21.12.2022
[Lucas 2.7] Maria deu à luz seu primeiro filho, um menino. Envolveu-o em faixas de pano e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Os Cânticos do Natal com os quais fomos presenteados nesta noite foram pautados no trabalho da pena inspirada do evangelista Lucas. A São Lucas – como ele é conhecido na tradição cristã – foi atribuído a qualidade de ser o primeiro hinologista da história da igreja – a primeira pessoa versada no estudo de hinos e de cânticos litúrgicos cristãos. Para o médico que foi muito amado pelo apóstolo Paulo – para Lucas –, o evangelho é musical, por isso há cinco Cânticos de Natal registrados no início de seu livro:
Estudiosos dos Evangelhos consideram esses poemas musicais registrados por Lucas como sendo “os últimos dos salmos hebraicos e os primeiros dos hinos cristãos”.
Jesus nasceu! Nasceu o Salvador! É por isso que nós cantamos. Com efeito, o cântico de louvor, a adoração por meio do canto e da música são a forma mais apropriada de se celebrar o Natal. Entretanto, como nos é bastante comum ir perdendo o encanto com as coisas que nos vão se tornando familiar (todo ano a mesma coisa, a mesma coisa…) ou que vão gradativamente sendo ressignificadas, como é o caso do Natal (que não passa de uma “festa do bem”, de comercialização de produtos, troca de presentes e tudo o mais), a gente precisa lustrar e destacar a grandiosidade deste evento tão bem-aventurado, magnífico e bendito conforme cantaram, respectivamente, Isabel, Maria e Zacarias.
Portanto, olhe comigo para a manjedoura, a manjedoura de Jesus:
[Lucas 2.7] Maria deu à luz seu primeiro filho, um menino. Envolveu-o em faixas de pano e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Visualize – enxergue com os olhos do coração – a magnitude desse acontecimento [usarei aqui as palavras do puritano inglês Thomas Adams (1583—1652), intitulado por alguém como “o Shakespeare dos Puritanos”]… visualize… enxergue com os olhos do coração tamanha glória – ali deitada “numa manjedoura”:
Aquele que se assenta nas alturas, ao lado direito da Majestade, foi abrigado em um estábulo. Aquele que mede as águas da terra com a concha da mão e define os limites dos céus com o palmo, Isaías 40.12, estava agora lotado em uma manjedoura, e enfaixado com alguns trapos de panos.
Coloque-se no lugar dos pastores: como poderia ser, Meus Deus?! o Rei de todos os reis?! o Menino Deus?! o SENHOR?! o Messias prometido de Israel? o descendente de Davi? Ali no estábulo?! Enfaixado em trapos de pano e deitado numa manjedoura?! — coloque-se no lugar dos pastores — Não! Não poderia ser!
Mas era.
Nesse local, os pastores – quando foram visitar o menino que nasceu (Lc 2.16-17) – não toparam com qualquer soldado de guarda para proteger o recém-nascido Rei (não havia guardas reais!); também não foram os pastores espremidos pelo tumulto de pessoas aglomerando-se para ver o Menino Deus (não havia multidão!); tampouco constataram coroa na cabeça do bebê, nem cetro em sua mão; — o que viram? — havia apenas um bebê, um frágil menino envolto em faixas de pano e deitado numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2.7)!
De fato, aqueles pastores viram tão pouca glória exterior que poderiam ter questionado se não teria sido melhor se tivessem se poupado do trabalho de se dirigirem àquele local, pois teriam visto muito mais glória exterior, muito mais beleza e esplendor em condições bem melhores, em qualquer outro lugar.
Mas não!
Ali em Belém, na terra de Judá, na menor entre as principais cidades de Judá, os pastores seguiram a orientação do anjo enviado pelo Senhor e – como se lê em Lucas 2.16 – “Indo depressa ao povoado, encontraram Maria e José, e lá estava o bebê, deitado na manjedoura.” Ou seja, nenhuma glória exterior!
Ora, que se aprende do Natal desses pastores olhando para a manjedoura?
A instrução para nós, em um primeiro momento, é que Deus – com muita frequência – exercita a fé de seu povo de modo inusitado e impressionante; — por quê? por que ele faz assim?— para que seus filhos não sejam guiados por óculos, mas por oráculos; não sejam guiados pela mera razão, a mera lógica ou o puro sentido, mas pela revelação divina que ilumina a razão, a lógica ou o sentido; não sejam guiados pelo que se vê, mas pelo que se lê ou se ouve da palavra de Deus.
Meu povo, os olhos da verdadeira fé movimentam-se tão rápida e poderosamente – iluminados pelo Espírito Santo – que são capazes de enxergar através das neblinas, das poeiras, dos nevoeiros ou da própria escuridão das dificuldades da vida; os olhos do coração iluminados pelo Espírito são capazes de enxergar além das circunstâncias.
Pensem comigo: ao chegarem ao local e virem o que viram – “o bebê, deitado na manjedoura” –, sem qualquer glória exterior, muito pelo contrário, o bebê com muita simplicidade e humildade… ao virem isso, apenas isso!, ainda assim os pastores creram na palavra do Senhor por intermédio do anjo: aquela criança tão pobre, tão simples, tão comum, tão humilde… deitada em uma manjedoura tão inapropriada para um bebê… aquele frágil bebê era o grande Rei do Céu e da Terra, o Salvador, o Cristo, o SENHOR.
Deus com muita frequência, meus irmãos e amigos, exercita a fé de seu povo de modo inusitado e impressionante; — por quê? — para que seus filhos não sejam guiados por óculos, mas por oráculos; não sejam guiados pela razão, mas pela revelação; não sejam guiados pelo que se vê, mas pelo que se lê ou se ouve da palavra de Deus.
O desdobramento desta lição é que jamais podemos nos ofender com a simplicidade do evangelho da cruz de Cristo, sob pena de nunca sermos capazes de enxergar a beleza da glória de Deus na face Jesus. O orgulho, aliás, foi um dos elementos da abordagem tão eficaz do diabo no coração dos fariseus dos dias de Jesus – gabavam-se eles deste modo jocoso:
João 7.48-49 48“Por acaso um de nós que seja, entre os líderes ou fariseus, crê nele [neste homem sem qualquer glória exterior]? 49[De modo algum! Os iluminados, inteligentes, civilizados, moralistas, de mente aberta ou progressista não cremos neste homem! Deus Deus! De jeito nenhum] As multidões ignorantes [eles, sim!] o seguem, mas elas não têm conhecimento da lei. São amaldiçoadas!”
Trocando em miúdos: os grandes, os eruditos, os sábios, os iluminados não deram crédito à humildade, à simplicidade de Jesus. Ora, seriam mesmo “malditos”, os seguidores de Jesus?! Não, de modo algum! Seguidores de Jesus não são gentalha! São discípulos do Salvador. Simeão é que estava com a razão (a razão não estava com os fariseus!):
Lucas 2.34 Então Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe do bebê: “Este menino está destinado a provocar a queda de muitos em Israel [dos sábio e dos orgulhosos], mas também a ascensão de tantos outros [dos pobres em espírito, dos mansos e humildes, daqueles aos quais o Pai escolher se revelar]. [Este menino] Foi enviado como sinal de Deus, mas muitos resistirão a ele [afinal, é simples demais, desprovido de qualquer glória exterior].
De fato, meu povo, é costume de Deus fazer cumprir sua vontade por meio de contradições humanas: ele troca a coroa por uma cruz, substitui o orgulho pela humildade de espírito, coloca no lugar da pompa a pobreza, derruba a sabedoria da carne e põe no lugar dela a loucura do Espírito e, ainda por cima curva os homens – pequenos e grandes, sábios e simples, ricos e pobres, fracos e poderosos… faz com que todos se curvem com fé – arrependimento e fé –, deixando-os de joelhos em face de um bebê “numa manjedoura”.
O QUE NOS ENSINA A MANJEDOURA?
JESUS DEITADO NUMA MANJEDOURA NOS ENSINA a ouvir Deus, buscar a revelação de Deus e a cultivar o encanto na tão simples e tão-gloriosa palavra de Deus que nos aponta para Cristo, o Senhor.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais episódios da série
Mensagens Avulsas
Mais episódios da série Mensagens Avulsas
Mais Sermões
4 de setembro, 2016
17 de novembro, 2019
13 de dezembro, 2020
21 de novembro, 2021
Mais Séries
Numa manjedoura
Pr. Leandro B. Peixoto