09.05.2021
[João 15.1-8] 1“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. 2Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais. 3Vocês já foram limpos pela mensagem que eu lhes dei. 4Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Pois, assim como um ramo não pode produzir fruto se não estiver na videira, vocês também não poderão produzir frutos a menos que permaneçam em mim. 5“Sim, eu sou a videira; vocês são os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, produz muito fruto. Pois, sem mim, vocês não podem fazer coisa alguma. 6Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados. 7Mas, se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e isso lhes será concedido! 8Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.
Quando se fala em cristianismo evangélico ou protestantismo, dois extremos não podem sair do radar do cristão: o declínio dos números, de um lado e, do outro, a disparada dos números. Neste caso, estatísticas podem servir de aviso, os números falam. Explico.
O DECLÍNIO NOS NÚMEROS de conversões, batismos e membros em igrejas cristãs ou evangélicas revelam, de um lado, e neste caso de forma categórica, o desinteresse por parte das pessoas pelas questões relacionadas à fé, tais quais Cristo (senhorio), conversão (salvação e mudança de vida), compromisso (prestação de contas), comunhão (cuidado com o outro, dar e receber) e, por que não, comportamento (ética, moral e civilidade). A secularização da sociedade tornou absolutamente descartável a necessidade do evangelho de Cristo e da membresia em igreja (auto-ajuda e ONGs cumprem o papel que um dia foi do evangelho e da igreja). Isso se deu pelo afastamento das pessoas da cosmovisão teísta, o distanciamento da ideia de um Criador, a aversão a Deus e as implicações da ideia de Deus e de Cristo para a vida em cada detalhe.
Os indivíduos que um dia sentiram a necessidade de Deus ou mesmo que se importaram com o ganho de algum status social ao se juntarem aos “evangélicos” (muito comum entre os evangélicos norte-americanos em décadas passadas, inclusive entre os Batistas do Sul – a maior denominação evangélica da América do Norte), hoje acham absolutamente desnecessário e até desprezível se juntar a uma igreja – inda mais quando se leva em conta as revoluções sexuais e morais que remodelaram totalmente a nossa cultura. Hoje, quem adere ao cristianismo evangélico acaba por perder capital social ao ingressar em nossas igrejas. Nesse caso, a era do cristianismo cultural ou nominal está chegando ao fim, sobretudo nos Estados Unidos (a Europa já há muito que é considerada pós-cristã!). Até recentemente, a maioria das pessoas queria reivindicar algum tipo de identidade ou afiliação cristã, mesmo que raramente frequentassem a igreja. Cada vez mais, isso não é mais o caso. Por um lado, isso é bom. De outro, perigoso – caminha-se para a era pós-cristã na América (e talvez no Brasil, mais alguns anos adiante).
Além da secularização, o declínio nos números de novos crentes também pode revelar dois outros aspectos que merecem cuidadosa ponderação por parte das igrejas evangélicas, inclusive Batistas no Brasil e a nossa própria igreja.
Primeiro, será mesmo que estamos nos preocupando em alcançar pessoas perdidas, sem Cristo, condenadas por Deus? Ainda cremos no inferno e na condenação eterna? Levamos a sério o pecado original, a depravação total do homem e sua necessidade de nascer de novo (pela graça, por meio da fé) ao ouvir nossa pregação da cruz de Cristo no poder do Espírito? Parece que não mais cremos na eficácia dessas coisas que compõem o evangelho, pois não estamos indo mais atrás dos perdidos (com o evangelho)!
Segundo, será que nossos métodos de evangelismo ainda são tão eficazes quanto outrora? Será que não está nos faltando praticar mais o evangelismo pessoal, mais o discipulado um a um do que lançar mão de métodos e de programas de igreja? Ora, já faz muito tempo que “convidar pessoas para o culto”, para ganhá-las no culto, apenas pela pregação do pastor, deixou de ser eficaz. Hoje, como sempre, na verdade, as pessoas serão levadas a Cristo por meio de relacionamentos. Mas… A julgar por alguns números, parece que não estamos praticando a Grande Comissão – “vão e façam discípulos”. Por exemplo: qual foi a última vez (houve alguma vez?) que você levou alguém a Cristo pelo seu evangelismo pessoal e discipulado via relacionamento? Números revelam muita coisa! O DECLÍNIO NOS NÚMEROS de novos membros em muitas igrejas revela que já faz tempo que não fazemos mais discípulos do jeito do Novo Testamento.
A DISPARADA NOS NÚMEROS de adesão às igrejas cristãs ou evangélicas, por outro lado (com efeito, o que parece estar sendo o caso no Brasil nestes tempos) pode revelar, na mesma proporção de crescimento, enorme aumento de cristãos nominais nas igrejas (joio no meio do trigo). Especialmente quando se leva em conta o tipo de “evangelho” que se está pregado às pessoas nas “igrejas” – evangelho de prosperidade, saúde e bem-estar (para resolver os problemas imediatos das pessoas); evangelho de coachs (para treinamento de vencedores); evangelho de auto-estima (para afagar as carências das pessoas); evangelho pagão (com misturas de maniqueísmo, animismo, paganismo e outros “ismos” antagônicos à mensagem da cruz de Cristo); enfim, evangelhos mil que estão sendo anunciados por aí, os quais não requerem em nada que o pecador nasça de novo, arrependa-se do pecado, creia em Cristo e viva em novidade de vida pelo poder do Espírito Santo. Esses “evangelhos” atraem toda a gente, e nem requer conversão de fato e santidade de vida, afinal, não é necessário de forma alguma que alguém seja regenerado pelo Espírito de Deus para desejar vida próspera, saudável, vencedora, livre de todos os tipos de pragas e males e demônios. Não é verdade?
Trazendo lucidez, e direção, à toda essa problemática dos números, estatísticas e de crentes nominais nas igrejas (crentes carnais, crentes não praticantes, crentes desigrejados) está o texto de João capítulo 15. Nele nós temos, por metáforas, o tratamento que Jesus dá à relação entre Cristo e o cristão – de fato, entre os ramos e a videira sob os cuidados do viticultor.
Portanto, voltaremos nossa atenção mais uma vez a João 15.1-8, e desta vez nós vamos nos concentrar nos versículos 1 e 2, especialmente no 2. Versículo 1: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.” Versículo 2: “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais.” Veremos qual é a obra do viticultor (Deus Pai) e, no final, de que modo essa obra afeta o nosso cristianismo e a vida da nossa igreja.
Note: na metáfora de Jesus, a videira é o próprio Cristo, e o Pai é o viticultor. Versículo 1: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.”
A palavra grega é geōrgos, referindo-se tanto ao que lavra o solo, portanto, o agricultor ou o lavrador (2Tm 2.6; Tg 5.7) como ao que cuida da videira, portanto, o viticultor (Mt 21.33-35, 38, 40). É no sentido de viticultor que Jesus a utiliza no seu discurso. Portanto, à parte de preparar a terra, fertilizar o solo, plantar a videira, combater pestes e pragas e regá-la com água, o viticultor tem duas outras responsabilidades primárias no cuidado da videira: cortar e podar ramos. Versículo 2: “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta. Todo ramo que dá fruto, ele poda, para que produza ainda mais.”
Jesus adiciona à metáfora da videira (ele mesmo) e dos ramos (seus discípulos) a metáfora do viticultor (seu Pai) para demonstrar o papel duplo do Pai na união de Cristo com seus discípulos para a frutificação. Deus arranca da comunhão de seu povo os ramos infrutíferos e ele apara os ramos frutíferos. Ele corta o que não tem vida e cultiva os vivos. Destrói o ímpio e disciplina o justo. Como o próprio Cristo disse na parábola da candeia em Lucas 8.18: “Portanto, ouçam com atenção! Pois ao que tem, mais lhe será dado, mas do que não tem, até o que pensa ter lhe será tomado”.
Videiras, ocasionalmente, crescem ramos improdutivos ou estéreis; e quando isso acontece, o viticultor imediatamente coloca mãos à obra, como descreveu Merrill Tenney:
Viticultura… consiste principalmente na poda. Na poda de uma videira, dois princípios são geralmente observados: primeiro, todo galho morto deve ser implacavelmente removido; e segundo, o galho vivo deve ser podado drasticamente. Galho morto abriga insetos e doença e pode causar o apodrecimento da videira, sem mencionar que são improdutivos e feios. O galho vivo deve ser aparado para evitar o tipo de crescimento exagerado que faz o ramo roubar para si mesmo a maior parte da vida devida ao fruto.
As videiras, no início da primavera, parecem formar uma coleção de tocos sangrados e estéreis; mas no outono eles são preenchidos de luxuriantes uvas roxas. Assim como o viticultor empunha a faca de corte e de poda em suas videiras, Deus corta galhos mortos de entre seus santos, e muitas vezes poda o galho vivo, a ponto de seu método parecer cruel. No entanto, daqueles que mais sofrem com a poda é que vem a maior fecundidade.
Colin G. Kruse, em seu comentário do Evangelho de João, complementou:
A poda também era uma parte essencial da prática vitícola do primeiro século, como é hoje. A primeira poda ocorre na primavera, quando as videiras estão em floração. Isso envolve quatro operações: (1) remover as pontas em crescimento dos brotos mais vigorosos para que não cresçam muito rapidamente; (2) podar o que exceder de mais ou menos um metro a partir do pé dos galhos em crescimento para evitar que galhos inteiros sejam arrancados pelo vento; (3) arrancar alguns cachos de flores ou uvas para que os restantes produzam mais frutos de melhor qualidade; e (4) cortar brotos que surjam do solo, do tronco e dos ramos principais de modo que a força da videira não seja explorada pelos brotos. A poda da primavera não envolve a remoção de galhos secos e a subsequente queima dos mesmos.
A segunda poda ocorre no outono, após a colheita das uvas e a dormência das videiras. Isso envolve a remoção de ramos indesejados, os que produziram frutos na temporada anterior, mas não produziram frutos na temporada finda. Também envolve a poda dos ramos desejados (os brotos dos ramos com um ano que produzirão frutos no ano seguinte) para garantir a produção máxima de frutos. Após a poda do outono, o que foi aparado e cortado, incluindo muitos ramos ressecados, são recolhidos e queimados.
A obra do viticultor, portanto, resume-se a garantir a vida saudável e a frutificação abundante dos ramos na videira. Agora, pegue essas duas obras do vinicultor, uma de cada vez: a primeira é a obra de julgamento e a segunda é a obra de disciplina – ambas, como veremos, para garantir vida e frutos na videira.
Versículo 2a: “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele – o viticultor, o meu Pai – corta.” A interpretação não pode ser a de “erguer” o ramo caído no chão que não está frutificando, como creem e pregam alguns cristãos (inclusive o renomado Hernandes Dias Lopes em seu comentário bíblico de João). Devido a esse equívoco comum, cabe aqui uma nota de esclarecimento quanto ao grego airô – cortar, arrancar, levantar, ergue.
D. A. Carson (p. 519-520 em O Comentário de João, Shedd Publicações) relata que diversos escritores populares, remetendo direta ou indiretamente a A. W. Pink, afirmam que airô não significa nessa passagem “cortar” e sim “erguer [do chão]” – isto é, os ramos sem fruto são “erguidos” para que possam ser expostos ao sol que lhes foi negado e, assim, se tornem ricamente frutíferos.
Entretanto, de suas 24 ocorrências só no Evangelho de João, apenas 8 vezes airô pode ser traduzido por “pegar” ou “erguer” (5.8-12; 8.59; 10.18, 24); as outras 16 vezes airô é traduzido como “tirar” ou “remover” (1.29; 2.16; 11.39, 41, 48; 15.2; 16.22; 17.15; 19.15, 31, 38; 20.1, 2, 13, 15). O mais importante, embora o verbo por si mesmo possa de fato ter o significado de “erguer”, é que no contexto de viticultura “erguer” não é o significado mais comum (como vimos nas citações anteriores). Apesar de argumentos contrários, não há forte evidência para confirmar que ramos mais baixos ou caídos de videiras fossem “erguidos” do chão.
Ainda mais importante que a utilização do verbo grego e a prática da viticultura: o contexto da própria passagem. Veja, o forte contraste entre cortar e cultivar, arrancar e podar, remover e revigorar do versículo 2 – na interpretação tradicional –, prepara o terreno para a linguagem forte do versículo 6: “Quem não permanece em mim é jogado fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados.” Ora, a força desse argumento não vem do nada aqui no versículo 6. Trata-se da conclusão do trabalho do viticultor nos versos 2 e 6: “[v. 2:] Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta… [v. 6:] joga fora, como um ramo imprestável, e seca. Esses ramos são ajuntados num monte para serem queimados.”
Jesus usou outra metáfora em Mateus 13 (na explicação da parábola do trigo e do joio) para apontar em uma direção semelhante à de João 15.2 e 6:
Mateus 13.38-43 38O campo é o mundo, e as boas sementes são o povo do reino. O joio são as pessoas que pertencem ao maligno, 39e o inimigo que plantou o joio no meio do trigo é o diabo. A colheita é o fim dos tempos, e os que fazem a colheita são os anjos. 40“Da mesma forma que o joio é separado e queimado no fogo, assim será no fim dos tempos. 41O Filho do Homem enviará seus anjos, e eles removerão do reino tudo que produz pecado e todos que praticam o mal 42e os lançarão numa fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. 43Então os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai. Quem é capaz de ouvir, ouça com atenção!”
PORTANTO: A primeira obra do viticultor (o Pai) é o cortar, arrancar, jogar fora – é o julgamento dos ímpios, parte desse julgamento agora e parte dele no final dos tempos.
Unido e então perdido?
O que levanta a questão: pode um ramo, um discípulo verdadeiro de Jesus ter a vida eterna em união com Cristo, mas perdê-la e ser condenado no julgamento? Afinal, note bem, o texto diz assim (Jo 15.2a): “Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta.” Não é verdade? Logo, a indagação: pode o crente perder a salvação? É possível alguém ter a vida eterna e depois perdê-la? É possível estar unido a Cristo e depois se destacar dele, desunir-se de Cristo?
Grade parte do argumento daqueles que ensinam que a salvação eterna pode ser perdida se baseia em João 15.2. Portanto, a pergunta é mais do que importante neste ponto de nosso estudo: é possível estar “em Cristo” e depois ser “amaldiçoado por Cristo” para sempre? Cristo não preserva os seus eternamente? Ora, não pode ser a respeito de perda de salvação que Jesus está falando em João 15.2! Por que não? Veja:
João 6.36-40 36Mas vocês não creram em mim, embora me tenham visto. 37Contudo, aqueles que o Pai me dá virão a mim, e eu jamais os rejeitarei. 38Pois desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou, e não minha própria vontade. 39E esta é a vontade de Deus: que eu não perca um sequer de todos que ele me deu, mas que ressuscite todos no último dia. 40Pois é a vontade de meu Pai que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna. E eu os ressuscitarei no último dia”.
João 10.25-30 25Jesus respondeu: “Eu já lhes disse, e vocês não creram em mim. A prova são as obras que realizo em nome de meu Pai. 26Mas vocês não creem em mim porque não são minhas ovelhas. 27Minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. 28Eu lhes dou a vida eterna, e elas nunca morrerão. Ninguém pode arrancá-las de minha mão, 29pois meu Pai as deu a mim, e ele é mais poderoso que todos. Ninguém pode arrancá-las da mão de meu Pai. 30O Pai e eu somos um”.
Dificilmente haveria declarações mais fortes dos que as que lemos sobre a segurança eterna daqueles que o Pai dá a Jesus, os quais jamais perecerão. João 6.39: “a vontade de Deus [é] que eu não perca um sequer de todos que ele me deu, mas que ressuscite todos no último dia”. E João 10.28-30: “meu Pai as deu a mim, e ele é mais poderoso que todos. Ninguém pode arrancá-las da minha mão e da mão de meu Pai. O Pai e eu somos um”. A segurança eterna dos santos está ancorada no tripé da vontade soberana de Deus Pai, na obra sacrificial completa de Deus Filho (da eleição à glorificação dos crentes em Cristo) e na unidade indivisível do Pai e do Filho. Logo, o crente, o crente de verdade não perde salvação! Nada poderá o separar do amor de Deus em Cristo.
“Crentes” que não são crentes de verdade
Então, quem são os ramos que estão “em mim [Cristo]” (Jo 15.2a), mas que são cortados, jogados fora como imprestáveis, ressecados no sol e depois queimados pelo fogo do viticultor (Jo 15.2a, 6)? Esses são os que não são crentes de verdade.
A chave é perceber que no Evangelho de João existem crentes que não são crentes verdadeiros – gente que, por exemplo, em face dos milagres, cria, e em quem Jesus não confiava por conhecer a natureza humana das pessoas (Jo 2.23-24). A leitura cuidadosa deste Evangelho revelará ainda que há discípulos que não são discípulos verdadeiros, posto que com o tempo, quando são desagradados se afastam dele e o abandonam (Jo 6.66). Inda mais intrigante: esse Evangelho nos mostra os Doze apóstolos escolhidos pelo próprio Cristo, e um deles é “um diabo” (Jo 6.70), e Jesus sabia disso desde o início quando o escolheu – “Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem não acreditava nele e quem iria traí-lo. (Jo 6.64). Dessa forma, existem ramos que não são ramos verdadeiros. Eles estão “em mim”, mas não estão verdadeiramente “em mim”.
Por exemplo, em João 8.30 está escrito: “Muitos que o ouviram dizer essas coisas creram nele.” Mas ouça o versículo seguinte, João 8.31: “Jesus disse aos judeus que creram nele: “Vocês são verdadeiramente meus discípulos se permanecerem fiéis a meus ensinamentos.” Seis versículos adiante, o Senhor disse a esses então chamados “crentes”: “Sim, eu sei que vocês são descendentes de Abraão. E, no entanto, procuram me matar, pois não há lugar em seu coração para a minha mensagem.” (Jo 8.37).
Portanto, veja, não se trata da fé de um “discípulo” inferior. É a “fé” dos caçadores de milagres; fé daqueles que de algum modo buscavam benefícios apenas para esta vida. Essa era uma “fé” que fornecia algum tipo de apego a Jesus, mas não era verdadeira. A mesma coisa se aplica à palavra “discípulo”. Em João 6.66, João escreveu: “Nesse momento, muitos de seus discípulos [falsos discípulo] se afastaram dele e o abandonaram.” O apóstolo João, mais tarde, conseguiu fazer sentido de tudo isso:
1João 2.18-19 18Filhinhos, chegou a hora final. Vocês ouviram que o anticristo está por vir, e muitos anticristos já apareceram. Por isso sabemos que chegou a hora final. 19Eles [muitos anticristos] saíram de nosso meio, mas, na verdade, nunca foram dos nossos; do contrário, teriam permanecido [gr., μένω, mesmo verbo usado em João 15 para “permanecer” em Cristo] conosco. Quando saíram, mostraram que não eram dos nossos.
O autor de Hebreus também conheceu esse tipo de “crente” que não é crente de verdade, “discípulo” que não é discípulo de verdade, “cristão” Nutella, que não é raiz:
Hebreus 3.12-14 12Portanto, irmãos, cuidem para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo que os desvie do Deus vivo. 13Advirtam uns aos outros todos os dias, enquanto ainda é “hoje”, para que nenhum de vocês seja enganado pelo pecado e fique endurecido. 14Porque nos tornaremos participantes de Cristo, se de fato mantivermos firme até o fim a confiança que nele depositamos no início.
Esse tipo de “crente”, falso crente, fake crente, de algum modo superficial, confessa Cristo, une-se à igreja e se beneficia de algum modo da luz do evangelho na vida, mas amam mais o pecado que Cristo:
Hebreus 6.4-6 4Pois é impossível trazer de volta ao arrependimento aqueles que já foram iluminados, que já experimentaram as dádivas celestiais e se tornaram participantes do Espírito Santo, 5que provaram a bondade da palavra de Deus e os poderes do mundo por vir, 6e que depois se desviaram. Sim, é impossível trazê-los de volta ao arrependimento, pois, ao rejeitar o Filho de Deus [enquanto rejeitam o Filho de Deus; tendo em vista que vivem rejeitando o Filho de Deus], eles voltaram a pregá-lo na cruz, expondo-o à vergonha pública.
Esse falso crente, não obstante à luz do evangelho e dos benefícios para a perseverança do crente para a salvação na comunhão da igreja, acaba se afastando da própria igreja e no final serão destruídos:
Hebreus 10.23-27 23Apeguemo-nos firmemente, sem vacilar, à esperança que professamos, porque Deus é fiel para cumprir sua promessa. 24Pensemos em como motivar uns aos outros na prática do amor e das boas obras. 25E não deixemos de nos reunir, como fazem alguns, mas encorajemo-nos mutuamente, sobretudo agora que o dia está próximo. 26Se continuamos a pecar deliberadamente depois de ter recebido o conhecimento da verdade [iluminação, dádivas, bondade, Hb 6.4-6], já não há sacrifício que cubra esses pecados [posto que o vivem rejeitando]. 27Há somente a assustadora expectativa do julgamento e do fogo intenso que consumirá os inimigos.
ENTÃO, NOTE: há um tipo de discípulo e um tipo de crente que se desvia e cai da fé. Foi por isso que Jesus afirmou: “Vocês são verdadeiramente meus discípulos se permanecerem fiéis a meus ensinamentos” (Jo 8.31). Ou seja: existem discípulos e existem “discípulos de verdade”; existem crentes e existem “crentes de verdade”. Existem ramos e “ramos de verdade”. Esses falsos crentes, mais cedo ou mais tarde, ou serão arrancados ou irão embora. Mas se não forem, serão terrivelmente desmascarados no final:
Mateus 7.21-23 21“Nem todos que me chamam: ‘Senhor! Senhor!’ entrarão no reino dos céus, mas apenas aqueles que, de fato, fazem a vontade de meu Pai, que está no céu. 2No dia do juízo, muitos me dirão: ‘Senhor! Senhor! Não profetizamos em teu nome, não expulsamos demônios em teu nome e não realizamos muitos milagres em teu nome?’. 23Eu, porém, responderei: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim, vocês que desobedecem à lei!’.”
Judas Iscariotes como um exemplo
Judas Iscariotes é o caso mais flagrante de um ramo que esteve unido a Jesus por três anos, mas foi arrancado e jogado fora por não ser ramo de verdade. João 6.63-64: “as palavras que eu lhes disse são espírito e vida. Mas alguns de vocês não creem em mim. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem não acreditava nele e quem iria traí-lo.”
Portanto, a resposta à nossa pergunta – Uma pessoa pode nascer de novo e depois perder a salvação? Uma pessoa pode ser filha de Deus pela fé e depois ser condenada eternamente ao inferno? Uma pessoa pode ser uma das ovelhas de Cristo e deixar de ser ovelha? Um crente pode ser um verdadeiro discípulo e deixar de ser discípulo? – nossa resposta é não. Os ramos cortados e jogados fora para serem queimados (Jo 15.2 e 6) são os chamados “crentes” de João 2.23 e 8.30, os chamados “discípulos” de João 6.66 e o Judas Iscariotes de João 6.65. Eles estão na videira, “em mim”, mas não estão verdadeiramente “em mim” – nunca estiveram. Não são de verdade.
A ligação explícita entre esses falsos crentes e João 15 é o versículo 8: “Quando vocês produzem muitos frutos, trazem grande glória a meu Pai e demonstram que são meus discípulos de verdade.” Essa passagem é paralela a João 8.31: “Vocês são verdadeiramente meus discípulos se permanecerem fiéis a meus ensinamentos.”
IMPORTANTE: permanecer na videira não o torna um discípulo de verdade; permanecer na videira prova que você é um discípulo de verdade. Discípulos de verdade permanecem e frutificam, glorificando a graça de Deus. Falsos discípulos vão embora ou são arrancados, cortados e jogados fora para a condenação, glorificando a justiça de Deus.
Agora, de volta à metáfora de João 15. A razão de Jesus não dizer apenas: “Eu sou a videira verdadeira; vocês são os ramos”, mas incluir também o viticultor na metáfora (“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador”, versículo 1), é que o Senhor deseja que conheçamos duas grandes obras que o Pai realiza ao cuidar da videira e dos ramos. Uma é que Deus corta os ramos infrutíferos e a outra é que Deus poda os ramos frutíferos. Ele corta o que não tem vida e cultiva os vivos. Ele destrói e disciplina.
O Senhor Jesus estava preparando seus discípulos para dois grandes inimigos que sempre atacam a igreja: [1] os falsos crentes que a corroem por dentro, e às vezes desertam e vão embora atirando na igreja; e [2] a fornalha da perseguição que consome por fora. Fraude de dentro e fogo de fora. Simulação de dentro e sofrimento de fora. Impostores de dentro e insurgentes de fora.
Hoje nós vimos o primeiro tipo – em face do qual Jesus reagiu, dizendo: “Não tema, meu pequeno rebanho. Não pense que os desertores (os Judas Iscariotes e os falsos discípulos) terão sucesso. Eles serão cortados no devido tempo, jogados fora, ressecarão e serão queimados. O viticultor tem tudo sob controle. A igreja jamais será implodida! Não há cavalo de Tróia que a destrua.”
Deus permitindo, na próxima semana, voltaremos a este texto. Precisamos ver a outra obra do viticultor (a obra de disciplina): podar, cultivar para frutificar. Naquela ocasião, aprenderemos sobre A VIDA NA VIDEIRA, continuaremos examinando a obra do viticultor e o resultado de nossa união com Cristo na nossa permanência frutífera em Cristo Jesus. Dentre outras coisas, veremos: [1] como Deus poda os ramos verdadeiros; [2] o significado de permanecer em Cristo; [3] quais são os frutos que o ramo frutífero produz; [4] qual é o sabor dessa vida unida a Cristo. Ainda há muito aqui nesta passagem.
Hoje, ficamos com as seguintes aplicações:
De fato, é Deus quem corta e arranca e joga fora. Mas isso não significa dizer que a igreja local não pode agir para praticar a disciplina. Ela deve! Afinal, um dos modos de Deus cortar é pela disciplina praticada pela própria igreja – Jesus se reúne com aqueles que se reúnem para ligar e desligar (Mt 18.15-20). Deus nos chama, como igreja, a julgar sim, pelos frutos, os que são de dentro (1Co 5.12-13). Por isso que somos regularmente chamados a examinarmos a nós mesmos para não sermos julgados pelo Senhor (1Co 11.28-32).
Você é ramo da videira? Que tipo de ramo é você? Frutifica ou não dá fruto?
É discípulo de verdade ou falso cristão?
Una-se a Cristo pela fé – arrependimento e fé.
Insira-se em uma igreja local – na nossa, por exemplo.
Isso é obra do viticultor na sua vida: fé e vida na família da fé. A vida de videira é você unido a Cristo pela fé e aos demais ramos da mesma videira para a glória de Deus na frutificação.
S.D.G. L.B.Peixoto
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