28.11.2021
[1Coríntios 14.26 e 40] Pois bem, irmãos, o que fazer, então? Quando vocês se reunirem, um cantará, o outro ensinará, o outro revelará, um falará em línguas e outro interpretará o que for dito. Tudo que for feito, porém, deverá fortalecer a todos. 40[…] cuidem para que tudo seja feito com decência e ordem.
Hoje pela manhã nós vimos que a reunião pública da igreja para culto é essencial. Agora nós precisamos entender o que a igreja deve fazer nessa reunião.
Para quê e como deve ser o culto?
Você sabe dizer qual é o propósito para esta reunião?
Para quê a igreja se reúne dominicalmente?
Ora, reunimo-nos para culto. Adoração a Deus. Não é mesmo?
Mas o que é culto? O que é adoração a Deus?
Por exemplo, no texto que lemos, Paulo disse que na reunião da igreja, no culto da igreja em Corinto, os irmãos deveriam ter uma ordem no culto, uma ordem de culto de tal modo que tudo fosse feito para “fortalecer [edificar] a todos”, tudo com decência e ordem! Reveja:
1Coríntios 14.26 Pois bem, irmãos, o que fazer, então? Quando vocês se reunirem, um cantará, o outro ensinará, o outro revelará, um falará em línguas e outro interpretará o que for dito. Tudo que for feito, porém, deverá fortalecer a todos. 40[…] cuidem para que tudo seja feito com decência e ordem.
Se o culto é para Deus, se a adoração é à Deus, porque se preocupar com que tudo no culto seja feito com vistas a fortalecer [edificar] a todos? “Decência e ordem” para quê? Afinal, se vem do coração, por que limitar ou impedir a expressão pública?
A resposta óbvia é a seguinte: a edificação do povo de Deus no culto a Deus glorifica a Deus. Decência e ordem contribuem para a edificação, elimina a confusão. Ponto.
Ora, certamente que há outras perguntas sobre a adoração – muitas outras, na verdade, especialmente no contexto de uma igreja local. Exemplo: exatamente o que há na adoração corporativa ou pública que a torna diferente de várias centenas de famílias reunidas ao mesmo tempo, cada uma na sua casa (acompanhando o culto online), adorando a Deus em família, em vez de estar todos juntos no mesmo templo ou local adorando ao Senhor? O que torna especial a presença no templo? O que podemos fazer para ajudar uns aos outros a glorificar a Deus durante o nosso culto de adoração coletiva semanal?
Gente, obviamente que não podemos responder nesta única mensagem a tudo o que há a dizer sobre a adoração da igreja local. Mas é importante que consideremos como podemos ajudar uns aos outros em direção ao objetivo final de adorar a Cristo no culto público da igreja – uma vez que a adoração pública é essencial.
Nesse sentido, a primeira coisa a se fazer é entender O QUE É ADORAÇÃO. Desenvolver uma definição bíblica de adoração não é fácil. Não há correspondência direta de qualquer palavra grega com a palavra “adoração” em português. É claro, no entanto, que a adoração se estende muito além do que acontece no prédio de uma igreja em uma manhã e noite de domingo – e certamente vai muito além do louvor na forma de música.
Adoração em Espírito e em Verdade
Uma das passagens bíblicas mais importantes sobre a adoração é João 4. O contexto é o encontro de Jesus com a mulher samaritana no poço de Jacó. Depois que Jesus alude ao pecado em sua vida, ela o convida (como maneira de se esquivar) para um debate sobre adoração. – “Os crentes deveriam adorar em Jerusalém, como disseram os judeus, ou nos montes gêmeos Gerizim e Ebal em Samaria?” – Jesus respondeu que a adoração não ficaria restrita a qualquer um dos lugares (v. 21), e então ele diz algo notável:
João 4.23-24 23Mas está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. O Pai procura pessoas que o adorem desse modo. 24Pois Deus é Espírito, e é necessário que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”.
As palavras “em espírito” e “em verdade” são importantes para entender a adoração verdadeira:
Adoração no Novo Testamento
Outras passagens do Novo Testamento também ensinam sobre a adoração. Paulo escreve assim em 1Coríntios 10.31: “Portanto, quer vocês comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, façam para a glória de Deus.” Desse modo, a adoração é uma questão de toda a vida do cristão, não apenas um momento “sagrado” da semana em algum local “sagrado”.
Paulo escreveu em Romanos 12.1:
Portanto, irmãos, suplico-lhes que entreguem seu corpo a Deus, por causa de tudo que ele fez por vocês. Que seja um sacrifício vivo e santo, do tipo que Deus considera agradável. Essa é a verdadeira forma de adorá-lo [λατρεια λογικος = culto ou serviço cúltico racional].
Cristo, o Cordeiro perfeito, é o único sacrifício suficiente para nós, e sua morte cumpriu o sistema de adoração do templo do Antigo Testamento. Portanto, os sacrifícios que oferecemos agora não são holocaustos; antes, oferecemos todos os aspectos de nossa vida a Deus. Somos chamados a oferecer todo o nosso ser ao Senhor, continuamente.
Na verdade, a adoração está no centro do que significa ser cristão. João resumiu a exigência que Deus faz à raça humana nestes termos:
Apocalipse 14.7 “Temam a Deus!”, dizia em alta voz. “Deem glória a ele, pois chegou o tempo em que ele julgará a humanidade. Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e todas as fontes de água.”
Uma definição de adoração
Se é um mandamento divino, como devemos definir adoração? D. A. Carson define:
A adoração é a resposta adequada de todos os seres morais e sensíveis a Deus, atribuindo de maneira agradável toda a honra e valor ao seu Deus Criador precisamente porque ele é digno. Neste lado da Queda, a adoração humana de Deus responde adequadamente às provisões redentoras que Deus proporcionou graciosamente. Enquanto toda adoração verdadeira é centrada em Deus, a adoração cristã não é menos centrada em Cristo. Fortalecida pelo espírito e em linha com as estipulações da nova aliança, manifesta-se em toda nossa vida, encontrando seu impulso no evangelho, que restaura nossa relação com nosso Deus Redentor e consequentemente, também, com nossos companheiros feitos à mesma imagem, nossos coadoradores. Tal adoração, portanto, manifesta-se tanto na adoração como na ação, tanto no cristão individual quanto na adoração coletiva, que é a adoração oferecida no contexto do corpo de cristãos, os quais se esforçam em alinhar todas as formas de sua devota atribuição de todo valor a Deus com toda a pompa de mandatos da nova aliança e exemplos que levam ao cumprimento as glórias da revelação precedente e antecipam a consumação.
Timothy Keller define adoração simplesmente como “ação obediente motivada pela beleza de quem Deus é em si mesmo.” Em outras palavras, é muito mais do que ser movido em nossos afetos, senão que certamente não é menos. Considerando tudo isso, aqui estão CINCO COISAS QUE PODEMOS DIZER SOBRE A NATUREZA DA ADORAÇÃO (e que desembrulham algumas das longas e densas citações de Carson):
E quanto à adoração corporativa? É simplesmente adorar publicamente a Deus com um grupo específico de pessoas? Importa o que fazemos na adoração corporativa?
O que aconteceria se nossa igreja decidisse fazer piqueniques, todos juntos, todos os domingos pela manhã, em vez de nos reunirmos neste prédio para o culto público? Ainda estaríamos nos reunindo e adorando juntos a Deus, claro. Então essa atividade se qualificaria como adoração corporativa? Afinal, estaríamos fazendo o piquenique para a glória de Deus e estaríamos juntos como uma congregação. Ou não?
Não! Certamente há algo mais na adoração corporativa do que um piquenique de igreja, por exemplo.
Adoração corporativa é fazer juntos o que Deus deseja que façamos
O fato é que a adoração corporativa não é simplesmente fazer juntos coisas relacionadas ou com conotação de adoração como uma igreja. ADORAÇÃO É FAZER AS COISAS QUE DEUS DESEJA QUE FAÇAMOS QUANDO ESTIVERMOS REUNIDOS COMO IGREJA. Isso não poderia ser mais claro no ensino das Escrituras. Quer ver?
Mesmo lá no início, ainda no Éden, Deus olhou com favor para a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim (Gn 4.4-5). Por quê? Porque há um tipo certo de adoração.
No segundo mandamento, Deus proibiu a adoração por meio de imagens, deixando claro que só ele regula a forma como deverá ser adorado (Êx 20.4).
Quando o povo fez o bezerro de ouro em Êxodo 32, eles não pretendiam que fosse outro Deus. Eles estavam adorando os “deuses que o[s] tiraram da terra do Egito”, inclusive o SENHOR (Êx 32.4-5). No entanto, eles o estavam adorando de uma forma que Deus havia proibido (um entre outros deuses e com imagem!), e as consequências foram as piores possíveis (leia em Êxodo 32.19-28).
Quando Nadabe e Abiú “trouxeram fogo estranho diante do SENHOR, diferente do que ele havia ordenado”, Deus os matou com fogo (Lv 10.1-3).
Quando Uzá estendeu a mão para segurar a arca, suas intenções eram boas. No entanto, ele estava tentando “servir a Deus”, por assim dizer, de uma forma que Deus não queria ser servido. Por isso, 2Samuel 6.7, “a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu por causa disso. E ele morreu ali mesmo, ao lado da arca de Deus.”
No Novo Testamento, Jesus rejeitou a adoração dos fariseus, citando Isaías 29.13, dizendo em Marcos 7.7: “Sua adoração é uma farsa, pois ensinam doutrinas humanas como se fossem mandamentos de Deus.”
O ponto é que DEUS NÃO NOS DEIXA LIVRES PARA IMPROVISAR OU INVENTAR em nossa adoração corporativa. Na verdade, ele nos disse na Bíblia o que deve acontecer quando uma congregação se reúne publicamente com o propósito de adorar a Deus. Aqui estão algumas das coisas que vemos os crentes fazendo juntos na adoração corporativa da igreja local no Novo Testamento:
E, claro, todos esses elementos devem ser infundidos com a verdade das Escrituras, feitos com decência e ordem, para a glória de Deus e a edificação dos crentes reunidos (1Co 14.26 e 40). PORTANTO, PODEMOS DIZER QUE A ADORAÇÃO CORPORATIVA É o ato de uma congregação de louvar a Deus juntos por meio das formas e elementos ordenados e exemplificados nas Escrituras.
Adoração não é (só) cantar
Uma implicação importante de tudo isso é que a adoração corporativa é muito mais do que cantar, como quando costuma-se dizer: “Agora que terminamos a adoração” ou “agora que acabamos de louvar, vamos ouvir a pregação.” Na verdade, o centro de nossa adoração corporativa – a adoração mais importante que fazemos – é ouvir a Deus por meio de sua Palavra pregada (e, claro, também cantada – uma vez que encorajamos uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, Ef 5.19).
Meu povo, é claro que cantar faz parte da nossa adoração, e Deus nos fez de tal forma que a música envolve profundamente nosso coração e mexe com nossas afeições. É por isso que as Escrituras nos mandam cantar. Mas, embora cantar seja adoração, nunca devemos cair na armadilha de pensar que adoração é (só) cantar.
O que a adoração corporativa faz que a nossa adoração particular não faz?
1. A adoração corporativa demonstra ao mundo nossa unidade para a glória de Deus
Momentos a sós com Deus ou de adoração em família são momentos maravilhosos, e indispensáveis, de adoração. Contudo, há algo especial em se reunir publicamente com toda a igreja e louvar a Deus juntos. Cantando, orando, lendo e pregando as Escrituras, e confessando nossa fé juntos, demonstramos ao mundo de uma forma única que somos unidos por nossa fé no Senhor Jesus Cristo. Tão diferentes, mas todos juntos em Cristo.
Filipenses 2.3-5 3Não sejam egoístas, nem tentem impressionar ninguém. Sejam humildes e considerem os outros mais importantes que vocês. 4Não procurem apenas os próprios interesses, mas preocupem-se também com os interesses alheios. 5Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus.
2. A adoração corporativa permite que nos ajudemos mutuamente na adoração
Uma das grandes vantagens de adorarmos juntos como igreja é que podemos ajudar uns aos outros a compreender a glória de Deus e responder com alegria à essa manifestação. Isso acontece na estrutura de nossos cultos de adoração (liturgia ordenada, cadenciada, didática: hora para todas as coisas, decência e ordem, λατρεια λογικος = culto racional); acontece quando os músicos tocam seus instrumentos, acontece no crescendo das vozes enquanto cantamos juntos, na oração que ouvimos outros fazerem, no trabalho de homens que estudaram muito para preparar e pregar um sermão, além de outras muitas maneiras.
Pare e pense em quanto os cultos corporativos nos ajudam e nos ensinam em todas as coisas.
Aqui estão algumas coisas que podemos fazer juntos para ajudar uns aos outros a adorar a Deus quando nos reunimos: [1.] frequente regularmente os cultos, [2.] chegue mais cedo e ore para se preparar, [3.] cante com alegria e bem alto, [4.] converse sobre o sermão após o culto, [5.] expresse alegria um ao outro durante o culto, [6.] dê as boas-vindas àqueles rostos diferentes ao seu redor, [7.] esteja atento e faça anotações durante o sermão, [8.] promova uma cultura de devoção. Lembre-se de que o autor de Hebreus nos diz para pensar “em como motivar uns aos outros na prática do amor e das boas obras” (Hb 10.24). Isso certamente inclui ajudar uns aos outros na adoração.
3. A adoração corporativa edifica os crentes
A adoração corporativa é uma oportunidade para edificarmos uns aos outros. Você pode se surpreender ao descobrir que, nas Escrituras, Deus não é o único a quem nós nos dirigimos durante os momentos de adoração corporativa. Paulo escreveu aos efésios, por exemplo, Efésios 5.19: “cantando salmos, hinos e cânticos espirituais entre si e louvando o Senhor de coração com música.”
Percebeu?
Quando cantamos no domingo de manhã e à noite, lemos as Escrituras ou oramos, estamos nos comunicando não apenas com Deus, mas também uns com os outros. Por que isso é importante? Porque somos pessoas fracas, que precisam ser constantemente lembradas das grandes verdades das Escrituras. Como Pedro escreveu, em 2Pedro 1.12: “Portanto, sempre lhes lembrarei estas coisas, embora já as saibam e estejam firmes na verdade que lhes foi ensinada.” Ora, meu povo, precisamos ser recorrentemente lembrados da necessidade de perseverar nesta vida, e nosso tempo de adoração corporativa é talvez a maneira mais importante de fazermos isso uns pelos outros.
4. A adoração corporativa oferece um sabor do céu
A Bíblia começa em um jardim, mas termina em uma cidade. O céu é o lugar onde toda a comunidade do povo de Deus – reunido na presença de Deus – vai morar com ele para sempre, louvando seu nome e se deleitando em sua glória.
A adoração corporativa é um sabor instantâneo dessa experiência – algo que podemos apreciar nesta vida. O autor de Hebreus pinta um belo quadro do que nos espera:
Hebreus 12.22-24 22Vocês, porém, chegaram ao monte Sião, à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, aos incontáveis milhares de anjos em alegre reunião, 23à congregação dos filhos mais velhos, cujos nomes estão escritos no céu, e a Deus, que é juiz de todos, aos espíritos dos justos no céu, agora aperfeiçoados, 24a Jesus, o mediador da nova aliança, e ao sangue aspergido, que fala de coisas melhores do que falava o sangue de Abel.
Quando nos reunimos em adoração na manhã e na noite de domingo, temos um vislumbre da glória daquela congregação celestial. É quando o céu parece mais real e as coisas de Deus parecem mais valiosas.
O que faz a adoração corporativa ser única na vida dos crentes? Por que o culto público é indispensável para a igreja local, os membros da igreja local?
E em tudo isso a adoração corporativa serve de testemunho para este mundo.
Apesar da quebradeira e da escuridão deste mundo tenebroso, fomos feitos para o céu – e quanto mais agirmos à luz dessa verdade, melhor usaremos esta vida para a glória de Deus. Portanto, precisamos ser lembrados, todos os domingos, de como será louvar a Deus para sempre com seu povo reunido diante do trono do Cordeiro.
A vida é difícil e tantas vezes passamos por tempos difíceis, logo, não é sem razão que as promessas de nosso Senhor e a morada final que ele preparou para nós podem parecer distantes, quase como um conto de fadas. Portanto, saboreie os momentos em que você está cercado por irmãos e irmãs em Cristo que estão extasiados com a beleza de Cristo. Aproveite os momentos em que o céu parece real, porque você sabe que adorará com esses irmãos e irmãs – e outros milhares de milhares mais – por toda a eternidade. O CULTO DA IGREJA É ESSENCIAL.
Nas próximas mensagens (concluindo a série), Deus permitindo:
S.D.G. L.B.Peixoto
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