, na versão ARA. João 12.7:
Jesus, entretanto, disse: Deixa-a [, Judas]! Que ela guarde isto [Hum! Isto o quê?] para o dia em que me embalsamarem;
Este é um verso muito difícil. Entretanto, a pista que temos é que Jesus parece sugerir que as palavras de Judas — se infectassem Maria com a doença dele (granavírus), da mesma forma que haviam já infectado os discípulos com dúvida (Mt 26.8-9; “Que desperdício!”) — poderiam impedir que algo acontecesse no futuro. Mas o quê?
Claro que o perfume já tinha sido todo derramado. Tanto é que a NVT traduz no passado a ação (v. 7): “Ela fez isto [derramou o perfume nos meus pés] como preparação para meu sepultamento”. Então, se o perfume já tinha sido todo derramado, o que Maria deveria guardar para o dia em que embalsamassem Jesus (como está corretamente colocado pela versão ARA)?
Jesus queria que Judas se calasse para que Maria, diferentemente dos apóstolos em dúvida, guardasse até o fim, até à hora do sepultamento a mesma fé, esperança, emoção, gratidão, o mesmo amor e maravilhamento na vida e no poder de Jesus para ressuscitar os mortos. Jesus queria que Maria se mantivesse cheia de fé, esperança e alegria, mesmo diante de seu corpo sendo embalsamado na morte. Pois ele sabia que os discípulos já haviam sido infectados por Judas. Os discípulos estavam duvidando do ato de Maria e se abateriam profundamente com a morte de Jesus, a ponto de se dispersarem.
Agora, da dúvida dos discípulos para o delírio do povo. João 11.9:
Quando o povo soube da chegada de Jesus, correu para vê-lo, e também a Lázaro, a quem Jesus havia ressuscitado dos mortos.
Esse povo ainda não estava abertamente contra Jesus. Eles deliravam. Seguiam as manchetes. Corriam aonde tinha novidade. Eles ainda não estavam tão contra Jesus como Judas e os principais sacerdotes, mas também não estavam tão comprometidos com Jesus como estavam Marta, Maria, Lázaro e Simão, o leproso.
O povo não era quente nem frio. Era morno. Quer ver uma coisa? Na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, eles gritarão (Jo 12.13): “Hosana!” “Bendito é o que vem em nome do Senhor!” “Bendito é o Rei de Israel!” Mas, cinco dias depois, os mesmos gritarão (Jo 19.15): “Fora! Fora! Crucifica-o!”, e alguns ainda irão ao Gólgota para zombar de Cristo quando ele for pendurado na cruz (Mt 27.39-40). Um bando de gente delirante!
Vemos, então, o desprendimento de Simão, a dedicação de Marta, o decoro de Lázaro, o descaro de Judas, a dúvida dos apóstolos e o delírio do povo. Agora, vejamos a descrença dos sacerdotes desembocar em crueldade. João 12.10-11:
10Então os principais sacerdotes decidiram matar também Lázaro, 11pois, por causa dele, muitos do povo os haviam abandonado e criam em Jesus.
Para esses sacerdotes, matar Jesus não seria o bastante. Teriam que matar também aquele que dava testemunho vivo da vida e do poder de Deus para ressuscitar os mortos. Descrentes, eles maquinaram e executaram muita crueldade.
Pois bem, os pequenos esboços desses personagens exalam o aroma do perfume de quem entra em contato com Cristo, com a glória de Cristo. De um lado, pessoas são transformadas e exalam desprendimento, dedicação e decoro. De outro, pessoas se endurecem e exalam cheiro de morte: descaro, dúvida, delírio e descrença. Alguns, quando enxergam a beleza da glória de Cristo, exalam aroma de vida para vida (generosidade, desprendimento, amor e dedicação); enquanto outros exalam cheiro de morte para morte (incredulidade, desesperança, descaro, ódio e outros afins).
Agora, de todos os aromas do nosso texto em João, o que se destaca e, de fato, exala-se por toda a casa é o cheiro do perfume de Maria, a ação de Maria: a nota de cabeça do perfume do coração de Maria. Maria exala devoção. Todo mundo via isso. Todo mundo sentia o cheiro da devoção de Maria.
Imaginem a cena (Jo 12.3): na casa de Simão, Lázaro e os apóstolos estão todos à mesa. Marta está servindo. Simão está correndo para lá e para cá para garantir que tudo estivesse ocorrendo muito bem…
3Então Maria pegou um frasco de perfume caro feito de essência de óleo aromático, ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa se encheu com a fragrância do perfume.
Maria exalou devoção. A nota de cabeça (ou entrada) do perfume de Maria era a devoção. O que atraía em Simão — a nota de cabeça do perfume dele — era o desprendimento, em Marta era a dedicação que atraía, em Lázaro era o decoro, mas em Maria o cheiro que todos notavam de início era a devoção. Não é que o cheiro de Maria fosse o melhor aroma. Afinal, todo mundo, toda família, toda igreja, toda sociedade precisa daqueles que se destacam pela generosidade, pelo serviço, pelo bom testemunho e, claro, também pela piedade e devoção. Mas é a devoção que deve ser a base de todos.
A ação de Maria tem cheiro de devoção. Agora:
Devoção tem preço. Tem a ver com entrega total de tudo o que somos e temos. Maria, por exemplo, desembolsou 300 moedas de prata na forma de um perfume num frasco aproximadamente do tamanho de uma lata de Coca-Cola.
Imagine um frasco de perfume de 350 ml. O preço dele? O equivalente a 300 dias de trabalho: 300 moedas de prata. Para termos uma ideia: Pegue o valor do salário-mínimo hoje, fixado em R$ 1.045,00. Para saber quanto se paga pelo dia de trabalho, divida esse valor por 30 dias. R$ 1.045,00 dividido por 30 é igual a R$ 34,83. Ok. Um dia de trabalho, tomando por base o salário-mínimo, é igual a R$ 34,83. Agora multiplique o valor do dia de trabalho por 300. Sabe quanto dá? R$ 10.450,00. Nos Estados Unidos, calculando pelo salário mínimo americano (US$ 7,25 por hora, 8 horas por dia) seria US$ 17.400,00. Pois bem, imagine um frasco de perfume custando R$ 10.450,00 ou US$ 17.400,00. Maria o pega e despeja tudo nos pés do Senhor. Devoção tem preço.
Ela joga nos pés! Ela unge os pés. Por que não na cabeça? Talvez ela estivesse querendo dizer: “Senhor, a parte mais baixa de seu corpo (seus pés sujos e mau cheirosos) é digna do que eu tenho de mais valioso [meu perfume de herança familiar ou dote de casamento].” Aqui, Maria ilustra bem o que disse o profeta Isaías (52.7, ARA):
Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!
Maria estaria dizendo: “Seus pés, Senhor, trouxeram-me as boas-novas, fizeram-me ouvir e provar de paz, ofertaram-me a salvação. Dignos são seus pés de toda minha devoção.” Meu povo, não há aqui sensualidade. O que se tem é espiritualidade. Devoção.
Mas tem mais.
Maria seca os pés de Jesus com os próprios cabelos. Por que não uma toalha? Jesus usará uma toalha em João 13 para lavar e secar os pés dos apóstolos. Maria, no entanto, usou seus próprios cabelos para secar o pés de Jesus.
Talvez Maria estivesse querendo dizer:
Jesus, pureza e santidade condizem com o Senhor. Seus pés não merecem ficar neste estado tão deplorável de sujeira e mau cheiro. Quanto a mim, sujeira e maus odores é o que me convêm. Sou pecadora. O Senhor é Santo. Meu cabelo é a coisa mais bonita e mais limpa e mais cheirosa que eu tenho. Mas, Senhor, se isso puder aumentar sua pureza, destacar sua santidade e lhe conferir bom cheiro, será uma honra transformar meus cabelos em panos para os seus pés. Minha honra, meus cabelos, meu tesouro… tudo é teu. Nada é meu. Tudo é teu para honra, glória e louvor de tua graça, poder e santidade.
Agora sinta o cheiro ao redor da sala de jantar.
O final do versículo 3 relata que “a casa se encheu com a fragrância do perfume”. O que se aprende é que a adoração sincera ao Rei Jesus, a devoção generosa e humilde de seu povo nunca ficará privada. Sempre se espalhará para os outros — de uma maneira ou de outra — , perfumando o ambiente. A demonstração generosa, sincera, sacrificial, humilde e agradecida de afeto era por Jesus. E todo mundo foi abençoado com o bom cheiro do perfume da devoção de Maria. Até Judas.
Pois bem, as notas de cabeça do perfume de Maria, o que chamava atenção era a devoção. Mas, como todo bom perfume, Maria também exalava notas de coração.
A MOTIVAÇÃO DE MARIA
No primeiro contato com Maria você sentia o cheiro e era atraído pela devoção. A nota de cabeça (nota de topo) do perfume dela era a devoção. Mas quando chegava perto, mais perto, bem perto, você sentia o cheiro da nota de coração (nota de meio) do perfume: o cheiro da paixão de Maria por Jesus, o cheiro do encanto dela pelo poder, pela graça, pela verdade, pela pureza de Jesus Cristo.
Maria era motivada pelo que viu e tomou para si: Jesus não é apenas poderoso, ele é a ressurreição e a vida. Jesus não é apenas gracioso, ele é gracioso comigo, com minha irmã, com meu irmão, com meu amigo Simão, o leproso. Maria provou e guardou no coração o que Jesus tinha dito à Marta, irmã dela, lá em João 11.25-26:
25[…] “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim viverá, mesmo depois de morrer. 26Quem vive e crê em mim jamais morrerá. Você crê nisso, Marta?”.
Maria creu. Maria também viu com os próprios olhos e ouviu com os próprios ouvidos o que o Senhor fez com o irmão dela, lá em João 11.40-44:
40[…] “Eu não lhe disse que, se você cresse, veria a glória de Deus?”. 41Então rolaram a pedra para o lado. Jesus olhou para o céu e disse: “Pai, eu te agradeço porque me ouviste. 42Tu sempre me ouves, mas eu disse isso por causa de todas as pessoas que estão aqui, para que elas creiam que tu me enviaste”. 43Então Jesus gritou: “Lázaro, venha para fora!”. 44E o morto saiu, com as mãos e os pés presos com faixas e o rosto envolto num pano. Jesus disse: “Desamarrem as faixas e deixem-no ir!”.
Maria viu e provou tudo isso: a glória de Deus na face, nas palavras e no poder de Jesus para, com uma frase apenas, ressuscitar o irmão que estava morto. E agora, esse mesmo Senhor todo-gracioso, todo-verdadeiro e todo-poderoso (onipotente) estava bem ali (onipresente), sentado à mesa com todos ao redor dele, inclusive o irmão dela. Ouça, João 12.1-3:
1Seis dias antes de começar a Páscoa, Jesus chegou a Betânia, onde morava Lázaro, o homem que ele havia ressuscitado dos mortos. 2Prepararam um jantar em homenagem a Jesus; Marta servia, e Lázaro estava à mesa com ele. 3Então Maria pegou um frasco de perfume caro feito de essência de óleo aromático, ungiu com ele os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. A casa se encheu com a fragrância do perfume.
Maria sabia que esse Cristo onipotente, onipresente e todo-glorioso estava ali com eles sem contar os custos, ameaçado de morte, podendo ser preso e executado a qualquer momento. Ouça, João 11.56-57:
56Continuavam procurando Jesus e, estando eles no templo, perguntavam uns aos outros: “O que vocês acham? Será que ele virá para a Páscoa?”. 57Enquanto isso, os principais sacerdotes e fariseus deram ordem para que, se alguém soubesse onde Jesus estava, o denunciasse de imediato, a fim de que o prendessem.
Mas nada disso impediu Jesus de estar à mesa com eles!
A nota de coração do perfume de Maria, a motivação dessa mulher é o seu coração entregue e encantado pela glória de Jesus Cristo: Deus conosco — onipotente, mas onipresente; gracioso, mas verdadeiro; corajoso e totalmente abnegado em amor. Ao contemplar essa gloria, a glória de Cristo, Maria nunca mais foi a mesma mulher.
A nota marcante, a nota de coração (nota de meio) do perfume de Maria era o coração totalmente encantado, entregue e empolgado com Jesus Cristo. E Jesus não queria que aquilo se apagasse. Por isso ele deu a bronca em Judas, versículo 7 (ARA): “Deixa-a [, Judas]! Que ela guarde isto [esse amor, esse encanto, essa paixão] para o dia em que me embalsamarem [até mesmo diante de minha morte]”.
Maria tanto viu e provou da glória da ressurreição e da vida anunciados e realizados por Jesus, como também creu que Cristo morreria, mas ressuscitaria. João nos informa, pelas palavras de Jesus, que Maria contemplava a morte de Jesus, por isto antecipou o seu embalsamamento, ungindo seus pés (Jo 12.7).
Ainda mais interessante é saber que Maria de Betânia não vai ao túmulo, como foram outras mulheres e Marias. Nem Maria de Betânia nem Marta, irmã dela. Penso que poderíamos inferir que elas creram que Jesus não ficaria entre os mortos, mas ressuscitaria da mesma maneira que ressuscitou o irmão Lázaro. Maria, de fato, creu que Jesus Cristo é a ressurreição e a vida: quem crê em Jesus viverá, mesmo depois de morrer; e quem vive e crê em Jesus jamais morrerá (Jo 11.25-26).
Portanto, é o encanto pela glória de Jesus, a fé totalmente encantada pelo que Cristo é (a ressurreição e a vida), fez (salvação — Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo), faz (santificação) e fará (glorificação) pelas suas ovelhas que poderá salvar e verdadeiramente transformar uma pessoa. Não basta acreditar. É preciso se apaixonar por Cristo. Encantar-se por ele. Devoção verdadeira brota de um coração fisgado, encantado, saciado e dedicado com alegria e prazer em Jesus Cristo.
A AFEIÇÃO DE MARIA
Agora, a nota de fundo do perfume de Maria: afeição.
Devoção que brota de um coração dedicado com alegria e prazer em Jesus Cristo nada mais é do que devoção fruto de afeição transformada, inclinada e elevada a Jesus Cristo como pão e água da vida, como tesouro mais valioso. E por isso Maria será para sempre lembrada. Mateus 26.13:
Eu lhes garanto [disse Jesus]: “Onde quer que as boas-novas [o evangelho] sejam anunciadas pelo mundo, o que esta mulher fez será contado, e dela se lembrarão”.
Por que Jesus conecta a pregação do evangelho por todo o mundo com o que Maria de Betânia fez por ele no jantar na casa de Simão, o leproso?
Vejo pelo menos dois motivos:
PRIMEIRO: Quem receber o evangelho deverá recebê-lo com a mesma atitude afetuosa e piedosa de Maria por Jesus Cristo. Crer não é só passar a acreditar. Crer é ir com arrependimento e fé. E fé é ir com alma e coração a Cristo, em busca de salvação, santificação e satisfação para corpo, alma e coração. Chega de crente da boca para fora. Crente tem que ser de coração. Um tipo de coração como o de Maria: devoto e afetuoso, entregue a Jesus, encantado por Jesus, exclusivamente de Jesus.
SEGUNDO: Quem recebe o evangelho deve servir com devoção a Cristo e aos irmãos. Mesmo que sob duras críticas ou perseguições. Mesmo que desprezado pelos homens. Certos de que, se formos firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, nosso trabalho será sempre lembrado pelo Senhor (e pelos homens, como forma de encorajamento para que eles e elas também sirvam com a mesma devoção e dedicação que as nossas — Hb 6.12: “Assim, não se tornarão displicentes, mas seguirão o exemplo daqueles que, por causa de sua fé e perseverança, herdarão as promessas.”). Portanto, não será vão o nosso trabalho dedicado ao Senhor (1Co 15.58). Ele será lembrado para a glória do Senhor (Mt 5.16) e servirá de motivação para os santos (Hb 12.1; 13.7).
Afeição por Jesus é a nota de fundo do perfume do coração de Maria.
O PERFUME DO CORAÇÃO
8 de março de 2020. Dia Internacional da Mulher. Mulher de Deus, pelo que você quer ser lembrada? Qual é o cheiro do seu perfume? Por onde você passa, que tipo de aroma você exala?
A mesma pergunta é para ser feita ao homem de Deus: Pelo que você quer ser lembrado, homem de Deus? Qual é o cheiro do seu perfume? Por onde você passa, que tipo de aroma você exala?
Minha oração é que todos exalem o cheiro do perfume do coração de Maria. O que Mathew Henry escreveu sobre as palavras de recomendação de Jesus a respeito dessa mulher deve servir para todas as mulheres cristã (para os homens também). Atenção:
O memorial dessa mulher era para ser preservado, não ao se dedicar a uma igreja o nome dela, ou ao se celebrar uma festa anual em homenagem a ela, ou ao se guardar como uma relíquia sagrada algum pedaço do frasco por ela quebrado; mas mencionando sua fé e devoção na pregação do evangelho, servindo de exemplo para outros, Hebreus 6.12. Neste memorial, a honra redunda ao próprio Cristo, que neste mundo, assim como no futuro, é “para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram” [2Ts 1.10].
Receba agora mesmo a Cristo, com arrependimento e fé no seu coração. Faça dele o seu maior tesouro, a sua beleza, o seu cheiro ou perfume. Receba-o e reparta-o com a mesma devoção, com o mesmo coração afetuoso de Maria pelo Senhor que é a ressurreição e a vida.
Despeço-me com as palavras de J. C. Ryle sobre Maria de Betânia (em Mateus 26.13):
Sabemos o que é trabalhar para Cristo? Se sabemos, tenhamos coragem e trabalhemos. Que incentivo maior podemos desejar do que vemos aqui? Podemos ser zombados e ridicularizados pelo mundo. Nossos motivos podem ser mal compreendidos. Nossa conduta pode ser deturpada. Nossos sacrifícios pela causa de Cristo podem ser chamados de “desperdício” — desperdício de tempo, desperdício de dinheiro, desperdício de força. Que nenhuma dessas coisas nos demova. Os olhos daquele que estava sentado na casa de Simão em Betânia estão sobre nós. Ele observa tudo o que fazemos e está satisfeito. Sejamos “firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão.” (1Co 15.58)
S.D.G. L.B.Peixoto
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