24.11.2024
Hebreus 1.1-4 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo. 3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata quem Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
ESCOLHER O QUE PREGAR é uma batalha que vai além do intelecto — é um confronto da alma. A Palavra de Deus é um oceano: vasta, viva e eternamente relevante. Mas as necessidades da igreja se parecem com rios turbulentos, cheios de curvas e mistérios, difíceis de compreender. Suas águas, por vezes turvas, obscurecem a clareza tão desejada pelo pastor para alcançar o coração das ovelhas. O peso do chamado repousa sobre seus ombros: qual texto escolher? O que Deus deseja comunicar? Em que tempo estamos vivendo — como indivíduos, como igreja, como sociedade?
Essas perguntas são brasas no peito do pregador. Elas inflamam o coração e devoram os pensamentos. Não há atalhos. O desafio é profundo, e a resposta exige luta, oração e uma dependência total do Espírito Santo. O pastor precisa dobrar os joelhos. Clamar. Buscar discernimento do Espírito. Foi seguindo esses passos que decidimos mergulhar na carta aos Hebreus.
POR QUE HEBREUS? O livro intimida, é verdade, com sua densidade e profundidade. Talvez por isso seja tão frequentemente deixado de lado. Os capítulos 11 e o início do 12 brilham como favoritos, apresentando uma verdadeira galeria dos heróis da fé e exaltando Jesus como o exemplo supremo de perseverança. Mas o restante? Quase abandonado! Isso é um desperdício. Hebreus é um tesouro escondido. Ele nos revela a supremacia de Cristo — sua pessoa incomparável, sua obra redentora insubstituível e a aliança inabalável que Deus Pai selou com seu povo pelo sangue do Filho.
Hebreus é um chamado à perseverança. Escrito como um sermão, acende a esperança e desperta o amor em corações cansados. Fala a crentes à beira de desistir, exortando-os a seguir firmes. É, portanto, um chamado urgente.
HOJE, MUITOS SUBSTITUEM CRISTO. Ele é pregado, sim, mas como meio para outros fins: saúde, prosperidade, autoestima. Raramente se proclama Cristo como ele é — o meio singular e o fim supremo. O caminho que nos leva de volta a Deus.
É por isso que precisamos de Hebreus. Este livro nos devolve uma visão clara da superioridade de Cristo, não fragmentada, mas completa. Sua pessoa, sua obra, sua vida transformadora. Portanto, nós não vamos nos limitar a partes conhecidas. Vamos explorar cada capítulo, cada linha e, algumas vezes, até algumas palavras com detalhes.
Será uma jornada um pouquinho longa — talvez um ano, talvez mais: um ano e meio. Mas valerá cada passo, cada palmo. Hebreus nos desafia e nos eleva a Cristo: tudo o que a igreja precisa, tudo o que você carece, tudo o que o mundo desesperadamente necessita — Jesus Cristo.
Não buscamos apenas conforto, mas Cristo. Não uma paz superficial e descartável, nem um amor vazio e deformado, mas Cristo em sua plenitude — ele, que é a própria paz, a encarnação perfeita do amor. Não verdades fragmentadas, mas o quadro completo, glorioso e eterno.
É providencial que essa jornada através de Hebreus comece na época do Natal. Este é o tempo em que celebramos o nascimento de Jesus. Mas devemos perguntar: por que o Filho de Deus veio ao mundo? Qual é o verdadeiro significado do Natal?
Hebreus será a nossa resposta. Ele nos mostrará que Jesus é tudo o que precisamos para atender às nossas necessidades reais: o Salvador perfeito, o Sumo Sacerdote eterno, o Mediador da aliança definitiva entre Deus e os homens. Descobriremos que o Natal alcança sua plenitude naquilo que Hebreus proclama — a glória de Cristo, sua obra e sua superioridade, exatamente como declarado no início da carta:
Hebreus 1.3-4 (NVT)
3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata quem Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
Mas esses versículos, Deus permitindo, estudaremos com mais profundidade em mensagens futuras, quando veremos que: 1) Cristo nos purificou de nossos pecados e 2) Cristo está sentado à direita de Deus. Antes disso, porém, ao retornarmos a este livro na próxima mensagem, concentraremos nosso estudo nos dois primeiros versículos de Hebreus. Nosso objetivo será aprender e refletir sobre a verdade poderosa de que “Deus falou por meio de Cristo”:
Hebreus 1.1-2 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo.
Portanto, o que nos aguardam a seguir são estas mensagens:
Permitindo o Senhor, concluiremos o capítulo 1 no dia 5 de janeiro, quando estudaremos o tema: 4) Cristo é superior aos anjos (1.1-14).
Creio que já ficou claro: o verdadeiro sentido do Natal está no que Deus falou, realizou e continua realizando por meio de Cristo — sua encarnação, revelação, expiação, ressurreição e intercessão.
Hoje, o que faremos, será introduzir, panoramicamente, o parágrafo que roeremos até o osso nas três exposições bíblicas subsequentes.
LEMBRE-SE: HEBREUS É UM SERMÃO escrito para responder a uma crise de fé. Ele não foi dirigido a gigantes espirituais, mas a pessoas como nós. Gente comum, que se reunia regularmente — talvez até diariamente — para adoração e comunhão. Era uma igreja que se congregava em casas, unida em Cristo, mas sitiada por desafios e bombardeada por dardos inflamados e incessantes de perseguição, os quais testavam sua fé a cada dia.
Ao se converterem e deixarem a sinagoga para seguir Jesus como o Filho de Deus, tornaram-se distintos da sociedade judaica ao seu redor — é isto o que significa ser chamado para ser santo (cf. 1Co 1.3). Ao se tornarem cristãos, sentiram o peso da hostilidade de familiares, amigos e vizinhos. Eram vistos com suspeita por judeus que rejeitavam sua fé e por pagãos que desprezavam seu estilo de vida transformado. Talvez fossem alvo de zombarias no mercado, nas ruas e nos encontros cotidianos.
Inicialmente, enfrentaram tudo isso com coragem e firmeza. Mas, sob o peso contínuo das dificuldades, o desgaste começou a tomar conta. Estavam esmorecendo; alguns, inclusive, já haviam abandonado de vez a igreja. Foi nesse cenário que a carta chegou como um chamado urgente para reacender a chama da perseverança na fé.
Eles, assim como nós, precisavam de encorajamento para não desistir. Hebreus é esse encorajamento. Um apelo claro e poderoso para se apegar à fé em Cristo, especialmente quando as tempestades da vida parecem intermináveis.
O Silêncio Pode Ser Desesperador
Você sabe, por experiência própria: como o silêncio de Deus pode ser desesperador! A gente sofre, ora, busca, clama, promete, insiste em oração — mas parece que Deus continua calado. Isso é terrível. E era exatamente o que os crentes hebreus estavam enfrentando: o silêncio de Deus.
Esse silêncio é assustador, não é?
Você conhece isso, tanto na teoria quanto na prática. O coração esfria, as forças se esgotam. O mundo desaba ao seu redor, e você sente que Deus não está falando. Pelo menos, é assim que parece. É como se Deus estivesse distante, em completo silêncio. Não é verdade?
A caminhada com Deus, por vezes, se parece com as estações do ano em Norilsk, localizada no norte da Rússia, na região do Kray de Krasnoyarsk, acima do Círculo Polar Ártico. A cidade é conhecida por enfrentar um dos períodos mais longos de ausência de luz solar não só entre as cidades russas, mas dentre todas do mundo. Durante o inverno, o sol não nasce em Norilsk por aproximadamente três meses, de novembro a fevereiro, resultando em cerca de 80 dias sem a presença do sol.
É ainda pior na Estação Amundsen-Scott, no Polo Sul. Lá, a ausência de luz solar é extrema, fazendo desse o local habitado que mais sofre com a escuridão no globo. Durante o inverno antártico, de meados de março até setembro, a estação enfrenta cerca de seis meses de escuridão contínua, enquanto o sol permanece abaixo do horizonte, criando uma longa e fria noite polar.
Agora, imagine viver nesse escuro, nessa ausência de luz, sem o calor ou o brilho do sol. É esmagador. E, talvez, seja exatamente assim que você está se sentindo — ou como todos nos sentimos, em certos momentos, em relação a Deus: andando no escuro, com a alma fria e sem direção.
Viver assim é assustador. A ausência de luz gera incerteza, medo e um vazio profundo; pode afetar a saúde do corpo e da alma; isola-nos das pessoas. Mas mesmo no escuro, precisamos lembrar que a luz não deixou de existir, o sol jamais deixa de brilhar — a luz apenas está escondida por um tempo. Assim é Deus, presente, mesmo quando não o vemos, ouvimos ou sentimos — ele está sempre presente, todos os dias, até o fim.
No filme de Ingmar Bergman, O Sétimo Selo (1957), um marco do cinema filosófico, o cavaleiro Antonius Block personifica o buscador de Deus em meio à dúvida e ao sofrimento. Retornando das Cruzadas, ele encontra um mundo devastado pela peste, onde a fé parece fragilizada e o silêncio de Deus é ensurdecedor.
Logo no início, Block para em uma pequena capela à beira do caminho e entra no confessionário. Sem perceber, ele confessa suas angústias não a um padre, mas à própria Morte. A cena é carregada de simbolismo e revela a ambivalência de sua alma em relação a Deus. Ele fala com um coração aflito, buscando sentido em meio ao caos. Suas palavras ecoam as crises que tantos enfrentam: o desejo desesperado de encontrar Deus, mesmo quando ele parece distante e em silêncio. Eis o diálogo entre o Cavaleiro em crise e a Morte em disfarce, conversando com ele:
Cavaleiro: Por que não consigo matar Deus dentro de mim? Por que ele continua vivendo de forma tão dolorosa e humilhante, mesmo que eu o amaldiçoe e tente arrancá-lo do meu coração? Por que, apesar de tudo, ele é uma realidade desconcertante da qual não consigo me livrar? Você me ouve?
Morte: Sim, eu ouço.
Cavaleiro: Eu quero conhecimento, não fé, não suposições, mas conhecimento. Quero que Deus estenda a mão para mim, que se revele, que fale comigo.
Morte: Mas ele permanece em silêncio.
Cavaleiro: Eu clamo a ele na escuridão, mas parece que não há ninguém lá.
Morte: Talvez não haja ninguém.
Cavaleiro: Então, a vida é um horror escandaloso. Ninguém pode viver diante da morte sabendo que tudo é o nada.
O cavaleiro, em sua angústia, experimentava a ausência sentida de Deus e confessou: “Eu clamo a ele na escuridão, mas parece que não há ninguém lá.” Isso é terrível. É o grito de um coração que busca desesperadamente por sentido, por Deus mesmo, mas encontra apenas silêncio — e permanece amaldiçoando.
Olhos que Veem, Ouvidos que Ouvem
Da mesma forma, os hebreus clamavam em desespero: “Será que Deus está lá no céu? Por que ele não nos responde?” Esse tipo de silêncio pode quebrar o espírito de qualquer ser humano. — Talvez já tenha quebrado o seu. — Mas o autor da carta aos Hebreus, com sensibilidade pastoral, lhes respondeu com encorajamento e verdade:
— “Não! Deus não está distante. Ele não está lá. Ele está aqui. E ele já falou!”
Essa mensagem explode como luz na escuridão do nada e do ninguém — como um novo Gênesis nas trevas profundas da alma. Hebreus proclama que Deus rompeu o silêncio, não de forma parcial ou temporária, mas de maneira definitiva e perfeita — por meio de Cristo: Deus falou por meio de Cristo. Nas palavras inspiradas de João, o apóstolo: João 1.4-5 (ARA) — “A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.” Isso é Natal!
Agora, na versão do autor de Hebreus:
Hebreus 1.1-4 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo.
Esta carta revela que Deus já falou e nos ensina como escutá-lo: em Cristo.
A COISA MAIS DIFÍCIL NA VIDA CRISTÃ é realmente enxergar e verdadeiramente escutar. Todos têm olhos e ouvidos, mas poucos são aqueles que, ao ver, enxergam, e, ao ouvir, realmente escutam.
Jesus alertou sobre esse perigo ao denunciar a dureza de coração da nação de Israel. Citando o profeta Isaías, ele disse, em Mateus 13.15 (NVT): “Pois o coração deste povo está endurecido; ouvem com dificuldade e têm os olhos fechados, de modo que seus olhos não veem, e seus ouvidos não ouvem, e seu coração não entende, e não se voltam para mim, nem permitem que eu os cure.”
Essa advertência ressoa até hoje. Não basta ter olhos e ouvidos; é preciso abrir o coração para realmente ver e ouvir a voz de Deus, pois ele já falou, falou-nos por meio do Filho Jesus Cristo. Tanto é que Paulo ourou nestes termos pelos efésios:
Efésios 1.15-20 (NVT)
15Desde que eu soube de sua fé no Senhor Jesus e de seu amor pelo povo santo em toda parte, 16não deixo de agradecer a Deus por vocês. Em minhas orações, 17peço que Deus, o Pai glorioso de nosso Senhor Jesus Cristo, lhes dê sabedoria espiritual [Ou lhes dê o Espírito de sabedoria] e entendimento para que cresçam no conhecimento dele. 18Oro para que seu coração seja iluminado, a fim de que compreendam a esperança concedida àqueles que ele chamou e a rica e gloriosa herança que ele deu a seu povo santo.
19Também oro para que entendam a grandeza insuperável do poder de Deus para conosco, os que cremos. É o mesmo poder grandioso 20que ressuscitou Cristo dos mortos e o fez sentar-se no lugar de honra, à direita de Deus, nos domínios celestiais.
Essa oração é um clamor para que os cristãos — os que, conforme o versículo 15, já possuem “fé no Senhor Jesus” e “amor pelo povo santo”, a oração é para que esses — tenham seus “olhos espirituais” abertos, para que tenham sabedoria e entendimento, e possam perceber e compreender profundamente as verdades eternas. Quais?
O conhecimento de Deus. Não apenas acumular informações profundas sobre Deus, mas conhecer Deus pessoalmente e de forma mais profunda (v. 17). Não se trata apenas de saber sobre Deus, mas de experimentar a certeza de seu caráter e confiar plenamente nele. É apreender no próprio coração aquilo que está no coração de Deus: sua generosidade abundante, sua disposição em abençoar, sua bela santidade, sua bondade e graça infinitas, e seu prazer ardente de nos ter como filhos em sua família. Esse é o tipo de conhecimento que Paulo desejava que os efésios experimentassem em sua vida espiritual. São olhos para ver e ouvidos para ouvir essas coisas que nós precisamos.
Somente em Cristo é que nós somos capazes de obter o conhecimento de Deus — porque é o Filho que irradia a glória de Deus, expressando de forma exata quem Deus é (Hb 1.3); de fato, o Filho é a imagem do Deus invisível (Cl 1.15); e, conforme o apóstolo João atestou, “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito [o Filho eterno de Deus, Jesus Cristo], que está no seio do Pai, é quem o revelou.” (Jo 1.18, ARA). Foi por isso que Paulo orou, nestes termos: “peço que Deus, o Pai glorioso de nosso Senhor Jesus Cristo, lhes dê sabedoria espiritual e entendimento para que cresçam no conhecimento dele.”
Um coração iluminado. Além do conhecimento de Deus, Paulo pede em oração por outra coisa em favor dos efésios, no versículo 18, isto é: um coração iluminado (em outras palavras: ele pede por olhos que vejam, ouvidos que ouçam, espiritualmente falando). Mas para quê? Ver o quê? Ouvir o quê? Três realidades espirituais esplendorosas: 1) a esperança do nosso chamado: v. 18a, 2) a riqueza gloriosa da nossa herança: v. 18b e 3) a grandeza insuperável do poder de Deus para conosco, os que cremos: v. 19.
1. A esperança do nosso chamado (v. 18a)
Paulo desejava que os efésios possuíssem um coração iluminado para compreenderem profundamente a esperança do chamado de Deus (Ef 1.18a). Muitas vezes, pensamos no “chamado” em termos individuais ou especiais, como uma vocação específica para trabalho ou ministério, mas aqui o apóstolo refere-se a algo mais abrangente, aplicável a todos os cristãos. John Stott resumiu isso de forma clara:
Ele nos chamou para Cristo e para a santidade, para a liberdade e a paz, para o sofrimento e a glória. Mais simplesmente, foi um chamado para uma vida completamente nova, na qual conhecemos, amamos, obedecemos e servimos a Cristo, desfrutamos da comunhão com Ele e uns com os outros, e olhamos além do nosso sofrimento presente para a glória que um dia será revelada.
Essa esperança não é meramente uma expectativa otimista de que o futuro será melhor, mas uma certeza absoluta de que Deus cumprirá todas as suas promessas. Ele é capaz de transformar até as circunstâncias mais difíceis em algo bom para nós e glorioso para ele. Mesmo o sofrimento ganha um novo significado, porque sabemos que Deus não só compreende nossa dor, mas caminha conosco nela — e faz com que todas as coisas cooperam para o bem. Ele, que conhece cada fio de cabelo da nossa cabeça, usa até mesmo as adversidades para nosso crescimento e para sua glória.
Com essa compreensão, nossa perspectiva muda. Em vez de resistir às dificuldades, somos convidados a aceitar e a cooperar com o que Deus está fazendo. Paulo sabia que os efésios enfrentariam desafios e desejava que eles enfrentassem tudo com uma esperança enraizada na fidelidade e no propósito de Deus, confiando que ele sempre cumpre aquilo que promete.
2. A riqueza gloriosa da nossa herança (v. 18b)
Um coração iluminado espiritualmente também era necessário para que os efésios compreendessem a riqueza gloriosa da nossa herança (Ef 1.18b). Essa herança engloba tudo o que recebemos em Cristo por meio da salvação: parte dela já é nossa agora, e o restante será plenamente experimentado quando estivermos face a face com o Senhor. O apóstolo Pedro a descreveu como “uma herança imperecível, pura e imaculada, que não muda nem se deteriora, guardada para vocês no céu” (1Pe 1.4, NVT). Ela está sendo guardada por Deus, garantida para nós, até o dia em que a receberemos em sua totalidade. Consegue imaginar como isso será?
O apóstolo João também declarou que, nesse dia glorioso, “seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2, ARA). Não haverá mais pecado em nós, nem limitações humanas, doenças, traumas ou dificuldades. Tudo o que nos aflige será removido para sempre! Contemplaremos nosso Salvador em sua glória e seremos libertos eternamente do poder do mundo, da inclinação do pecado em nós hoje e do diabo. James Montgomery Boice expressa de forma bela essa expectativa:
Quão pouco sabemos dessas bênçãos! Sabemos pouco até mesmo das bênçãos que Deus tem para nós aqui, como a oração, o estudo da Bíblia, as alegrias da comunhão cristã, o trabalho significativo, [as ordenanças]. Mas, se isso é verdade em relação às coisas terrenas, quanto mais verdadeiro será em relação às coisas celestiais! O que sabemos sobre as alegrias celestiais? A nova Jerusalém? A visão beatífica [que será ver Deus face a face em toda a sua glória e majestade, um estado de bem-aventurança]?
Essa falta de conhecimento foi reconhecida pelo próprio Paulo em sua carta aos coríntios, quando afirmou: “Agora vemos de modo imperfeito, como um reflexo no espelho, mas então veremos tudo face a face. Tudo que sei agora é parcial e incompleto, mas conhecerei tudo plenamente, assim como Deus já me conhece plenamente.” (1Co 13.12). Embora nosso conhecimento atual seja limitado e imperfeito, estamos convidados a buscar mais. À medida que oramos uns pelos outros, estudamos a Palavra e crescemos na graça, começamos a experimentar mais dessas riquezas e vislumbrar o que nos aguarda. E no dia em que estivermos com Cristo, tudo será revelado em plenitude.
3. A grandeza insuperável do poder de Deus para conosco, os que cremos (v. 19)
Por fim, Paulo Paulo desejava que os efésios obtivessem um coração iluminado para serem capazes de compreender a grandeza insuperável do poder de Deus para conosco, os que cremos (Ef 1.19). A palavra grega usada para “poder”, dunamis, significa “capacidade” ou “potencial”. No entanto, o poder de Deus não é apenas potencial; ele é extraordinário, incomparável e efetivo. A palavra huperballo descreve esse poder como algo que transcende completamente qualquer comparação—ele pertence a uma esfera totalmente diferente: esse “poder” (dunamis) é de uma “grandeza insuperável”.
Esse é o poder que dá vida ao que estava morto. Foi por meio dele que Cristo ressuscitou dos mortos, e foi esse poder que fez Cristo sentar-se no lugar de honra, à direita de Deus, nos domínios celestiais (Ef 1.20); e foi esse mesmo poder que nos libertou da morte espiritual causada pelo pecado (Ef 2.1-5). Paulo, portanto, desejava que os efésios entendessem esse poder de forma profunda, para que soubessem que: 1) Deus está ao nosso lado, pronto para nos ajudar a enfrentar qualquer obstáculo ou desafio que surja. 2) O poder de Deus nunca é inativo, ele está sempre operando em favor dos que creem. 3) Deus luta constantemente contra as forças do mal para proteger e sustentar os crentes. E 4) Nenhuma força humana ou espiritual—nem mesmo Satanás—pode impedir ou alterar o propósito e o poder de Deus.
ESSA ORAÇÃO DE PAULO é marcada por uma paixão intensa e um propósito claro. Ele não orava superficialmente; ele desejava que os efésios experimentassem plenamente o que Deus tem disponível para os que creem. O que Paulo pediu para eles também está disponível para nós hoje: o conhecimento de Deus e um coração iluminado para enxergar 1) a esperança do nosso chamado, 2) a riqueza gloriosa da nossa herança e 3) a grandeza insuperável do poder de Deus para conosco, os que cremos.
REALMENTE, O SILÊNCIO DE DEUS PODE PARECER DESESPERADOR. Mas quem disse que Deus está em silêncio? Muitas vezes, somos nós que, por distração, incredulidade, prioridades distorcidas ou dureza de coração mesmo, olhamos mas não enxergamos, ouvimos mas não escutamos. Paulo entendia bem essa limitação humana, e por isso orou fervorosamente pelos efésios. Ele sabia que eles precisavam de uma percepção espiritual mais profunda, e nós também precisamos.
As mesmas deficiências espirituais — auditivas e visuais — que afetavam os crentes da Ásia Menor ainda nos afligem hoje, e afligiram os crente hebreus. Precisamos de olhos que veem e ouvidos que ouvem, porque Deus já se revelou! Ele já falou de forma clara e poderosa, tanto por meio da criação, quanto por sua Palavra e, principalmente, por seu Filho, Jesus Cristo — de forma definitiva.
A QUESTÃO NÃO É SE DEUS ESTÁ EM SILÊNCIO, mas se estamos atentos para ouvir e ver aquilo que ele já declarou:
Hebreus 1.1-4 (NVT)
1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo. 3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata quem Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
NAS PRÓXIMAS MENSAGENS, Deus permitindo, exploraremos essa realidade gloriosa exatamente como o autor de Hebreus a apresentou aqui na abertura de sua epístola. É como se ele estivesse lá, em viva voz, pregando àquela pequena congregação de joelhos vacilantes e mãos cansadas, oferecendo encorajamento e renovação.
Essa mensagem, pela Providência, não ficou confinada ao passado; ela ecoa até hoje, com a mesma força e urgência. De fato, se o autor de Hebreus estivesse aqui entre nós, diria com convicção: “Revigorem suas mãos cansadas e seus joelhos enfraquecidos” (Hb 12.12, NVT). E nos lembraria: “Nestes últimos dias, [Deus] nos falou por meio do Filho” (Hb 1.2, NVT).
REVIGOREM-SE, OVELHAS DE CRISTO! Não estamos desamparados. A palavra que Deus já nos deu em Cristo é suficiente para nos sustentar, renovar nossas forças e guardar em paz o nosso coração, mesmo diante das lutas e incertezas da vida. Foi por isso que Paulo declarou aos filipenses:
Filipenses 4.6-9 (NVT)
6Não vivam preocupados com coisa alguma; em vez disso, orem a Deus pedindo aquilo de que precisam e agradecendo-lhe por tudo que ele já fez. 7Então vocês experimentarão a paz de Deus, que excede todo entendimento e que guardará seu coração e sua mente em Cristo Jesus. […] 8bConcentrem-se em tudo que é verdadeiro, tudo que é nobre, tudo que é correto, tudo que é puro, tudo que é amável e tudo que é admirável. Pensem no que é excelente e digno de louvor. 9Continuem a praticar tudo que aprenderam e receberam de mim, tudo que ouviram de mim e me viram fazer. Então o Deus da paz estará com vocês.
Revigorem-se! Deus não está em silêncio.
5 dicas:
S.D.G. L.B.Peixoto
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