18.10.2020
[João 12.27-36] 27“Agora minha alma está angustiada. Acaso devo orar ‘Pai, salva-me desta hora’? Mas foi exatamente por esse motivo que eu vim! 28Pai, glorifica teu nome!”. Então uma voz falou do céu: “Eu já glorifiquei meu nome, e o farei novamente em breve”. 29Quando a multidão ouviu a voz, alguns pensaram que era um trovão, enquanto outros afirmavam que um anjo havia falado com ele. 30Então Jesus lhes disse: “A voz foi por causa de vocês, e não por minha causa. 31Chegou a hora de julgar o mundo; agora, o governante deste mundo será expulso. 32E, quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”. 33Ele disse isso para indicar como morreria. 34A multidão disse: “Entendemos pelas Escrituras que o Cristo viveria para sempre. Como pode dizer que o Filho do Homem morrerá? Afinal, quem é esse Filho do Homem?”. 35Jesus respondeu: “Minha luz brilhará para vocês só mais um pouco. Andem na luz enquanto podem, para que a escuridão não os pegue de surpresa. Quem anda na escuridão não consegue ver aonde vai. 36Creiam na luz enquanto ainda há tempo; desse modo vocês se tornarão filhos da luz”. Depois de dizer essas coisas, Jesus foi embora e se ocultou deles.
Em 1º de agosto de 2011, Reynaldo Gianecchini, o gatão das novelas da Globo, foi internado no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo para cuidar de uma faringite crônica que, tratada com antibióticos, provocou uma forte reação alérgica. Exames subsequentes, entretanto, detectaram um “linfoma não Hodgkin”, uma forma de câncer no sangue. Tão logo fecharam o diagnóstico, aos 38 anos de idade, Gianecchini foi submetido a sessões de quimioterapia no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para tratamento.
Curado da doença, o ator já narrou em entrevista que “estar em contato com a morte foi um turning point”, um ponto de virada na vida dele. Escrevendo, em 2016, o prefácio do livro O Propósito: a coragem de ser quem somos, que foi escrito pelo hindu Sri Prem Baba (ed. Sextante), Gianecchini testemunhou:
Depois de passar dos 40 anos e vencer um câncer que me colocou à beira do abismo, restou a pergunta: quem sou eu? E para quê? Qual é o significado dessa minha existência? Senti que eu estava sendo chamado para olhar de modo mais atento para essas e outras questões, então pedi para o meu ser mais profundo que me abrisse as portas do conhecimento.
O ator prosseguiu falando de quão pouco (ou nada) as pessoas sabem “sobre os mistérios da existência” e de que encontrou no “amor” a força “capaz de transformar tudo, curar, elevar nossa consciência.” Disse ter descoberto (por “uma voz interna” e com a ajuda do guru espiritual Prem Baba), que “a razão de estarmos aqui encarnados” é “aprendermos (ou reaprendermos) a amar.” Corajosamente, ele admitiu, no entanto, a dificuldade que todos nós temos: “abrir o coração para amar de verdade, desinteressadamente”.
Tentando estender o sentido que buscava para a vida – nas palavras mesmas de Gianecchini: “a caminhar rumo à consciência do propósito da minha alma, a me abrir para ouvir o comando do meu coração” –, foi que ele recorreu a Prem Baba (de fato, como ele mesmo diz, “cruzou” seu caminho com o dele) e tem aprendido que
Para alcançar esse aprendizado [consciência do propósito da alma, ouvir o comando do coração], precisarei continuar passando pelo processo de purificação, olhar para minha sombra (ou maldade), para minhas dores, meus condicionamentos, abrir os porões para poder limpá-los, iluminá-los. E tudo isso requer muita coragem.
Gianecchini concluiu o prefácio com as seguintes palavras:
Sabemos que estamos alinhados com nosso Propósito quando encontramos um motivo real para acordarmos e vivermos o dia com alegria! E esse motivo, em última análise, é vivermos o amor! Prem tem me ensinado bastante sobre isso e talvez faça parte do Meu Propósito dividir meu caminho com vocês. Namastê! [saudação de reverência, que acompanha o gesto de estar com as mãos juntas, acima da cabeça, como em oração, e a cabeça levemente curvada para frente.]
Meu povo, meu propósito com esse relato não é recomendar o livro que foi prefaciado pelo ator bonitão, tampouco pretendo avalizar o hinduísmo ou alguma de suas ramificações. O que eu desejo fazê-los perceber são os seguintes:
Todo mundo precisa de um evangelho, de uma boa-nova para a vida e para a morte.
Infelizmente, apenas quando estamos em face da morte, acossados por alguma enfermidade ou tragédia, quando estamos cogitando perder a vida ou alguém que muito amamos é que paramos para pensar sobre o porquê de estarmos aqui, para quê existimos e como viver melhor o propósito da vida. Não precisa ser assim, não deve ser assim, pois, de fato, acha-se alegria quando se descobre o propósito da vida e se vive plenamente para ele.
Outra coisa: realmente existe algo negro dentro de nós que nos bloqueia de viver o propósito para o qual existimos. A Bíblia chama de pecado. E a única luz capaz de dissipar essas trevas dentro do coração ou da alma – libertando-nos do medo e capacitando-nos a amar desinteressadamente – é a do evangelho de Jesus Cristo. A purificação contínua de que todos precisamos, chamamo-la comumente de santificação progressiva. Neste processo, de fato, precisaremos não de um guru, mas de um discipulador, relacionamento de discipulado, aconselhamento, ensino bíblico… no outro cristão me ajudará a, de novo e de novo, voltar-me não para o meu ser mais profundo (posto que não haverá lá respostas, apenas desespero), mas para a Bíblia; não para o comando do meu coração (posto que ele me escraviza até me destruir, seja com autopiedade ou com o mais venenoso orgulho, a mais assassina das vaidades, o mais letal dos desejos pecaminosos), não para o senhorio do meu coração, mas para o de Cristo, cujo jugo é suave e o fardo é leve.
Uma vez descoberto esse propósito da vida, com efeito, a alegria só será completa se dividirmos o caminho de Cristo com outras pessoas. Essas coisas não serão fruto do acaso, nós e as outras pessoas não simplesmente cruzaremos caminhos, mas seremos providencialmente, divinamente colocados na vida dos outros para levá-los a Cristo, e nós, intencionalmente, abraçaremos esse chamado.
Mas qual é o propósito da vida e de que maneira nós podemos vivê-lo? Para quê viemos ao mundo? Pelo mesmo motivo que Cristo aqui veio: a glória do nome de Deus. Chegamos, portanto, ao coração e à mensagem do texto bíblico em tela para hoje à noite:
27“Agora minha alma está angustiada. Acaso devo orar ‘Pai, salva-me desta hora’? Mas foi exatamente por esse motivo que eu vim! 28Pai, glorifica teu nome!”. Então uma voz falou do céu: “Eu já glorifiquei meu nome, e o farei novamente em breve”.
O propósito supremo da vida é a glória de Deus.
Uma das cenas de Natal mais famosas da Bíblia é o anúncio que o anjo fez aos pastores de que o Salvador havia nascido. E então, “juntou-se ao anjo uma grande multidão do exército celestial, louvando a Deus e dizendo: ‘Glória a Deus nos mais altos céus, e paz na terra àqueles de que Deus se agrada!’” (Lc 2.11-14).
Duas coisas foram celebradas nesse cântico coral angelical do primeiro Natal: a glória de Deus e a paz aos homens e mulheres de que Deus se agrada. Os anjos, portanto, foram enviados (o Natal existe) para deixar algo claro como a luz do dia: o Filho de Deus veio ao mundo para exibir a glória de Deus e reconciliar, fazer as pazes entre Deus e as pessoas de que ele se agrada. Cristo veio ao mundo para exaltar Deus na salvação dos homens e para tornar os homens alegres em Deus.
Portanto, quando nos deparamos com o nosso texto em João 12, não há surpresa ao lermos Jesus orando, pedindo para que isso realmente acontecesse no ponto mais importante de sua vida terrena (ou seja, sua morte e ressurreição), não há espanto em o vermos suplicando que Deus fosse glorificado, no resgate dos pecadores. Veja, João 12.27-30:
27“Agora minha alma está angustiada. Acaso devo orar ‘Pai, salva-me desta hora’? [Sabemos que ele está falando da hora de sua morte porque no versículo 24 ele disse: “se o grão de trigo não for plantado na terra e não morrer, ficará só. Sua morte, porém, produzirá muitos novos grãos.”] Mas foi exatamente por esse motivo que eu vim! 28Pai, glorifica teu nome!”. Então uma voz falou do céu: “Eu já glorifiquei meu nome, e o farei novamente em breve”. 29Quando a multidão ouviu a voz, alguns pensaram que era um trovão, enquanto outros afirmavam que um anjo havia falado com ele. 30Então Jesus lhes disse: “A voz foi por causa de vocês, e não por minha causa.
No versículo 27b, Jesus diz: “foi exatamente por esse motivo que eu vim!” Qual motivo? Resposta: versículo 28a, “Pai, glorifica teu nome!” É por esse motivo que minha morte está se aproximando.
O Pai ouviu a oração de Jesus e respondeu no versículo 28b: “Eu já glorifiquei meu nome, e o farei novamente em breve”. Ele tinha acabado de glorificar seu nome na ressurreição de Lázaro (a morte de Lázaro foi para a glória de Deus – Jo 11.4; quem viu a ressurreição de Lázaro viu a glória de Deus –Jo 11.40), e agora Deus mesmo irá glorificar a si mesmo na morte e ressurreição de Jesus.
Por favor, não deixe de ouvir a boa-nova na ênfase que se dá ao compromisso de Deus mesmo glorificar a si mesmo. O texto não diz apenas que Jesus orou a Deus para glorificá-lo – versículo 28: “Pai, glorifica teu nome.” Também nos conta João que o próprio Deus afirmou, categoricamente afirmou: “Eu já glorifiquei meu nome, e o farei novamente em breve” (v. 28). É tanto que Deus mesmo, conforme já vimos, enviou anjos para dizer a mesma coisa: “Glória a Deus nos mais altos céus, e paz na terra àqueles de que Deus se agrada!” (Lc 2.14). Portanto, a razão mais profunda pela qual vivemos para a glória de Deus é porque Deus mesmo vive (e faz todas as coisas) para a glória de Deus. Somos apaixonados pela glória de Deus porque Deus é apaixonado pela glória de Deus.
O que torna essa afirmação teológica um boa-notícia, especialmente no Evangelho de João, é que a glória de Deus é cheia de graça e verdade. João 1.14:
Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
A coisa mais gloriosa a respeito de Deus é que ele é tão completa e totalmente autossuficiente que a glória da plenitude de seu ser transborda de graça e verdade sobre suas criaturas. Deus não precisa de nós. Portanto, em sua plenitude, ele transborda sobre nós – demonstrando-nos graça e revelando-nos verdade.
Tudo o que Deus faz é, de alguma forma, exibição de algum aspecto de sua glória – sua beleza, sua grandeza, seu poder, sua sabedoria, sua graça, sua força… E no texto de hoje, João chama nossa atenção para quatro maneiras pelas quais Deus glorifica a si mesmo nesta “hora” suprema na existência de Jesus – a hora da morte e da ressurreição –, a hora em que a semente cairá no solo e morrerá, mas brotará e dará muitos frutos.
Mencionarei essas quatro maneiras pelas quais Deus glorifica a si mesmo na morte e ressurreição de Jesus e, em seguida, mergulharemos em cada uma delas:
[1] Deus glorifica a si mesmo julgando o mundo na cruz de Cristo;
[2] Deus glorifica a si mesmo expulsando o governante deste mundo, Satanás;
[3] Deus glorifica a si mesmo atraindo todas as suas ovelhas para Jesus; e
[4] Deus glorifica a si mesmo brilhando como a luz do mundo na vida daqueles que crêem em Jesus.
Essa é a ordem em que essas maneiras de Deus glorificar a si mesmo vêm no texto. Então, passemos a cada uma delas nessa mesma ordem. No final, faremos algumas aplicações para a vida: o nosso propósito de vida (na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, na vida ou na morte). Vamos lá…
João 12.31a: “Chegou a hora de julgar o mundo”.
Preste atenção no tempo verbal: “Chegou”! É agora, neste tempo, nesta época, neste momento. Não será apenas no final da história. Será agora. O dia do julgamento virá na morte de Jesus. Deixe-me dar a você três outras passagens do Evangelho de João que lançam luz sobre o que isso significa:
João 5.27: “E [Deus] lhe deu [a Cristo] autoridade para julgar a todos, porque ele é o Filho do Homem.” Note: o julgamento será executado por intermédio de Cristo.
João 5.28-29: “Não fiquem tão surpresos! Na verdade, vem o tempo em que todos os mortos ouvirão, em seus túmulos, a voz do Filho de Deus e ressuscitarão. Aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para terem vida eterna, e aqueles que continuaram a fazer o mal ressuscitarão para serem julgados.” Note: há um julgamento futuro que virá após a ressurreição de todas as pessoas – tanto para as que fizeram o bem como para as que fizeram o mal.
João 5.24: “Eu lhes digo a verdade: quem ouve minha mensagem e crê naquele que me enviou tem a vida eterna. Jamais será condenado, mas já passou da morte para a vida.” Note: aqueles que confiam em Cristo para reconciliá-los com Deus não entrarão em julgamento. Por quê? Porque eles já passaram do estado de condenação da morte para o estado de justificado da vida eterna. Seu julgamento já terá acontecido.
Quando terá acontecido?
Ora, é o que nosso texto hoje nos propõe a revelar, João 12.31a: “Chegou a hora de julgar o mundo”. Agora. Na morte de Jesus. Em outras palavras, a morte de Jesus se torna a linha divisória decisiva entre o condenado e o justificado. Se você crê (arrepende-se do pecado e crê) em Jesus, você se une a ele, na vida e na morte, e a morte dele se torna a sua morte (Gl 2.20), e a condenação dele se torna a sua condenação. Romanos 8.3:
A lei não era capaz de nos salvar por causa da fraqueza de nossa natureza humana, por isso Deus fez o que a lei era incapaz de fazer ao enviar seu Filho na semelhança de nossa natureza humana pecaminosa e apresentá-lo como sacrifício por nosso pecado. Com isso, declarou o fim do domínio do pecado sobre nós,
A morte de Cristo se torna a nossa morte, a sua vida passa a ser a nossa vida e a condenação que ele tomou sobre si mesmo na cruz se torna a nossa. Logo, quem crê em Jesus não será condenado, pois em Cristo já foi condenado; e se você não crê em Jesus (como o seu sacrifício substituto, o Cordeiro de Deus que morreu em seu lugar), você já está condenado, tanto pelo seu pecado mesmo como por sua rejeição da oferta de perdão e justificação que há em Cristo.
Deus, portanto, glorifica a si mesmo trazendo o julgamento final para dentro da geografia, do tempo e da história para que seu Filho pudesse suportar a sentença de condenação no lugar de todos os que crêem em seu nome. Isso é parte do que os anjos cantaram aos pastores em Belém: Glória a Deus e paz aos homens que vêm a Cristo com arrependimento e fé – e passam da morte para a vida eterna, e nunca entram em julgamento.
João 12.31: “Chegou a hora de julgar o mundo; agora, o governante deste mundo será expulso.”
Em que sentido Satanás foi expulso com a morte de Jesus? Sabemos que ele permanece ativo no mundo porque o Novo Testamento nos fala do dia mal e como nos proteger contra ele com a armadura de Deus (Ef 6.10ss.).
Existem, no entanto, algumas dicas sobre o significado de “o governante deste mundo será expuoso”. Jesus disse (Jo 14.30-31):
30“Não tenho muito tempo mais para falar com vocês, pois o governante deste mundo se aproxima. Ele não tem poder algum sobre mim, 31mas farei o que o Pai requer de mim, para que o mundo saiba que eu amo o Pai. Levantem-se e vamos embora!”
Sabemos de João 13.27 que Satanás entrou em Judas naquela hora final. Portanto, a imagem é que Satanás estava fazendo um movimento final contra Jesus na esperança de que ele pudesse tornar suas horas finais tão ruins a ponto de destruir sua fé e obediência, e assim minar toda a obra de salvação.
Satanás falhou, graças a Deus. E ao falhar, ele próprio foi julgado e derrotado decisivamente. Jesus disse em João 16.11 que o Espírito Santo viria para convencer o mundo “do juízo, porque o governante deste mundo já foi condenado.” O sentido em que “o governante deste mundo já foi condenado”, “expulso” ou “julgado” é que ele, Satanás, experimentou sua derrota decisiva na cruz (Cl 2.15) – não a derrota final, mas aquela que assegura a derrota final (sua cabeça foi esmagada; ele apenas se estrebucha por mais algum tempo). Jesus não cedeu. Ele se manteve confiante em Deus. Ele não pecou.
Portanto, Cristo tomou sobre si mesmo o nosso pecado. E ele desarmou Satanás da única arma que ele tinha para nos condenar – a saber, a acusação pelo nosso pecado não perdoado (Cl 2.14). Essa arma – a da acusação – foi tirada de suas mãos. O diabo está desarmado. Não temos pecado não perdoado. O sangue de Jesus cobriu nossos pecados – todos.
A cruz foi a derrota decisiva dos planos de acusação e de condenação do diabo. Ele não terá sucesso. A vitória é nossa através da fé em Cristo. É por isso que João disse em Apocalipse 12.11: “Eles o derrotaram [Satanás] pelo sangue do Cordeiro”. O sangue do Cordeiro arrancou Satanás de sua única arma de condenação: nosso pecado não perdoado. Na cruz, foi “cancelado o escrito de dívida, que era contra nós” (Cl 2.14). Glória a Deus!
O deus deste mundo foi expulso do tribunal. O caso foi arquivado. O julgamento acabou. Os pecados estão perdoados. Nosso acusador não tem registros válidos contra nós em sua pilha de processos. Ele não tem mais voz no nosso futuro. Passamos da morte para a vida. Deus glorificou a si mesmo ao derrotar seu antigo adversário no exato momento em que Satanás pensava que poderia vencer. Ah, a sabedoria (e o poder) de Deus!
João 12.32: “E, quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”.
Em outras palavras, a morte de Jesus não só torna possível a oferta livre e verdadeira de salvação a todos no mundo – como se lê em João 3.16, ela foi “para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16) –, mas sua morte também assegura a vinda de todas as suas ovelhas para a salvação – disse Jesus: “elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.16), ou seja, sua morte torna certo o ajuntamento dos eleitos de Deus – como se lê em João 11.52: “para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos” (Jo 11.52).
Jesus usa o pronome “todos” para dizer, por exemplo, que “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37, ARA). Também diz Jesus que o Filho “concede a vida eterna a todos os que lhe deste [a todos os que o Pai mesmo lhe deu]” (Jo 17.2, ARA). Este é o “todos” de João 12.32: “E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo – todos os que me destes, todas as minhas ovelhas, todos os eleitos de Deus.”
A morte de Jesus é sim uma oferta para o mundo todo (todo aquele que nele crê, cf. Jo 3.16), mas ela é eficaz apenas para aqueles que o Pai mesmo amou, escolheu, predestinou antes da fundação do mundo, e agora chama de forma eficaz. João 10.14-17:
14“Eu sou o bom pastor. Conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como meu Pai me conhece e eu o conheço; e eu sacrifico minha vida pelas ovelhas. 16Tenho outras ovelhas, que não estão neste curral. Devo trazê-las também. Elas ouvirão minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17“O Pai me ama, pois sacrifico minha vida para tomá-la de volta.
Portanto, Deus multiplica as maneiras pelas quais obtém glória na morte de seu Filho.
Ele glorifica a si mesmo na morte de Cristo, não só tornando a salvação disponível a todos, para que todo aquele que crê tenha a vida eterna (Jo 3.16), mas também assegurando com absoluta certeza o ajuntamento de todos aqueles que ele designou para a vida eterna (At 13.48) – todos os seus, todas as suas ovelhas, todos os filhos de Deus, todos os eleitos que foram escolhidos em Jesus antes da fundação do mundo. “E, quando eu for levantado da terra, atrairei todos [os meus] a mim.” E meu Pai receberá grande glória por esta salvação triunfante.
Jo 12.36: Creiam na luz [a saber, Jesus] enquanto ainda há tempo; desse modo vocês se tornarão filhos da luz”. Depois de dizer essas coisas, Jesus foi embora e se ocultou deles.
É aqui que tudo o que vimos até o momento se torna muito pessoal para você (e para mim). A glória de Deus é revelada para que a valorizemos como nosso maior tesouro. É revelada de forma suprema na morte de Jesus, porque lá o mundo é julgado, Satanás é expulso e a salvação de todos os crentes é invencivelmente garantida. A questão é: você confiará em Jesus para tudo isso? Você irá recebê-lo e guardá-lo como um presente comprado com sangue para você? Seu coração dirá (?):
— [1] Creio que meu julgamento acabou e passei da morte para a vida; [2] creio que Satanás não tem qualquer reivindicação sobre mim, nenhuma acusação contra mim, mas foi expulso do tribunal de minha justificação; e [3] creio que Cristo me comprou e me assegurou salvação eterna por seu sangue (do começo ao fim – amando-me, escolhendo-me, predestinando-me, morrendo por mim, chamando-me, preservando-me, santificando-me e, no final, glorificando-me), e agora eu não sou mais meu. Eu pertenço a ele, meu Salvador, meu Senhor e meu Deus.
Se você crê em tudo isso, Jesus mesmo diz no versículo 36 que você não apenas vê a luz de Cristo, mas que você se torna filho(a) da luz. O que significa que você compartilha da natureza luminosa e sagrada de Jesus Cristo (v. 36): “Creiam na luz enquanto ainda há tempo; desse modo vocês se tornarão filhos da luz”. Depois de dizer essas coisas, Jesus foi embora e se ocultou deles.”
Você não apenas vê a glória de Deus em Cristo, você resplandece a glória de Deus através da sua vida. Essa é a palavra e a promessa de Jesus para você (e para mim). É uma verdade graciosa. Portanto, meu amigo, minha amiga, arrependa-se e creia, receba Jesus como Senhor e Salvador de sua vida.
Usos:
Se a morte de Cristo é o meio para a nossa salvação e o modelo para a nossa imitação – como vimos na semana passada ou retrasada – o propósito da vinda de Cristo também nos revela o propósito último da vida dos crentes: glorificar o Pai, dos seguintes modos:
[1] Deus glorifica a si mesmo julgando o mundo na cruz de Cristo; nós glorificamos a Deus indo para a cruz e levando outros para a cruz (arrependimento e fé);
[2] Deus glorifica a si mesmo expulsando o governante deste mundo, Satanás; nós glorificamos a Deus submetendo todas as coisas ao senhorio de Cristo (vocação);
[3] Deus glorifica a si mesmo atraindo todas as suas ovelhas para Jesus; nós glorificamos a Deus fazendo discípulos de Jesus (discipulado);
[4] Deus glorifica a si mesmo brilhando como a luz do mundo na vida daqueles que crêem em Jesus; nós glorificamos a Deus sendo a luz de Cristo no mundo.
Para quê você está no mundo? Se morresse agora, ou a poucos dias, para quê você teria vivido? Se não foi para Cristo, morrer para você será uma tortura.
Jesus ensinou que nós estamos no mundo para a glória de Deus. Deixe-me colocar na forma como John Piper gosta de dizer:
A missão que constitui a razão da minha existência é espalhar uma paixão pela supremacia de Deus em todas as coisas, para que todos tenham a única verdadeira alegria [– Jesus Cristo]. Se eu cair morto, morrerei executando a minha missão. Se eu viver mais vinte anos, espero que no final ainda esteja cumprindo esta missão. Penso que é por isto que você existe também. Você não precisa usar minhas palavras, mas é por esta razão que todos nós estamos neste planeta Terra. A menos que partilhe desta paixão pela supremacia de Deus, sua vida não será para a glória de Deus.
Piper, sentenciando as igrejas de hoje em dia, corajosamente afirmou:
Nossas igrejas não estão cheias de Deus nem das particularidades da sua glória, só transmitem as mais inócuas generalidades. O resultado é que as pessoas não estão cheias das coisas que realmente deveriam causar impacto [e lhes dar propósito]: [Mas o quê?]
A glória de sua eternidade que ultrapassa a capacidade da nossa mente ao pensar que ele não tem começo nem fim;
A glória de seu conhecimento que faz a maior biblioteca do mundo parecer uma caixinha de fósforos e a Física Quântica semelhante a uma cartilha de primeiro ano;
A glória de sua sabedoria que nunca pôde ser aconselhada por homem algum, nem jamais poderá ser;
A glória de sua autoridade sobre céu, terra e inferno, sem a qual nenhum homem ou demônio pode se mover por um centímetro que seja;
A glória de sua providência, sem a qual nenhum pássaro cai no chão em parte alguma do mundo, nem fio de cabelo em cabeça alguma se embranquece;
A glória de sua palavra que sustenta todo o universo e todos os átomos e galáxias que nele estão;
A glória de seu poder para andar sobre a água, curar os enfermos, acalmar as tempestades, ou levantar os mortos;
A glória de sua pureza, de nunca haver pecado ou ter abrigado sequer uma atitude perversa ou pensamento malicioso;
A glória de sua fidelidade, de jamais ter quebrado sua palavra ou ter deixado uma única promessa cair no chão;
A glória de sua justiça, de considerar todas as dívidas morais do universo quitadas, seja na cruz ou no inferno;
A glória de sua paciência, para suportar a lentidão na santificação de John Piper;
A glória de sua obediência de servo, para abraçar a dor mais excruciante já concebida pela humanidade;
A glória de sua ira que um dia será revelada com tal força que homens, mulheres e crianças pedirão que pedras os esmaguem para não precisarem olhar no rosto do Cordeiro;
A glória de sua graça que justifica os ímpios;
A glória de seu amor que faz tudo isto por nós enquanto ainda somos pecadores.
Uma paixão pela supremacia de Deus sobre todas as coisas é a única maneira de você glorificar a Deus. E viver para a glória de Deus é o único propósito que verdadeiramente fará você se alegrar. Portanto, não busque dentro de si mesmos as respostas, não siga o comando do seu coração. Olhe e veja Jesus, a glória da graça e verdade de Jesus. Seja assim, salvo e justificado, busque assim santificação, e viva pela esperança da glorificação.
A missão de Cristo é o nosso modelo para viver: morrer para frutificar para a glória de Deus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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