19.04.2020
João 19.30
Depois de prová-la [água com vinagre], Jesus disse: “Está consumado”. Então, inclinou a cabeça e entregou o espírito.
“TETELESTAI!”
Coloque-se no lugar de Jesus. Você está com 33 anos de idade. A flor da idade! Por maldade dos homens ou por motivos alheios à sua vontade, você está diante da morte, agonizando em sofrimento e dando seus últimos suspiros de vida. Considerando que poderia viver pelo menos outros 43 longos anos (já que a estimativa de vida do brasileiro, em 2018, era de 76 anos)… você viveria mais, verias filhos e netos crescerem e faria tantas outras coisas boas que a vida adulta, madura pode conceder ao ser humano de bem… Morrendo, aos 33 anos, o que você diria? O que as pessoas que amam você diriam? O que nós costumamos dizer em face dessas fatalidades? — Posso sugerir? — “Meu Deus, tão jovem! A vida estava apenas começando! Teria a vida toda pela frente!”
De certa forma, isto é verdade: verdade apenas da perspectiva terrena, mundana. Mas, como professam os cristãos, usando as palavras de Paulo, a vida não é a vida em si. A vida é Cristo — e morrer é lucro, seja em que idade for ou por que motivo for (Fl 1.21). Por isso, o mesmo apóstolo pôde complementar, escrevendo aos coríntios para dizer que, “se nossa esperança em Cristo vale apenas para esta vida, somos os mais dignos de pena em todo o mundo” (1Co 15.19).
Permita-me fazer outra pregunta: Quanto tempo é o ideal para se viver: 8, 18, 80, 100 anos? Quanto é jovem de mais para morrer? E ainda: Qual é o propósito de viver? Ouça o que Paulo falou (com cerca de 50 anos à época), Filipenses 1.20-24:
20Minha grande expectativa e esperança é que eu jamais seja envergonhado, mas que continue a trabalhar corajosamente, como sempre fiz, de modo que Cristo seja honrado por meu intermédio, quer eu viva, quer eu morra. 21Pois, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. 22Mas, se continuar vivo, posso trabalhar e produzir fruto para Cristo. Na verdade, não sei o que escolher. 23Estou dividido entre os dois desejos: quero partir e estar com Cristo, o que me seria muitíssimo melhor. 24Contudo, por causa de vocês, é mais importante que eu continue a viver.
Em outras palavras: Viver é Cristo, morrer é lucro enquanto viver, viver aqui para Cristo, em benefício da salvação e da satisfação do próximo em Cristo. Certo? Absolutamente. Por pensar assim, Jesus, aos 33 anos, à beira da morte, exclamou: “Está consumado! [Foi tudo realizado!]”. Tudo?! Com apenas 33 anos?! Como assim, tudo?
A razão para tamanha discrepância — isto é, entre o que Jesus disse: “Está consumado!” e o que nós diríamos: “Ainda tão jovem!”, é que vivemos para os nossos próprios planos. Abominamos a idéia de vê-los ser abortados. Veneramos o que denominamos de “curso normal da vida”: crescer; estudar; trabalhar; casar-se; gerar, criar e educar filhos; desfrutar a vida; curtir os netos; e morrer sem dor, depois de longos anos bem vividos. Se formos contrariados nesse processo, lamentamos, e muito.
Ainda não aprendemos — e parece que jamais aprenderemos — a conviver com a grande consequência do pecado original: a morte. A bem da verdade, segundo os fatos bíblicos, nós não podemos tomar a vida como garantia. Mas nós racionalizamos: “Já que eu terei que morrer, que seja bem no futuro, com margem de tempo suficiente para eu poder realizar todos os meus sonhos, até eu cansar de viver!”. Muitas vezes, tais sonhos são nobres e louváveis. Outras vezes, nem tanto.
A exclamação de um homem que estava à beira da morte representa muito bem a angústia da grande maioria das pessoas, quando pensam em atravessar o vale da morte: “Vivi para mim mesmo durante toda a minha vida, e agora terei de defrontar-me com Deus”. A pura verdade! O fato, meu povo, é que prontos ou não, a morte nos alcançará, gradual ou repentinamente. Naquele dia, independentemente dos anos vividos — se longos ou se breves, não importa —, eis a pergunta inevitável para todos nós: “Será que terminei o que Deus queria que eu fizesse? Ou vivi de acordo com os meus desejos, pelas minhas regras, dando apenas, quando muito, rápida, desapaixonada e relutante atenção a Deus?”. É claro que esperamos poder dizer que terminamos o que Deus nos deu para fazer (tanto menos erraremos, quanto mais conhecermos e praticarmos a Bíblia).
Somente Jesus, apesar de todas as nossa tentativas, pôde dizer, de forma verdadeira, que fez absolutamente tudo o que veio para fazer. Ele tinha apenas 33 anos, mas havia cumprido suas responsabilidades ao pé da letra. Outra coisa: Embora Jesus tivesse encerrado de forma tão abrupta e tão traumática os seus dias na terra, ele morreu feliz em saber que o propósito de sua vida havia sido cumprido com sucesso! Quer ver uma coisa? Hebreus 12.2: “Por causa da alegria que o esperava, ele suportou a cruz sem se importar com a vergonha.” Agora, Isaías 53.11: “Quando ele vir tudo que resultar de sua angústia, ficará satisfeito. E, por causa de tudo que meu servo justo passou, ele fará que muitos sejam considerados justos, pois levará sobre si os pecados deles.”
Foi desse contentamento que brotou a sua sexta palavra da cruz: “Está consumado!”. Esta, que é a penúltima palavra do Senhor dita lá do Calvário, significa, literalmente: “Foi consumado, permanece consumado e estará para sempre consumado”. Uma obra, portanto, de relevância eterna!
A expressão de Jesus — “Está Consumado!” vem de uma só palavra no grego: tetelestai. Significa: terminar, completar, realizar, pagar. O verbo possuía várias formas de uso nos dias de Jesus:
Os escravos usavam o verbo sempre que terminavam algum trabalho e levavam o fato ao conhecimento de seu senhor. Aquele servo, etnão, dizia: “Tetelestai — terminei a tarefa que me foi dada para fazer.” Significava que o serviço fora feito como o senhor determinara e no prazo que ele estabelecera.
Os sacerdotes gregos também usavam esse verbo. Sempre que os adoradores levavam ao templo sacrifícios dedicados ao deus ou deusa que adoravam, aqueles ministros religiosos tinham que examinar o animal para certificar-se de que era perfeito. Se o sacrifício fosse aceitável, o sacerdote dizia: “Tetelestai — não tem defeito.”
Quando os artistas ou artesãos completavam o resultado do trabalho, eles davam um passo para trás, olhavam para a obra, e exclamavam: “Tetelestai — está pronto.”
Os mercadores usavam o mesmo verbo para dizer que uma dívida havia sido completamente paga. Se alguém comprasse a prazo, ao fazer o último pagamento, o vendedor lhe daria um recibo, atestando: “Tetelestai — quitado, débito pago.”
Tetelestai é um verbo que possui sujeito oculto; ou seja, o verbo em si não nos diz, de forma específica, o que foi terminado, completado, concluído ou pago. Contudo, as declarações de Jesus nos Evangelhos nos deixam claro o que Jesus viera realizar e pagar na cruz. Jesus pronunciou lá da cruz: “Tetelestai — Está Consumado!”, em alta voz (Mt 27.50; Mc. 15.37). Ele quis que todo o mundo ouvisse aquela palavra especial. Está consumado! Está pago! Foi tudo feito conforme o planejado!
O que estava consumado? Três coisas: o sofrimento; o sacrifício; e Satanás.
1 A CONSUMAÇÃO DO SOFRIMENTO
Profetizou Isaías que Jesus nasceria para sofrer — seria através de suas pisaduras, de seus sofrimentos que nós seriamos sarados — Isaías 53.2-5:
2Meu servo cresceu em sua presença, como tenro broto verde, como raiz em terra seca. Não havia nada de belo nem majestoso em sua aparência, nada que nos atraísse. 3Foi desprezado e rejeitado, homem de dores, que conhece o sofrimento mais profundo. Demos as costas para ele e desviamos o olhar; ele foi desprezado, e não nos importamos. 4Apesar disso, foram as nossas enfermidades que ele tomou sobre si, e foram as nossas doenças que pesaram sobre ele. Pensamos que seu sofrimento era castigo de Deus, castigo por sua culpa. 5Mas ele foi ferido por causa de nossa rebeldia e esmagado por causa de nossos pecados. Sofreu o castigo para que fôssemos restaurados e recebeu açoites para que fôssemos curados.
Mas agora estava terminado — “tetelestai!”. Felizmente, seu sofrimento havia chegado a um fim. A garantia que nós, crentes em Cristo, temos é que assim como ele venceu as aflições do mundo, nós também as venceremos (Jo 16.33). Independentemente do que estamos enfrentando ou iremos enfrentar na vida, em Cristo, um dia, todo nosso sofrimento também terminará. O cônjuge que foi abandonado poderá dizer: “Tetelestai Está terminado!”. A pessoa que foi abusada poderá dizer: “Tetelestai — está terminado!”. O doente terminal poderá dizer: “Tetelestai — está terminado!”. A pessoa cansada e angustiada poderá dizer: “Tetelestai — está terminado!”. O perseguido e sofredor um dia dirão: “Tetelestai — está terminado!”.
O importante é suportarmos tudo com a firme convicção de que o sofrimento é parte do plano divino. Jesus sabia disso, e nós também devemos saber. O resultado que o seu sofrimento produziria, deu-lhe alegria e lhe encorajou a perseverar — deve ser assim conosco também. Hebreus 12.1-3, NVI:
Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem desanimem.
2 A CONSUMAÇÃO DO SACRIFÍCIO
A lei requeria sacrifícios constantes de animais para que os pecados do povo fossem perdoados. Havia uma interminável corrente de sacrifícios, os quais purificavam o povo de forma cerimonial, anualmente. Todos sabiam, entretanto, que o sangue do animal não podia substituir o ser humano. Os que morriam na fé criam que haveria um último pagamento a ser feito pelos seus pecados. Até que Jesus veio e se fez maldição em nosso lugar e morreu como sacrifício pelos nossos pecados. Hebreus 9.11-15:
11Cristo se tornou o Sumo Sacerdote de todos os benefícios agora presentes. Ele entrou naquele tabernáculo maior e mais perfeito no céu, que não foi feito por mãos humanas nem faz parte deste mundo criado. 12Com seu próprio sangue, e não com o sangue de bodes e bezerros, entrou no lugar santíssimo de uma vez por todas e garantiu redenção eterna. 13Se, portanto, o sangue de bodes e bezerros e as cinzas de uma novilha purificavam o corpo de quem estava cerimonialmente impuro, 14imaginem como o sangue de Cristo purificará nossa consciência das obras mortas, para que adoremos o Deus vivo. Pois, pelo poder do Espírito eterno, Cristo ofereceu a si mesmo a Deus como sacrifício perfeito. 15Por isso ele é o mediador da nova aliança, para que todos que são chamados recebam a herança eterna que foi prometida. Porque Cristo morreu para libertá-los do castigo dos pecados que haviam cometido sob a primeira aliança.
Warren Wiersbe: “Jesus tomou a minha falência e cobriu-a com sua liquidez.” Ou seja: os pecados do crente não estão mais sobre ele, foram lançados sobre Cristo na cruz. Existe, sim, pecado dentro do crente, mas não sobre o crente. A nossa velha natureza ainda inclina para o pecado e nos leva até a pecar, mas somos aceitos por Deus pelos méritos de Jesus. Em Cristo, temos ficha limpa no céu.
O sacrifício de animais x o sacrifício de Jesus
Quando, no dia da expiação, o sumo sacerdote colocava a mão sobre um cordeiro e confessava os pecados da nação sobre o animal, os pecados do povo eram legalmente transferidos para o bicho sem defeito. O animal, então, era solto no deserto, para nunca mais ser visto. Outro animal era sacrificado e seu sangue aspergido sobre o altar, a fim de que um preço fosse pago diante de Deus pela ofensa do pecado. Aqueles gestos simbolizavam o que Deus faria, uma vez por todas, em Jesus, para que de nossos pecados ele jamais se lembrasse. Hebreus 10.17-18:
17E acrescenta [após dizer que teríamos o Espírito]: “E nunca mais me lembrarei de seus pecados e seus atos de desobediência”. 18Onde os pecados foram perdoados, já não há necessidade de oferecer mais sacrifícios.
Jesus cumpriu esse propósito na cruz, e por isso ele pôde dizer: “Tetelestai! — Está consumado!” Agora nós temos o Espírito de poder para vencer o pecado e o perdão do Senhor para os nossos pecados.
3 A CONSUMAÇÃO DE SATANÁS
O sexto brado de Jesus — “Tetelestai: Está consumado!”, também significa que a semente da mulher havia triunfado sobre a repulsiva serpente, pisando-a na cabeça. Cabe lembrar que, antes momentos de encarar a crucificação, Jesus já havia pronunciado a sentença sobre Satanás: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso” (Jo 12.31).
Na cruz Jesus pôde bradar: “Tetelestai! — Está consumado!”, ali, naquele ponto, encerrava-se o seu sofrimento; pagava-se o nosso débito, derrotava-se Satanás. Ouça o que Paulo escreveu sobre isso, Colossenses 2.13-15:
13Vocês estavam mortos por causa de seus pecados e da incircuncisão de sua natureza humana. Então Deus lhes deu vida com Cristo, pois perdoou todos os nossos pecados. 14Ele cancelou o registro de acusações contra nós, removendo-o e pregando-o na cruz. 15Desse modo, desarmou os governantes e as autoridades espirituais e os envergonhou publicamente ao vencê-los na cruz.
E ainda: Graças à vitória de Cristo sobre Satanás na cruz, mudamos de reino: “Ele [Cristo] nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13). Ainda lutamos contra as ciladas e artimanhas de Satanás, mas o resultado da luta já está definido. Não há dúvida quanto ao seu desfecho: Em Cristo somos mais do que vencedores; mais forte é o que está em nós, do que aquele que está no mundo; por Cristo, temos plena condição de resistir ao Diabo e vê-lo fugir de nós.
PALAVRA DE CONSUMAÇÃO
Querido amigo, confesse hoje o seu pecado a Deus e receba, por meio do sacrifício de Cristo, a quitação do seu débito diante do Soberano do universo.
Escreva seus pecados em um livro contábil, por assim dizer, confesse-os a Deus em nome de Cristo, e em seguida registre do lado: “Quitado, pago, consumado!”.
Não amar a Deus acima de todas as coisas: Quitado!
Um aborto: Quitado!
Perversão sexual ou fornicação: Quitado!
Traição: Quitado!
Ganância: Quitado!
Responsabilidades que foram abandonadas: Quitado!
Comportamento criminoso: Quitado!
Egoísmo: Quitado!
Maledicências e intrigas: Quitado!
Vícios: Quitado!
Idolatria e feitiçaria: Quitado!
Consultar os mortos: Quitado!
Caso eu não tenha mencionado o seu pecado, você poderá adicioná-lo, e acrescentar: Quitado! O importante é você colocar em perspectiva o seu pecado. Confesse-o a Deus, em nome de Jesus. Considere-se perdoado diante de Deus (sem essa de “ah, eu não consigo me perdoar!”). Caminhe do modo certo, diante de Deus e dos homens. Vá e não peques mais. Tetelestai! Está consumado! Cristo pagou pelo seu pecado.
Pode ser que você terá que pagar pelas consequências dos seus pecados. Deus não prometeu livrar-nos delas, mas com certeza você poderá desfrutar do gozo eterno do céu, a partir de agora.
Jesus bradou da cruz que os pecados daqueles que crêem foram pagos: confesse-os e passe a viver em novidade de vida.
Jesus bradou da cruz que o sofrimento do crente terá um fim: persevere e aguarde com alegria o glorioso dia do Senhor.
Jesus bradou da cruz que Satanás foi derrotado e não tem poder para subjugar o crente: resista-o e ele fugirá de você.
Siga adiante — com fé, esperança e amor —, cumprindo a vocação de Deus para a sua vida. E quando a hora de sua morte chegar (cedo ou tarde ela chegará, seja ela como for), esteja pronto para dizer como disse o nosso Salvador: “Está consumado! — Terminei! Cumpri! Venci! Conquistei! Tetelestai!”
Face à norte, a poucos dias adiante de si, Paulo escreveu (2Tm 4.6-8):
6Quanto a mim, minha vida já foi derramada como oferta para Deus. O tempo de minha morte se aproxima. 7Lutei o bom combate, terminei a corrida e permaneci fiel. 8Agora o prêmio me espera, a coroa de justiça que o Senhor, o justo Juiz, me dará no dia de sua volta. E o prêmio não será só para mim, mas para todos que, com grande expectativa, aguardam a sua vinda.
E você, o que dirá quando a morte chegar?
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais Sermões
11 de julho, 2021
11 de abril, 2020
7 de agosto, 2016
3 de outubro, 2021
Mais Séries
Palavra de Consumação
Pr. Leandro B. Peixoto