25.06.2017
A VIDA CRISTÃ PURA E SIMPLES
Gálatas 2.20
Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
Cristãos! Será?
A população brasileira é majoritariamente cristã; estima-se 87% — dos quais, 64,6% (cerca de 123 milhões) declaram-se católicos apostólicos romanos e 22,2% (cerca de 42,3 milhões) declaram-se evangélicos (tradicionais, pentecostais e neopentecostais).
O Censo do IBGE revelou que, em 10 anos, o número de pessoas que se declaram evangélicas no Brasil aumentou 61,45%; isto é: de cerca de 26,2 milhões que se diziam evangélicos (15,4%) em 2000 para cerca de 42,3 milhões (22,2%) em 2010. Com base nesses números, o sociólogo cristão Paul Freston apontou que “o Brasil é a capital mundial do pentecostalismo”.
Realmente, os números do IBGE apontam que somos um país majoritariamente cristão, com os evangélicos em franca expansão. No entanto, será que, biblicamente falando, somos de fato cristãos? Crescer sem consciência é seguir rumo ao caos e expandir sem consistência é semear ervas daninhas. Escrevendo para a revista Ultimato (Mar-Abr 2009), Paul Freston fez uma declaração contundente:
A religião evangélica está virando uma religião de massas no Brasil. E o que sempre acontece com as religiões de massas é que elas passam a se parecer cada vez mais com a sociedade. Em vez de transformar a sociedade, a religião é transformada pela sociedade.
Ao apresentar a “receita” do sucesso para os evangélicos brasileiros, o sociólogo (que também é cristão) destacou os principais problemas que nós cristãos evangélicos enfrentamos: perdemos a espiritualidade cristã clássica (pragmatismo); o domínio próprio (dinheiro, sexo e poder); a fé reformada (doutrina e cosmovisão — Somente a Escritura, Somente Cristo, Somente a Graça, Somente a Fé e Somente a Deus Glória); perdemos os modelos bíblicos de liderança (“ídolos” evangélicos); e perdemos a teologia dos dons para a edificação da igreja (serviço); ou seja, será mesmo que essa massa é cristã?
A vida cristã pura e simples
Diante dessa triste realidade e depois de tantos testemunhos edificantes de fé e dos batismos, permitam-me apresentar para vocês um resumo do que a Escritura diz ser a vida cristã. O texto de Paulo, que lemos no início, é a melhor síntese sobre o tema em toda a Bíblia. Nele nós encontramos a vida cristã pura e simples:
Gl 2.20 | Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
Depois de Jesus, Paulo é a figura mais importante do cristianismo. Além de discípulo de Cristo, ele é o principal defensor e divulgador da fé cristã. Muito do que sabemos sobre o cristianismo nós devemos ao ex-fariseu de Tarso. Ele escreveu metade dos livros do Novo Testamento. O que ele pregava e ensinava estava tão intrinsecamente relacionado com o que ele vivia que ele podia afirmar coisas do tipo:
1Co 11.1 | Sejam meus imitadores, como eu sou imitador de Cristo.
Fl 3.17 | Irmãos, sejam meus imitadores e aprendam com aqueles que seguem nosso exemplo.
Que ensino era esse que Paulo defendia, divulgava e destilava pelos poros de seu viver diário? O nosso texto apresenta um resumo do que governava a sua vida e do que ele pregava. Em outras Palavras, em Gálatas 2.20, Paulo descreve a vida cristã pura e simples.
O meu desejo ao estudarmos esta passagem é informar, inflamar e incentivar: informar os que iniciam a jornada; inflamar os que já estão no caminho; e incentivar os demais a se juntarem a nós nessa peregrinação maravilhosa que é a vida cristã.
Para enxergarmos a vida cristã pura e simples apresentada por Paulo, dividiremos o nosso texto em três partes, a saber: a descrição da vida cristã; a dinâmica da vida cristã; e a demanda da vida cristã. Vejamos uma parte de cada vez.
1. A descrição da vida cristã
Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.
Paulo descreve a vida cristã em duas dimensões: morte e vida. Morte: “Fui crucificado com Cristo”. Vida: “Cristo vive em mim”. O que ele quer dizer com isto?
“Fui crucificado com Cristo”
O que significa estar crucificado com Cristo? A resposta óbvia: nós morremos com Cristo. Morremos para a Lei (Gl 2.19), para o pecado (Rm 6.2) e para nós mesmos (Gl 2.20). O verbo “crucificar” está no tempo passado perfeito, na voz passiva e no modo indicativo.
Passado perfeito — efeito permanente (presente) de uma ação já cumprida (passado). Por isso que a melhor tradução é “Estou crucificado” (ARA) e não “Fui crucificado” (NVI e NVT). A ideia é: “Eu fui e ainda estou crucificado”.
Voz passiva — o sujeito recebe a ação. O cristão foi crucificado por Cristo em Cristo.
Modo indicativo — informa um fato ocorrido. Diferentemente do imperativo, que dá uma ordem ou aponta uma possibilidade, e deixa a opção.
Ao usar o verbo “crucificar” no passado perfeito, na voz passiva e no modo indicativo, Paulo estava nos informando que a obra de Cristo na cruz nos foi imputada; ou seja: foi algo realizado por outra pessoa em nosso favor; não dependeu de nós nem de qualquer ação inicial nossa — é dom de Deus com consequências permanentes, é graça.
NVI At 5.30-31 | 30 O Deus dos nossos antepassados ressuscitou Jesus, a quem os senhores mataram, suspendendo-o num madeiro. 31 Deus o exaltou, colocando-o à sua direita como Príncipe e Salvador, para dar a Israel arrependimento e perdão de pecados.
Haverá sim momentos em que deveremos crucificar a carne (mortificar os nossos desejos), mas isto só será possível porque nós já estamos crucificados com Cristo; nós já nos identificamos com ele na morte pelo batismo, e isso nos dá forças para vencer o pecado. Observe o que Paulo disse, ao escrever para os romanos:
Rm 6.1-4 | 1 Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? 2 De maneira nenhuma! Nós, os que morremos para o pecado, como podemos continuar vivendo nele? 3 Ou vocês não sabem que todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados em sua morte? 4 Portanto, fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova.
Além do quê, a lei foi cumprida em Cristo. Logo, não vivemos mais em busca de justiça própria, pois jamais conseguiríamos. A Lei só nos acusa e nos condena — ela diz: não pode e não faça, mas nós queremos e fazemos. Graças a Deus, porém, que nós vivemos pelos méritos de Cristo (Rm 7.4-6).
Nós estamos crucificados com Cristo: a Lei já não nos condena, pois Cristo a cumpriu no próprio corpo (Gl 2.19); o pecado já não nos dominga, pois estamos mortos; e os nossos desejos já não nos escravizam mais, pois somos de outro Senhor. Isso nos leva à segunda dimensão da descrição que Paulo faz da vida cristã.
“Cristo vive em mim”
Cristo vive em nós pelo seu Espírito (Jo 14.15-17). O Espírito Santo em nós nos permite viver em novidade de vida (Rm 8.9-11).
Rm 7.4-6 | 4 Assim, meus irmãos, vocês também morreram para a Lei, por meio do corpo de Cristo, para pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos, a fim de que venhamos a dar fruto para Deus. 5 Pois quando éramos controlados pela carne, as paixões pecaminosas despertadas pela Lei atuavam em nosso corpo, de forma que dávamos fruto para a morte. 6 Mas agora, morrendo para aquilo que antes nos prendia, fomos libertados da Lei, para que sirvamos conforme o novo modo do Espírito, e não segundo a velha forma da Lei escrita.
Cristo em nós, pelo Espírito, produz em nós grandes transformações.
Esta, portanto, é a vida Cristã:
Gl 2.20 | Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.
Faria toda a diferença se nos víssemos como realmente somos, pois passaríamos a viver como o patinho feio no dia em que descobriu que era um cisne. Mas, como viver essa vida descrita por Paulo?
2. A dinâmica da vida cristã
A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus.
Contrário do que se pensa, morrer com Cristo, morrer para nós mesmos, é sinônimo de vida de verdade. A vida não começa quando aprendemos a desfrutar a vida, seja aos 30, 40, 50 (Época, 12/11/12). A vida começa quando morremos com Cristo, e Cristo passa a viver em nós pelo seu Espírito. Isso sim é vida em abundância (Jo 10.10).
A vida em Cristo ainda é a vida “no corpo”; ou seja: continuaremos sendo quem nós somos, com todas as vantagens e desvantagens dessa realidade terrena, mas em processo de transformação (em nós e em nosso contexto através de nós). Mas, como?
Devemos viver essa vida “no corpo” da seguinte maneira: “pela fé no filho de Deus”. Vivemos das promessas da Palavra de Deus; não mais pelas mentiras do mundo, do diabo e do pecado que habita em nós, mas pelas promessas de Deus, no poder do Espírito:
Gl 3.5 | Aquele que lhes dá o seu Espírito e opera milagres entre vocês realiza essas coisas pela prática da Lei ou pela fé com a qual receberam a palavra.
A vida cristã não é vivida “pelo esforço próprio” (Gl 3.3). Não é pautada por regras nem vivida por força de vontade. A vida cristã é vivida pelo poder do Espírito, quando nos agarramos às promessas e preceitos da Palavra de Deus. A vida cristã é vivida pela fé na promessa de tudo o que Deus promete ser para nós em Cristo Jesus.
3. A demanda da vida cristã
Paulo descreve a vida cristã como sendo: estar crucificado com Cristo para deixar Cristo viver em nós. A dinâmica dessa vida se dá em nosso corpo, lutando para nos conformarmos à imagem de Cristo, vivendo pela fé e no poder do filho de Deus. Mas, qual é a razão de ser desta vida? Qual é o propósito de existirmos?
O apóstolo termina esse versículo onde tudo começa na história da salvação — [O Filho de Deus] me amou e se entregou por mim (Gl 2.20).
Além de informar o que motivou a Deus na consecução e execução do plano de salvação (o amor de Deus), Paulo quer, com essa frase, incitar no cristão o louvor. Louvor pelo grande amor de Deus na salvação de seus filhos — [O Filho de Deus] me amou e se entregou por mim (Gl 2.20). Ele volta a falar desse amor quando escreve aos Efésios:
Ef 1.5-6 | 5 Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, 6 para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.
Perceba que é o amor de Deus que o motiva a planejar a nossa salvação, na mesma medida em que esse amor nos incita a louvá-lo por tão gloriosa graça — essa de nos amar e nos adotar em Cristo.
Portanto, ao declarar que Cristo nos amou e a si mesmo se entregou por nós, Paulo quer informar a nossa mente e inflamar o nosso coração. Ao nos informar sobre o maravilhoso plano da salvação de Deus, Paulo nos incita a adorar a Deus. Ficamos mais maravilhados ainda quando refletimos sobre o que está envolvido nisso tudo. Observe:
A identidade de quem ama: O “Filho de Deus”. A identidade de quem nos ama torna maior ou menor a qualidade do amor. A atividade do amor: “Se entregou por mim”. A medida do amor de alguém por nós está na dimensão de suas atitudes por nós. O perfil de quem é amado: Paulo, o principal dos pecadores, perseguidor da Igreja. Por isso que o amor de Cristo o constrange.
Em resumo: a vida cristã faz de nós adoradores da gloriosa graça de Deus:
Rm 15.8-9 | 8 […] Cristo veio para servir aos judeus, a fim de mostrar que Deus é fiel às promessas feitas a seus patriarcas, e também para que os gentios glorifiquem a Deus por suas misericórdias, como dizem as Escrituras: “Por isso eu te louvarei entre os gentios; sim, cantarei louvores ao teu nome”.
A vida cristã pura e simples
Gálatas 2.20
Estou crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
Você é cristão? Então, é assim que você deve viver — pela fé no Filho de Deus.
Você não é cristão? Então, passe a ser. Viva pela fé no Filho de Deus.
Esta é a vida cristã pura e simples.
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