15.04.2020
Mateus 27.46
Por volta das três da tarde, Jesus clamou em alta voz: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
O CORAÇÃO DE DEUS
As palavras de Jesus na cruz revelam o amor de Deus de maneira comovente: [1.] Deus é paciente com o pecador – “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”; [2.] Deus salva o pecador arrependido – “Hoje estarás comigo no paraíso”; Deus se compadece do sofredor solitário e do pecador quebrantado – “Mulher, eis aí teu filho. João, eis aí tua mãe”. As demonstrações de amor não param por aí. As palavras de Jesus na cruz têm muito mais a nos revelar sobre o amor de Deus.
Estamos agora diante da mais impressionante demonstração de amor que Deus poderia dar ao homem: Enviar seu Filho para sofrer em nosso lugar a punição devida pelo nosso pecado. Portanto, a quarta palavra de Jesus lá da cruz expressa o coração da cruz — Não é por acaso que esse brado de Jesus tenha ocorrido exatamente no meio de suas sete palavras (a quarta, dentre sete!).
A quarta palavra de Jesus lá da na cruz expressa a submissão do Filho ao desejo do Pai de salvar a humanidade: Deus amou o mundo de tal maneira, que entregou o seu Filho ao castigo em nosso lugar – João 3.16. Jesus, por sua vez, submeteu-se, alegremente, ao plano redentor do Pai – o justo morreu pelos injustos, para conduzir-nos a Deus – 1Pedro 3.18. Paulo escreveu: “Aquele que não conheceu pecado, ele [Deus] o fez pecado por nós; para que, nele [Jesus], fôssemos feitos justiça de Deus.” (2Coríntios 5.21).
O Pai, então, virou às costas ao Filho na cruz, pois sendo Santo não poderia coexistir com o pecado. Em outras palavras: “Quando o Pai abandonou o Filho, a Trindade não foi dividida em duas. Ocorreu uma interrupção no seu relacionamento, não a ruptura na unidade fundamental existente entre o Pai e o Filho eterno.” (Erwin Lutzer). Foi por isso que Jesus bradou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste [abandonaste]?” (Mt 27.46).
O Filho submeteu-se ao plano de Deus e sofreu o abandono do Pai, para que todo o que crê jamais precisasse sofrer a angustia daquela horrível separação. Como está escrito: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hebreus 13.5).
Desejo, portanto, chamar a sua atenção para três fatos importantes neste episódio da crucificação. Nesta palavra de Jesus nós ouvimos: [1.] uma palavra de submissão em meio à escuridão do calvário; [2.] uma palavra de submissão em meio à solidão do calvário; [3] uma palavra de submissão em meio à alienação do calvário.
1 Uma palavra de submissão em meio à escuridão do calvário
Mateus nos informa que do meio-dia às três da tarde houve trevas sobre toda a terra (Mt 27.45). As trevas não foram causadas por um eclipse – um evento bastante improvável para aquela época do ano (o período da Páscoa). As trevas também não foram causadas por uma tempestade de areia. Aquela era uma escuridão sobrenatural, enviada por Deus enquanto Jesus sofria a punição pelo pecado no lugar do pecador.
Por que Deus enviou aquelas trevas?
No Egito, antes da primeira Páscoa, quando os umbrais das portas foram marcados pelo sangue dos cordeiros – a fim de que os primogênitos fossem poupados, Deus enviou três dias de escuridão sobre a terra (a nona praga) – Êxodo 10.21-22:
21O SENHOR disse a Moisés: “Estenda a mão em direção ao céu, e a terra do Egito ficará coberta de escuridão tão densa que poderá ser apalpada”. 22Moisés estendeu a mão em direção ao céu, e uma escuridão profunda cobriu toda a terra do Egito por três dias.
Antes de Cristo, nosso Cordeiro Pascal, ser sacrificado na cruz, Deus enviou três horas de escuridão sobre a terra. Era como se Deus estivesse dizendo: “Esta é uma hora de juízo solene, quando Jesus recebe sobre si o castigo pelos pecados do mundo!”. Paulo, em Romanos 8.3 (NVI), escreveu:
Porque, aquilo que a Lei fora incapaz de fazer por estar enfraquecida pela carne, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na carne”.
Aos Gálatas, o apóstolo complementou (3.13):
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro).
Durante aquelas três horas de escuridão no Calvário, Jesus consumou a obra que viera para realizar – João 17.4 – ou seja: a propiciação pelos pecados do homem – Romanos 3.25; Hebreus 2.17; 1João 2.2. As trevas, portanto, anunciavam que o juízo de Deus estava sendo aplicado a Jesus — nosso substituto. Daí o porquê de Jesus clamar (Mt 27.46): “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”.
2 Uma palavra de submissão em meio à solidão do calvário
Ao ler o registro dos evangelhos sobre as últimas horas antes do Calvário, observamos Jesus entrando gradualmente num período de solidão e rejeição. Todos foram o abandonando. Mas, até então, pelo menos o Pai estava com ele (João 16.32): “Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo”.
Na cruz, porém, até o Pai o deixou, o abandonou!
Jesus estava sendo feito pecado por nós na cruz – e Deus é demasiadamente Santo para sequer olhar para o pecado. Warren Wiersbe escreveu:
Jesus foi abandonado pelo Pai para que nós nunca fôssemos esquecidos. Ele entrou na escuridão para que tivéssemos luz. Experimentou o terrível isolamento e separação para que nunca fôssemos deixados sozinhos”.
Não sabemos o que Jesus experimentou naquelas horas de abandono e trevas, a Bíblia não nos os descreve. Em todo caso, podemos estar certos de que foi muito dolorido, a ponto de sua experiência culminar com um bramido estrondoso – como o bramido de um leão. Mateus 26.46:
Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
3 Uma palavra de submissão em meio à alienação do calvário
Assombra-nos a escuridão do calvário, pois enxergamos as trevas que prenunciam os horrores do inferno. Arrepia-nos a solidão do calvário, pois ouvimos o silêncio que anuncia a majestosa santidade de Deus, que não coabita com o pecado. Assusta-nos a alienação do calvário, pois discernimos a ignorância dos homens que estão cegos pelo pecado.
Jesus foi crucificado durante a Festa da Páscoa, quando a cidade de Jerusalém estava lotada de pessoas de muitas nações: peregrinos judeus e muitos curiosos que lá se encontravam para celebrar a festa; soldados romanos que cercavam a cruz para garantir a segurança; líderes religiosos judeus que insultavam e escarneciam de Jesus. Curioso, porém, foi que ninguém naquele local compreendeu o que de fato estava acontecendo. Eles estavam no escuro, cegos pelo pecado.
Vemos aquele povo cego em relação às Escrituras
Ao ouvir Jesus gritar: “Eli, Eli, lamá sabactâni? […] Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, qualquer estudioso sério e sincero das escrituras reconheceria que Jesus estava citando um trecho do Salmo 22. A multidão, contudo, não reconheceu o bramido de Jesus — “pensaram que ele chamava o profeta Elias.”(Mt 27.47).
Se tivessem lido o Salmo 22 com cuidado e meditado no que estava acontecendo com Jesus no calvário, teriam ficado surpresos com os paralelos entre as palavras de Davi e aquele triste acontecimento no Gólgota.
Se tivessem investigado melhor as passagens messiânicas do Antigo Testamento, especialmente Isaías e Zacarias, teriam descoberto que estavam crucificando o Messias.
Mas aqueles homens estavam cegos em relação às Escrituras. Seus preconceitos teológicos os impediam de interpretar e aplicar as Escrituras adequadamente à vida e ao cotidiano.
Vemos aquele povo cego em relação ao Salvador
Eles não estavam cegos apenas em relação às Escrituras, mas também em relação ao Salvador. Veja: A profecia de Davi estava se cumprindo diante de seus olhos e, no entanto, o povo não via nem conseguia discernir. O orgulho do coração os impedia de enxergar a verdade. Poderiam argumentar: “Como o Messias glorioso de Israel poderia ser, ao mesmo tempo, um Salvador sofredor!?”
Eles não queriam salvação espiritual. Eles queriam libertação política e prosperidade pessoal. Qualquer semelhança, não é mera coincidência.
Vemos aquele povo cego em relação aos seus pecados
Ouça o que Pedro disse aos líderes judeus no dia de Pentecostes. Atos 3.14-15, 17:
14Vocês rejeitaram o Santo e Justo e, em seu lugar, exigiram que um assassino fosse liberto. 15Mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. E nós somos testemunhas desse fato! […] 17“Irmãos, sei que vocês e seus líderes agiram por ignorância.
Aquele era um povo bastante religioso, porém cego para a verdade: cego para o conteúdo das Escrituras, cego para a verdade sobre o Salvador e cego para a realidade de seus pecados. Não é este o mesmo problema do homem contemporâneo?
O homem contemporâneo distorce as Escrituras. Alguns tiram da Bíblia todo o cunho sobrenatural. Outros fazem da Bíblia somente um campo de estudos. Ainda há aqueles que usam a Bíblia como vara de condão para os seus caprichos e desejos corrompidos. A Bíblia, entretanto, deve ser crida, vivida e estudada para produzir transformação.
O homem contemporâneo descarta o Salvador. O pior inimigo do cristianismo é a religiosidade. Ou seja, o desejo do homem de ser re-ligado com Deus sem Jesus Cristo. Religado diretamente, somente com suas forças humanas, suas tradições, suas múltiplas religiões e filosofias de vida. Mas a verdade é que ninguém vai a Deus se não for por Jesus Cristo, e ele somente.
O homem contemporâneo desconsidera os seus pecados. A nossa geração vive se esquivando de suas responsabilidades. O homem moderno vive negando ou transferindo a sua culpa. As pessoas vivem desculpando os seus fracassos morais. E ninguém admite mais ser pecador.
A quarta palavra de Jesus lá da cruz, entretanto, anuncia que Jesus, por graça e amor, substituiu o pecador na cruz, submeteu-se ao plano eterno de Deus de salvar suas ovelhas. Assim:
Jesus suportou a escuridão da cruz para que tivéssemos luz.
Jesus foi desamparado para que pudéssemos ser acolhidos.
Jesus foi incompreendido para que conhecêssemos a verdade e fossemos libertos.
Jesus morreu para que pudéssemos viver.
Substituindo-nos na cruz, Jesus gritou: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”. Uma dor e uma aflição que o crente em Jesus jamais irá conhecer: a dor pela justa punição por causa do pecado; a angústia pela ausência de Deus.
Substituindo-nos na cruz, Jesus se fez maldição em nosso lugar: Agora podemos ser perdoados porque Jesus foi condenado, podemos ser acolhidos porque Jesus foi desamparado, podemos cantar porque Jesus, angustiado, gritou em nosso lugar: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”.
Arrependa-se e confesse o seu pecado – não tente se desculpar.
Clame por salvação em Jesus – não existe outro meio de nos re-ligarmos a Deus.
Caminhe pelas Escriturar – não existe outro meio de crescermos na vida cristã.
Aplicações pessoais edificantes
Assim como Cristo nos sarou através das suas pisaduras, Deus muitas vezes cumpre o seu plano em nós e através de nós, valendo-se do nosso sofrimento, ao tomarmos sobre nós a cruz de Jesus. Dois textos:
Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é a igreja; (Colossenses 1.24).
E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Romanos 5.3-5).
Quando Deus nos colocar às portas da fé mais pura e nos provar com o seu silêncio, não tentemos fugir de sua presença, ao contrário clamemos em alto e bom som: “Deus meu, Deus meu!”. Jeremias nos diria, Lamentações 3.24-28:
A minha porção é o SENHOR, diz a minha alma; portanto, esperarei nele. Bom é o SENHOR para os que esperam por ele, para a alma que o busca. Bom é aguardar a salvação do SENHOR, e isso, em silêncio. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário e fique em silêncio; porquanto esse jugo Deus pôs sobre ele;
Submeta-se com fé e amor, aguardando com esperança a voz do SENHOR.
S.D.G. L.B.Peixoto
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