29.12.2019
A GLÓRIA DE CRISTO NO NASCIMENTO VIRGINAL
Lucas 1.26-38
26No sexto mês da gestação de Isabel, Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, uma cidade da Galileia, 27a uma virgem de nome Maria. Ela estava prometida em casamento a um homem chamado José, descendente do rei Davi. 28Gabriel apareceu a ela e lhe disse: “Alegre-se, mulher favorecida! O Senhor está com você!”. 29Confusa, Maria tentou imaginar o que o anjo quis dizer. 30“Não tenha medo, Maria”, disse o anjo, “pois você encontrou favor diante de Deus. 31Ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Jesus. 32Ele será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu antepassado Davi, 33e ele reinará sobre Israel para sempre; seu reino jamais terá fim!” 34Maria perguntou ao anjo: “Como isso acontecerá? Eu sou virgem!”. 35O anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Portanto, o bebê que vai nascer será santo, e será chamado Filho de Deus. 36Além disso, sua parenta, Isabel, ficou grávida em idade avançada. As pessoas diziam que ela era estéril, mas ela concebeu um filho e está no sexto mês de gestação. 37Pois nada é impossível para Deus”. 38Maria disse: “Sou serva do Senhor. Que aconteça comigo tudo que foi dito a meu respeito”. E o anjo a deixou.
O NASCIMENTO VIRGINAL
Depois da ressurreição, o nascimento virginal é o evento mais contestado na vida de Jesus Cristo. Para se ter uma ideia: Próximo da virada para o século 20, o nascimento virginal se tornou uma questão que testava a fé das pessoas no sobrenatural.
Os conservadores ou fundamentalistas, por exemplo, argumentavam que alguém que pudesse concordar com o nascimento virginal provavelmente também aceitaria outras evidências da divindade de Jesus, visto que estas geralmente são menos difíceis de aceitar do que o nascimento virginal. Por isso que se perguntava a posição em relação ao nascimento virginal aos candidatos para a ordenação, pois era uma maneira relativamente rápida e eficiente de se determinar se o candidato considerava Cristo sobrenatural.
Ou seja: Qualquer pessoa que concordasse com o nascimento virginal provavelmente poderia aceitar os outros milagres relatados na Bíblia. Assim, a doutrina do nascimento virginal era uma forma conveniente de determinar a atitude da pessoa em relação ao sobrenatural em geral. Mas, além disso, era um teste da cosmovisão da pessoa e, especificamente, de sua concepção do relacionamento de Deus com o mundo.
Como assim?
Os liberais ou modernistas tinham a tendência de compreender Deus como presente e operante em todos os lugares. Acreditavam que ele estava em ação realizando seus propósitos por meio da lei natural e de processos cotidianos, e não de maneira direta e singular, atuando diretamente no mundo.
Já os conservadores ou fundamentalistas, criam que Deus está fora do mundo, mas intervém de forma milagrosa de tempos em tempos para realizar uma obra especial. Os fundamentalistas viam o nascimento virginal como um sinal da obra miraculosa de Deus, ao passo que os liberais enxergavam cada nascimento como um milagre. O nascimento virginal foi, então, um dos principais campos de batalha entre as concepções sobrenaturalista e naturalista do relacionamento de Deus com o mundo.
Nesta série de mensagens sobre a Glória de Cristo, nós devemos também considerar a Glória do Nascimento Virginal de Cristo. Por quê? Por que o nascimento virginal é importante para a fé cristã? Quais evidências há para a crença no nascimento virginal? Como responder às objeções apresentadas contra o nascimento virginal? De que maneira o nascimento virginal enriquece a nossa fé e estimula a nossa alegria em Cristo?
CONCEPÇÃO VIRGINAL
O nascimento virginal tem significados diferentes para diversas pessoas. Na verdade, estamos falando aqui da “concepção virginal”. Com isso queremos dizer que a concepção de Jesus no útero de Maria não foi resultado de uma relação sexual. Maria era virgem na época da concepção de Jesus e continuou assim até o momento do nascimento dele, pois as Escrituras indicam que José teve relações sexuais com ela somente depois do nascimento de Jesus (Mt 1.25). Maria engravidou em virtude da influência sobrenatural do Espírito Santo sobre ela, mas isso não significa que Jesus foi o resultado de uma cópula entre Deus e Maria. Preste atenção em Lucas 1.35:
O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Portanto, o bebê que vai nascer será santo, e será chamado Filho de Deus.
Millard J. Erickson, respeitadíssimo teólogo batista americano, em sua Teologia Sistemática argumentou o seguinte sobre este fato:
Jesus não foi produzido somente segundo o padrão genético de Maria [padrão este purificado pelo Espírito Santo; o Espírito impediu a transmissão do pecado de Maria; cf. Lc 1.35], pois, nesse caso [somente o padrão genético de Maria], ele [Jesus] de fato seria um clone dela e nasceria necessariamente mulher. Antes, houve a contribuição de um componente masculino. Em outras palavras, um espermatozoide foi unido com o óvulo fornecido por Maria, mas ele foi especialmente criado para a ocasião, em vez de ter sido fornecido por um ser humano masculino existente [ou pelo próprio Deus].
A concepção virginal miraculosa ou sobrenatural de Jesus Cristo é o que torna o relato bíblico verdade absolutamente distinto de todos os mitos existentes na literatura de outras crenças ou religiões. Millard J. Erickson informa:
Plutarco [46-120 d.C.] sugere que uma mulher pode ser engravidada quando abordada por um pneuma divino. Essa observação ocorre na nova versão da narrativa da lenda de Numa, que, depois da morte de sua esposa, recolheu-se em solidão para ter relações com o ser divino Egeria. Há histórias de como Zeus gerou Hércules, Perseus e Alexandre [o Grande], e de como Apolo gerou Íon, Asclépio, Pitágoras, Platão e Augusto. Esses mitos, porém, são nada mais do que histórias sobre a fornicação entre seres divinos e humanos, o que é radicalmente diferente dos relatos bíblicos sobre o nascimento virginal.
Lembrando que, no caso da concepção virginal de Jesus, “um espermatozoide foi unido com o óvulo [santificado pelo Espírito Santo] fornecido por Maria, mas ele [o espermatozoide] foi especialmente criado [pelo Espírito Santo] para a ocasião, em vez de ter sido fornecido por um ser humano masculino existente [ou pelo próprio Deus].”
Além de não ser resultado de relação sexual, a concepção ou nascimento virginal de Jesus Cristo tampouco indica que não houve um nascimento normal.
Alguns teólogos, particularmente católicos, interpretam o nascimento virginal como se Jesus não houvesse nascido de forma normal. Segundo essa perspectiva, ele simplesmente atravessou as membranas do útero de Maria, em vez de nascer por meio do canal normal, de modo que o hímen de Maria não foi rompido. Foi um tipo de parto cesariano milagroso. Segundo a doutrina católica associada à virgindade perpétua de Maria, ela nunca teve relações sexuais, portanto, não existiram filhos e filhas naturais nascidos do casamento dela com José.
Assim foi que certos teólogos, por exemplo, Dale Moody, propuseram o uso da expressão “concepção virginal” ou “concepção milagrosa” em lugar de “nascimento virginal”, a fim de distinguir sua interpretação do nascimento virginal daquela defendida pelo catolicismo tradicional. No entanto, por ser comum o uso da expressão “nascimento virginal”, nós a empregaremos aqui, com o entendimento de que nossa interpretação difere da interpretação do dogma tradicional da Igreja Católica Romana.
EVIDÊNCIAS PARA O NASCIMENTO VIRGINAL
A doutrina do nascimento virginal está baseada somente em duas referências bíblicas explícitas — Mateus 1.18-25 e Lucas 1.26-38. Há outros trechos no Novo Testamento que, segundo a argumentação de alguns, referem-se ao nascimento virginal ou, ao menos, aludem a ele ou o pressupõem. Também há a profecia de Isaías 7.14, citada por Mateus (1.23). Mas, mesmo quando essas passagens são consideradas como um todo, o número de referências relevantes é escasso.
Podemos, no entanto, simplesmente parar aqui e dizer que, como a Bíblia afirma o nascimento virginal não apenas uma vez, mas duas, isso é prova suficiente. Visto que cremos ser a Bíblia inspirada e imbuída de autoridade, Mateus 1 e Lucas 1 nos convencem de que o nascimento virginal é fato histórico.
Pois bem, tendo lido a narrativa de Lucas 1, leiamos a narrativa de Mateus 1:
18Foi assim que nasceu Jesus Cristo. Maria, sua mãe, estava prometida para se casar com José. Antes do casamento, porém, ela engravidou pelo poder do Espírito Santo. 19José, seu noivo, era um homem justo e resolveu romper a união em segredo, pois não queria envergonhá-la com uma separação pública. 20Enquanto ele pensava nisso, um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: “José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, pois a criança dentro dela foi concebida pelo Espírito Santo. 21Ela terá um filho, e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele salvará seu povo dos seus pecados”. 22Tudo isso aconteceu para cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta: 23“Vejam! A virgem ficará grávida! Ela dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel, que significa ‘Deus conosco’”. 24Quando José acordou, fez o que o anjo do Senhor lhe havia ordenado e recebeu Maria como esposa. 25No entanto, não teve relações com ela até o menino nascer; e ele lhe deu o nome de Jesus.
A favor das narrativas bíblicas lidas (Lucas 1 e Mateus 1), embora claramente independentes uma da outra, estão as semelhanças em tantos aspectos (incluindo a virgindade de Maria). Devemos, pois, concluir que ambas recorrem independentemente a uma narrativa comum anterior a qualquer uma delas: a sólida historicidade da tradição oral iniciada por José, Maria e os irmãos do Senhor.
Além das referências bíblicas explícitas, outra evidência do nascimento virginal é a firme tradição da igreja primitiva. Embora esta não estabeleça o nascimento virginal como um fato, é o tipo de evidência esperada se a doutrina fosse verdadeira.
Um ponto de partida é o Credo apostólico. A forma que conhecemos atualmente foi elaborada na Gália, no século quinto ou sexto, mas suas raízes são bem anteriores, remontando a uma antiga confissão batismal romana. O nascimento virginal é afirmado tanto na forma antiga quanto na posterior. Logo após a metade do século segundo, a forma antiga já era usada, não somente em Roma, como também no norte da Africa (por Tertuliano) e na Gália e Ásia Menor (por Ireneu). A presença da doutrina do nascimento virginal em uma confissão antiga da importante igreja de Roma é altamente significativa, especialmente porque tal credo não teria incorporado nenhuma doutrina nova.
Outro testemunho antigo importante é o de Inácio, bispo de Antioquia da Síria, que foi morto como mártir em 117, no mais tardar. Em sua discussão contra os hereges, ele produziu um sumário dos principais fatos sobre Cristo. Incluía uma referência à virgindade de Maria como um dos “mistérios diante dos quais se deve exultar”. Como observou J. Gresham Machen:
Quando vemos [Inácio] atestando o nascimento virginal não como uma novidade, mas como uma questão absolutamente certa, como um dos fatos aceitos sobre Cristo, torna-se evidente que a crença no nascimento virginal deve ter prevalecido muito antes do final do primeiro século.
A IMPORTÂNCIA DO NASCIMENTO VIRGINAL
Tendo apresentado o tema, examinado as evidências a favor do nascimento virginal e concluído que há sim base adequada para se defender a doutrina, precisamos perguntar agora o que ela significa. Por que ela é importante?
Primeiro. De certa forma, o nascimento virginal é importante simplesmente porque sua ocorrência está registrada. Independentemente de percebermos uma necessidade para o nascimento virginal, se a Bíblia nos diz que ele ocorreu, é importante crer nesse fato, porque não fazê-lo significa rejeitar tacitamente a autoridade bíblica. Consequentemente, não há, em princípio, razão alguma por que deveríamos nos apegar a seus outros ensinamentos. Portanto, a rejeição do nascimento virginal tem implicações que vão muito além da doutrina em si.
Segundo. Se Jesus Cristo tivesse nascido de Maria e José, mesmo que santificado pelo Espírito Santo (onde o Espírito teria impedido ou evitado a transmissão do pecado por parte dos pais), Jesus teria sido somente um homem, restando-lhe a possibilidade de pecar (veja o caso de Adão e Eva que mesmo sem pecado, perfeitos, caíram em tentação e pecaram). E se Jesus Cristo tivesse nascido apenas de pais humanos (sem a santificação do Espírito), ele herdaria uma natureza humana depravada ou corrompida em sua totalidade. Em ambos os casos (de pais humanos e santificado ou não pelo Espírito), não haveria a possiblidade de impecabilidade, essencial para que se cumprisse toda a lei e servisse de sacrifício perfeito.
Terceiro. O nascimento virginal possibilitou a união da plena divindade e da plena humanidade em uma só pessoa. Esse foi o meio empregado por Deus para enviar seu Filho ao mundo como homem (Jo 3.16; Gl 4.4). Se pensarmos por um momento em outros meios possíveis pelos quais Cristo poderia ter vindo ao mundo, nenhum deles uniria com tamanha clareza a humanidade e a divindade em uma só pessoa. Como assim?
Veja: É provável que Deus pudesse criar Jesus no céu como um ser completamente humano e enviá-lo para que descesse do céu à terra sem o benefício de nenhum genitor humano. Mas nesse caso seria muito difícil ver como Jesus poderia ser plenamente humano como somos, e ele não faria parte da raça humana que descende fisicamente de Adão.
Por outro lado, é provável que fosse bem possível para Deus fazer Jesus entrar no mundo por meio de dois genitores humanos, pai e mãe, e com sua plena natureza divina miraculosamente unida à sua natureza humana em algum momento no início de sua vida. Mas então seria difícil compreender como Jesus seria plenamente Deus, uma vez que sua origem seria como a nossa em todos os sentidos.
Quando pensamos nessas duas outras possibilidades, isso nos ajuda a compreender como Deus, em sua sabedoria, ordenou uma combinação de influência humana e divina no nascimento de Cristo, de modo que sua plena humanidade nos seria evidente pelo seu nascimento humano comum (por meio de uma mulher) e sua plena divindade seria evidente por sua concepção no ventre de Maria (pela obra poderosa do Espírito Santo).
A GLÓRIA DO NASCIMENTO VIRGINAL
Por que o nascimento virginal? Qual é o significado do nascimento virginal? Por que Deus escolheu fazer as coisas dessa maneira? Como nós podemos enxergar glória e beleza no nascimento virginal de Cristo?
DEVEMOS CRER NO NASCIMENTO VIRGINAL
É importante que creiamos no nascimento virginal? A resposta é um sim retumbante. Deus o designou dessa maneira específica e escolheu Mateus e Lucas para registrar tudo claramente nos evangelhos. Negar essa doutrina é abrir a porta para negar qualquer coisa claramente afirmada na Bíblia. Mark Driscoll está certo ao afirmar:
Se o nascimento virginal de Jesus é falso, a história de Jesus muda muito; teríamos uma jovem sexualmente promíscua mentindo sobre a mão milagrosa de Deus no nascimento de seu filho, criando aquele filho para declarar que ele era Deus e depois ingressar em sua religião. Mas se Maria nada mais é do que uma vigarista pecadora, então nem ela nem seu filho Jesus devem ser confiáveis. Porque tanto os ensinamentos claros das Escrituras sobre o início da vida terrena de Jesus e o caráter de sua mãe estão em jogo, devemos lutar pelo nascimento virginal de Jesus Cristo.
Sim, vale a pena defender, declarar e desfrutar o extraordinário e magnífico nascimento virginal de Jesus. E tudo pelo que vale a pena defender, declarar e desfrutar é motivo de grande alegria. Afinal, no caso em questão, nenhum humano jamais existiu antes da concepção, exceto o Jesus preexistente. E nenhum ser humano teve um nascimento virginal como este homem. Esta é uma glória única e singular do Deus-homem: Jesus Cristo, o maravilhoso Salvador.
Concluo com as palavras de Charles Swindoll:
O nascimento virginal possui ramificações de significado prático de longo alcance. Cristianismo é Cristo. Se Cristo é apenas um homem, então cristianismo é apenas uma religião humana. Pois um salvador natural não provê ajuda sobrenatural, um salvador estritamente humano não oferece esperança divina, e um salvador pecador é realmente salvador coisa nenhuma.
Glória a Deus pelo Salvador maravilhosa que nos foi dado em Jesus Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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