08.04.2020
Lucas 23.34
Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”.
O TESTAMENTO DE JESUS
São reveladoras as últimas palavras de qualquer pessoa face a face com a morte. Como uma espécie de ultrassonografia em 3D (exame de diagnóstico por imagem), elas expõem o que a pessoa está gestando na cabeça e no coração. Por exemplo: Conta-se que Napoleão Bonaparte morreu às 17h49, em 5 de maio de 1821, aos 51 anos de idade, em Santa Helena, uma ilha isolada no Atlântico Sul — aquele parecia ser o local ideal para se refugiar dos aliados ferozes que o perseguiam: Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia.
Várias pessoas cercavam o imperador prostrado e moribundo — enquanto alguns atestam que era por causa de um câncer de estômago que se alastrou, outros relatam que ele foi vítima de envenenamento por arsênico. Dessa nuvem de testemunhas, ouve-se que Napoleão morreu delirando e dizendo várias palavras desconexas. O seu grande e fiel marechal, general Henri Bertrand, ouviu algumas palavras na noite da véspera da morte. Após conversar com Louis-Joseph Marchand, criado particular de Napoleão, general Bertrand anotou em seu diário:
Durante a noite [de 4 de maio], o imperador havia falado o nome de seu filho antes de dizer “À frente do exército”. Na véspera, ele havia perguntado duas vezes: Qual é o nome do meu filho filho? e Marchand [o criado] respondeu: “Napoleão”.
No início da manhã do dia da morte de seu venerável, aos 5 de maio, general Bertrand voltou a anotar em seu diário pessoal:
Das três às quatro e meia, havia soluços e gemidos abafados. Depois, gemeu e bocejou. Ele parecia estar com muita dor. Ele pronunciou várias palavras que não puderam ser distinguidas e, em seguida, disse “Quem recua” ou definitivamente: “No comando do Exército”.
O médico de Napoleão, Francesco Antommarchi, confirma algumas dessas palavras relatadas por Bertrand, ao registrar:
O relógio marcava cinco e meia [da manhã], e Napoleão continuava delirando, falando com dificuldade e proferindo palavras quebradas e desarticuladas; entre outras, ouvimos as palavras “Comandante… Exército” e estas foram as últimas que ele pronunciou; pois assim que passaram pelos lábios dele, ele perdeu o poder da fala.
Marchand, o criado de Napoleão já mencionado, também registrou as últimas palavras de seu amo e senhor. Elas diferem um pouco daquelas ouvidas por Bertrand e Antommarchi, mas são reveladoras:
Os soluços que apareciam apenas em intervalos se tornaram muito mais frequentes e o delírio não parou; o imperador pronunciou muitas palavras desarticuladas que poder ser traduzidas como “França… meu filho… exército”. Podemos concluir com absoluta certeza que sua última preocupação, seus últimos pensamentos foram para a França, seu filho e o exército. Essas foram as últimas palavras que deveríamos ouvir.
Charles de Montholon, outro general que cercava o moribundo Napoleão, fornece-nos algo mais:
A noite foi muito ruim: por volta de duas horas [da madrugada] o delírio ficou evidente e foi acompanhado por contrações nervosas. Por duas vezes, pensei distinguir as palavras desconectadas, França… exército… capitão do exército… Josefina…
À luz do exposto, pode-se chegar a algumas conclusões. Napoleão entrou em um estado mental de incoerência no início da manhã de 5 de maio de 1821. Era difícil para seus atendentes distinguir suas últimas palavras, posto que não formavam uma única frase conectada, mas sim palavras que poderiam ser decifradas de enunciados geralmente desarticulados. Ele disse algo sobre “recuar… exército… capitão… capitão do exército. O imperador também disse algo sobre a “França”, além de dizer “meu filho” e “Josefina”, nome de sua primeira esposa.
Se as últimas palavras antes da morte são realmente capazes de nos fazer uma revelação honesta da pessoa, as últimas palavras de Napoleão revelam que seu amor duradouro sempre foi seu império, exército, as conquistas e a perpetuação do poder. Já as últimas palavras de seu filho, Napoleão II, revelam a dor de nunca ter conseguido se destacar como o pai na galeria dos grandes conquistadores da história.
Napoleão II nasceu em Paris, aos 20 de março de 1811, foi mediatamente intitulado Rei de Roma. Único herdeiro direto do pai, veio à luz da segunda esposa de Napoleão, a arquiduquesa Maria Luísa. Em 1815, com apenas quatro anos de idade, foi apontado pelo pai como seu sucessor no trono imperial francês, mas não teve seu título reconhecido nem pelos francesas nem pelas potências europeias. Foi levado, ainda naquele ano, para a Áustria para morar no Palácio de Schönbrunn com a mãe e seus outros parentes. Na corte austríaca, ficou conhecido apenas como Franz e pouca menção era feita ao rapaz a respeito de suas reivindicações imperiais na França. Foi educado em línguas (alemão e italiano), matemática e artes militares, mostrando boa proeminência nesses assuntos.
Sempre doente e bastante retraído, passou a ser conhecido, em 1818, como Duque de Reichstadt, título outorgado a ele por seu avô materno, o imperador austríaco Francisco I. Por pressão de nobres e políticos europeus, foi proibido a ele ter qualquer cargo político de fato. Em 1832, aos 21 anos, foi acometido de pneumonia, que o enfraqueceu consideravelmente. Em julho do mesmo ano faleceu, em Viena, de tuberculose. Diz-se que, nos últimos dias de vida, ele teria dito:
Devo terminar tão jovem uma vida que é inútil e sem um nome? Meu nascimento e minha morte — essa é toda a minha história.
Que lástima morrer assim! Que triste morrer agarrado ao poder e à fama ou mesmo lamentado por nunca tê-la obtido! O que seria pior?
Penso que pior do que morrer agarrado ao amor pelo mundo seria morrer zombando da vida e da própria morte, sem qualquer certeza do que se esperar do outro lado. Jack Daniels, famoso destilador de uísque, morreu de septicemia aos 10 de outubro de 1911. A infecção que o matou começou no dedão do pé, veja você!, que ele feriu depois de chutar um cofre. Suas últimas palavras teriam sido:
Uma última dose, por favor!
Ainda mais triste e trágico foi que esta frase com as últimas palavras de Jack Daniels foram usadas em uma campanha publicitária em 2006 para o uísque que traz no rótulo o seu nome. Bob Marley foi mais consciente. A estrela do reggae morreu de melanoma maligno, encontrado no dedo do pé em julho de 1977. O cantor recusou uma amputação e a doença acabou se espalhando para os pulmões e o cérebro. Suas últimas palavras foram ditas ao filho Ziggy, antes de morrer aos 36 anos, aos 11 de maio de 1981 — foram elas:
O dinheiro não pode comprar a vida.
Já o músico e compositor famoso, Frederic Chopin, morrendo de tuberculose, teria implorado: “A terra é sufocante, você jura que irá fazê-los me cortar para que eu não seja sepultado vivo?” O renomado estadista inglês e primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, pronunciou melancolicamente as seguintes palavras, antes de entrar em coma e morrer nove dias mais tarde: “Estou entediado com tudo isso”. O escritor Victor Hugo teria dito: “Eu vejo luz negra”. Leonardo Da Vinci, que dispensa comentários, teria proferido: “Eu ofendi a Deus e a humanidade porque o meu trabalho não alcançou o padrão de qualidade que deveria atingir”.
Como as últimas palavras antes da morte são capazes de revelar o coração de uma pessoa! Aliás, como disse o Senhor da vida, “a boca fala do que o coração está cheio” (Lc 6.45), e isto se aplica também à hora da morte.
Permita-me um último personagem cara a cara com a morte: Karl Marx, que era, dentre outras coisas, filósofo, historiador e sociólogo de origem alemã. Marx ficou conhecido por sustentar, durante a vida, que as sociedades progridem através das lutas de classe. Pois bem, aos 14 de março de 1883, ele morreu de bronquite e pleurisia — que é a inflamação das pleuras, tecidos que revestem os pulmões e a parede do peito. Conta-se que sua governanta (veja bem, Marx tinha sim uma governanta!, mas isto é outro assunto…) se aproximou dele e o perguntou se haveria algumas últimas palavras a serem ditas. Disparando contra ela, ele a respondeu: “Vá embora, saia! Últimas palavras são para tolos que não disseram o suficiente!”
Marx estava errado. Jesus Cristo tinha dito muita coisa vital durante seus três curtos anos de ministério na terra — aliás, tudo o que ele disse foi e continua sendo vital. Todavia, antes de morrer, o Senhor da vida julgou ser importante dizer mais algumas coisas, e as proferiu lá da cruz — seu “leito” de morte. Graças a Deus que seus discípulos, guiados e inspirados pelo Espírito Santo, tomaram notas destas palavras e as registraram para nós nos Evangelhos!
Jesus fez da cruz o seu púlpito e de lá pronunciou palavras de vida. Lá da cruz, momentos antes de morrer, ele pronunciou algumas de suas mais importantes palavras. Aquelas últimas — breves e ditas com bastante dificuldade, devido ao rigor do sofrimento da crucificação — servem como estradas que nos levam para uma maravilhosa jornada no interior do coração de Jesus. O escritor Luís Maria Alves Sartori chamou de O testamento de Jesus as últimas palavras do Senhor ditas lá da cruz. Sartori escreveu que “Jesus ao morrer falou sete palavras de despedida, como um testamento com sete doações aos seus filhos”.
Começando hoje, quarta-feira da semana da Páscoa, e nas próximas transmissões que faremos aos domingos (às 10h00 e às 19h00) e também às quartas-feiras (às 19h30), Deus permitindo, ouviremos e estudaremos com o devido cuidado cada uma das últimas palavras de Jesus, tentando conhecer melhor o coração do Deus e Salvador Jesus Cristo e extrair lições importantes para a nossa vida.
O testamento de Jesus ou as últimas palavras de Jesus na Cruz são as seguintes:
Focaremos, agora, na primeira palavra de Jesus lá da cruz — palavra de perdão. Lucas 23.33-34:
33Quando chegaram ao lugar chamado Caveira, o pregaram na cruz. Os criminosos também foram crucificados, um à sua direita e outro à sua esquerda. 34Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. E os soldados tiraram sortes para dividir entre si as roupas de Jesus.
Quais lições nós podemos extrair desta primeira das últimas palavras de Jesus? O que ela revela sobre o coração de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo? Podemos aprender pelo menos quatro lições. Aprendemos sobre a angústia de quem está sendo ofendido pelos homens, o apelo que deve fazer a Deus o ofendido, o argumento apresentado pelo ofendido a Deus em favor dos ofensores e o que se adquire junto a Deus e aos homens com a ofensa dos maus. As aplicações, portanto, dirão respeito a quem sofre diante de Deus com a grande ofensa dos homens: a angústia, o apelo, o argumento e a aquisição de quem é ofendido.
1 A ANGÚSTIA DO OFENDIDO
Warren Wiersbe, ex-pastor da Igreja Memorial Moody, em Chicago nos EUA e autor reconhecido de comentários para cada um dos livros da Bíblia, escreveu que a catedral na cidade de Coventry, na Inglaterra, é uma das mais belas catedrais contemporâneas. A velha catedral foi bombardeada na noite de 14 de novembro de 1940, por ocasião da II Guerra Mundial. O novo santuário foi consagrado em 25 de maio de 1962. As ruínas do antigo santuário continuam em pé, junto ao novo. O mais interessante: sobre aquelas ruínas está a inscrição gravada na janela por trás da cruz calcinada pela ação intensa do fogo e do calor, e que se lê: “Pai, perdoa.”
“Pai, perdoa”. Esta foi a oração de uma comunidade cristã que viu sua catedral ser destruída e transformada em entulhos. As ruínas da velha catedral formam um monumento ao egoísmo e ao pecado humanos — declarados brutalmente através das atrocidades das duas grandes guerras mundiais. A inscrição: “Pai, perdoa”, é um memorial à graça de Deus que capacita os cristãos a perdoarem e orarem pelos seus inimigos.
Tudo muito bonito para uma peça de museu memorial, mas na vida real de muitos, inclusive cristãos, não passa de assunto estritamente eclesiástico — coisa de sermão e de igreja. Por quê? É que o perdão soa maravilhosamente aos ouvidos, até que tenhamos que perdoar alguém de verdade.
Admitamos com coragem: Algumas vezes é muito difícil para nós perdoar as pessoas. Como perdoar alguém que continua quebrando palavras e promessas? Por que perdoar alguém orgulhoso e que não pede o perdão? Por que deveria ser eu a perdoar, quando eu fui o ofendido? Como perdoar se o outro continua me ofendendo e machucando? Como assim! Deveríamos perdoar aqueles que nos destruíram, ou querem nos destruir?
Confessemos com sinceridade: Em alguns casos é muito mais fácil nutrir a raiva, o ódio, a vingança ou o ressentimento, desobedecendo descaradamente o que a Bíblia ensina sobre o perdão. Somos ofendidos e não conseguimos perdoar ou esquecer de coração. Então, tornamo-nos escravos do ressentimento ou do sentimento de vingança, que além de poder nos condenar, prejudica-nos e mantém feridas abertas no coração.
Por causa da corrupção da natureza humana, que insiste em cultivar o ressentimento, é que deveríamos recorrer sempre à primeira palavra de Jesus lá da cruz. Lucas 23.34: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. Ou seja: se quisermos aprender melhor sobre o perdão e as condições para se perdoar, devemos, impreterivelmente, voltarmo-nos para a cruz, a cruz de Cristo, de onde recebemos perdão, pistas de como perdoar e poder para conseguir perdoar. Não há lugar semelhante à cruz, onde nossos pecados são perdoados e todos os pensamentos intrusivos de dúvidas são contra-atacados com respostas tão certas quanto cristalinas.
Sinta como poderia ter sido a angústia de Jesus sobre a cruz: Os líderes religiosos, por ciúme e inveja, rejeitaram Jesus, tramaram e causaram sua morte. Judas, um dos seus mais íntimos, o havia traído por apenas 30 moedas de prata. Pedro, um dos seus mais amados, o havia negado três vezes em público. Pilatos, que havia declarado Jesus inocente, enviou-o depois para a cruz, lavando suas mãos na covardia. Os discípulos, aqueles com quem Jesus viveu na intimidade nos últimos três anos, o haviam abandonado e fugido (com exceção de João que se manteve por perto, mas mesmo assim à distância). Os soldados o estavam tratando com uma brutalidade animalesca. Em certo ponto, até o Pai havia abandonado o Filho amado. Imagine a angústia do Senhor sobre aquela cruz!
Jesus tinha todos os ingredientes disponíveis para assar no coração o bolo de ressentimento, ódio, ira e vingança: Estava sendo vítima da injustiça dos homens, havia sido traído por alguém íntimo, foi abandonado por aqueles que ele mais amava, violentado de maneira impiedosa e, no topo de tudo, não desfrutava a alegria da presença de Deus, que estava bloqueada por causa do pecado dos homens que fora derramado sobre ele na cruz. Em que pesasse aquilo tudo, Jesus perdoou e orou pelos seus inimigos!
Você conseguiria perdoar se estivesse sob aquelas mesmas condições de pressão e temperatura? Penso que eu não conseguiria. Sozinho, certamente, eu não conseguiria. Como foi possível para Jesus perdoar e orar pelos inimigos? O segredo estava na sua comunhão com o Pai.
Enquanto estava sendo ofendido, Jesus podia, repetidamente, chamar Deus de “Pai”. Diz o texto, Lucas 23.34 (ARA): “Contudo, Jesus dizia: Pai” — “dizia”, ação contínua. Em seu comentário crítico e exegético do Evangelho de Lucas, Alfred A. Plummer deixou assim a ideia comunicada pela forma grega do versículo: “Enquanto o crucificavam, Ele, ao contrário deles, estava dizendo: Pai, perdoa-lhes”.
Pense comigo: os direitos pessoais de Jesus a um julgamento justo, com direito ao contraditório, defesa, testemunhas e tribunal do júri neutro foram flagrantemente ignorados; pessoas queridas o traíram e o abandonaram; insultos cruéis lhe eram proferidos sem nenhum pudor e uma violência brutal estava sendo descarregada sobre a mente e o corpo dele, mas ele ficou satisfeito em simplesmente poder dizer, dizer, dizer e repetir, enquanto o crucificavam: “Pai”. Que cena gloriosa é esta do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo!
Completo oposto de muitos que, quando são ofendidos e sofrem com a ofensa, nem ao menos conseguem manter a comunhão com Deus e orar. Tais pessoas costumam argumentar: “Não consigo falar com Deus! Não consigo orar! A forma como fui ofendido ou ofendida me faz pensar que Deus não se importa mais comigo! A minha situação está de um jeito que chego a pensar que Deus se esqueceu de mim!” Já se sentiu assim, quando em algum momento da vida você foi ofendido ou ferido?
Jesus nos ensina a voltar para o Pai quando estivermos angustiados por causa de alguma ofensa ou ferida. Se tem que perdoar alguém, mas não consegue, é neste ponto que você deve começar a verifique como está o seu relacionamento com o Pai. Aperfeiçoe a sua comunhão com Deus. Enquanto estiverem te “crucificando”, contrário deles, mantenha-se dizendo: “Pai”. Ore. Volte-se para o colo de Deus. Permaneça lá.
Jesus conseguiu perdoar, na situação em que se encontrava, porque ele tinha comunhão profunda com Deus e estava tratando dos negócios do Pai. No Getsêmani, ele orou: “Meu Pai! Se for possível, afasta de mim este cálice. Contudo, que seja feita a tua vontade, e não a minha”. (Mateus 26.39). William Bright, em 1887, descreveu este ato de Jesus, perdoando seus algozes no calvário, com uma habilidade literária invejável:
Quando o homem deu o pior de si, Jesus orou, não por justiça, mas por misericórdia. Implorou para que seus inimigos não sofressem as consequências dos próprios atos de maldade. E orou, não após suas feridas terem sarado, mas enquanto estavam sendo abertas. Palavras de perdão saíram de seus lábios enquanto os pregos eram cravados em seu corpo, quando a dor era mais intensa, quando a aflição era mais aguda. Ele orou enquanto a cruz era baixada no buraco com um tranco. Foi nesse momento, em que os nervos [do corpo e da alma] ainda estavam extremamente sensíveis e a dor era inconcebível, que ele, vítima do maior crime da história, orou pelos criminosos. Ele era capaz de perdoar porque estava em comunhão com o Pai.
2 O APELO DO OFENDIDO
Jesus fez um apelo que, de tão comovente, era maravilhoso. Detalhe: ele o fez enquanto estava sofrendo na cruz. Lucas 23.34: “Pai, perdoa-lhes”. Pasme: Jesus não estava orando por si mesmo! Ele poderia ter suplicado ao Pai por justiça e punição merecidos, mas ele optou por clamar por misericórdia! Jesus Cristo assim procedeu para cumprir a palavra de Isaías 53.12:
Eu lhe darei as honras de um soldado vitorioso, pois ele se expôs à morte. Foi contado entre os rebeldes; levou sobre si a culpa de muitos e intercedeu pelos pecadores.
Para cumprir as Escrituras, Jesus esqueceu-se de si mesmo, tirou os olhos de seus próprios sentimentos e sofrimentos e intercedeu pelos seus inimigos. Que exemplo e que mensagem para esta era do evangelho desgraçado da autoestima, meu Deus, que faz com que as pessoas se voltem cada vez mais para si mesmas, suas necessidades sentidas, suas dores, crises e dilemas — cuide “primeiro” de si mesmo e somente então, se der e quando der, tudo e todos serão considerados. Digo que o evangelho da autoestima é desgraçado porque ele é, de fato, desprovido de toda graça — da graça salvadora que nos salvou e nos libertou do pecado e de nós mesmos, fazendo-nos não viver mais para nós mesmos, mas para Cristo que morreu e ressuscitou por suas ovelhas (2Co 5.15).
A atitude de Jesus Cristo na cruz é muito diferente da que se vê na maioria de nós que, quando está sofrendo, envolve-se com seus próprios problemas de tal modo que se esquecem até de orar e de interceder pelos outros. Envolvidos consigo mesmos, os crentes têm deixado de clamar pelos povos e nações. Muitos têm buscado a Deus apenas para se verem livres de seus problemas e desconfortos passageiros. Deixaram de interceder pelos problemas e pecados dos outros, especialmente quando estão ofendidos ou sofrendo. Não é verdade? Infelizmente, é a mais pura verdade!
A primeira palavra de Jesus lá da cruz nos ensina que devemos perdoar e pedir por quem nos tem ofendido. Sejamos, pois, bons discípulos de Cristo. Obedientes.
3 O ARGUMENTO DO OFENDIDO
Vimos que Jesus buscou comunhão com o Pai enquanto estava angustiado sob todas as ofensas e buscou ao Pai em favor dos ofensores. Existe um terceiro prodígio na primeira de suas últimas palavras ditas lá da cruz: o argumento que o Filho apresentou ao Pai em favor do ofensor. Lucas 23.34: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”.
Cristo não só orou pedindo perdão pelos seus ofensores (isto foi um ato de misericórdia), ele também argumentou em favor deles (isto foi uma demonstração de graça). Afinal, ele é o advogado de defesa do pecador, não penas o sacrifício pelo perdão (propiciação) dos nossos pecados — 1 João 2.1-2.
É preciso destacar: Jesus não estava dizendo que a ignorância promove o perdão — ignorância não é desculpa perante a lei. Por exemplo: Cometa uma infração na frente de um guarda de trânsito e argumente dizendo-lhe que você não sabia que estava fazendo algo errado. Veja se você conseguirá ficar livre da penalidade. De fato, Jesus estava clamando por graça e misericórdia no sentido de que aqueles pecadores, cegos pelo pecado como estavam, não fossem punidos imediatamente, ali e pronto, pelos seus pecados, conforme eles mereciam. Jesus desejava que aqueles homens tivessem uma chance de se arrepender e se converter de seus maus caminhos.
O argumento de Jesus brota de sua compaixão pelo pecador. Se conseguiríamos entender o que o pecado é capaz de fazer na vida de uma pessoa, nutriríamos por ela compaixão e assim seríamos capazes de perdoar e interceder com mais facilidade.
Observação importante: Quando sofremos uma grave ofensa, devemos perdoar e pagar o mal com o bem, procurando a paz com todos os homens — Romanos 12.18-21. Temos que orar e interceder a Deus, pedindo salvação e quebrantamento. A punição pertence às autoridades estabelecidas, aos ministros (diáconos) de Deus — Romanos 13.1-4. Temos, pois, que orar e interceder a Deus, pedindo que nossas autoridades tenham sabedoria para aplicar justiça na devida proporção ou na dose certa.
4 A AQUISIÇÃO DO OFENDIDO
O que nós ganhamos em perdoar?
Jesus conseguiu muito com o seu gesto de misericórdia, graça e compaixão. Nem todos os que ofenderam e maltrataram Jesus foram perdoados por Deus no final, mas aqueles que reconheceram a divindade do Filho de Deus e se quebrantaram diante do calvário foram salvos pela graça e por meio da fé. Espero ver no céu, por exemplo, o centurião responsável pelo suplício na cruz. Afinal, depois de tudo, ele reconheceu o Senhorio de Jesus Cristo — Mateus 27.54:
O oficial romano e os outros soldados que vigiavam Jesus ficaram aterrorizados com o terremoto e com tudo que havia acontecido, e disseram: “Este homem era verdadeiramente o Filho de Deus!”.
Muitos dos que gritaram para Pilatos: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27.25), foram perdoados. Quer ver? Atos 3.14-17:
14Vocês rejeitaram o Santo e Justo e, em seu lugar, exigiram que um assassino fosse liberto. 15Mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós somos testemunhas desse fato! 16“Pela fé no nome de Jesus, este homem que vocês veem e conhecem foi curado. A fé no nome de Jesus o curou diante de seus olhos. 17“Irmãos, sei que vocês e seus líderes agiram por ignorância.
Agora, Atos 4.4:
Muitos que tinham ouvido a mensagem creram, totalizando, agora, cerca de cinco mil homens.
Por fim, Atos 6.7:
Assim, a mensagem de Deus continuou a se espalhar. O número de discípulos se multiplicava em Jerusalém, e muitos sacerdotes também se converteram.
O que se aprende? Aprende-se que Deus foi paciente com Israel e ainda lhes deu 40 outros anos de graça e de misericórdia e de compaixão antes de a cidade de Jerusalém ser destruída pelos romanos em 70 d.C. Nosso perdão contribui para que aqueles que nos ofendem, juntamente com o mundo cheio de ódio, com sangue nos olhos, aprenda sobre o amor de Deus. Mateus 5.16:
Da mesma forma, suas boas obras devem brilhar, para que todos as vejam e louvem seu Pai, que está no céu.”
O que se ganha ao perdoar? Promovemos a glória de Deus através de nossas boas obras de perdão, que brilharão para de alguma forma contribuir para a salvação daqueles que nos ofendem e do mundo que nos assiste.
PALAVRA DE PERDÃO
Você está sofrendo com a ofensa de alguém? Foi ferido e machucado? Perdoe! Fará bem a você. Seu gesto glorificará a Deus. Você poderá dizer: “Mas pastor, ele/ela não muda! Eu não consigo!”. Lembre-se: a primeira palavra de Jesus na cruz é palavra de perdão, ensina-nos que é possível perdoar, mesmo enquanto estamos sendo ofendidos.
O segredo está em mantermos relacionamento íntimo e verdadeiro com o Pai, reconhecer que o ofensor está cego pelo pecado e, então, clamar e interceder pela vida dele ou dela. Resultado: colheremos os frutos da nossa compaixão; Cristo será glorificado; pessoas poderão ser salvas para a vida eterna.
Agora, pode ser que você seja o grande ofensor. Cego, você segue pela vida ofendendo a Deus e ao Filho de Deus, pecando contra o Espírito Santo, entristecendo-o com os seus pecados. Orgulhoso, você deve estar fazendo outras pessoas sofrerem com as suas ofensas. Jesus intercede por você junto a Deus: “Pai, perdoa-lhes, ele não sabe o que faz!” Isto não te toca? O Senhor tem lhe dado tempo, esticando até aqui os anos de sua vida, para que você se arrependa e se volte para ele com arrependimento e fé. Quanto tempo mais você terá? Só Deus sabe!
Confesse o seu pecado a Deus, agora! Peça perdão a Deus. De maneira nenhuma ele te lançará fora. Vá a Deus em nome de Cristo. Ele irá te perdoar e, se for o seu caso, salvar você da perdição. Além disto, ele te dará poder para não pecar e poder pedir perdão àqueles aos quais você ofendeu ou tem ofendido. No que depender de vós, busque a paz de Deus e tende paz com todos.
Qual serão suas últimas palavras antes da morte?
Uma das palavras de Jesus foi: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”. Isto ele disse e assim ele agiu para te dar perdão e salvação. Firmado nesta verdade, o grande pastor batista e príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon, perto do fim da vida, disse confiantemente: “Tranquilo e feliz, embora muito fraco. Minha teologia é muito simples. Eu posso expressá-la em poucas palavras e elas são suficientes para morrer”. Após uma pausa, ele disse lentamente: “Jesus morreu por mim”. Que simplicidade!
E você, o que dirá quando a morte chegar?
S.D.G. L.B.Peixoto
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