17.09.2017
DEUS EM CARNE E OSSO
João 1.14
Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
Em carne e osso
“Em carne e osso” é a expressão que usamos para dizer que alguém está “fisicamente presente. Dizemos, por exemplo: “A atriz apareceu na noite de estreia, desta vez em carne e osso.” Ou seja: ela não apareceu através de vídeo, foto ou nota lida por alguém; ela esteve de corpo presente, foi lá pessoalmente, era ela mesma em pessoa na hora do espetáculo.
Em carne e osso as coisas são mais atraentes e ficam mais interessantes. Aristóteles, na sentença inicial de Metafísica — sua obra clássica, disse que todo ser humano tem, por natureza, desejo de conhecer. Prova disso, explica o filósofo, é o prazer das sensações, dentre as quais, a principal delas são as sensações visuais. Somos todos curiosos: queremos ver e tocar (agora, tem gente que vê com as mãos!). Aristóteles argumenta que
não só para agir, mas até quando não nos propomos fazer coisa alguma, preferimos, por assim dizer, a visão aos demais [sentidos]. O motivo é que a visão é, de todos os sentidos, a que melhor nos faz conhecer as coisas e mais detalhes nos apresenta.
Tudo isso é tão impressionante que Disney e Broadway, tentando ampliar as suas bilheterias, resolveram ressuscitar alguns grandes espetáculos para as telas. Como eles estão fazendo? Pegando animações (desenhos animados) de sucesso e colocando-as nas telas do cinema. O mais recente foi A Bela e a Fera, filmado com um orçamento de 160 milhões de dólares. Preste atenção no vocabulário da colunista Elaine Guerini (de Nova York para a Isto É em 10.03.17):
Em carne e osso, “A Bela e a Fera” mais uma vez retrata o improvável romance entre a jovem filha de um mercador em ruínas (Emma Watson) e um príncipe amaldiçoado a viver como monstro (Dan Stevens). A nova versão busca recriar a atmosfera mágica e romântica do desenho, tirando proveito da sofisticação atingida hoje nos efeitos especiais — a ponto de a protagonista interagir perfeitamente com a Fera. Embora tenha sido gerada por computador, a performance do monstro envolveu a captura dos movimentos e das expressões do ator, deixando-a mais realista.
Percebeu? Em carne e osso fica mais realista, e quanto mais natural à visão, mais vibrante e cativante para a mente e o coração. Essa gente não é tola! Eles sabem explorar os sentidos que Deus nos deu: visão, audição, tato, olfato e paladar.
Observem, por exemplo, o que Bill Condon, diretor de adaptação do filme A Bela e a Fera, comentou sobre o uso de outro sentido fundamental na arte do cinema e da produção de musicais — a audição:
O segmento se sofisticou, usando as canções para ajudar a contar a história e não apenas para acentuar os sentimentos. Hoje, quando o personagem termina de cantar uma música, ele avançou na trama, não estando mais no ponto dramático do início da canção. O número musical precisa fazer a história seguir em frente.
Li isto e fiquei pensando: Meu Deus! Como os músicos evangélicos, como os compositores cristãos, como as igrejas evangélicas precisam reaver este conceito! A música, como um dia foi na igreja, deve servir para muito mais do que apenas “acentuar sentimentos”; ela deve servir “para ajudar a contar a história” do evangelho; a música deve servir para “fazer a história [do evangelho] seguir em frente”. Quando nós terminamos de cantar, nós não podemos estar mais no mesmo “ponto”; precisamos ter “avançado na trama” do evangelho. Ô meu povo! Que pena! Como os crentes estão aquém desta realidade!
O plano de Deus
Mas, o que tudo isso tem a ver com o nosso texto (Jo 1.14) para hoje? Observem:
[…] a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
Vejam que em Jesus nós temos Deus em carne e osso; nele nós podemos ver e ouvir Deus. Mas qual é o valor desta doutrina para nós seres humanos? É sobre isto que pensaremos hoje à noite. Veremos que Deus se tornou carne e osso para 1resgatar o pecador, se 2relacionar com seu povo e 3reorientar os que estavam perdidos.
1. Deus em carne e osso para resgatar o pecador
Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, […]
João Calvino, comentando o nosso versículo (Jo 1.14), foi poético ao escrever que Deus filho, “vestido de nossa carne, manifestou-se publicamente ao mundo”. Que linda expressão!
Sarx, a palavra grega para carne, dentre outras coisas, significa: o material que cobre os ossos de um corpo humano ou animal (1Co 15.39); o corpo físico como entidade funcional — como substância e entidade viva, limitada (Ef 5.29; 1Co 7.28), o instrumento de várias ações e expressões (Gl 5.13), algo que atrai (2Pe 2.10). Por que João, inspirado por Deus, disse que a Palavra eterna se fez carne ou tornou-se ser humano? Eis o argumento de João Calvino:
[João] queria mostrar a que estado desprezível e imundo o Filho de Deus desceu, deixando a amplidão de sua glória celestial por nossa causa. Quando a Escritura fala do homem em seu caráter deprimente, ela o chama de ‘carne’. Quão imensurável é a distância entre a glória espiritual da Palavra de Deus e a abominável insignificância de nossa carne! No entanto, o Filho de Deus se humilhou de forma tão extrema que tomou para si essa carne permeada de profunda miséria. [Agora,] Carne aqui não é usada para a natureza depravada (como em Paulo), mas para o homem mortal. Denota desdenhosamente sua natureza frágil e transitória: “os seres humanos — a carne — são como capim; sua beleza passa depressa, como as flores do campo” [Is 40.6].
O objetivo é nos mostrar que — contrário do que muitos pensam e pregam ainda hoje (p.ex., testemunhas de Jeová, mórmons, muçulmanos, judeus, etc.) — Cristo, sem deixar de ser Deus, assumiu sim a nossa humanidade; em Cristo, como diz J. Calvino,
as duas naturezas foram unidas numa só pessoa, de tal forma que um e o mesmo Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Segundo: a unidade de sua pessoa não impede suas naturezas de permanecerem distintas, de tal modo que a divindade retém o que lhe é inerente, e a humanidade, de igual modo, mantém separadamente o que lhe pertence. […] Além disso, visto que [João] atribui distintamente ao homem Cristo o título ‘a Palavra’, segue-se que, quando se fez homem, Cristo não cessou de ser o que sempre fora antes, e que nada foi mudado naquela eterna essência do Deus que assumiu a carne. Em suma, o Filho de Deus começou a ser homem de tal forma que ele é ainda aquela eterna Palavra que jamais teve princípio temporal.
Por que a Palavra eterna teve que se tornar carne? Deixemos o próprio João falar:
Jo 3.16-18 | 16Porque Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho único [a Palavra eterna se fez carne, viveu sem pecado e morreu no lugar do pecador], para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. 17Deus enviou seu Filho ao mundo [a Palavra eterna se fez carne] não para condenar o mundo, mas para salvá-lo por meio dele. 18Não há condenação alguma para quem crê nele. Mas quem não crê nele já está condenado por não crer no Filho único de Deus.
Deus se fez carne, viveu sem pecado e morreu no lugar do pecador, pagando a dívida em seu lugar, para salvar, para trazer à vida, para resgatar da morte quem crê:
Jo 5.24 | Eu lhes digo a verdade: quem ouve minha mensagem e crê naquele que me enviou tem a vida eterna. Jamais será condenado, mas já passou da morte para a vida.
Por que Deus Filho teve que assumir a natureza humana sem, contudo, deixar de ser Deus? Sei que tocamos neste assunto lá no início desta série no evangelho de João (segunda mensagem), mas, devido à centralidade do tema para a fé cristã, peço permissão para revê-lo com vocês. Por que Jesus tinha que ser Deus em natureza humana?
Se Cristo fosse só homem, por causa do pecado, ele não estaria qualificado para a obra de salvar outro pecador; e mesmo que ele fosse perfeito e sem pecado, não suportaria sobre si a tentação, o peso do pecado do mundo e da ira de Deus sobre si, nem teria valor o bastante para redimir tantos pecadores. Se Cristo fosse só Deus, ele não seria um representante legal da raça humana. Estaríamos todos perdidos. Cristo tinha que ser Deus e homem. Do contrário não haveria salvação.
J. C. Ryle disse que por mais que possa parecer, à primeira vista, desnecessária, enfadonha e excessivamente minuciosa, é exatamente por se negligenciar essa doutrina
que muitas almas têm sido levadas à ruína. A união indivisível e constante das duas naturezas da pessoa de Cristo é exatamente o que atribui infinito valor à sua mediação e que também o qualifica a ser o Mediador que os pecadores carecem [para a salvação].
Portanto, Deus se tornou carne e osso para resgatar o pecador.
2. Deus em carne e osso para se relacionar com o seu povo
[…] e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade.
Em outras palavras (J. Calvino), Jesus “não só surgiu por um instante, mas viveu entre os homens enquanto cumpria a trajetória de seu ofício”. Essa verdade era totalmente inconcebível para o pensamento dos gregos e dos pagãos que antecederam João.
Cria-se numa mente criadora ou num ser criador; acreditava-se num logos, numa razão por traz de tudo. Mas dizer que esse logos, essa mente ou razão, esse ser ou entidade se tornou um de nós, sem perder sua essência divina — dizer que Deus assumiu a forma humana e habitou entre nós — era algo inimaginável tanto para pagãos como para gregos.
Agostinho (354 d.C. a 430 d.C.), considerado um dos maiores teólogos da igreja em todos os tempos, não era um erudito qualquer. Ele bebeu profundamente, por exemplo, das águas da filosofia platônica, e passou anos absorvendo o sistema religioso e filosófico dos maniqueus. No entanto, como ele disse mais tarde, após sua conversão ao cristianismo, embora tenha lido tudo sobre a Palavra (gr.: logos) em livros não-cristãos — i.e., que a Palavra (logos) era Deus e tinha sido ativa na criação do mundo — no entanto, jamais tinha lido que a “a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós”, nada disso constava nos documentos que ele havia consultado ou estudado.
A revelação que João recebeu e repassou, portanto, trouxe algo novo para o pensamento humano: Deus habita e se relaciona, pessoalmente, com o seu povo na pessoa de Jesus Cristo. Tal ideia, no entanto, era loucura para os gregos e escândalo para os judeus (1Co 1.23). Continua, ainda hoje, sendo loucura para as mentes modernas e escândalo para algumas pessoas piedoso. Apesar de tudo, é a verdade sobre Deus.
Quando João escreveu esse versículo (Jo 1.14), ele se referia, sem dúvida, aos dias gloriosos dos hebreus através do deserto do Sinai — Deus era com eles; o apóstolo estava afirmando que, embora aqueles tivessem sido ótimos dias para Israel, em nossos dias, algo muito melhor aconteceu: “a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós”.
O verbo habitar pode ser traduzido como armar tenda ou tabernacular entre nós; trata-se de uma expressão muito significativa, pois aponta para o tabernáculo ou o templo de Deus erigido no meio do povo de Israel.
O tabernáculo era o centro de adoração e o objeto singular, o mais importante, no acampamento da nação eleita. Tudo sobre o tabernáculo — dimensões, mobiliário, arranjo, cores e funções— havia sido projetado para comunicar verdades espirituais, apontado para Cristo. Por isso, muito de tudo era tipologia, previsão, antecipação profética do ofício que Jesus Cristo exerceria ou da obra que ele realizaria, quando finalmente armasse sua tenda entre nós ou se encarnasse. Veja, por exemplo, o livro de Hebreus que fala desse cumprimento.
Deus se fez carne e osso em Jesus Cristo, armou tenda entre nós, para redimir e se relacionar com seu povo. Ele veio para o que é seu, muitos o rejeitaram e ainda o rejeitam, mas todos quantos o recebem passam a desfrutar de todos os direitos como filhos de Deus (Jo 1.10-13), além de todas as delícias da comunhão com Deus Pai. Amor igual não há em lugar nenhum na história do ser humano.
O relacionamento com Deus em Cristo, no entanto, não é de qualquer jeito; ele segue os termos do próprio Deus:
[…] e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade.
Veja que o nosso relacionamento com Deus é possibilitado e é pautado por essas duas características de seu ser, essas duas expressões de sua glória: graça e verdade.
Pensemos, por exemplo, sobre a revelação de Deus no tabernáculo, lá na história de Israel — o povo saindo do Egito, passando pelo deserto, até chegar à Canaã. Vejamos lá o que havia de graça e de verdade, e que nos aponta para Deus, para o nosso relacionamento com Deus através de Jesus Cristo (que armou tenda entre nós).
Cheio de graça… Deus tomou a iniciativa e veio em nosso socorro — libertando-nos da escravidão do pecado. Ele nos amou primeiro. Fez-se Deus conosco, habitou entre nós, os seus; tirou-nos do Egito do pecado, e nos guia pelo deserto da existência, conduzindo-nos à Jerusalém Celestial. Do início ao fim, ao longo de todo o caminho, ele nos encanta com a sua glória. Ele também organiza nossas vidas ao redor dele (da mesma forma que as tribos se organizavam ao redor do tabernáculo), impedindo-nos de viver à deriva do pecado. Essa foi a graça que João viu bem de perto na pessoa de Jesus Cristo — atraindo para si pecadores, a fim de libertá-los, salvá-los do pecado.
…e verdade. Deus confrontou o pecado, apontando para Cristo através da lei; abrindo caminho pelo sangue do cordeiro, pagando, assim, pelo pecado do pecador. Agora ele rege nossas vidas pela lei (a palavra de Deus, a Bíblia), que foi cumprida em Jesus, mas que está gravada nos corações de seus filhos. João viu de perto a verdade em Jesus Cristo — a revelação do próprio Deus, que é a verdade e por ela nos guia.
Portanto, a graça nos justifica diante de Deus (nos atrai) e a verdade nos revela a justiça de Deus. Em Cristo, Deus é justo (verdade, cruz) e justificador (graça, salvação) — Rm 3.25-26; nele, em Jesus Cristo, nós nos relacionamos com o Deus trino, em doce comunhão de graça (Deus Filho), amor (Deus Pai) e consolação (Deus Espírito Santo).
Deus se tornou carne e osso para se relacionar com seu povo. Amor igual não há!
3. Deus em carne e osso para reorientar os que estavam perdidos
Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
Veja que a encarnação de Jesus, contrário do que hoje muito se pensa e tanto se prega, serviu para, em última instância, glorificar a Deus e não para exaltar o homem pecador. Alguns, na tentativa de destacar o amor de Deus pelo pecador, acabam exaltando tanto o valor da criatura que precisa ser salva, que a coloca acima do próprio Salvador.
Para essas pessoas, o amor de Deus se resume a fazer o melhor para elas nos termos delas mesmas, tornando-as importantes diante dos outros ou fazendo-as se sentir importantes. Dessa forma, o fim principal de tudo o que Deus fez em Jesus foi exaltar o ser humano. Mas isso é egolatria. Não é cristianismo.
Qual foi o motivo principal da encarnação de Jesus? Revelar a glória de Deus. É isto que está dito por João. Vejam (Jo 1.14) — observem os pronomes sempre na terceira pessoa do singular, nunca na primeira pessoa, apontando-nos para um Outro:
Assim, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
João nos ensina que Jesus nasceu, viveu, morreu no lugar do pecador e ressuscitou para, em última instância, desfilar a glória de Deus, para mostrar as perfeições e as qualidades de Deus, na minha salvação, levando-me a fazer da gloria dele a alegria da minha alegria, o prazer do meu prazer. Isso, sim, é amor.
Amor não é alguém fazer algo por mim para encher minha bola. Essa atitude pode, na verdade, levar-me à destruição (cf. Jo 5.41-44). Amor é quando nós fazemos alguém provar e desfrutar do que há de melhor para ele ou ela e de mais delicioso ou deleitoso para o coração dele ou dela — i.e., levá-lo(a) à glória de Deus (1Pe 3.18). Amor é dar para o outro o que ele realmente precisa para viver, e que, no final, lhe dará o melhor prazer, mesmo que a princípio ele discorde de mim, que o ama.
Não é essa a tarefa dos pais, por exemplo? O que é o amor de um pai ou de uma mãe? Dar aos filhos o melhor nos termos do que é certo e direito. Amor de pai e de mãe não deve consistir em fazer os filhos se sentirem bem, contra toda a verdade e todo o direito, enchendo a bola deles com coisas, recompensas, elogios ou aprovações, para que se sintam amados e valorizados. Esse seria o caminho da ruína para os filhos.
Amor de pai e de mãe proporciona aos filhos todo o ambiente e todas as condições para que eles encontrem o caminho da virtude. Assim, um dia eles irão se regozijar porque papai e mamãe conduziram-nos pelos caminhos certos. Não é mesmo?
Só que hoje não é assim. Hoje as pessoas acham que amor é fazer o outro se sentir bem consigo mesmo. Amor é não contrariar o outro. É dar-lhe tudo o que ele quer ou pensa que precisa para se sentir bem consigo mesmo, amado e especial diante dos outros. Daí a ruína das últimas gerações. Por isso o caos que está por vir nas gerações futuras.
Essa mentalidade do que seja o amor destruiu o evangelho de Jesus Cristo. Hoje, o amor de Deus se resumiu a Deus ter que ser e fazer tudo para que eu me sinta bem e amado nos termos que eu ou a sociedade definimos ser o bom viver. Deus é Deus e Deus é bom porque e quando ele é “fiel a mim”. Gente, esse é um caminho de morte.
Deus se fez carne e osso em Jesus para nos resgatar (salvar), relacionar-se conosco (conviver) e reorientar os nossos pensamentos e prioridades (santificar). Jesus veio ao mundo desfilar a glória de Deus — revelar a beleza da graça, da verdade e do amor de Deus, que consiste em nos levar de volta a Deus (1Pe 3.18). Cristo veio nos tirar de nós mesmos e nos reorientar na direção de Deus. O pecado nos centra em nós mesmos. A graça, a verdade e o amor de Deus em Jesus Cristo nos centra em Deus e no próximo.
2Co 5.15 | Ele morreu por todos, para que os que recebem sua nova vida não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles.
O amor de Deus nos liberta do pecado, nos liberta de nós mesmos e nos torna servos alegres de Deus e do próximo. Gente, isso é libertador.
O amor de Deus nos dá o que realmente precisamos — Deus; pois Deus é único capaz de nos resgatar do pecado e de suas consequências, tornando-nos realizados e satisfeitos. Deus, por quem ele é, e não pelo que ele me dá. Deus. Só Deus. Deus é o evangelho.
Quer ver uma coisa? Que ser humano, que seja normal, faz uma viajem, por exemplo, para as Cataratas do Iguaçu e, chagando, lá, retira da mochila um espelho e fica admirando a sua própria beleza e dizendo: “Eu sou maravilhoso!”? Ninguém! Só se for doido (e apaixonado em selfie). Todo mundo, em sã consciência, visita lugares de belezas naturais, por exemplo, porque quando nós contemplamos algo belo e maravilhoso, existe uma cura maior para a alma do que quando contemplamos a nós mesmos.
Portanto, a cura da alma começa quando nós tiramos os olhos de nós mesmos, dos nossos desejos corrompidos pelo pecado, das inclinações pecaminosas do coração, da necessidade da aprovação dos homens, das coisas que o dinheiro pode comprar, dos medos… e voltamos nossos olhos para a glória de Deus — cheia de graça e de verdade.
A cura da alma começa quando a glória de Deus volta a ocupar o seu lugar no centro de nossas vidas, cujo resplendor atrai tudo para si mesmo. Quando tudo gira em torno da glória de Deus (da graça e da verdade e do amor de Deus) em nossas vidas, tudo fica perfeito. Quando o centro de gravidade da vida deixa de ser a glória de Deus, tudo se colide.
Portanto: o amor de Deus é a cura para a nossa alma — ele consiste em nos salvar, resgatando-nos da escravidão do pecado, por meio da obra de Jesus (o justo morrendo na cruz pelo injusto), redimindo o nosso coração; relacionando-se conosco; e reorientando nossa mente e coração na direção da glória dele. Torná-lo o centro do meu coração e a alegria da minha alegria é a grande obra da salvação; é tudo o que de fato preciso; é a única coisa que irá realmente me curar e me satisfazer.
Jesus veio ao mundo, em carne e osso, para reorientar os que estavam perdidos; para fazer-nos ver o Filho glorioso, cheio de graça e de verdade; para vermos a glória do próprio Deus no Filho único do Pai — naquele que é a expressão única e exata do ser de Deus. Jesus veio ao mundo para buscar e salvar o que estava perdido no pecado. Quem não encontra salvação pela graça e não passa a ser guiado pela verdade de Deus, fica perambulando sem saber quem é e para que existe. Nas palavras de James M. Boice:
Se não somos seres morais, que se colocam na presença [gloriosa] de Deus [isto é graça] e perante sua Lei [isto é verdade], quem somos? “Eu sou meus genes,” respondemos; “Eu sou minha orientação sexual”; “Eu sou o meu passado”; “Sou minha auto-imagem”; “Sou minha personalidade”; “Sou minhas experiências””; “Sou o que tenho”; “Sou o que como”, “Sou o que faço”, “Sou quem eu conheço”.
Deus em carne e osso, Jesus Cristo, veio reorientar quem estava perdido.
Deus em carne e osso
Pois bem, a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós; assim Deus o fez para resgatar o pecador, relacionar-se com seu povo e reorientar os perdidos.
[…] a Palavra se tornou ser humano, carne e osso, e habitou entre nós. Ele era cheio de graça e verdade. E vimos sua glória, a glória do Filho único do Pai.
Deixe-me concluir fazendo algumas aplicações, extraídas do pensamento de J. C. Ryle, em suas Meditações no Evangelho de João (ed. FIEL):
A Palavra se tornou ser humano! Então, Jesus abriu um caminho novo e vivo de retorno para Deus. Deus é justo, punindo o pecado em Jesus. Deus é também justificamos, possibilitando meu acesso à sua presença pela fé.
A Palavra se tornou ser humano! Então, Jesus é sensível às aflições de seu povo, pois ele mesmo experimentou o sofrimento, ao ser tentado. Ele é todo-poderoso, porque é Deus e identifica-se conosco, porque é homem.
A Palavra se tornou ser humano! Então, Jesus pode ser um exemplo perfeito para nossa vida diária. Se tivesse andado entre nós como um anjo ou espírito, jamais poderíamos imitá-lo. Mas, por ter vivido entre nós como homem, sabemos que o verdadeiro padrão de santidade é “andar assim como ele andou” (1Jo 2.6). Ele é modelo perfeito, porque é Deus; mas, também, um modelo que corresponde perfeitamente à nós, porque é homem.
A Palavra se tornou ser humano! Então, procuremos ver em nosso corpo mortal uma dignidade real e verdadeira, e não o corrompamos com pecado. Fraco e decadente como é, mas é um corpo que o eterno Filho de Deus não se envergonhou de assumir e levá-lo ao céu. Este simples fato é uma garantia de que ele ressuscitará os nossos corpos, no dia final, e os glorificará junto com o seu próprio corpo.
Deus em carne e osso é para encantar nossos olhos e salvar nossas almas.
Receba, agora mesmo, a Palavra eterna que se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade. Receba graça e verdade de Deus em Jesus. Reparta graça e verdade de Deus uns com os outros.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Evangelho de João
Mais episódios da série Evangelho de João
Mais Sermões
23 de maio, 2021
13 de agosto, 2017
22 de novembro, 2017
18 de fevereiro, 2018
Mais Séries
Deus em Carne e Osso
Pr. Leandro B. Peixoto