13.08.2017
A ÚLTIMA PALAVRA SOBRE DEUS
João 1.1-5
1No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. 2Ele existia no princípio com Deus. 3Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado. 4Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos. 5A luz brilha na escuridão, e a escuridão nunca conseguiu apagá-la [ou e a escuridão não a entendeu].
Que tipo de pessoa é Deus?
Que tipo de pessoa é Deus? Como ele se parece? É possível conhecê-lo de fato?
Tanta gente afirma tanta coisa, tantas religiões apregoam tantos dogmas e tantas filosofias apresentam tantos conceitos que não é de admirar que, sem uma resolução definitiva, as pessoas se encontrem nesse estado de confusão generalizado quando o assunto é Deus.
A situação é ainda pior nos tempos em que vivemos. Nossa é a época quando as pessoas rebatem com ódio qualquer opinião irrevogável sobre qualquer assunto, especialmente em matéria de fé. Estranho, pois o ser humano busca respostas, mas não aceita que suas pressuposições sejam postas em dúvida ou confrontadas com argumentos dissonantes.
Quando o assunto é Deus, não importam as opiniões pessoais, as filosofias humanas nem as interpretações dogmáticas das religiões. A última palavra sobre Deus tem que ser dada pelo próprio Deus. Mas, onde encontrá-la? Na Bíblia, a revelação especial de Deus. Afinal, ninguém o conhece melhor do que ele mesmo se conhece e se dá a conhecer.
Segundo, João, o autor do quarto evangelho, “ninguém jamais viu a Deus, mas o Filho único, que mantém comunhão íntima com o Pai, o revelou” (Jo 1.18). Portanto, para sabermos que tipo de pessoa é Deus, com que se parece ou como se pode conhecê-lo, precisamos olhar para a revelação que o próprio Deus fez de si mesmo, precisamos ouvir a última palavra sobre Deus. O Evangelho de João é perfeito para nos auxiliar nessa busca pelo conhecimento de Deus ou da revelação que Deus faz de si mesmo na pessoa de Jesus Cristo.
O teste da verdade
“Ou! Ou! Ou! Espere um pouco, alto lá!” — alguns poderiam argumentar — “Você está partindo do pressuposto de que a Bíblia, o livro do cristianismo, é a verdade! Mas, como saber se o cristianismo é de fato verdadeiro ou se a Bíblia é a verdade?”
Timothy Keller (leia seu livro A fé na era do ceticismo: como a razão explica Deus, publicado pela ed. Vida Nova) argumenta que há dois testes válidos para qualquer cosmovisão, filosofia ou religião: 1precisa ser intelectualmente crível ou confiável e 2existencialmente satisfatória ou benéfica; ou seja: 1quando investigada, torna-se coerente para a mente ou razão e 2quando colocada em prática, funciona para atender as necessidades das pessoas e o bem comum. Esse é o teste da coerência aliada à experiência.
Ainda segundo Keller, a principal evidência da verdade do cristianismo é o próprio Jesus Cristo como dado e como fato. Se olharmos para os Evangelhos, especialmente o de João, considerando a magnitude das reivindicações de Jesus e as evidências de sua vida e ministério, seremos levados à conclusão (pela coerência e pela experiência) de que Jesus é quem ele diz que é: Deus, e assim descobriremos que tipo de pessoa é Deus e como devemos viver diante dele.
A nossa proposta, portanto, é investigar o Evangelho de João, na esperança de que, quando confrontados com os dados e os fatos sobra a vida e o ministério de Jesus, e iluminados pelo Espírito Santo, possamos verdadeiramente conhecer Deus, crer em Cristo, receber vida pelo seu poderoso nome e viver para a sua glória.
Afinal, como vimos na semana passada, esse é o propósito de João (Jo 20.30-31). Então, desarme-se e permita-se ser exposto ao conteúdo desse livro. Prove e veja. Creio de todo coração que assim, ao longo dessa jornada, você poderá dizer que conheceu Deus em Jesus Cristo de uma maneira salvadora, transformadora e cheia de vida.
Evangelho sem suspense
Não existe suspense no Evangelho de João. O que levou três anos para ele e os apóstolos compreenderem plenamente, ele deixou claro já nos três primeiros versículos do livro. O cabeçalho (ou prólogo — Jo 1.1-18) diz tudo, especialmente o iniciozinho. Veja:
1No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. 2Ele existia no princípio com Deus. 3Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado… [Mas, quem é a Palavra?] 14Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele [Jesus Cristo] era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
João sabe sobre quem e deseja que nós tenhamos certeza sobre quem ele irá escrever nos próximos 21 capítulos: Jesus é o seu foco. O seu assunto é a Palavra que sempre existiu, desde a eternidade, face a face com Deus, o criador de todas as coisas: que se tornou ser humano, habitou na terra e revelou graça, verdade e glória de Deus. Não há suspense.
João escolheu escrever assim para, desde o início, arrancar nossos suspiros de admiração, acelerar nossos corações com emoção, acender em nós a chama da adoração. Ele não quer que prossigamos com a leitura, perguntando: “Quem é esse homem?”. Nada disso. Não há suspense: Jesus é Deus, o criador, magnífico, glorioso, gracioso e verdadeiro Deus; ele é Deus que “se tornou ser humano, carne e osso, e habitou” na terra. O livro é sobre ele, do começo ao fim, e vemos isso já nas primeiras palavras. Não há suspense.
Jesus: a última palavra sobre Deus
Uma coisa que nos intriga logo no início é: Por que João escolheu chamar Jesus de “Palavra” ou “Verbo” — “No princípio era a Palavra”? Por que não chamá-lo pelo próprio nome? Por que não chamá-lo de “Vida” ou de “Verdade” ou de “Caminho” ou de “Messias”? Enfim, por que chamá-lo de “Palavra”?
Tanta coisa foi escrita sobre isso, tanta coisa nada a ver foi declarada a esse respeito, que me recuso a tomar o tempo de vocês com tantas discussões. Sigo com a sobriedade de D. A Carson que, em seu comentário sobre João (Shedd Publicações) diz que no Antigo Testamento (a fonte de consulta e do conhecimento de João) “a Palavra” (hebr. dâbâr) de Deus está ligada com a poderosa atividade de Deus na criação (Gn 1.3; Sl 33.6), revelação (Is 9.8; Jr 1.4; Ez 33.7; Am 3.1 e 8) e libertação (Sl 107.20; Is 55.11). Em outras palavras, aprende-se no Antigo Testamento que Deus cria, comunica-se e cura pela palavra.
Logo, não deveria ser estranho que quando João se propôs a escrever sobre aquele que veio para criar nova vida e uma nova comunidade (regenerar o pecador e criar para si mesmo um povo), revelar-nos Deus e libertar os pecadores do pecado ele tenha escolhido chamar Jesus de “a Palavra”. Ele aprendeu que Jesus é a auto-expressão de Deus, o ponto de contato de Deus com o homem, a personificação daquela “Palavra” criadora, reveladora e libertadora que vemos e provamos no Antigo Testamento.
Carson ainda informa que já no período interbíblico, nos escritos judaicos fundamentados no Antigo Testamento, falava-se dessa personificação da “Palavra” (p.ex.: Sabedoria 7.22; 18.14-15 e Eclesiástico 24.1ss.). Salomão, inspirado por Deus nas Escrituras do Antigo Testamento, destacou a “Sabedoria” de Deus de uma forma altamente personificada (Pv 8.22ss.) Podemos, então, resumir da seguinte maneira: da mesma forma que Deus se revelou no Antigo Testamento criando, falando e libertando pela Palavra, agora, nos últimos tempos, Deus falou pelo Filho (Hb 1.1). Jesus é a última palavra sobre Deus. Nas palavras do autor de Hebreus (1.3): “O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas”.
John Piper foi genial, como sempre! Sobre João ter chamado Jesus de “Palavra”, ele disse:
O que Deus tinha para nos dizer não era apenas ou principalmente o que Jesus disse (suas palavras), mas quem Jesus era e o que ele fez. Suas palavras trouxeram esclarecimento sobre si mesmo [ele é Deus] e sobre a sua obra [ele veio para salvar]. Mas o seu eu e a sua obra eram a verdade principal que estava sendo revelada por Deus. “Eu sou a verdade”, disse Jesus (João 14.6). Ele veio testemunhar a verdade (João 18.37) e ele era a verdade (João 14.6). O seu testemunho [o que ele disse] e a sua pessoa [quem ele é e o que ele fez] eram a Palavra da verdade.
João começa o seu Evangelho declarando que Jesus é a Palavra de Deus (Ap 19.13-15) — a primeira, a última, a decisiva, a absoluta, a verdadeira e a confiável revelação de quem é Deus e o que Deus fez pela humanidade. Jesus é a última palavra sobre Deus.
Uma palavra sobre a Palavra
Agora, o que João quer nos dizer primeiro sobre Jesus Cristo, cujos atos e palavras preenchem as páginas deste Evangelho? Ele quer nos esclarecer cinco coisas sobre o Cristo: 1) preexistência, 2) personalidade, 3) prerrogativa, 4) primazia e 5) propósito.
1. A preexistência de Jesus Cristo
Verso 1: “No princípio, aquele que é a Palavra já existia.”
As palavras “No princípio” são idênticas em grego às duas primeiras palavras do Antigo Testamento grego (Septuaginta): “No princípio, Deus criou os céus e a terra” (Gn 1.1). Isso não é um acidente, porque a primeira coisa que João nos contará sobre o que Jesus fez foi que ele criou o universo. Está lá no versículo 3. Então, as palavras “No princípio” significam: antes que houvesse qualquer coisa criada, havia a Palavra, o Filho de Deus, havia Cristo.
Marcos começou seu evangelho com a palavra “Princípio”, dizendo assim: “Este é o princípio das boas-novas [do evangelho] a respeito de Jesus Cristo, o Filho de Deus” (Mc 1.1). Ou seja, é bem provável que João estivesse fazendo alguma alusão à obra de seu colega, dizendo: “Marcos lhes narrou sobre o princípio do ministério público de Jesus; eu quero mostrar para vocês que o ponto de partida do evangelho pode ser traçado até bem antes disso, antes do princípio do universo inteiro”.
Sobre essa magnífica verdade, a eternidade de Jesus o Filho de Deus, Judas exultou em grande adoração, quando escreveu:
Jd 25 | Toda a glória seja àquele que é o único Deus, nosso Salvador por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor. Glória, majestade, poder e autoridade lhe pertencem desde antes de todos os tempos, agora e para sempre! Amém.
Paulo diz em 2Timóteo que Deus nos deu graça em Cristo Jesus “antes dos tempos eternos” (1.9). Portanto, antes de existir tempo, matéria ou energia, já havia a Palavra, Jesus Cristo, o Filho eterno de Deus. Ele é quem nós encontraremos neste Evangelho.
2. A personalidade de Jesus Cristo
Final do verso 1 diz assim: “… a Palavra era Deus”.
Uma das marcas deste Evangelho é que as doutrinas mais densas são, muitas vezes, expressas nas palavras mais simples. O que acabamos de ler, por exemplo, não poderia ser mais simples: “… a Palavra era Deus” — e não poderia ser mais denso. Pare e pense: a Palavra, que se fez carne e habitou entre nós, Jesus Cristo, era e é Deus.
João estava refutando, por exemplo, os fariseus que desejaram apedrejar Jesus e que, finalmente o pregaram na cruz:
Jo 10.33 | Não vamos apedrejá-lo por nenhuma boa obra, mas por blasfêmia. Você, um simples homem, afirma que é Deus!
Blasfêmia coisa nenhuma! Jesus é sim Deus, e João deseja que, na medida em que progredimos na leitura de seu Evangelho, todos nós nos prostremos com Tomé e digamos: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20.28).
Você percebeu o que isso significa para nós essa série sobre o Evangelho de João? Significa que vamos passar semana após semana conhecendo Deus, à medida que formos sendo expostos e formos conhecendo Jesus Cristo, a última palavra sobre Deus.
Você quer conhecer Deus? Venha conosco e convide outros para que venham conhecer Deus enquanto nós nos encontrarmos com Jesus. Jesus é a última palavra sobre Deus.
3. A prerrogativa de Jesus Cristo
O verso 1 diz que Jesus sempre existiu (ele é preexistente) e é Deus (sua personalidade é divina), mas também nos informa de sua comunhão privilegiada com o Pai – prerrogativa: “A Palavra estava com Deus, […]”. Ou seja: Jesus é uma pessoa com Deus; ele sempre viveu na comunhão com ele; portanto, além de diferenciável de Deus, desfruta de um relacionamento pessoal com ele, conforme afirmou Carson.
Esse versículo é o coração da doutrina da Trindade: Deus é um em três pessoas — a saber: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Antes de tudo existir, Deus Pai já vivia em comunhão de amor com Deus Filho, mediados pela comunhão de Deus Espírito Santo. Orando pelos discípulos, Jesus nos dá uma vaga noção dessa existência eterna em amor, plena de alegria e repleta de glória na divina comunhão da Trindade:
Jo 17.5 e 21-23 | 5Agora, Pai, glorifica-me e leva-me para junto de ti, para a glória que tive a teu lado antes do princípio do mundo. […] 21Minha oração é que todos eles sejam um, como nós somos um, como tu estás em mim, Pai, e eu estou em ti. Que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. 22“Eu dei a eles a glória que tu me deste, para que sejam um, como nós somos um. 23Eu estou neles e tu estás em mim. Que eles experimentem unidade perfeita, para que todo o mundo saiba que tu me enviaste e que os amas tanto quanto me amas.
Jesus é Deus, Deus Filho; e sempre existiu em santa comunhão com Deus Pai.
4. A primazia de Jesus Cristo
Até aqui vimos três coisas sobre Jesus: a sua preexistência (Jesus é eterno), a sua personalidade (Jesus é Deus) e a sua prerrogativa (Jesus eternamente com Deus); tudo isso no verso 1: “No princípio, aquele que é a Palavra já existia. A Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus”. A seguir, o que nós temos é a primazia de Jesus Cristo (Jo 1.2-3):
Ele existia no princípio com Deus. Por meio dele Deus criou todas as coisas, e sem ele nada foi criado.
O que João está dizendo é que Jesus não só criou todas as coisas, mas que sem ele nada teria sido criado. Logo, ele, além de agente indispensável da criação é, também, o Criador.
Jesus não foi criado. Jesus criou todas as coisas. Sem ele nada existiria.
Qual é o valor dessa afirmação? Todas as coisas criadas por ele devem a ele honra, louvor e adoração. Lá em Apocalipse, João registrou o seguinte:
Ap 4.11 | Tu és digno, ó Senhor e nosso Deus, de receber glória, honra e poder. Pois criaste todas as coisas, e elas existem porque as criaste segundo a tua vontade.
Só que houve um problema, e por causa desse problema Cristo veio ao mundo. Isso nos leva ao nosso último ponto…
5. O propósito de Jesus Cristo
João agora revela o propósito de Jesus Cristo ter vindo ao mundo:
4Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos. 5A luz brilha na escuridão, e a escuridão nunca conseguiu apagá-la [ou e a escuridão não a entendeu].
O mundo, morto pelo pecado, como veremos na sequência deste capítulo, não consegue ver nem adorar a glória de Deus (Rm 1.18ss.). Jesus, então, vem ao mundo para trazer vida e luz aos homens. Ele vem para regenerar e salvar o pecador. Falaremos mais sobre isto mais adiante nesta série de mensagens, mas note o que João disse sobre a vida de Deus em Cristo que traz luz aos homens. Veja o que isto significa na prática:
Jo 1.6-13 | 6Deus enviou um homem chamado João 7para falar a respeito da luz, a fim de que, por meio de seu testemunho, todos cressem. 8Ele não era a luz, mas veio para falar da luz. 9Aquele que é a verdadeira luz, que ilumina a todos, estava chegando ao mundo. 10Veio ao mundo que ele criou, mas o mundo não o reconheceu. 11Veio a seu próprio povo, e eles o rejeitaram. 12Mas, a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus. 13Estes não nasceram segundo a ordem natural, nem como resultado da paixão ou da vontade humana [não nasceram do sangue, nem da vontade da carne], mas nasceram de Deus.
Jesus veio ao mundo trazer vida; fazer-nos reviver; fazer-nos ver e crer na sua obra de salvação. Não fosse pelo que Jesus fez e conquistou, continuaríamos sem enxergar ou crer, seguiríamos mortos na escuridão.
A última palavra sobre Deus
Falaremos mais sobre isso na semana que vem, Deus permitindo. Por ora, fiquemos com quatro implicações de tudo o que ouvimos sobre Jesus, a última palavra sobre Deus.
Três apelos
Como você vê Jesus?
Peça a Deus que te dê vida e faça-o vê-lo como a Palavra eterna, o Criador de todas as coisas, a Vida que traz luz aos homens, Senhor e Deus.
Peça a Deus fé para você crer em Jesus, a última palavra sobre Deus.
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