27.10.2024
Êxodo 20.1-26 (NVT)
1Então o Senhor deu ao povo todas estas palavras: 2“Eu sou o Senhor, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo.
3“Não tenha outros deuses além de mim.
4“Não faça para si espécie alguma de ídolo ou imagem de qualquer coisa […]
7“Não use o nome do Senhor, seu Deus, de forma indevida. […]
8“Lembre-se de guardar o sábado, fazendo dele um dia santo. […]
12“Honre seu pai e sua mãe. […]
13“Não mate.
14“Não cometa adultério.
15“Não roube.
16“Não dê falso testemunho contra o seu próximo.
17“Não cobice […]
O dever que Deus nos exige é a obediência à sua Palavra revelada. Como Criador, ele nos chama, criaturas que somos, a amá-lo e servi-lo, e nossa responsabilidade é ainda maior como cristãos, pois fomos redimidos do pecado e do inferno por Cristo Jesus.
Desde o princípio, Deus estabeleceu uma regra de obediência, como vemos no mandamento dado a Adão, representante da humanidade, de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Esse mandamento revela que a moralidade não é fruto de convenções humanas, mas fundamentada na autoridade divina, como registrado em Gênesis 2.16-17 e 3.3. Além desse mandamento, Deus inscreveu sua lei moral no coração humano, permitindo que Adão e Eva soubessem o que era certo ou errado em seu estado de inocência, sem necessidade de uma revelação escrita. Contudo, após a queda, essa lei interna foi obscurecida pelo pecado. Ainda que a consciência reflita parte dessa lei, ela se tornou insuficiente, tornando essencial a revelação escrita das Escrituras, como evidencia Romanos 2.14-16 e 1.25.
Antes da queda, a lei interna já era clara ao ensinar que o maior dever é amar a Deus e ao próximo. Entretanto, com a entrada do pecado, mandamentos específicos se tornaram necessários, como “não terás outros deuses”, “não furtarás” e “não dirás falso testemunho”, para orientar a vida de maneira que agradasse a Deus.
A lei moral de Deus é resumida nos Dez Mandamentos, proclamados por ele no Monte Sinai e gravados em duas tábuas. Esses mandamentos se dividem em duas partes: os quatro primeiros referentes ao nosso dever para com Deus, e os seis restantes, ao nosso dever para com o próximo, revelando a centralidade do amor a Deus e ao próximo. Passemos, pois, à análise da lei moral de Deus.
Êxodo 20.1-26 (NVT)
1Então o Senhor deu ao povo todas estas palavras: 2“Eu sou o Senhor, seu Deus, que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo.
Nessa declaração, Deus manifesta sua soberania como o SENHOR — o Deus eterno, imutável e onipotente, que existe por si mesmo e criou todas as coisas por sua Palavra. Ele é o Deus da aliança, tanto com o antigo Israel quanto com todo o seu povo. Assim como libertou Israel da escravidão no Egito, ele nos liberta do cativeiro espiritual, e por isso devemos reconhecê-lo como nosso único Deus e guardar seus mandamentos.
Esse prefácio é fundamental, pois fornece a base do mandamento específico que o segue. Ele justifica nossa obediência a partir de dois fundamentos: 1) a soberania absoluta de Deus — “Eu sou o Senhor, seu Deus; e 2) sua obra redentora — “que o libertou da terra do Egito, onde você era escravo”.
Ignorar esse prefácio reflete o declínio religioso atual, onde a moralidade é frequentemente apresentada como resultado de considerações humanas, como bem-estar, segurança social ou sentimentos individuais. Aqueles que pensam assim veem o prefácio dos Dez Mandamentos como irrelevante, acreditando que é possível manter os “valores” dos mandamentos sem reconhecer a soberania e redenção divinas.
Precisamos resistir a essa visão e afirmar que a lei moral está centrada em Deus — não somente isso, a lei moral reflete o caráter santo de Deus. Portanto, o prefácio dos Dez Mandamentos estabelece a autoridade que sustenta a lei; desconsiderá-lo é negligenciar a fonte dessa autoridade, o que inevitavelmente leva a uma compreensão distorcida dessas leis.
A primeira tábua dos Dez Mandamentos, composta pelos quatro primeiros mandamentos, revela nosso dever para com Deus. A essência desses mandamentos é amar o Senhor de todo o coração, alma, forças e entendimento.
O Primeiro Mandamento
Êxodo 20.3 (NVT)
Não tenha outros deuses além de mim.
O primeiro mandamento rejeita o ateísmo, que nega a existência de Deus, o politeísmo, que acredita em múltiplos deuses, e o panteísmo, que identifica tudo como divino. Ele nos ensina que há um único Deus verdadeiro e revela um problema profundo do coração humano: a idolatria.
Todos nós adoramos algo ou alguém. Idolatria é colocar qualquer coisa ou pessoa no lugar de Deus, trocando a glória do Criador pelas coisas criadas, o que leva à ignorância e à corrupção moral (Rm 1.18-25). Os ídolos não se limitam a altares pagãos, mas também habitam os corações (Ez 14; Gl 5.19-20), uma vez que a idolatria é um problema de amor desordenado e confiança indevida. Portanto, precisamos reconhecer os ídolos como vazios e enganosos, e abandoná-los em arrependimento, voltando-nos com fé ao Deus vivo. Somente Deus pode preencher o coração humano. Devemos desfrutar e administrar as coisas criadas, mas adorar apenas o Criador!
O primeiro mandamento destaca o atributo da exclusividade de Deus. Podemos afirmá-lo como: “Eu serei o seu único Deus.” Isso nos ensina que Deus é zeloso e não compartilha Sua glória com ninguém.
O Segundo Mandamento
Êxodo 20.4-6 (NVT)
4“Não faça para si espécie alguma de ídolo ou imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou no mar. 5Não se curve diante deles nem os adore, pois eu, o SENHOR, seu Deus, sou um Deus zeloso. Trago as consequências do pecado dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me rejeitam, 6mas demonstro amor por até mil gerações dos que me amam e obedecem a meus mandamentos.
Este mandamento nos adverte contra adorar o objeto errado e contra adorar de maneira errada. Imagens esculpidas são objetos criados pelo homem para adoração, sendo ídolos tudo o que ocupa o lugar do verdadeiro Deus. Ídolos são impessoais e impotentes — surdos, mudos e mortos. Em contraste, Deus é o Criador dos céus, da terra e das águas, e de tudo o que neles há, e jamais deve ser confundido com suas criações (Rm 1.19-23). Nas pragas do Egito, ele demonstrou seu domínio sobre o mundo criado e humilhou os ídolos egípcios, revelando sua soberania.
Embora Deus abençoe certas expressões de arte visual, como a capacitação de Bezalel e Aoliabe (Êx 31.1-11), ele proíbe que façamos qualquer imagem dele, seja física ou mental, incluindo qualquer pessoa da Trindade, ou que utilizemos imagens na adoração. Isso se dá porque Deus é zeloso, não com um zelo mesquinho, mas com um zelo santo por sua própria glória (Êx 34.14). Ele não tolera que sua glória seja atribuída a algo criado.
As razões anexas ao segundo mandamento são:
Êxodo 20.5b-6 (NVT)
5b[…] sou um Deus zeloso. Trago as consequências do pecado dos pais sobre os filhos até a terceira e quarta geração dos que me rejeitam, 6mas demonstro amor por até mil gerações dos que me amam e obedecem a meus mandamentos.
O comentário de João Calvino nas Institutas (2.8.20-21) é esclarecedor sobre o segundo mandamento. Ele explica que Deus não pune um descendente justo pelos pecados dos antecessores ímpios. Em vez disso, a “visitação” da iniquidade ocorre quando o Senhor retira de uma família ímpia sua graça, a luz da verdade e os meios de salvação, entregando-os a si mesmos. Assim, os filhos, cegados e abandonados por Deus, seguem nas mesmas práticas dos pais e sofrem as consequências de suas próprias iniquidades, e não dos pecados alheios.
Por outro lado, a promessa divina de demonstrar amor “por até mil gerações dos que me amam e obedecem aos meus mandamentos” enfatiza a profundidade da graça de Deus. O termo “mil gerações”, tal como “terceira e quarta geração”, não indica um número literal, mas aponta para a abundância e durabilidade da misericórdia de Deus. Calvino observa que essa expressão, presente em passagens como Gênesis 17.7 — “no decurso das suas gerações” (ARA), é parte da aliança de Deus com seu povo, destacando a imensidão de sua misericórdia, em contraste com a punição limitada a apenas quatro gerações dos que o rejeitam.
Esse contraste entre misericórdia e punição revela um Deus que prefere mostrar graça e compaixão em vez de ira e juízo, reforçando o convite para amá-lo e obedecer aos seus mandamentos.
Portanto, para levarmos a sério as razões anexas ao segundo mandamento, é crucial termos um compromisso sincero e consciente em relação ao culto a Deus. Devemos nos dedicar fielmente à adoração, evitando práticas ou atitudes que contrariem sua vontade revelada na Palavra.
O Terceiro Mandamento
Êxodo 20.7 (NVT)
Não use o nome do SENHOR, seu Deus, de forma indevida. O SENHOR não deixará impune quem usar o nome dele de forma indevida.
Para entender este mandamento, é útil dividi-lo em partes. Primeiro, ele nos chama a prestar atenção ao “nome do SENHOR, seu Deus”. Isso não se limita apenas ao nome — “SENHOR” ou “YAHWEH” —, mas inclui tudo o que está associado a esse nome, como sua essência e natureza. Deus deve ser altamente valorizado e honrado, pois é digno da mais profunda reverência. Um ponto importante é que apenas Deus se autodenomina “EU SOU”, revelando sua autoridade, domínio e poder, o que destaca sua singularidade — sem início nem fim.
“Usar” o nome de Deus em vão vai além de simplesmente pronunciá-lo; refere-se a portar ou carregar seu nome. Aqueles que se identificam como seguidores de Cristo são chamados a viver de maneira que exalte a reputação de Deus.
Além disso, o mandamento nos adverte contra usar o nome de Deus de forma falsa ou sem propósito, o que inclui momentos de culto em que cantamos ou falamos sobre Deus sem verdadeira devoção. Como cristãos, carregamos seu nome (At 4.12; Rm 10.13; 1Jo 5.13), o que significa que a reputação de Deus está vinculada a nós. Portanto, devemos viver de forma a glorificar seu nome e refletir sua santidade.
O Quarto Mandamento
Êxodo 20.8-11 (NVT)
8“Lembre-se de guardar o sábado, fazendo dele um dia santo. 9Você tem seis dias na semana para fazer os trabalhos habituais, 10mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, seu Deus. Nesse dia, ninguém em sua casa fará trabalho algum: nem você, nem seus filhos e filhas, nem seus servos e servas, nem seus animais, nem os estrangeiros que vivem entre vocês. 11O SENHOR fez os céus, a terra, o mar e tudo que neles há em seis dias; no sétimo dia, porém, descansou. Por isso o SENHOR abençoou o sábado e fez dele um dia santo.
Este mandamento se fundamenta na criação (v. 11), destacando que Deus criou os céus e a terra e descansou no sétimo dia. Ele também é reiterado em Deuteronômio 5.12-15 (NVT):
12Lembre-se de guardar o sábado, fazendo dele um dia consagrado, conforme o SENHOR, seu Deus, lhe ordenou. 13Você tem seis dias na semana para fazer os trabalhos habituais, 14mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, seu Deus. Nesse dia, ninguém em sua casa fará trabalho algum: nem você, nem seus filhos e filhas, nem seus servos e servas, nem seus bois, jumentos e outros animais, nem os estrangeiros que vivem entre vocês. Todos os seus servos e servas devem descansar como você. 15Lembre-se de que você era escravo no Egito, e o SENHOR, seu Deus, o tirou de lá com mão forte e braço poderoso. Por isso, o SENHOR, seu Deus, ordenou que você guarde o sábado.
Em Deuteronômio, o quarto mandamento é apresentado com ênfase na provisão e redenção de Deus ao libertar os israelitas do Egito. Enquanto em Êxodo o mandamento é baseado no descanso de Deus na criação, em Deuteronômio ele está ligado diretamente ao ato redentor. Assim, o povo de Deus é chamado a lembrar-se dele como Criador e Redentor, no “sábado”. Esse dia de descanso não é apenas uma pausa física, mas um momento de reflexão sobre a criação e a redenção, reconhecendo o cuidado e a provisão do Senhor.
Embora existam diferentes interpretações sobre como guardar o sábado atualmente, o foco principal reside em três aspectos: descanso, lembrança e adoração. Deus ordenou: “Lembre-se de guardar o sábado”, destacando a importância de refletir, meditar tanto na criação quanto na redenção. Em Êxodo 20.11, o mandamento aponta para o descanso de Deus após a criação, enquanto em Deuteronômio 5.15 destaca a redenção do povo do Egito — levando-os ao descanso.
O povo de Deus é chamado a lembrar e honrar a obra criadora, redentora e o descanso de Deus. Principalmente, o sábado aponta para um descanso final e completo, um tema aprofundado no Novo Testamento, que revela a promessa de repouso eterno em Cristo Jesus:
Hebreus 4.8-11 (NVT)
8Se Josué lhes tivesse dado descanso, Deus não teria falado de outro dia de descanso por vir. 9Logo, ainda há um descanso definitivo à espera do povo de Deus. 10Porque todos que entraram no descanso de Deus descansam de seu trabalho, como Deus o fez após a criação do mundo. 11Portanto, esforcemo-nos para entrar nesse descanso.
Alguns insistem rigorosamente que o descanso deve ocorrer no sétimo dia da semana. No entanto, a exigência moral não está no dia específico, mas no padrão bíblico de trabalhar seis dias e reservar um dia para descanso e adoração. Quando Paulo escreveu aos Colossenses, ele afirmou:
Colossenses 2.16-17 (NVT)
16Portanto, não deixem que ninguém os condene pelo que comem ou bebem, ou por não celebrarem certos dias santos, as cerimônias da lua nova ou os sábados. 17Pois essas coisas são apenas sombras da realidade futura, e o próprio Cristo é essa realidade.
Junte esses versículos aos seguintes:
Romanos 14.5-6 (NVT)
5Da mesma forma, há quem considere um dia mais sagrado que outro, enquanto outros acreditam que todos os dias são iguais. Cada um deve estar plenamente convicto do que faz. 6Quem adora a Deus num dia especial o faz para honrá-lo. Quem come qualquer tipo de alimento também o faz para honrar o Senhor, uma vez que dá graças a Deus antes de comer. E quem se recusa a comer certos alimentos deseja, igualmente, agradar ao Senhor e por isso dá graças a Deus.
Gálatas 4.10-11 (NVT)
10Vocês insistem em guardar certos dias, meses, estações ou anos. 11Temo por vocês. Talvez meu árduo trabalho em seu favor tenha sido inútil.
Esses textos indicam que Paulo considerava o sábado, junto com outras cerimônias judaicas, como sombras de algo maior. Isso, porém, não significa que Paulo estivesse descartando o princípio do descanso e adoração. Na verdade, a igreja primitiva adotou o primeiro dia da semana, o domingo, como o Dia do Senhor, seu dia de descanso e culto. Com a ressurreição de Cristo, o sábado judaico perdeu gradualmente sua centralidade, e o sétimo dia deixou de ser mencionado explicitamente, exceto como uma questão de consciência para alguns cristãos judeus, como Paulo sugere em Romanos 14.5. Isso demonstra uma transição na prática de culto, com a igreja cristã celebrando a nova criação e a redenção em Cristo no primeiro dia da semana.
Portanto, adoramos no Dia do Senhor (no domingo), seguindo o exemplo da igreja primitiva:
Atos 20.7 (NVT) No primeiro dia da semana, nos reunimos com os irmãos de lá para o partir do pão. Paulo começou a falar ao povo e, como pretendia embarcar no dia seguinte, continuou até a meia-noite.
1Coríntios 16.2 (NVT) No primeiro dia de cada semana, separem uma parte de sua renda. Não esperem até que eu chegue para então coletar tudo de uma vez.
Apocalipse 1.9-10 (NVT) 9Eu, João, irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no reino e na perseverança para a qual Jesus nos chama, estava exilado na ilha de Patmos por pregar a palavra de Deus e testemunhar a respeito de Jesus. 10Era o dia do Senhor, e me vi tomado pelo Espírito.
Inácio de Antioquia, um dos primeiros líderes da Igreja Cristã e um dos Pais Apostólicos, viveu entre o final do século I e o início do século II (cerca de 35-110 d.C.). Como bispo de Antioquia, uma das cidades mais importantes da época, Inácio é conhecido por suas cartas escritas enquanto era levado a Roma para o martírio.
Em seus escrito, ele aborda questões relacionadas à doutrina, à organização da igreja e à prática cristã. Uma de suas observações notáveis é sobre o Dia do Senhor, onde menciona que os cristãos não guardavam mais o sábado judaico, mas viviam segundo o “Dia do Senhor”, o domingo, comemorando a ressurreição de Cristo. Na sua Carta aos Magnésios (9.1), Inácio escreveu:
Aqueles que viveram segundo a ordem antiga vieram a uma nova esperança, não mais guardando o sábado, em ociosidade, mas vivendo de acordo com o Dia do Senhor, no qual também a nossa vida se levanta novamente por meio Dele e da sua morte.
Isso evidencia uma prática emergente na igreja primitiva de se reunir no domingo para adoração, em celebração da ressurreição de Cristo.
É essencial reconhecer que todos precisamos de um sábado, um princípio enraizado tanto na criação quanto na redenção. Embora haja discussões sobre qual dia seria adequado, o princípio do descanso é inegociável. O sábado é um presente de Deus para nós, proporcionando benefícios e nos ajudando a antecipar o descanso final que ainda está por vir.
Êxodo 20.9 nos lembra: “Você tem seis dias na semana para fazer os trabalhos habituais”, mostrando que Deus nos criou para o trabalho. Ao trabalharmos com dedicação, podemos desfrutar plenamente de um dia de descanso, que é essencial para a renovação do corpo, mente e coração. Portanto, trabalhe arduamente para a glória de Deus e participe do culto no Dia do Senhor.
O que aprendemos sobre Deus com isso? Ele é um Deus que trabalha e aponta o descanso. É o Criador soberano, eterno e redentor. Deus nos ensina a equilibrar trabalho e descanso, chamando-nos a confiar em Sua provisão e redenção.
A segunda tábua dos Dez Mandamentos, composta pelos seis últimos mandamentos, revela nosso dever para com o próximo. A essência desses mandamentos é amar o próximo como a nós mesmos e fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem por nós.
O Quinto Mandamento
Êxodo 20.12 (NVT)
Honre seu pai e sua mãe. Assim você terá vida longa e plena na terra que o SENHOR, seu Deus, lhe dá.
Deus nos ordena a honrar pai e mãe. O verbo “honrar” transmite a ideia de reconhecer o “peso” ou a importância de algo, o que implica dar aos pais o respeito e a consideração devidos à sua posição. Desconsiderá-los ou tratá-los com desprezo, na lei de Israel, era uma ofensa grave, podendo resultar em pena de morte (Lv 20.9) e, em alguns casos, até em apedrejamento (Dt 21.18-21). Isso mostra o quanto Deus valoriza o respeito aos pais e, por extensão, a todas as figuras de autoridade.
O que essa ordem nos revela sobre Deus? Aprendemos sobre sua autoridade e também sua provisão. O mandamento traz uma promessa: “viver muitos anos na terra que ele nos dá”, refletindo a generosidade de Deus e seu desejo de nos abençoar com uma vida longa e plena — e ordenada em submissão amorosa.
Como pais, somos chamados a imitar nosso Pai celestial, que é o exemplo perfeito de amor, disciplina e cuidado. Como filhos, devemos oferecer obediência honrosa, reconhecendo o papel essencial dos pais e retribuindo com respeito e gratidão.
O Sexto Mandamento
Êxodo 20.13 (NVT)
Não mate.
Este mandamento utiliza uma das oito palavras hebraicas possíveis para “matar”, e essa palavra específica abrange tanto o assassinato intencional e premeditado quanto o homicídio acidental. Refere-se à remoção imprópria da vida de alguém, motivada por razões egoístas e sem autorização. O mandamento deixa claro que ninguém deve matar de forma ilegal, e que nenhum israelita podia, por si só, decidir tirar a vida de alguém. Isso enfatiza que a vida é sagrada!
O que aprendemos sobre Deus com esse mandamento? Aprendemos que não devemos assassinar porque somente Deus é o doador da vida (Dt 32.39), e as pessoas são feitas à Sua imagem. Jesus aprofundou esse princípio ao ensinar que a ira se assemelha ao assassinato (Mt 5.22), e Tiago nos lembra de não amaldiçoar as pessoas, pois elas foram criadas à imagem de Deus (Tg 3.9).
O Sétimo Mandamento
Êxodo 20.14 (NVT)
Não cometa adultério.
Este mandamento aborda a pureza sexual com o objetivo de promover um coração puro, especialmente dentro do casamento. Ele se refere especificamente ao adultério, ou seja, à infidelidade conjugal. Como Jesus ensinou, aquele que olhar para uma mulher com intenção impura já cometeu adultério em seu coração (Mt 5.27-28). O princípio aqui é um coração puro.
O que este mandamento nos revela sobre Deus? Ele reflete a fidelidade e santidade de Deus, que é santo e espera que seu povo também seja santo (1Pe 1.15-16). Deus deseja que sigamos Sua palavra fielmente, especialmente em nossos relacionamentos. É importante lembrar que Deus não nos priva de alegria; dentro da aliança do casamento, há grande prazer e intimidade na união de uma só carne. Seus mandamentos são para o nosso bem e para o bem daqueles ao nosso redor.
O Oitavo Mandamento
Êxodo 20.15 (NVT)
Não roube.
Este mandamento trata de tomar aquilo que não nos pertence. Isso pode ocorrer de diversas formas, mas sua essência remonta ao início, quando o ser humano tentou tomar o que não lhe foi dado — o fruto da árvore no Jardim do Éden. O oposto de roubar é ter gratidão pelo que Deus nos concedeu graciosamente. Em vez de roubar, devemos cultivar corações agradecidos, alegrando-nos com as bênçãos de Deus e sendo bons mordomos do que Ele nos confiou. A falta de contentamento pode nos levar a pecar contra o Senhor, tomando o que não é nosso.
Devemos lembrar que tudo o que temos pertence a Deus. Assim como Ele nos dá livremente, somos chamados a dar generosamente. Deus é nosso Provedor, e porque Ele supre tudo o que precisamos, não há necessidade de roubar. Paulo ensina a Timóteo que os ricos não devem “se orgulhar nem confiar em seu dinheiro, que é incerto, mas em Deus, que nos provê ricamente tudo de que necessitamos para nossa satisfação” (1Tm 6.17).
O Nono Mandamento
Êxodo 20.16 (NVT)
Não dê falso testemunho contra o seu próximo.
Tradicionalmente, este mandamento é resumido como “Não mentirás” ou “Não fofocarás”, mas a linguagem utilizada aponta para algo mais profundo. Ele está diretamente relacionado ao contexto de um testemunho legal e à responsabilidade de uma testemunha. Em vez de fornecer um testemunho falso, somos chamados a dar um testemunho verdadeiro e honesto. Porém, essa responsabilidade não se limita apenas ao tribunal, pois tudo está sob o “tribunal de Deus”, e seremos responsabilizados por nossas palavras.
Este mandamento reflete o atributo da veracidade de Deus. A Bíblia ensina que é impossível para Deus mentir (Tt 1.2). Portanto, somos chamados a refletir essa verdade em nossas vidas, sendo honestos e justos em todas as nossas palavras.
O Décimo Mandamento
Êxodo 20.17 (NVT)
Não cobice a casa do seu próximo. Não cobice a mulher dele, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem qualquer outra coisa que lhe pertença.
Este mandamento aborda os desejos distorcidos e o pecado do descontentamento. Em vez de ter um coração agradecido, o cobiçoso anseia pelo que pertence aos outros. É importante notar que este mandamento vai além das ações, tratando da natureza interior da lei, pois a cobiça está ligada ao coração e ao desejo. Mesmo sem uma ação externa, a cobiça é errada, pois nosso desejo deve estar voltado para Deus, que nos criou e redimiu. Assim, cobiçar também implica em quebrar o primeiro mandamento.
Jesus nos advertiu: “Cuidado! Guardem-se de todo tipo de ganância. A vida de uma pessoa não é definida pela quantidade de seus bens” (Lc 12.15, NVT). Em Hebreus 13.5, somos instruídos a viver livres do amor ao dinheiro. Não devemos confiar em riquezas ou viver ansiosos por bens materiais.
Este mandamento nos ensina sobre a fidelidade, a bondade e a provisão de Deus. Não precisamos nos preocupar com nossas necessidades ou desejar o que é dos outros, pois nosso Pai conhece cada uma delas (Mt 6.25-34) e satisfaz nossos anseios mais profundos.
É correto afirmar que os Dez Mandamentos representam a “lei moral”, distinta da “lei civil” e da “lei cerimonial” de Israel. As leis civis ainda servem como parâmetros úteis para leis de todas as épocas e culturas, e tanto a lei cerimonial quanto a civil contêm aspectos da lei moral de Deus.
Entretanto, é a lei moral que é reafirmada no Novo Testamento, permanecendo obrigatória para nós por continuar a refletir o caráter justo de Deus. Os autores da nova aliança referem-se aos Dez Mandamentos, muitas vezes de forma resumida (como em Mateus 15.19-20; Lucas 18.20; Romanos 13.8-10) e também individualmente (João 14.6; 5.23; 1João 5.21; Colossenses 3.23; Mateus 12.8; Hebreus 4.9; Efésios 6.1-2; Mateus 5.21-22, 27-30; Efésios 4.28; Colossenses 3.9; Lucas 12.15). Esses textos reafirmam a mesma justiça apresentada em Êxodo, mostrando-nos como viver de maneira justa e revelando nossas falhas em cumpri-los plenamente.
A boa notícia é que o Justo, Jesus, cumpriu esses mandamentos perfeitamente em nosso lugar e entregou sua vida por nós. Essa é a essência da nossa esperança e o ponto culminante desta mensagem.
Após a entrega dos Dez Mandamentos, o povo experimentou um profundo temor diante de Deus (Êx 20.18-21), mas falhou repetidamente em guardar a lei, assim como Moisés, seu mediador. Contudo, há um mediador maior que nunca falhou — Jesus Cristo.
Os Dez Mandamentos nos apontam para o Salvador. Jesus nasceu sob a lei para redimir os que estavam sob a lei (Gl 4.4-5). Ele cumpriu toda a lei em cada detalhe (Mt 5.17-18) e, na cruz, pagou a penalidade da lei, suportando sua maldição em nosso lugar (Gl 3.10-14; Cl 2.13-14). Por nós mesmos, não conseguimos cumprir a lei perfeitamente, precisamos de alguém que faça isso por nós. A lei nos conduz a Jesus, para que, por meio dele, recebamos perdão e um novo coração, sendo capacitados pelo Espírito Santo para obedecer. Embora não possamos cumprir a lei perfeitamente nesta vida e sempre precisemos da graça, não somos esmagados pela lei, pois em Cristo Jesus não há condenação (Rm 8.1). Com esse peso removido, podemos nos deleitar na lei de Deus, não vendo seus mandamentos como um fardo (1Jo 5.3).
Nossa esperança e força não vêm da nossa obediência à lei, mas da obediência de Cristo. Ele viveu a vida que não podíamos viver (cumprindo a lei) e morreu a morte que merecíamos (por quebrarmos a lei). É por isso que amamos Jesus.
Meu amigo, se você ainda não conhece a Cristo e leu os Dez Mandamentos pensando: “Como posso ser salvo se não consigo cumprir a lei de Deus?”, há apenas um caminho: Jesus. Olhe para ele e creia. Receba, pela fé, a justiça perfeita dele. Cristo é sua única esperança. Olhe para Aquele que cumpriu esses mandamentos perfeitamente e morreu por aqueles que os quebraram. Olhe para Aquele que prometeu enviar o Espírito para a salvação e santificação do pecador.
Ezequiel 36.25-27 (NVT)
25“Então aspergirei sobre vocês água pura, e ficarão limpos. Eu os purificarei de sua impureza e sua adoração a ídolos. 26Eu lhes darei um novo coração e colocarei em vocês um novo espírito. Removerei seu coração de pedra e lhes darei coração de carne. 27Porei dentro de vocês meu Espírito, para que sigam meus decretos e tenham o cuidado de obedecer a meus estatutos.
E quanto a você, meu irmão e minha irmã em Cristo, regozije-se, pois você tem um Salvador que viveu e morreu por você. Pelo poder do Espírito, como nova criação, viva esses mandamentos para a glória do nosso grande e maravilhoso Deus, pois Ele prometeu, pelo Espírito, gravar Sua lei em seu coração e capacitar você a cumpri-la:
Jeremias 31.31-34 (NVT)
31“Está chegando o dia”, diz o SENHOR, “em que farei uma nova aliança com o povo de Israel e de Judá. 32Não será como a aliança que fiz com seus antepassados, quando os tomei pela mão e os tirei da terra do Egito. Embora eu os amasse como o marido ama a esposa, eles quebraram a aliança”, diz o SENHOR.
33“E esta é a nova aliança que farei com o povo de Israel depois daqueles dias”, diz o SENHOR. “Porei minhas leis em sua mente e as escreverei em seu coração. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. 34E não será necessário ensinarem a seus vizinhos e parentes, dizendo: ‘Você precisa conhecer o SENHOR’. Pois todos, desde o mais humilde até o mais importante, me conhecerão”, diz o SENHOR. “E eu perdoarei sua maldade e nunca mais me lembrarei de seus pecados.”
A nova aliança, no sangue de Cristo, é o que celebraremos agora na Ceia do Senhor. Que ao participarmos, lembremos do sacrifício de Jesus, que nos trouxe redenção e vida nova, e nos regozijemos na comunhão com ele e com o corpo de Cristo.
Muitos não gostam da ideia de lei, nem mesmo dos Dez Mandamentos. Mas já parou para pensar em como seria o mundo se vivêssemos plenamente de acordo com eles? Um mundo onde todos honrassem a Deus acima de tudo, sem ídolos ou profanações, respeitando o nome do Senhor e guardando um dia de descanso e adoração. Um lugar onde pais fossem honrados, onde ninguém matasse, traísse seu cônjuge, roubasse, mentisse ou cobiçasse o que pertence ao próximo. Imagine uma sociedade em que amar a Deus e ao próximo fosse o princípio norteador de todas as ações e relações. Se vivêssemos assim, teríamos um mundo de respeito, justiça, paz e verdadeira comunhão.
S.D.G. L.B.Peixoto
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