19.11.2017
QUALIDADE DE VIDA
João 2.1-12
1Três dias depois, houve uma festa de casamento no povoado de Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali, 2e Jesus e seus discípulos também foram convidados para a celebração. 3Durante a festa, o vinho acabou, e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4“Mulher, isso não me diz respeito”, respondeu Jesus. “Minha hora ainda não chegou.” 5Sua mãe, porém, disse aos empregados: “Façam tudo que ele mandar”. 6Havia ali perto seis potes de pedra usados na purificação cerimonial judaica. Cada um tinha capacidade entre 80 e 120 litros. 7Jesus disse aos empregados: “Encham os potes com água”. Quando os potes estavam cheios, 8disse: “Agora tirem um pouco e levem ao mestre de cerimônias”. Os empregados seguiram suas instruções. 9O mestre de cerimônias provou a água transformada em vinho, sem conhecer sua procedência (embora os empregados obviamente soubessem). Então chamou o noivo. 10“O anfitrião sempre serve o melhor vinho primeiro”, disse ele. “Depois, quando todos já beberam bastante, serve o vinho de menor qualidade. Mas você guardou o melhor vinho até agora!” 11Esse sinal em Caná da Galileia foi o primeiro milagre que Jesus fez. Com isso ele manifestou sua glória, e seus discípulos creram nele. 12Depois do casamento, foi a Cafarnaum, onde passou alguns dias com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos.
Você conhece Jesus Cristo?
Ouça essa história (fonte: Our Daily Bread, 12/1985):
Uma garotinha pobre, de uma região bastante carente de uma grande cidade, ficou doente no dia de Natal e foi levada ao hospital. Deitada no leito, ela ouviu os cânticos natalinos que um grupo de cristão entoavam em torno do leito ao lado do dela; em seguida, alguém contou a história do nascimento de Jesus e o motivo para o qual Deus o enviou ao mundo. A menina escutou atentamente que Cristo tinha vindo para buscar e salvar pecadores perdidos. Ali mesmo, naquela noite, ela recebeu Jesus em sua vida.
Mais tarde, depois que todos foram embora e o silêncio voltou ao local, ela disse a uma enfermeira que passava revista em seu leito: “Estou muito feliz aqui! Eu sei que vou ter que ir para casa assim que estiver bem, mas vou levar Jesus comigo. Não é maravilhoso que ele tenha nascido? Ele veio nos salvar!”.
“Sim!”, a enfermeira disse com cansaço, “Essa é uma história bem antiga!”.
“Ah!”, replicou a garota, “Então você também ouviu falar de Jesus? Estranho! Não me pareceu que você o tivesse conhecido!”.
“Por quê? O que lhe pareceu?”, Perguntou a enfermeira.
“Ah, tipo assim, você pareceu com muitas pessoas que vivem mal-humoradas!”, respondeu a menina. “Sabe, eu achei que se você soubesse que ele veio para nos levar pro céu, você seria feliz!”.
História simples, não é mesmo? Mas nos faz refletir:
A julgar pela forma como muitos que se professam cristãos vivem suas vidas:
a forma como eles buscam seus prazeres, os objetos de seus prazeres, as razões para as suas alegrias, os motivos de suas gargalhadas, os alvos de suas realizações pessoais, a motivação pela qual eles buscam e a forma com a qual eles gastam o seu dinheiro;
a falta de alegria deles em Jesus, de paixão deles pela igreja, de investimento de vida, dons, talentos e recursos no Reino de Deus e, principalmente, na vida de outras pessoas;
enfim, a julgar pela apatia e pelo mal-humor espiritual da maioria dos “crentes”, a conclusão daquela garotinha no hospital, sobre a enfermeira mal-humorada, é uma declaração profética: essas pessoas ainda não conheceram Jesus Cristo.
É este o seu caso? Pare e pense. Examine suas alegrias. Avalie o seu humor espiritual. Você realmente conhece Jesus Cristo? Você recebeu a vida eterna?
O evangelho da vida
João é o evangelho da vida. O próprio autor nos diz que o seu objetivo ao escrever foi oferecer vida, vida eterna, vida abundante, vida plena aos seus leitores (Jo 20.31).
Tive a curiosidade de contar quantas vezes a palavra “vida” foi usada em cada um dos Evangelhos. Contei na Nova Versão Internacional (NVI) e verifiquei que em Mateus foram 17 vezes; Marcos: 9 vezes; e Lucas: 22 vezes. Juntando Mateus, Marcos e Lucas, o total é de 48 vezes; mas, apenas em João, “vida” aparece 50 vezes!
João é o evangelho da vida, ele descreve o que é qualidade de vida.
Fala-se muito hoje em qualidade de vida. Todos querem qualidade de vida; todos buscam o bem espiritual, físico, psicológico e emocional; todos desejam viver bem, ter relacionamentos sociais saudáveis, saúde, educação, poder de compra, habitação, saneamento básico e outras coisas boas da vida. Quem não os quer? Todo mundo quer.
A própria Bíblia diz que Deus deseja que tenhamos qualidade de vida. Tanto é assim que Paulo nos orientou a orar da seguinte maneira:
1Tm 2.1-3 | 1[…] recomendo que sejam feitas petições, orações, intercessões e ações de graça em favor de todos, 2em favor dos reis e de todos que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida pacífica e tranquila, […] 3Isso é bom e agrada a Deus, […]
É bom e agradável a Deus o nosso bem estar, a nossa qualidade de vida. Mas, cuidado! Deus não nos deseja nem nos derrama um tipo de vida, cujos prazeres sejam curtidos ou desfrutados sem ele ou à parte dele (Tg 4.1-6). Além de idolatria de nossa parte — pois estaríamos transformando dádivas em deuses (coisa que o coração humano é mestre em fazer!), não seria nada amoroso da parte de Deus derramar-nos tudo de bom sem desejar que nós o conheçamos e dele desfrutemos. Afinal, ele é a fonte da minha alegria plena, a alegria da minha alegria (Sl 43.4), o único capaz de me satisfazer.
A vida de qualidade que Deus tem para nós é do tipo que nos liberta de nós mesmos e nos faz viver dele, por ele e para ele (2Co 5.15). Observe o todo do que Paulo disse, escrevendo a Timóteo:
1Tm 2.1-4 | 1[…] recomendo que sejam feitas petições, orações, intercessões e ações de graça em favor de todos, 2em favor dos reis e de todos que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida pacífica e tranquila, caracterizada por devoção [piedade] e dignidade [respeito]. 3Isso é bom e agrada a Deus, nosso Salvador, 4cujo desejo é que todos sejam salvos e conheçam a verdade.
Sim, qualidade de vida! Que tipo de qualidade de vida? Uma vida “caracterizada por devoção e dignidade”; uma vida que desfrute de Deus (devoção, piedade) e que vai sendo transformada à imagem de Deus em Cristo (dignidade, respeito); uma vida que produza frutos para Deus (o desejo de Deus é que todos sejam salvos e conheçam a verdade).
Qualidade de vida para quê? Para que não sejamos impedidos de viver e de levar o evangelho, de nutrir relacionamentos discipuladores (RDs), de buscar e salvar o perdido. Afinal, é desejo de Deus que “todos sejam salvos e conheçam a verdade”. Qualidade de vida para que não sejamos impedidos de nos regozijarmos em Deus por causa do evangelho nem de reverberamos em amor o conteúdo do evangelho. Qualidade de vida que é de Deus, por Deus (ou em Deus) e para Deus.
João, em seu Evangelho, nos ensina como isso é possível. Afinal, ele é o autor do evangelho da vida. Hoje à noite, portanto, convido você a olhar comigo para o primeiro milagre de Jesus, o primeiro milagre que ele fez na sua vida terrena (antes desse ele não havia feito milagres; ele não fez milagres na infância, adolescência ou juventude; este foi o seu primeiro milagre na terra) e o primeiro milagre registrado por João (Jo 2.11). Nosso objetivo é que, ao contemplarmos a manifestação da glória de Deus neste episódio, muitos sejam resgatados da morte para a vida e todos sejamos renovados com vida plena e abundante. Esse é o objetivo de João. Observe:
Jo 2.11 | Esse sinal em Caná da Galileia foi o primeiro milagre que Jesus fez. Com isso ele manifestou sua glória, e seus discípulos creram nele.
Saiamos daqui crendo em Jesus; cantando e contando sobre a vida eterna, sobre Jesus.
Qualidade de vida
Qualidade de vida só é possível com a presença de Jesus. “Emanuel”, “Deus conosco” é o segredo da vida de qualidade. João sabia disso e, portanto, logo na introdução de seu evangelho, conforme já vimos em mensagens anteriores, lá no capítulo 1, afirmou que Deus se fez gente e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, sendo agora possível a nós desfrutarmos de sua presença, vermos e nos regozijarmos com sua glória (Jo 1.1-14).
Qualidade de vida é fruto de um relacionamento pessoal com Jesus (Jo 17.3). Conhecer Jesus e se relacionar com ele é o segredo da vida de qualidade. Por isso que, logo após descrever que Deus se fez gente e habitou entre nós (Jo 1.1-14), possibilitando-nos desfrutar de sua gloriosa presença (Jo 1.29-51), João relata o quanto a presença de Jesus fez a diferença na festa de casamento em Caná da Galileia (2.1-12), no templo em Jerusalém (2.13-22) e na Festa da Páscoa (2.23-25). A vida de quem começa a se relacionar com Jesus é transformada para muito, muito melhor; infinita e eternamente melhor.
Hoje nós estamos concentrados no casamento em Caná da Galileia; estamos olhando para a presença de Jesus naquela celebração nupcial; queremos aprender qual é o conjunto de condições que contribuem para a qualidade de vida de uma pessoa. Destacaremos três condições necessária para uma vida de qualidade. Veremos que qualidade de vida depende de parâmetro, poder e propósito.
1. Um parâmetro para viver
Uma das coisas que mais escravizam as pessoas é o temor de homens. Quer ver uma coisa? Quem nunca se viu paralisado diante de uma opinião contrária ou por causa de uma crítica; quem nunca ficou desconcertado diante de olhares de interrogação ou de comentários infelizes; quem nunca se sentiu diminuído por não conseguir se vestir ou se apresentar tal e qual fulano ou sicrano; quem nunca pensou em voltar atrás em alguma decisão por não ter recebido apoio ou elogio dos pares; quem nunca ficou sem dizer a verdade em amor com medo de perder o amigo; quem nunca lamentou por não ter a aparência física que desejava ter? Enfim…
Todos nós sofremos com o temor de homens. Uns mais, outros menos. A tirania da aparência e do ter têm, literalmente, destruído a vida de muita gente. Tentando dar um diagnóstico ou uma justificativa para esses males da inclinação do pecado no coração da gente, arrumamos nomes bonitinhos: baixa autoestima, timidez, cobrança de mais de si mesmo e por aí afora. A raiz de tudo isso, porém, é a mesma: o temor de homens. Quem consegue cortá-lo pela raiz se liberta de verdade e passa a desfrutar de qualidade de vida.
Mas, como? Observem Jesus. Vejam qual era o seu parâmetro para viver.
Jo 2.1-4 | 1Três dias depois, houve uma festa de casamento no povoado de Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali, 2e Jesus e seus discípulos também foram convidados para a celebração. 3Durante a festa, o vinho acabou, e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4“Mulher, isso não me diz respeito” [“Mulher, que tenho eu contigo?”], respondeu Jesus. “Minha hora ainda não chegou.”
Uau! Grosseria com a mãe? De forma nenhuma! Afinal, grosseria, desrespeito ou desonra teriam sido pecado, e Jesus era e viveu sem pecado; ele nunca pecou.
Então, o que nós temos aqui? Jesus estava exaltando sua Filiação ao Pai celestial acima da filiação à sua mãe terrena. Ele era obediente, acima de tudo e de todos, ao seu Pai celestial. A Deus, primeiramente, é que Jesus prestava contas. A hora de Deus e a vontade de Deus eram a sua prioridade.
Sem dúvida, Jesus era obediente à sua mãe terrena, mas esse não é o ponto aqui. Lógico que ele se importava com ela, ao ponto de escalar João, lá aos pés da cruz, para cuidar de Maria, daquele momento em diante (Jo 19.25-27).
Então, o que nós temos aqui? Na verdade, parece-nos que as palavras de Jesus foram intencionalmente escolhidas para revelarem uma fidelidade radical à vontade de Deus acima da vontade de sua mãe — fidelidade a Deus acima, inclusive, de seus apegos e afeições humanos. Jesus está sendo curto, mas não grosso. Ele está exortando em amor.
Jesus não está sendo grosso, pois lá na cruz ele usou a mesma expressão utilizada por ele aqui em João 2.4 — “Mulher”. Observe que lindo:
Jo 19.26-27 | 26Quando Jesus viu sua mãe ali, ao lado do discípulo a quem ele amava, disse-lhe: “Mulher, este é seu filho”. 27E, ao discípulo, disse: “Esta é sua mãe”. Daquele momento em diante, o discípulo a recebeu em sua casa.
“Mulher” seria correspondente a “Minha senhora” em nosso idioma atualmente. Tudo, portanto, dependerá de quem diz e de como se diz. Certamente que Jesus usou essa forma de tratamento de uma maneira doce e não desonrosa.
Jesus está sendo curto, pois quando disse: “Mulher, isso não me diz respeito.” ou “Mulher, que tenho eu contigo?” (Jo 2.4), ele estava realmente dizendo o seguinte: “Minha senhora, não caberá a você me dizer o quê e quando fazer.” ou “Minha senhora, não vamos misturar as coisas (os reinos); sua parte é sua parte, a parte de meu Pai é a parte de meu Pai; ele ainda não me disse ter chegado a minha hora!”. Curto, mas não grosso. Quer ver uma coisa?
Digamos que você seja médico. Um neurocirurgião. Sua mãe está assistindo uma cirugia conduzida por você; ela está ali do seu lado no centro cirúrgico e percebe que algo começou a dar errado com o paciente. Não por culpa sua, mas por algum problema com próprio paciente. Daí ela diz: “Ele não está bem!”, como que dizendo: “Faça alguma coisa!”. Então, você a responde: “Minha senhora, calma, está tudo sob controle, nós sabemos o que estamos fazendo!” Você não teria sido grosso. Teria? Teria sido curto, mas não grosso. Teria dito: “Pera lá! O médico aqui sou eu. Dará tudo certo.” Você teria sido curto, mas não grosso.
Jesus é curto, mas não é grosso, e o mais intrigante é que logo em seguida ele vai e faz o milagre (Jo 2.6-9). Por que esta atitude de Jesus? Por que ele não foi em frente e não fez o milagre sem essa ressalva curta, mas não grossa? Por que esta exortação?
Parece que ele sentiu o peso da necessidade de deixar claro que, apesar de todos os laços que os uniam, a palavra final sobre a vida dele, a voz que o definia e o guiava em todas as coisas, quem realmente dizia o quê e quando fazer alguma coisa era o Pai.
Jo 5.17-20 | 17Jesus, porém, disse: “Meu Pai sempre trabalha, e eu também”. […] 19Jesus respondeu: “Eu lhes digo a verdade: o Filho não pode fazer coisa alguma por sua própria conta. Ele faz apenas o que vê o Pai fazer. Aquilo que o Pai faz, o Filho também faz. 20Pois o Pai ama o Filho e lhe mostra tudo que faz.
Jo 8.28-30 | 28[…] “Quando vocês me levantarem, entenderão que eu sou o Filho do Homem. Não faço coisa alguma por minha própria conta; digo apenas o que o Pai me ensinou. 29E aquele que me enviou está comigo; ele não me abandonou, pois sempre faço o que lhe agrada”. 30Muitos que o ouviram dizer essas coisas creram nele.
Portanto, os milagres de Jesus não estavam à disposição de sua mãe nem de qualquer outra pessoa. O Filho sempre esteve inteiramente sob o domínio de seu Pai celestial. Ele e o Pai são um, e eles têm uma vontade. Maria precisava ter certeza disso.
A atitude de Jesus (curta, mas não grossa), era de amor. Como assim?
Jesus estava iniciando o seu ministério público e, portanto, estava indicando à Maria que iniciaria, à partir daquele momento, uma nova relação entre ambos. A única autoridade sobre a vida dele passaria a ser a autoridade de seu Pai celestial. Assim, Maria não deveria presumir qualquer ingerência sobre ele ou direito de dizer a ele como e quando ele deveria agir. Ela deveria se submeter e permitir, dali em diante, que o Filho se tornasse também o Senhor e Salvador da vida dela. Jesus agiu em amor. Carson comenta:
Não devemos evitar a conclusão de que Jesus, ao exortar sua mãe, embora com cortesia, declara, no início de seu ministério, sua completa liberdade em relação a qualquer tipo de conselho, agenda ou manipulação humana. Ele já embarcou em seu ministério, o objetivo de sua vinda; sua única estrela-guia é a vontade de seu Pai (5.30; 8.29). Isso deve ter sido extremamente difícil para Maria. Ela o havia gerado, amamentado, ensinado às mãos do bebê suas habilidades elementares, visto ele cair quando aprendia a andar; bem como, aparentemente, ela havia passado a depender dele como o provedor da família. Mas agora que ele havia entrado no propósito de sua vinda, tudo, inclusive os laços de família, tinham de ser subordinados à sua missão divina. Ela não podia mais vê-lo como as outras mães viam seus filhos; ela não teria mais as prerrogativas da maternidade. É um fato notável que em todo lugar em que Maria aparece durante o curso do ministério de Jesus, ele se esforça para estabelecer uma distância entre eles (e.g. Mt 12.46-50). Isso não é indiferença da parte de Jesus: sobre a cruz, ele faz provisão para o futuro dela (Jo 19.25-27). Mas ela, como qualquer outra pessoa, deve vir a ele como o Messias prometido, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Nem ela nem ninguém mais ousaria presumir abordá-lo com excessiva intimidade — uma lição que até Pedro teve de aprender (Mc 8.31-33). Essa lição não poderia ter sido mais difícil que para a mãe de Jesus; e talvez essa fosse parte da espada que atravessaria sua alma (Lc 2.35). Por isso devemos honrá-la ainda mais.
Claro que Jesus sentia muito por Maria. Ele sabia o quanto a sua postura (curta, mas não grossa) estaria rasgando a alma daquela mulher tão piedosa, tão dedicada e tão altruísta. Mas ele também sabia que se não fosse daquele jeito, Maria não conseguiria olhar para ele como Senhor e Salvador da vida dela, como o Cordeiro que tira o pecado do mundo (inclusive o dela!). Jesus agiu com graça e verdade. Ele foi curto, mas não foi grosso. O Senhor agiu com muito amor.
O que podemos aprender? (Além do fato de que Maria não é co-redentora!)
O parâmetro de Jesus foi e continua sendo a vontade do Pai celestial. Qualidade de vida, portanto, começa quando nós aprendemos separar as coisas (a vontade de Deus da pressão das pessoas), definir os laços (relacionamentos devem nos apontar para Cristo, como Salvador e Senhor, nunca nos afastar dele), priorizar os relacionamentos (Deus e depois os demais), dizer a verdade em amor (levando o outro a se curvar diante do Senhor).
Isto é libertador, tanto para nós como para os outros. Qualidade de vida começa quando nós adotamos um padrão para viver; i.e., a vontade de Deus para nós em Jesus.
2. Um poder para viver
Além de um parâmetro para viver, qualidade de vida requer poder para se viver com qualidade. Deixe-me explicar. O nosso texto faz denúncias, direta e indiretamente, a três de nossos principais ídolos ou fontes de poder: temor de homens (quando exortou Maria, Jesus não temeu pela sua imagem diante dos homens), recursos humanos (os noivos planejaram, trabalharam e investiram, mas o vinho acabou e não bancou a festa até o final) e religião sem Cristo (os potes para os rituais de purificação estavam vazios).
É tão verdade que as pessoas, para viverem bem, buscam algum tipo de poder nessas coisas (i.e., temor de homens, recursos humanos e religião sem Cristo) que elas nunca estiveram tão obcecadas com tópicos do tipo: autoimagem, autoajuda e autojustificação. As pessoas querem, de alguma forma, força para viver. Assim é que elas recorrem ao poder da aparência, das coisas que elas conquistam e da espiritualidade que elas tentam cultivar. Só que, conforme nos conta esta passagem, nada disso se sustenta, bancando-nos a vida de qualidade.
Primeiro, João decreta a falência dos recursos humanos, pois nos conta que durante a festa, o vinho acabou (v. 3).
Segundo, Jesus destrói a fragilidade do temor de homens, ao declarar que o Pai é que estava no comando de tudo (v. 4); Maria tanto entendeu que, de alguém que tentou dar as regras, passou a dizer que todos deveria seguir os mandamentos de Jesus (v. 5).
Terceiro, Jesus denuncia a farsa da religiosidade sem Cristo, inferindo que aqueles potes vazios não prestavam para nada, se não de enfeite (v. 6). Observem comigo o texto:
1Três dias depois, houve uma festa de casamento no povoado de Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava ali, 2e Jesus e seus discípulos também foram convidados para a celebração. 3Durante a festa, o vinho acabou, e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4“Mulher, isso não me diz respeito”, respondeu Jesus. “Minha hora ainda não chegou.” 5Sua mãe, porém, disse aos empregados: “Façam tudo que ele mandar”. 6Havia ali perto seis potes de pedra usados na purificação cerimonial judaica. Cada um tinha capacidade entre 80 e 120 litros. 7Jesus disse aos empregados: “Encham os potes com água”. Quando os potes estavam cheios, 8disse: “Agora tirem um pouco e levem ao mestre de cerimônias”. Os empregados seguiram suas instruções. 9O mestre de cerimônias provou a água transformada em vinho, sem conhecer sua procedência (embora os empregados obviamente soubessem). Então chamou o noivo.
Como se não bastasse dizer que tais coisas não são capazes de nos bancar na vida (recursos humanos, temor de homens e religiosidade sem Cristo), João nos revela o quanto elas são enganosas. Primeiro, elas nos embriagam ou satisfazem com o que pode haver de melhor. Depois, elas nos deixam na mão. Sim, pois, se o vinho não acabar e nós não acordarmos, essa vida centrada no eu e movida pelas coisas sem Cristo deste mundo nos manterá com mentiras e enganos até nos condenar no final. Observe, na sutileza de João, como isso está claro no texto:
9O mestre de cerimônias provou a água transformada em vinho, sem conhecer sua procedência (embora os empregados obviamente soubessem). Então chamou o noivo. 10“O anfitrião sempre serve o melhor vinho primeiro”, disse ele. “Depois, quando todos já beberam bastante [fartam-se ou embriagam-se], serve o vinho de menor qualidade. Mas você guardou o melhor vinho até agora!”
Perceberam? O mestre de cerimônias estava acostumando com o “jeito do mundo”: primeiro dê o melhor; logo, logo eles terão o bastante; depois é só mantê-los com “menor qualidade”. Ô meu povo, só quem já provou sabe o que um vinho de “menor qualidade” é capaz de fazer com a pessoa no dia seguinte!
João nos revela que o poder para viver uma vida de qualidade vem da presença de Jesus. Ele sempre serve o melhor. E quando acaba, ele repõe com outro ainda melhor. E tudo vai ficando melhor e melhor, cada vez melhor, eternamente e para sempre melhor. É milagre. É o milagre da graça. Graça que salva, santifica e satisfaz em Jesus Cristo.
Qualidade de vida, portanto, não está em nós mesmos (em gostar de si mesmo), no que temos ou podemos ter, nem naquilo que fazemos para poder merecer alguma coisa. Qualidade de vida está na pessoa e no poder de Jesus. Ele é o nosso Cordeiro substituto. Ele é o nosso provedor amoroso. Receba-o hoje em sua vida. Você provará a diferença. Verá que o vinho novo da graça de Deus é muito melhor. Viverá sem culpa e satisfeito.
3. Um propósito para viver
Além de parâmetro e de poder, qualidade de vida é fruto de um propósito de vida:
11Esse sinal em Caná da Galileia foi o primeiro milagre que Jesus fez. Com isso ele manifestou sua glória, e seus discípulos creram nele. 12Depois do casamento, foi a Cafarnaum, onde passou alguns dias com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos.
Possui qualidade de vida quem se dedica a viver para a glória de Deus; quem leva outros a crerem em Jesus; quem dispõem de tempo para conviver com o Senhor.
O que da glória de Deus esse milagre nos revela?
Soberania (a hora era a de Jesus), graça e misericórdia (socorro aos noivos em apuros, mesmo não tendo chegado ainda a sua hora — i.e., crucificação e ressurreição), poder (fez água virar vinho), generosidade (deu o melhor vinho em quantidade abundante, cerca de 700 litros no total!) e glória (tudo foi tão encantador que seus discípulos creram nele).
Qual é o seu propósito de vida? Conquistar? Celebrar?
Pergunto a você: Você conseguirá bancar? E quando o vinho acabar? E quando você olhar para o lado e ver que os potes estão vazios? E quando você descobrir que a religião ou a autojustificação, a autoajuda e a autoimagem não conseguem mais bancar você e muito menos levar você ao céu? O que você fará?
Agora, se o seu propósito é viver para a glória de Deus, se você entregar sua vida a Cristo; se você o receber como Salvador e Senhor, como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; como o Provedor compassivo, você provará hoje e amanhã e sempre de novo e de novo de vinho novo e cada vez melhor.
Qualidade de vida
Você tem qualidade de vida? É feliz, realmente feliz?
Do que você depende para ser feliz? Você continuaria feliz se perdesse o poder de sua autoimagem, os frutos de sua autoajuda e a honra de sua autojustificação?
Você consegue dizer como Paulo que morrer para estar com Jesus é muito melhor do que tudo o que você possui na vida? Não! Então você não tem qualidade de vida, pois se arrasta pela vida com medo de perder os seus tesouros aqui na terra.
Qualidade de vida é Jesus. Sem Jesus você se consome tentando ser o deus de sua própria vida; sem Jesus você se desgasta correndo de um lado para o outro a fim de ter e de manter coisas; sem Jesus você se engana por um tempo com o “melhor vinho” que a vida e o pecado servem primeiro; sem Jesus você até que segue tendo os potes da purificação como enfeite ou objeto de superstição ou devoção. Lembre-se porém, que mais cedo ou mais tarde o vinho acabará. A vida nesta terra cessará. Você, o que fará?
Convide Jesus para a sua vida, para o seu casamento. Receba-o como Salvador. Faça dele o seu Senhor. Diga a ele que seu vinho acabou e que os potes da religião estão vazios, não passam de enfeites ou superstição. Você será surpreendido com graça e glória. Serás salvo, isto é graça. Viverás provando cada dia mais do melhor de Jesus, isto é glória.
Qualidade de vida é Jesus. Receba-o com fé e obtenha o poder de ser feito filho de Deus; receba-o com esperança e se ocupe do propósito de viver para a glória de Deus; receba-o com amor e olhe para ele como sendo o parâmetro para a sua nova vida ao lado de Deus.
Qualidade de vida é Jesus. Nele é que “há plenitude de alegria… [e] delícias perpetuamente” (Sl 16.11); com ele é que nós experimentamos vida em abundância (Jo 10.10); nele é que a nossa alegria se completa (Jo 15.11); ele é a vida eterna (Jo 17.3) e conhecê-lo é o que nos dará alegria eternamente.
Qualidade de vida é Jesus Cristo. Arrependa-se do pecado de tê-lo desprezado, e de ter colocado no lugar dele você mesmo, tudo e todos nesta vida. Arrependa-se e creia nele. Receba-o como Salvador e Senhor. Faça dele a alegria da sua alegria. Você terá qualidade de vida.
S.D.G. L.B.Peixoto
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