02.02.2020
Tito 2.11-13
11Pois a graça de Deus foi revelada e a todos traz salvação. 12Somos instruídos a abandonar o estilo de vida ímpio e os prazeres pecaminosos. Neste mundo perverso, devemos viver com sabedoria, justiça e devoção, 13enquanto aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo.
A GLÓRIA DE CRISTO
Meu Deus! Que maravilha! “Aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 1.13)!
Jesus Cristo é “nosso grande Deus e Salvador”. E a glória, a beleza desse “Deus e Salvador” é o que, encantando nosso coração (fazendo-nos arrepender do pecado e crer na vida e obra gloriosa desse Cristo), nos salva e santifica.
Descrevendo como a glória de Cristo nos salva, Paulo disse assim (2Co 4.3-6):
3Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, 4nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. 5Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus. 6Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo.
Note os três paralelos nos versos 4 e 6: 1luz (v. 4) = luz (v. 6); 2evangelho (v. 4) = conhecimento (v. 6); 3glória de Cristo (v. 4) = glória de Deus (v. 6).
Que valor há nesses paralelos?
PRIMEIRO. Paulo está ensinando que o propósito supremo da salvação, o fim de todas as coisas, o ponto de chegada, o destino final da vida e do universo é a contemplação, o encantamento, o desfrute e o deleite da glória de Deus estampada na face, na pessoa de Jesus Cristo. Por isso ele diz no versículo 4: “luz do evangelho da glória de Cristo” (ou seja: o evangelho aponta para a glória de Cristo). E diz também no versículo 6: “luz… para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (ou seja: o conhecimento serve ao propósito de se ver a glória de Deus, na face de Cristo).
Portanto, a glória de Cristo (a glória de Deus em Cristo) é o destino de tudo e de todos, especialmente dos cristãos. Todas as coisas, no final, convergirão em Cristo, na glória de Cristo (Ef 1.10). Daí que Paulo escreveu a Tito: “Aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 1.13).
SEGUNDO. Se a glória de Cristo é o destino, então o meio, os trilhos, a locomotiva que nos leva à glória de Cristo é o glorioso evangelho que, uma vez compreendido de cabeça e de coração, salva e santifica o pecador. Assim, quando o evangelho fica encoberto por causa da cegueira do pecado (2Co 4.3-4), quando Cristo não é pregado (2Co 4.5), o resultado é que não há compreensão, contemplação e deleite da glória de Cristo; não havendo, portanto, salvação.
TERCEIRO. Se a glória de Cristo é o fim da salvação e o evangelho da glória de Cristo é o meio para a salvação, a pergunta agora é: Como nós chegamos lá? Bem, o combustível da locomotiva do evangelho que nos leva à glória de Cristo é o poder regenerador e santificador do Espírito Santo, que aqui em 2Coríntios 4 Paulo chama de “a luz do evangelho (v. 4) e chama também de “luz… para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (v. 6).
Jonathan Edwards, pregando em 2Coríntios 4, argumentou de forma iluminadora que não é suficiente ouvir “o evangelho” (mencionado no versículo 4), ou ter “o conhecimento” do evangelho (mencionado no versículo 6). Deve haver uma obra divina de iluminação — um despertar, um novo nascimento no coração. Ou seja: o próprio Deus, pelo Espírito, deve fazer um ato de criação (de um novo coração), como fez no começo do universo, quando disse: “Haja luz”… “Haja um novo coração”. Edwards chamará esse ato de Deus de “regeneração” — nascer de novo.
Em uma colher de chá, eis a história da nossa gloriosa salvação: a glória de Cristo é o fim, o evangelho de Cristo é o meio e o Espírito de Cristo é o poder que nos faz ver, compreender, receber e deleitar na vida e na obra gloriosa de Jesus Cristo. 2Coríntios 3.16-18 registra o argumento de Paulo aos coríntios nos seguintes termos:
16Contudo, sempre que alguém se volta para o Senhor, o véu é removido. 17Pois o Senhor é o Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade. 18Portanto, todos nós, dos quais o véu foi removido, podemos ver e refletir a glória do Senhor, e o Senhor, que é o Espírito, nos transforma gradativamente à sua imagem gloriosa, deixando-nos cada vez mais parecidos com ele.
Ou o espírito de Deus nos faz ver, ou permaneceremos cegos sem enxergar. Por isso que as duas últimas mensagens desta série se ocuparam de tratar das marcas do avivamento, demonstrando que a grande obra do Espírito é a iluminação da mente e que a única maneira de o Espírito iluminar é pela pregação do evangelho da glória de Cristo.
Esse conhecimento da glória de Cristo, pelo evangelho e no poder do Espírito Santo (2Co 4.3-6), não é apenas o fim de todas as coisas (Ef 1.10), mas também o meio (2Co 3.16-18) de chegarmos ao “dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.13). Por isso estamos nesta série de mensagens. Explico.
A DIVINDADE DE CRISTO
A glória de Cristo se alicerça no fato de que ele é Deus em carne humana.
A encarnação (que já estudamos quando falamos da glória do nascimento virginal) foi o ato pelo qual Deus Filho assumiu a natureza humana (que já estudamos quando falamos da glória de Cristo na manjedoura e da glória da humanidade de Cristo) — natureza humana sem pecado (e que estudamos quando falamos da glória da impecabilidade de Cristo).
Precisamos, agora, mergulhar na maravilha da glória da divindade de Cristo (o que faremos, brevemente, a seguir) e contemplar a beleza da glória das duas naturezas de Cristo — homem-Deus; Deus-homem (o que faremos, Deus permitindo, hoje à noite).
De tantas e tantas alegações bíblicas diretas e indiretas da divindade de Cristo, há o texto que lemos no início (Tt 2.11-13), que diz que “aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (v. 13). Mas permitam-me citar ainda Filipenses 2.5-11, posto que Paulo, nesse breve trecho aos filipenses, traça a vida de Cristo desde a eternidade, quando ele ainda não havia encarnado e já possuía os mesmos atributos de Deus (v. 6). Em seguida, menciona a realidade da vida terrena de Cristo (vs. 6-8). Por fim, fala do futuro, novamente no plano eterno, quando Cristo é glorificado pelo Pai (vs. 9-11). Veja, Filipenses 2.5-11:
5Tenham a mesma atitude demonstrada por Cristo Jesus. [ETERNAMENTE DEUS] 6Embora sendo Deus [sendo em forma de Deus], não considerou que ser igual a [na mesma medida de] Deus fosse algo a que devesse se apegar [não tirou vantagens]. [ENCARNAÇÃO GLORIOSA] 7Em vez disso, esvaziou a si mesmo [Cristo jamais se despiu de suas características e atributos divinos; esvaziar-se é o mesmo que humilhar-se; aniquilar-se no sentido de assumir posição inferior, de servo]; assumiu a posição de escravo [servo] e nasceu como ser humano [Deus encarnou-se como homem]. Quando veio em forma humana, 8humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz. [GLORIFICAÇÃO INIGUALÁVEL] 9Por isso Deus o elevou ao lugar de mais alta honra e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, 10para que, ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11e toda língua declare que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus, o Pai.
Jesus Cristo é Deus, ponto. Sobre este texto de Paulo, James M. Boice pregou:
Os versículos de Filipenses 2.5-11 são notáveis por sua profunda teologia em relação a Jesus, pois sobrepujam todas as confissões menores sobre ele, mostrando que qualquer um que afirme que Cristo foi apenas mais um dos grandes mestres ou profetas está equivocado.
Inda mais impressionante é que Paulo usa a doutrina da divindade de Cristo de forma indireta, apresentando-a não em prol de si mesma, mas inteiramente em favor da defesa de outras questões: unidade, humildade e serviço na igreja de Filipos.
Isto nos ensina pelo menos duas coisas:
Primeira, doutrina tem que ter implicações práticas para a vida e para a igreja.
Segunda, toda prática de vida ou na igreja deve ser derivada de doutrina bíblica.
ATRIBUTOS DE DIVINDADE
Além de afirmações diretas e indiretas da divindade de Cristo (que por falta de tempo nós não analisaremos aqui), a Bíblia também traz dezenas de atos na vida de Jesus que indicam seu caráter divino. Por Exemplo:
Onipotência. Mateus 8.26-27:
26“Por que vocês estão com medo?”, perguntou ele. “Como é pequena a sua fé!” Então levantou-se, repreendeu o vento e o mar, e houve grande calmaria. 27Os discípulos ficaram admirados. “Quem é este homem?”, diziam eles. “Até os ventos e o mar lhe obedecem!”
Onisciência. João 1.48-49:
48“Como o senhor sabe a meu respeito?”, perguntou Natanael. Jesus respondeu: “Vi você sob a figueira antes que Filipe o chamasse”. 49Então Natanael exclamou: “Rabi, o senhor é o Filho de Deus, o Rei de Israel!”.
Onipresença. Mateus 28.19-20:
19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20Ensinem esses novos discípulos a obedecerem a todas as ordens que eu lhes dei. E lembrem-se disto: estou sempre com vocês, até o fim dos tempos”.
Poderíamos ainda falar da eternidade de Cristo (Jo 8.58), da soberania de Cristo (Mt 11.25-27), da imortalidade de Cristo (Jo 2.19), dentre tantos, tantos outros atributos gloriosos, mas o tempo não nos permite. Recomendo a leitura de dois livros de Mark Jones, publicados pela editora Monergismo: [1] Deus é… e [2] O conhecimento de Cristo.
Mas pense nas implicações práticas de se ter um Deus que é poderoso o bastante para acalmar tempestades, que “Até os ventos e o mar lhe obedecem!”; Deus que sabe de todas as coisas, onde quer que estejamos; e que está conosco a cada instante, todos os dias de nossa vida, até “o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo.” Glória a Deus! Esse é o nosso glorioso Deus e Salvador, Jesus Cristo.
Fé e esperança nesse Cristo salva-nos do pecado e da ira de Deus (ele é Salvador), acalma o coração no meio de temporais (ele é Onipotente), deixa-nos em estado de alerta e prestação de contas (ele é Onisciente), consola-nos e encoraja-nos com sua presença (ele é Onipresente).
A GLÓRIA DA DIVINDADE DE CRISTO
Sim, Cristo é Deus e Salvador. Nas palavras de Paulo (Cl 1.19-20):
19Pois foi do agrado do Pai que toda a plenitude [divina] habitasse no Filho, 20 e, por meio dele, o Pai reconciliou consigo todas as coisas. Por meio do sangue do Filho na cruz, o Pai fez as pazes com todas as coisas, tanto nos céus como na terra.
E ainda (Cl 2.9): “Pois nele [Cristo] habita em corpo humano toda a plenitude de Deus.”
Sim, Cristo é plena e verdadeiramente homem, e ele é também plena e verdadeiramente Deus. Portanto, ele é corretamente chamado “Emanuel”, ou seja, “Deus conosco” (Mt 1.23).
A necessidade da divindade de Cristo
Para terminar: Por que é necessária a divindade de Cristo?
Quando estudamos a glória da humanidade de Cristo nós destacamos alguns motivos pelos quais era necessário que Jesus fosse plenamente humano para obter nossa salvação. Por exemplo: para ser… um sacrifício substitutivo… o único mediador entre Deus e os homens… exemplo e padrão de vida… compadecer-se como sumo sacerdote… etc.
Cabe agora reconhecer que é também crucialmente importante insistir na plena divindade de Cristo, não só porque ela é amplamente ensinada nas Escrituras, mas também porque:
Assim, se Jesus não é plenamente Deus, não temos salvação e, por fim, nenhum cristianismo. Não é por acaso que ao longo da história os grupos que abandonaram a crença na plena divindade de Cristo não têm permanecido muito tempo na fé cristã, desviando-se logo para algum tipo de espiritualidade ou filosofia humana.
Lembre-se, pois, de que “Quem se desvia deste ensino não tem ligação alguma com Deus, mas quem permanece no ensino de Cristo tem ligação com o Pai e também com o Filho.” (2Jo 9).
S.D.G. L.B.Peixoto
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