28.03.2021
[João 14.12-14] 12“Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores, pois eu vou para o Pai. 13Vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome, e eu o farei, para que o Filho glorifique o Pai. 14Sim, peçam qualquer coisa em meu nome, e eu o farei!”
— O que você quer ser quando crescer? — Esta pergunta comumente é feita para crianças, com a intenção de descobrir seus desejos com relação, normalmente, à profissão que querem desempenhar. Interessante é que grande parte das crianças não titubeia para responder. Prontamente e de forma taxativa respondem o que querem ser quando crescer, qual é o seu sonho e os seus objetivos. Não pensam nos obstáculos ou dificuldades, crianças simplesmente acreditam naquilo que dizem: “Quero ser médico!”, “Quero ser bombeiro!”, “Quero ser policial!”, “Vou ser professor!”, “Serei veterinária!” etc.
É engraçadinho ver as crianças tão confiantemente declarando o que “serão”, não é mesmo? A Bela, minha filha, não dizia que queria “ser”, mas quando era vestida de uma camisa gola-polo cor de rosa que ela tinha, ela se olhava no espelho e dizia “Patôia!”. Traduzindo: “Pastora!” A razão eu não sei! Talvez por identificar a roupa dela com o tipo de roupa com a qual o pai geralmente se veste. Realmente eu não sei o porquê, mas era bonitinho vê-la se auto afirmando “Patôia!”. [Inda bem que ela esqueceu dessa brincadeira!]
De fato, crianças brincam e se comportam como se seus desejos “profissionais” ou “vocacionais” somente dependessem do tempo para serem realizados. Idealizam projetos e fazem planos para quando alcançarem seus intentos. É da natureza delas. O problema é que, de repente, depois que crescem, esquecem ou desistem daqueles sonhos. O que seria tão facilmente alcançado, agora está longe demais e é visto como algo impossível. O que será que aconteceu? Tornaram-se adultos realistas? Sentiram as dificuldades impostas pela vida? Aprenderam que aquele desejo não pode ser realizado?
Às vezes o jovem (e o adulto também) passa meses ou anos andando em círculos no discernimento vocacional, sem registrar o menor amadurecimento. Por quê? Penso que, dentre tantas coisas (inclusive fisiológicas ou bioquímicas), algumas das razões principais para a “crise vocacional” sejam [1] a pessoa se deixar levar por critérios errados, [2] nutrir motivações equivocadas e [3] sonhar com realidades inatingíveis ou desejos impossíveis (abstratos demais).
O indivíduo com crise de vocação talvez não esteja atento ao que verdadeiramente se passa dentro dele (ou não quer ver) e acaba que pende na direção aonde o vento sopra mais forte (modismos), sede às ilusões do coração enganoso, egoísta e ganancioso, e desse modo fica andando em círculos e caindo nas armadilhas montadas por ele mesmo. Geralmente, esse tipo de sujeito em crise vocacional mascara a forma errada de pensar sobre trabalho e emprego com lindas frases sobre como mudar o mundo, criação ou produção de alguma coisa muito excelente, busca da santidade pessoal e coisas assim. Não é verdade?
Pare. Pense. Você é o que quis ser quando criança? O que você já quis ser? Já mudou de ideia quantas vezes? Ainda não sabe o que quer ser? Está frustrado com o que optou ser? Não era isso que você desejaria ser quando crescesse? A realidade das coisas apagou seus sonhos? Vive dizendo: “Aquilo não era para mim”; “Isso que eu faço não é para mim, estou só fazendo um bico”; “Sou velho demais para tentar outra coisa”; “Consegui quase tudo que queria na vida, mas não sou feliz”; “Só quero ganhar o meu dinheiro e viver a minha vida”? De que modo você expressa a sua crise vocacional? Você tem crise de vocação?
Quero chamar sua atenção para o fato de que neste texto de João, o Senhor Jesus nos revelou qual é a vocação principal do cristão, de todo cristão (independentemente do que ele faça como trabalho ou ganha pão) – João 14.12: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores”.
Penso que se você, cristão, conscientizar-se e tomar para si mesmo o que Cristo está falando aqui neste texto, a sua dificuldade com a vocação ou com o trabalho tomará o rumo certo na resolução de seu dilema. E se a crise de vocação não é um problema para você, este texto servirá para você se avaliar, será o critério pelo qual você medirá se o que você faz com o trabalho está de acordo com o plano de Deus para a sua vida, enquanto cristão. Desse modo, minha oração é que a fé daquela criança em fazer algo quando crescesse seja renovada hoje no seu coração, e você diga como discípulo: “Eu creio em Jesus Cristo e farei as mesmas obras que ele realizou, e até maiores.” Mas…
Quais são as obras (ainda maiores) que devemos realizar?
O que o seu trabalho tem a ver com as mesmas obras que Jesus realizou?
Qual é a suprema vocação do cristão, e como conectar isso com a vida?
Buscaremos essas respostas no texto de hoje, mas antes, recorde comigo o contexto no qual foram ditas estas palavras.
Jesus está a portas trancadas com os apóstolos (exceto Judas Iscariotes que já tinha saído para entregar o Senhor de mão beijada aos seus algozes). Eles estão no Cenáculo, celebrando a última ceia com o Cristo. Entremeio a refeição, o Senhor está, com palavras, preparando-os para a grande batalha adiante. Muito do que fora dito havia deixado os discípulos angustiados, desconsolados, perturbados (14.1-3), sobretudo o anúncio de que ele estava se afastando deles – João 13.33: “Meus filhos [filhinhos], estarei com vocês apenas mais um pouco. E, como eu disse aos líderes judeus, vocês me procurarão, mas não poderão ir para onde eu vou.” É neste contexto que ele acalma o coração de seus apóstolos com as promessas que lemos em João 14.1-11. Vimo-las na semana passada, você se lembra?
Disse o Senhor, acalme seu coração!, pois: [1] Há um lugar para vocês na casa do Pai. [2] Vou preparar o lugar para vocês. Abrirei o caminho. Eu sou o caminho, a verdade que define este caminho, e a vida pelo caminho e ao final do caminho. [3] Eu mesmo é que sou a sua morada, e virei e os tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver, vocês estejam também. [4] Eu e o Pai somos um, para que, se desfrutarem de mim, vocês também desfrutem do Pai. [5] Eu e o Pai viremos no Espírito Santo. Estaremos para sempre em (e com) vocês, não como um observador, espião ou mero vigia, mas como Ajudador, Encorajador, Consolador, Advogado e Intercessor.
Veja, nestas horas intensivas de preparação, o Senhor já havia [1] ensinado a lição do amor que se expressa na forma de serviço humilde (cap. 13) e [2] já havia encorajado os discípulos com promessas que acalmam o coração (14.1-11). Agora ele [3] dirá a quê o cristão é chamado, qual é sua suprema vocação em tudo o que faz: fazer obras ainda maiores do que ele mesmo fez.
João 14.12-14 12“Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores, pois eu vou para o Pai. 13Vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome, e eu o farei, para que o Filho glorifique o Pai. 14Sim, peçam qualquer coisa em meu nome, e eu o farei!”
Obras ainda maiores! Quais obras são essas que os crentes farão?
Pedir qualquer coisa em nome de Jesus, e ser atendido! Como assim?
O que este texto tem a ver com a sua (e a minha vocação)?
Essas palavras de Jesus (João 14.12-14) afetam diretamente a sua vida vocacional particular, e a nossa vida vocacional juntos como igreja. O que elas afirmam é que [1] todos nós que cremos em Jesus continuaremos sua obra e, [2] de alguma forma maravilhosa, faremos algo ainda maior do que as obras que Jesus mesmo realizou enquanto esteve na terra, e [3] como meio para esse fim teremos acesso em oração a Deus, a qualquer momento, de tal modo que tudo que precisarmos e pedirmos nós receberemos.
Meu Deus! Que texto! É de tirar o fôlego!
Respire fundo. Aperte os cintos. Vamos viajar neste texto, fazendo três paradas: [1] Todos nós os que cremos em Jesus continuaremos seu trabalho. [2] De uma maneira maravilhosa, todos nós faremos algo ainda maior do que as obras realizadas por Jesus. [3] E como meio para esse fim, teremos acesso em oração a Deus, a qualquer momento, de tal modo que tudo o que precisarmos e pedirmos em nome de Jesus nós receberemos.
Nosso texto é muito claro: todos nós que cremos em Jesus continuaremos seu trabalho. João 14.12a: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”. Duas observações cruciais:
[1] a promessa não é feita apenas aos apóstolos (ou a alguma classe específica de cristãos), mas a todos os que crêem [Jesus fala da vida cristã normal];
[2] a promessa é de que faremos as mesmas obras de Jesus – ainda não é a promessa de que faremos obras “até maiores” –, apenas as mesmas obras de Jesus [Jesus fala de que o cristão toca adiante o seu trabalho ou a sua obra].
1. A vida cristã normal
O Senhor está falando de cristianismo “normal”. Trata-se de uma promessa para todos os crentes. Portanto, não há excessões aqui – se você é cristão, você fará as mesmas obras de Jesus. Você não poderá pensar: “Ah, isso é para pastores, cristãos veteranos, cristãos altamente espirituais e maduros, educadores cristãos, missionários, presbíteros, diáconos, evangelistas, cristãos mais talentosos…” Não! O texto diz: “quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”. Os crentes – pura e simplesmente crentes – farão as mesmas obras que Jesus realizou. Isso é absolutamente surpreendente!
Já passamos por esta frase em outros textos de João: “Quem crê em mim”:
Em outras palavras, Jesus está tratando do cristianismo normal. Isso é o que significa ser cristão. Crer em Jesus é o que nos une a ele para a vida eterna. Portanto, quando se lê em João: “Quem crê em Jesus fará isto ou aquilo”, está-se lendo a respeito da vida cristã normal. Essa é a primeira observação: a promessa no versículo 12 não é feita apenas aos apóstolos, mas a todos os que crêem. É a vida cristã normal.
2. O cristão toca o trabalho de Jesus
A segunda observação é que Jesus promete que todos os crentes farão o seu trabalho. De novo, ainda não é a promessa de que faremos obras “até maiores”, apenas as mesmas obras de Jesus. Versículo 12a: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”.
As mesmas obras! Como assim? Faremos mesmo as mesmas coisas? E os milagres espetaculares de Jesus até aqui (apenas no Evangelho de João)? Recorda-se?
Faremos essas mesmas coisas? Mesmo!? O que Jesus quis dizer quando prometeu: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”? De fato Jesus quis dizer que todo cristão faria tudo isso, todos esses milagres? Ou que todo cristão faria algo do tipo? E se não fizesse, não seria crente?
Não parece provável!
Nas cartas do Novo Testamento, onde milagres são mencionados, eles são tidos como dons que apenas alguns cristãos têm, e outros não. Por exemplo:
1Coríntios 12.7-10 7A cada um de nós é concedida a manifestação do Espírito para o benefício de todos. 8A um o Espírito dá a capacidade de oferecer conselhos sábios, a outro o mesmo Espírito dá uma mensagem de conhecimento especial. 9A um o mesmo Espírito dá grande fé, a outro o único Espírito concede o dom de cura. 10A um ele dá o poder de realizar milagres, a outro, a capacidade de profetizar. A outro ele dá a capacidade de discernir se uma mensagem é do Espírito de Deus ou de outro espírito. A outro, ainda, dá a capacidade de falar em diferentes línguas, enquanto a um outro dá a capacidade de interpretar o que está sendo dito.
1Coríntios 12.29-30 29Somos todos apóstolos? Somos todos profetas? Somos todos mestres? Todos nós temos o poder de fazer milagres? 30Todos temos o dom de cura? Todos temos a capacidade de falar em diferentes línguas? Todos temos a capacidade de interpretar o que é dito? [A resposta é NÃO!]
Ora, se Jesus não quis dizer que todos os crentes farão milagres como os que ele fez, o que ele quis dizer quando falou (Jo 14.12): “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”? Vejamos o contexto imediato deste versículo [que explica que o trabalho é o de fazer crer] e um paralelo a ele mais adiante no livro [que explica que o trabalho é o de apontar para Jesus]. [É assim que se busca entender passagens bíblicas mais difíceis = versículos iluminam versículos.]
O trabalho de fazer crer
Primeiro, a conexão entre os versículos 11 e 12.
Versículo 11: “Apenas creiam que eu estou no Pai e que o Pai está em mim. Ou creiam pelo menos por causa das obras que vocês me viram realizar.” Veja: o verbo “crer” e o substantivo “obras” ocorrem juntos no versículo 11, assim como estão juntos no versículo 12: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”. Em outras palavras: as obras de Jesus são projetadas para ajudar as pessoas a crerem. Certo? Correto! Versículo 11, mais uma vez: “creiam pelo menos por causa das obras que vocês me viram realizar.” — “Se meu testemunho verbal está deixando dúvidas em sua mente sobre quem eu sou, veja minhas obras. Que minhas obras se juntem às minhas palavras e te conduzam à fé.” — É isto o que diz o versículo 11.
Então o versículo 12 segue: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado”. Agora coloque os versículos 11 e 12 juntos e deixe a função das obras ser a mesma em ambos os versículos. Versículo 11: minhas obras funcionam para levar as pessoas a terem fé em mim. Versículo 12: quando você crer em mim, eu operarei em você (como a videira trabalha no ramo, João 15.1-7), e suas obras, como as minhas, levarão as pessoas à fé.
Então a conexão entre os versos 11 e 12 soa assim: “Creia em mim por causa das minhas obras – deixe minhas obras te conduzirem à fé (v. 11), porque quem crê em mim também fará as mesmas obras que conduzem as pessoas a crerem em mim (v. 12a).”
O trabalho de apontar para Jesus
Portanto, quaisquer que sejam as “mesmas obras” que Jesus tinha em mente, o que as define aqui é que elas são sinais que apontam as pessoas para Jesus, ajudando-as a crer em seu nome. As “mesmas obras” são testemunhas junto com as palavras de Jesus, a fim de levar as pessoas à fé em Cristo. “Quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado” – as obras que levam as pessoas à fé.
Logo, se você é um crente em Jesus, sua vida é assim. Essa é a vida cristã normal. Suas obras, sua vida, suas palavras e posturas são uma demonstração da grandeza, da glória, da graça e da verdade de Jesus. Outro suporte para esta afirmação:
Se buscarmos a frase exata ou a ideia expressa no versículo 12a, “as mesma obras que tenho realizado”, veremos que ela ocorre em outro lugar em João, a saber, João 10.25: “Jesus respondeu: “Eu já lhes disse, e vocês não creram em mim. A prova são as obras que realizo em nome de meu Pai.” Então, novamente, a função das “obras”em João 10.25 é exatamente a mesma que em João 14.11-12. “Minhas obras” — diria Jesus — “são as coisas que faço que dão testemunho de mim ao mundo.”
Portanto, pelo menos podemos dizer com confiança que em João 14.12a Jesus está dizendo que todos os crentes serão marcados por isso: eles estarão unidos de tal modo a Cristo que continuarão fazendo “as mesmas obras” que ele realizou com o fim de “dar testemunho” de Jesus ao mundo. As obras apontarão as pessoas para Jesus e, por meio de Jesus, para o Pai. Observe três exemplos:
Os cristãos são definidos por obras ou nova vida ou amor que fluem da fé em Jesus e apontam para a glória de Jesus. Portanto [IMPORTANTE!], podemos concluir que: por mais que haja cristãos com dons de milagres e de cura (e há!), todos os cristãos, indistintamente (e é disso que se trata o texto, “Quem crê em mim”), todos eles farão as mesmas obras de Jesus no sentido de que todas as suas obras (qualquer que elas sejam) atestarão a verdade e a divindade de Jesus aos olhos do mundo; e todo cristão faz essas mesmas obras – ou seja, vive esse mesmo tipo de vida.
Somos o aroma de Cristo. Somos a luz do mundo. Nós estávamos mortos, e agora nós estamos vivos. Efésios 2.10: “Pois somos obra-prima de Deus, criados em Cristo Jesus a fim de realizar as boas obras – as “mesmas obras” de Jesus (Jo 14.12) – que ele de antemão planejou para nós”. Uma vida de palavras e de ações (boas obras!) que ajudam as pessoas a crerem em Jesus. O trabalho de Jesus não para – através de você, de mim!
Na primeira parada deste texto nós vimos que todos nós os que cremos em Jesus continuaremos seu trabalho. Agora, na segunda parada, veremos que, de uma maneira maravilhosa, todos nós faremos algo ainda maior do que as obras realizadas por Jesus.
João 14.12 Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores, pois eu vou para o Pai.
Novamente, isto é para todo crente, não apenas os apóstolos de Cristo, não apenas pastores ou presbíteros, não apenas carismáticos, pentecostais ou alguma classe especial de cristãos. Disse Jesus: “Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores”. Essa é a marca de quem é cristão, não de quem foi apóstolo, ou se diz dotado de algum super-dom carismático.
De fato, se você pensa que “obras até maiores” significa “mais milagrosas”, você terá dificuldade em ultrapassar a capacidade que Jesus teve de transformar água em vinho, caminhar sobre as águas, alimentar cinco mil pessoas com apenas cinco pães e dois peixes, ressuscitar os mortos etc. Sem chances! Aliás, não se tem registro de alguém que já viveu – dentro ou fora do Novo Testamento – que tenha feito todos esses milagres espetaculares de Jesus registrados no Evangelho de João, muito menos algo ainda mais milagroso, e menos ainda que cada cristão tenha feito esses milagres ou algo mais milagroso. Você já fez? Eu não!
Novamente, lembre-se de que o Novo Testamento nos diz para não esperarmos isso de todos os cristãos. “Todos fazem milagres? Todos possuem dons de cura? Todos falam em línguas?” A resposta, Paulo espera, é NÃO! (1Co 12.29-30). Logo, quando Jesus disse: “Quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores, pois eu vou para o Pai”, ele certamente não quis dizer que todo cristão deveria fazer coisas mais milagrosas do que ele fez – pelo menos não mais espetacularmente milagrosas do que as obras por ele realizadas. Nenhum apóstolo, nenhum missionário, nenhum cristão jamais fez isso. E não fará, posto que não era isso que Jesus estava prometendo.
Então o que ele quis dizer?
Existem muitas sugestões e não pretendo ter a palavra final ou decisiva neste ponto. Seguirei a interpretação de John Piper. Meu bom-velhinho aponta duas pistas. A primeira é a frase no final do versículo 12, “pois eu vou para o Pai”. — “Quem crê em mim [todo crente] fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores, POIS eu vou para o Pai” (João 14.12). A segunda pista está em João 20.21-23. Jesus disse aos seus discípulos depois de ressuscitar dos mortos,
João 20.21-23 21Mais uma vez, ele disse: “Paz seja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu os envio”. 22Então soprou sobre eles e disse: “Recebam o Espírito Santo. 23Se vocês perdoarem os pecados de alguém, eles estarão perdoados. Se não perdoarem, eles não estarão perdoados”.
Portanto:
Em João 14.12, John Piper argumenta, Jesus está dizendo que seus discípulos não apenas continuarão suas obras, mas farão outras maiores porque ele vai para o Pai. E no caminho para o Pai, ele vai à cruz e dará sua vida pelas ovelhas (Jo 10.15; 1.29), ressuscitará dos mortos e ascenderá a Deus, de onde enviará o Espírito para que os discípulos possam fazer as obras que são chamados a fazer.
Em João 20.21-23, Piper continua, Jesus está dizendo que seus discípulos devem continuar sua obra recebendo o Espírito Santo e, com esse poder, concederão aos pecadores o perdão dos pecados, em nome de Jesus – com base na morte e ressurreição de Jesus.
Pergunta:
Há na conexão entre João 14.12 e João 20.21-23 alguma indicação do que Jesus quer dizer com “obras até maiores” que todos os crentes farão [já que, como vimos, “obras” não são apenas milagres ou milagres em si]?
A sugestão de John Piper é a seguinte (e isto é maravilhoso!): o que há de novo e de maior é que nunca antes na história do mundo alguém jamais fora perdoado pela fé no Cristo já crucificado, já ressuscitado, já glorificado, já entronizado e já habitando no crente. Até este ponto da história, toda salvação havia sido por antecipação, pela promessa da vinda do Redentor. Mas agora – agora que Jesus foi para o Pai, agora que ele foi crucificado, sepultado, ressuscitado, exaltado e enviado na pessoa do Espírito Santo – a grande compra do perdão por substituição estava consumada de uma vez por todas.
Então, concluiu John Piper,
Penso que Jesus teria dito: “Mesmo quando perdoei pecadores durante minha vida terrena, eu os perdoei antecipando a minha obra completa na cruz. Mas vocês vão perdoá-los em meu nome, com base na obra completa. O Espírito em vocês será o Espírito de Cristo crucificado e ressuscitado. A mensagem que vocês pregarão não será a mensagem de um resgate prometido, mas de um resgate pago, um pagamento completo, uma propiciação consumada.”
Quais são as “obras ainda maiores” que você fará, crente – todos vocês?
Piper prossegue:
Você receberá o Espírito Santo como o Espírito de Cristo crucificado pelos nossos pecados e ressuscitado para o nosso perdão. Antes da ressurreição de Jesus, ninguém na história do mundo havia feito isso, nem mesmo Jesus. E no poder dessa experiência absolutamente nova – a habitação do Cristo crucificado e ressuscitado – suas obras de amor e sua mensagem de vida em união com Cristo, irão apontar as pessoas para a glória do Filho de Deus ressuscitado, e você será o instrumento de seu perdão com base na obra consumada de Cristo (João 20.23). Isso será novo. Isso será maior do que os milagres terrenos de Jesus, porque é isso que ele veio realizar com sua morte e ressurreição [e todos os seus milagres apontaram para isto].
A primeira parte do nosso texto foi: todos nós os que cremos em Jesus continuaremos fazendo as suas obras [o trabalho de Jesus não para]. A segunda parte foi: todos nós faremos algo ainda maior do que as obras de Jesus [realizaremos as boas obras com base na obra consumada de Cristo e no poder do Espírito de Cristo em nós].
E agora, a terceira e última parte: tudo o que precisarmos, nós podemos pedir e receberemos. [Eu sei que o nosso tempo está bastante avançado, e os minutos que nos restam não farão justiça ao tamanho do que temos nos versículos finais do nosso texto (Jo 14.13-14). Não tem problema, porque esta verdade aparece novamente nos capítulos João 15.7, 16 e 16.23-24 – e, adiante, nós estudaremos.] O nosso texto, João 14.13-14:
13Vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome, e eu o farei, para que o Filho glorifique o Pai. 14Sim, peçam qualquer coisa em meu nome, e eu o farei!”
Jesus está dizendo: “Meu trabalho não para. Vocês seguem com as mesmas obras que eu – glorificar o meu nome e o de meu Pai, apontar as pessoas para mim, eu sou o caminho, a verdade e a vida. Enquanto vocês continuam minha obra no mundo, e vocês procuram deixar sua luz brilhar, viver em amor, oferecer perdão de pecados em nome do Cristo crucificado e ressuscitado, peçam-me tudo o que vocês precisarem e eu darei a vocês. Vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome, e eu o farei. Sim, peçam qualquer coisa em meu nome, e eu o farei!”
Não há em João 14.13-14 nenhuma condição, como há em João 15.7: “Mas, se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e isso lhes será concedido!”. Nenhuma condição, como há em 1João 5.14-15: “Estamos certos de que ele nos ouve sempre que lhe pedimos algo conforme sua vontade. E, uma vez que sabemos que ele ouve nossos pedidos, também sabemos que ele nos dará o que pedimos.” Nenhuma condição, como há em Marcos 11.24: “Digo-lhes que, se crerem que já receberam, qualquer coisa que pedirem em oração lhes será concedido.”
Há em João 14.13-14 apenas uma condição: “em meu nome”. Versículo 13: “Vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome, e eu o farei”. Versículo 14: “Sim, peçam qualquer coisa em meu nome, e eu o farei!” Será que Jesus quer dizer que podemos ignorar todas as outras condições: permanecer nele (Jo 15.7), pedir de acordo com a vontade dele (1Jo 5.14-15), crer em sua palavra (Mc 11.24)? Ou será que todas essas coisas estão incluídas no significado de “pedir em meu nome”? Penso que a segunda opção: todas essas coisas estão, sim, incluídas no significado de “pedir em meu nome”.
De fato, Jesus estaria dizendo o seguinte:
“Eu vos dou o Espírito Santo. Eu vos dou o poder do Cristo crucificado e ressurreto. Prometo que vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome para esta missão de realizar as obras que apontam as pessoas a mim, que as levam a me seguir como discípulos – para a glória de meu Pai. ‘Em meu nome!’, ou seja, para a minha fama e não a sua. Por causa do meu valor divino e do meu pagamento infinito na cruz. De acordo com minha sabedoria soberana. Coloque todos os seus pedidos de oração neste filtro: minha fama, meu valor, meu pagamento, minha sabedoria, minha vontade. E cada oração será respondida. Você terá tudo de que precisa para fazer as obras que eu faço, e até maiores, para a glória de meu Pai.”
O Dia de Pentecostes, o início da “Era do Espírito Santo”, comprova que Jesus, como sempre, estava falando a verdade. Atos 2.41: “Os que acreditaram nas palavras de Pedro foram batizados, e naquele dia houve um acréscimo de cerca de três mil pessoas.” E depois, Atos 4.4: “Muitos que tinham ouvido a mensagem creram, totalizando, agora, cerca de cinco mil homens.” Desse modo, a palavra de Cristo se espalhou e chegou até os confins da terra. Nunca, jamais tantas pessoas ao mesmo tempo ouviram do Cristo crucificado e ressurreto para a salvação de todo aquele que crê.
João 14.12-14 12“Eu lhes digo a verdade: quem crê em mim fará as mesmas obras que tenho realizado, e até maiores, pois eu vou para o Pai. 13Vocês podem pedir qualquer coisa em meu nome, e eu o farei, para que o Filho glorifique o Pai. 14Sim, peçam qualquer coisa em meu nome, e eu o farei!”
Jesus está dizendo a você nesta noite: faça ainda mais do que eu fiz! Esta é a sua vocação, este é o seu chamado:
Mateus 28.18-20 18Jesus se aproximou deles e disse: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada. 19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos”.
O que você quer ser quando crescer?
O que você faz depois que cresceu?
Você já cresceu e não sabe o que fazer, não gosta do que faz?
A vocação de Jesus Cristo para os seus discípulos é uma só: façam as mesmas obras que eu realizei (apontem pessoas para a cruz, o Pai e a mim), e até maiores (fundamentados na obra completa de Cristo e no poder do Espírito de Cristo); façam discípulos, ensinem esse novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que Jesus nos deu; lembrem-se de que o Espírito de Jesus está sempre com vocês, sempre!
Portanto: Queira fazer discípulos… Comece a fazer discípulos… Sua vocação é fazer discípulos… não importa se você está empregado ou desempregado, é diarista, motorista, médico, magistrado ou doutor em qualquer coisa; não importa se você é criança ou esteja apenas estudando; casado ou solteiro; pai ou filho; mãe ou filha; pastor, professor, policial ou político; a vocação de todo o que crê em Jesus é a mesma: fazer a obra de Cristo, fazer discípulos de Jesus Cristo, para a glória de Deus, o Pai.
Essa convicção bíblica encaminhará você em tudo o que fizer na vida (e a nossa igreja também); em tudo o que estiver procurando fazer ou pensando em fazer na vida (e na igreja); em tudo o que você está fazendo, mas não tem prazer em fazer. Quer ver?
Minha oração por você: que aquela criança que um dia sonhou em ser ou fazer continue, pelo Espírito de Cristo, entusiasmando você e encantando vocês de modo a lhe fazer dizer: “Eu quero ser e fazer discípulo de Jesus Cristo!” Desse modo, você fará ainda mais do que Cristo fez.
S.D.G. L.B.Peixoto
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