13.05.2018
A MÃE PERTO DA CRUZ
João 19.25-27
25Perto da cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã dela, Maria, esposa de Clopas, e Maria Madalena. 26Quando Jesus viu sua mãe ali, ao lado do discípulo a quem ele amava, disse-lhe: “Mulher, este é seu filho”. 27E, ao discípulo, disse: “Esta é sua mãe”. Daquele momento em diante, o discípulo a recebeu em sua casa.
Mensagem para as mães
Hoje, Dia das Mães, eu devo chamar sua atenção para Maria, a mãe de Jesus, a mãe perto da cruz. Olhando para a passagem bíblica que nós acabamos de ler, há três lances que desejo destacar e aplicar para todos nós nesta manhã tão especial: o amor da mãe; a graça de Deus; a honra do Filho — amor, graça e honra.
1. O amor da mãe
Enquanto todos os discípulos abandonaram Jesus (exceto João) Maria acompanhou seu Filho até o final, até à cruz. Seu amor pelo Filho não permitiu que ela o deixasse na hora de seu maior sofrimento, mesmo sob risco de morte. Perto da cruz estava a mãe de Jesus(v. 25). O amor de Maria não foi dissuadido pela fúria dos opositores nem pelo horror da visão de um Filho naquele estado e pregado numa cruz; a mãe não podia resgatá-lo, nem aliviá-lo, mas permaneceu ao lado do Filho, demonstrando seu amor e sua boa-vontade.
Ah! O amor de uma mãe que não arreda o pé de perto dos filhos! Como são abençoados aqueles que desfrutam dessa presença, desse aconchego, desse carinho, desse cuidado, dessa afirmação, especialmente nos momentos de maior dor e sofrimento (testemunhos não faltam). O amor de Maria a manteve “perto da cruz”onde estava Jesus (v. 25). O amor de uma mãe a mantém sempre perto dos filhos para o que precisarem.
Não fosse importante esse amor que mantém a mãe perto do filho, não leríamos nas Escrituras palavras tais como as que encontramos no salmo de Davi (27.10): “Mesmo que meu pai e minha mãe me abandonem, o SENHOR me acolherá.” O amor não abandona. O amor acolhe. Assim é o amor de mãe.
2. A graça de Deus
Além do amor explícito da mãe pelo Filho, chama-me a atenção neste texto a graça de Deus agindo em Maria para sustentá-la em pé, perto da cruz.
A cena é forte. A dor daquele momento é indescritível: um Filho morrendo o pior tipo de morte — a crucificação; tudo após ter passado por tortura tão desumana, estar sofrendo deboche tão declarado e ser vítima de tamanha injustiça.
A mãe olha para os lados. Cadê os amigos? Aonde foram os discípulos? Com ela estão apenas a irmã, a esposa de Clopas (Maria), Maria Madalena e João. O discípulo amado estava desnorteado e o coração de Maria quebrado. Como ela foi capaz de suportar, de amar daquele jeito, de ficar perto da cruz e não se enlouquecer por tanto sofrimento?
Desperta a atenção a forma como o próprio João pintou a atitude de Maria (v. 25): “Perto da cruz estavam a mãe de Jesus…”. Nada de desespero, nada de gritaria, nada de descontrole. Como pôde ser? Não, ela não teria conseguido! A graça de Deus sustentou Maria do começo ao fim da maternidade, especialmente naquela hora de pior dor. Matthew Henry foi impecável ao descrever aquele momento (e o segredo de Maria):
Podemos, de fato, admirar o poder da graça divina em apoiar essas mulheres, especialmente Maria [a mãe de Jesus], sob este pesado julgamento. Não encontramos a mãe torcendo e esfregando as mãos ou arrancando os cabelos em agonia, nem tampouco rasgando as roupas ou gritando em desespero; mas, [a encontramos] com uma compostura maravilhosa, de pé junto à cruz, e suas amigas com ela. Certamente ela e as outras foram fortalecidas por um poder divino que produziu esse grau de paciência; certamente que Maria desfrutava de uma expectativa mais completa da ressurreição do que o resto do grupo, o que a sustentava assim tão inabalável. Não sabemos o que somos capazes de suportar até sermos de fato tentados, só então experimentaremos o que disse o Senhor ao apóstolo em sofrimento: “Minha graça é suficiente para você”.
Maria sabia o que é sofrer. Ela sofreu quando disse sim à concepção miraculosa do Espírito Santo; sofreu quando deu à luz num estábulo imundo, longe de casa; sofreu quando ouviu que Herodes queria matar seu bebê; sofreu quando foi forçada a se tornar refugiada no Egito; sofreu quando viu uma nação inteira interpretar mal e insultar seu Filho… E aqui, aos pés da cruz, Maria sofreu novamente quando viu seu menino sendo crucificado por um crime que não cometeu. Na verdade, nós nem podemos começar a imaginar a dor no coração daquela mãe, sobretudo como sua alma estava sendo dilacerada naquele dia, perto daquela cruz. O que percebemos, no entanto, é que a poderosa graça de Deus a mantinha em pé, perto da cruz, suportando com serenidade aquele sofrimento.
Você se lembra da história de Simeão; aquele ancião que viu Maria e José e o menino Jesus no templo de Jerusalém? Em Lucas 2.34-35, Simeão disse a Maria:
Este menino está destinado a provocar a queda de muitos em Israel, mas também a ascensão de tantos outros. Foi enviado como sinal de Deus, mas muitos resistirão a ele. Como resultado, serão revelados os pensamentos mais profundos de muitos corações, e você sentirá como se uma espada lhe atravessasse a alma.
E agora, aos pés da cruz, talvez a mente de Maria tenha viajado no tempo, 33 anos atrás, até aquele momento no templo; e a profecia de Simeão, finalmente, fez sentido para ela.
Como pais (especialmente as mães), sentimos angústias e sofremos pelos nossos filhos muitas vezes ao longo de nossa vida. Sofremos ao nos vermos privados de dar a eles algo melhor; quando eles são mal interpretados, perseguidos, injustiçados; quando adoecem, quando morrem; enfim, ser pai e, principalmente, ser mãe traz inúmeras alegrias, mas carrega consigo também dores humanamente insuportáveis. Apenas a graça de Deus poderá nos sustentar serenos, apesar do coração dilacerado.
Penso que duas coisas em especial serviram como canais da graça de Deus na alma de Maria: as promessas de Deus(Jesus ressuscitaria; Maria, mãe de Jesus não foi ao túmulo na manhã de domingo! Ela sabia que Jesus ressuscitaria.); e a presença de amigas espirituais(as mulheres que sempre a acompanharam, além do cuidado de João com a vida dela).
A graça de Deus é indispensável para manter as mães perto dos filhos, amando e suportando todo o sofrimento da vida e, sobretudo, da maternidade.
3. A honra do Filho
Chamam a minha atenção neste texto o amor da mãe, a graça de Deuse a honra que o Filho Jesus presta à sua mãeem sofrimento. Observe (Jo 19.25-27):
25Perto da cruz estavam a mãe de Jesus, […] 26Quando Jesus viu sua mãe ali, ao lado do discípulo a quem ele amava, disse-lhe: “Mulher, este é seu filho”. 27E, ao discípulo, disse: “Esta é sua mãe”. Daquele momento em diante, o discípulo a recebeu em sua casa.
Jesus, carinhosamente, preocupou-se em honrar sua mãe na hora de sua própria morte. É provável que José, marido de Maria, já estivesse morto há muito tempo e que seu Filho Jesus a sustentasse como arrimo de família; e a relação da mãe com o Filho era, dentre outras coisas, de dependência para a subsistência. O problema é que agora ele estava morrendo, o que seria dela?
O Filho viu a mãe em pé, perto da cruz; sabia do amor dela por ele, experimentou de seus cuidados e sentia a sua enorme tristeza. O que fazer? Foi quando ele viu também João, parado não muito longe, e assim estabeleceu uma nova relação entre sua amada mãe e seu amado discípulo:
26[…] “Mulher, este é seu filho”. 27E, ao discípulo, disse: “Esta é sua mãe”. Daquele momento em diante, o discípulo a recebeu em sua casa.
Nem mesmo a dor enlouquecedora e o momento tão desfavorável fizeram Jesus deixar de pensar naquela que tanto o amou e por ele se dedicou com todo cuidado. Fica aqui uma enorme lição para os filhos: pai e mãe devem ser honrados pelos filhos; não há dor ou dificuldade, nem tampouco prioridade que possa ou que deva nos fazer deixar de lado as necessidades dos pais e das mães.
João Calvino escreveu assim sobre o cuidado de Jesus por Maria:
O evangelista, aqui, menciona incidentemente que, enquanto Cristo obedecia a Deus o Pai, ele não deixou de cumprir seu dever em relação a sua mãe. Aliás, ele se esqueceu de si mesmo e de tudo mais, até onde se fazia necessário para incumbir-se da obediência a seu Pai, mas, depois de haver cumprido seu dever, ele não negligenciou o que lhe cumpria fazer por sua mãe. De fato aprendemos de que maneira devemos cumprir nosso dever para com Deus e para com os homens.
Frequentemente sucede que, quando Deus nos chama à realização de algum dever, nossos pais, ou esposa, ou filhos nos arrastam em sentido contrário, de modo que não conseguimos satisfazer a todos. Se pusermos os homens no mesmo nível de Deus, nos sentimos sem rumo. Por isso devemos dar a preferência ao mandamento, ao culto e ao serviço de Deus; depois disso, quanto estiver em nós, devemos dar aos homens o que lhes é devido.
[…] Se atentarmos para o tempo, o lugar e quando essas coisas sucederam, o afeto de Cristo por sua mãe era digno de admiração. Nada digo acerca das severas torturas de seu corpo; nada digo acerca das zombarias que ele sofreu; mas, ainda que as horríveis blasfêmias contra Deus saturassem sua mente com inconcebível tristeza, e ainda que ele sustentasse uma terrível disputa com a morte eterna e com o diabo, contudo nenhuma dessas coisas o impediram de angustiar-se por sua mãe. Podemos igualmente aprender desta passagem qual é a honra que Deus, por intermédio da lei, nos ordena a prestar aos pais [Êx 20.]. Cristo designa o discípulo [João] para ser seu substituto e o incumbe de sustentar e cuidar de sua mãe; e daí se segue que a honra que é devida aos pais consiste não em fria cerimônia, mas no cumprimento de todos os deveres necessários.
Filhos devem honrar pai e mãe. É mandamento do Senhor e foi assim que Cristo agiu. A honra do Filho deveria nos inspirar a honrar nossas mães.
A mãe perto da cruz
O que aprendemos com este episódio? 1Mães são chamadas para amar; amar até o fim; amar sem medo; amar servindo. 2A graça de Deus sustenta as mães no sofrimento; de fato, como bem colocou Matthew Henry, “Não sabemos o que somos capazes de suportar até sermos de fato tentados, só então experimentaremos as palavras do Senhor que disse: ‘Minha graça é suficiente para você’”. 3Filhos devem honrar pai e mãe; de fato, somos chamados a esquecermos de nossos problemas e sofrimentos para honrar e servir o próximo, especialmente pai e mãe.
Lugar de mãe é perto da cruz. Na cruz elas aprendem sobre o tipo de amor que elas precisam exercer pelos filhos; da cruz elas recebem graça sobre graça para suportarem os as dores e os sofrimentos da maternidade; por causa da cruz elas serão honradas — afinal, aqueles que servem ao Senhor, o Pai os honrará (Jo 12.26).
Lugar de mãe é perto da cruz.Quanto mais perto elas estiverem da cruz, mas perto elas estarão de seus filhos. Lugar de mãe é perto da cruz. Portanto, negue a si mesma, tome a sua cruz e siga a Jesus.
S.D.G. L.B.Peixoto
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