05.01.2020
AS MARCAS DO AVIVAMENTO
PARTE 1
Zacarias 8.18-23
18Esta é outra mensagem que recebi do SENHOR dos Exércitos. 19“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Os jejuns habituais que vocês têm observado no quarto mês, bem como no quinto, no sétimo e no décimo mês, chegaram ao fim. Eles se tornarão festas de alegria e celebração para o povo de Judá. Portanto, amem a verdade e a paz. 20“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Pessoas de nações e cidades de todo lugar virão a Jerusalém. 21Os habitantes de uma cidade dirão aos habitantes de outra: ‘Venham conosco a Jerusalém para pedir ao SENHOR que nos abençoe. Vamos adorar o SENHOR dos Exércitos. Estou decidido a ir’. 22Muitos povos e nações poderosas virão a Jerusalém para buscar o SENHOR dos Exércitos e pedir que ele os abençoe. 23“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Naquele dia, dez homens de nações e línguas diferentes agarrarão a barra das vestes de um judeu e dirão: ‘Deixe que o acompanhemos, pois ouvimos dizer que Deus está com vocês’”.
ATAQUE AOS PROTESTANTES HISTÓRICOS
Essa semana mais uma igreja católica romana foi incendiada no Chile. E ao redor do mundo, igrejas cristãs, sejam elas católicas romanas ou protestantes, são atacadas quase todos os dias, sendo mais comum roubos, saques, depredações, vandalismos e incêndios. 2019 foi considerado um dos anos mais sangrentos da história para os cristãos — “ano de calvário” (Thomas Heine-Geldern, presidente da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre). Todos ficamos chocados. E devemos.
É bem verdade também que o destaque midiático será sempre muito maior, por exemplo, para os de Porta do Fundos do que para os cristãos. Deveria ser para os dois, pois terrorismo e perseguição são atos igualmente horríveis e desprezíveis em qualquer contexto. Mas esta atitude seletiva por parte dos de fora já é esperada.
O que não pode acontecer é o que vemos, de forma mais sutil, acontecendo toda hora, por parte de quem se diz cristão, e continuar tudo numa boa. Estou falando do ataque ao protestantismo histórico sem qualquer pudor ou profundidade teológica, sem se pensar nas consequências catastróficas, diria até eternas, deste ato maligno.
A fé protestante está sob ataque e ninguém parece se importar.
Você já deve ter ouvido de alguém que cristãos protestantes históricos são “retrógrados”, espiritualmente falando. Costumam-se dizer que “as igrejas históricas ficaram na história, não avançaram, não foram além, não deram um passo além nas coisas espirituais”. Batistas e presbiterianos (“tradicionais”), por exemplo, são tidos como “nossos irmãos”, mas que “não têm ativos os dons do Espírito Santo”, “são irmãos preocupados demais, excessivamente com doutrina e transformaram a palavra de Deus em uma caixinha de doutrinas humanas, regrinhas”.
Para os que pensam e pregam assim, sucesso ou avanço é medido apenas estatisticamente: pelo número de pessoas, seguidores ou fiéis. Por exemplo:
Os críticos ao protestantismo histórico olham para a realidade norte-americana, onde o número de bruxas (1 milhão e 500 mil) é maior que o de presbiterianos (PCUSA: 1 milhão e 400 mil) e onde o número de batistas (maior denominação da América) tem declinado entre os norte-americanos (2007: 6.7%; 2014: 5.3%), juntamente com o montante protestante como um todo (2007: 26%; 2014: 21%); daí eles concluem, equivocadamente, que esse “retrocesso”, essa “perda” se dá em função de:
Bem… Toda crítica é sempre muito bem-vinda. Especialmente para os protestantes que têm como lema: “Igreja reformada sempre reformando”. A questão, no entanto, é que os parâmetros utilizados para justificar o declínio da fé protestante histórica — a fé cristã bíblica, por assim dizer — , são tão rasos quanto inconsequentes. Explico.
Primeiro: A medida do sucesso fundamentada apenas em números é fruto de um pragmatismo perigoso, para se dizer o mínimo. A estes, Paulo diria que (1Co 4.1-2): “devemos ser considerados simples servos de Cristo, encarregados de explicar os mistérios de Deus. De um encarregado espera-se que seja fiel.” Agora, os “mistérios de Deus” dizem respeito ao evangelho de Cristo; suas aplicações para a nossa vida de fé, esperança e amor; a união do crente com Cristo, da igreja com Cristo; e a esperança de glória ou da vida eterna em Cristo (Ef 6.19; Rm 11.25; 1Co 15.51; Ef 3.4, 6; 5.32; Cl 2.2).
Segundo: A mensagem da igreja de Cristo é e sempre será uma e sempre a mesma: “Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2, ARA). Tanto que, ao jovem pastor Timóteo, diante da importante igreja de Éfeso, Paulo recomendou (2Tm 2.8-9, ARA): “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu evangelho; pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada.”
Sabemos, no entanto, que adiante a igreja de Éfeso abandonou (gr. aphiemi: mandou ir embora, divorciou-se do) o primeiro amor (Ap 2.4) e que foram exortados pelo Cristo “à prática das primeiras obras” (Ap 2.5). Quais? Amor a Deus e ao próximo. O problema, portanto, não está na doutrina ou na centralidade de Cristo, mas em se amar doutrina sem se amar Deus e o próximo.
Assim, Paulo, o apóstolo, tanto serviu como nos serve de exemplo (2Tm 2.10, ARA): “Por esta razão [Jesus Cristo, segundo o evangelho; a palavra de Deus; doutrina], tudo suporto por causa dos eleitos [doutrina da eleição: garantia de que haverá conversão], para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus [doutrina], com eterna glória [doutrina].”
Doutrina é o que mantém um crente perseverante de forma a glorificar a Deus. O problema, então, nunca será a doutrina, mas o coração. Daí que precisamos do Espírito Santo, de avivamento (para abrir a mente e o coração de forma apaixonada e frutífera para a verdade revelada pela doutrina: Cristo e o prazer de reparti-lo.
Para se ter uma ideia (Revival and Reavivalism, Iain H. Murray): Por volta de 1735 a 1740, sob a pregação de Jonathan Edwards, George Whitefield e outros, as colônias americanas experimentaram um enorme avivamento espiritual que passou a ser conhecido como o Primeiro Grande Avivamento. Agora, pasmem, aquele fenômeno foi impulsionado pela pregação que enfatizava as verdades bíblicas da santidade de Deus, a gravidade do pecado, a escravidão do homem ao pecado e a necessidade do Espírito Santo dar novo nascimento para que as pessoas pudessem se arrepender, crer e ser salvas. Doutrina, portanto, nunca será contraproducente, mas combustível para o avivamento.
Terceiro: Legalismo e mente fechada de fato são perigosos. Tanto legalismo como odres velhos roubam, matam e destroem. Igreja históricas de fato precisam lidar com este perigo. Mas o que vemos acontecer hoje em dia no meio dito evangélico é o extremo oposto: excessos, exageros, escândalos, tudo pode, tudo vale, nada de santidade, nada de novidade de vida, tudo em nome da graça e de Cristo e do amor de Deus. O resultado é que, por mais que se cresça em temos numéricos e estatísticos, sem santificação e bom senso, o sal do bom testemunho cristão se tornou insípido e para nada mais presta, posto que não salga (Mt 5.13); a luz do evangelho está escondida sob o cesto (Mt 5.15); e o “embaraço de todo peso e do pecado” superabundam no ceio dos evangélicos (Hb 12.1). O que se vê é que a igreja de forma geral não está correndo com perseverança a corrida que a está proposta, tendo os olhos firmados em Cristo (Hb 12.2).
Quarto: O problema (e ele de fato existe!) de “uma estrutura denominacional muito pesada, burocrática demais da conta” é facilmente resolvido quando, no nosso caso — dos batistas — , cada igreja local tem autonomia para ser e agir com independência, pautada na declaração doutrinária ou confissão de fé histórica e mobilizada pela decisão dos crentes, membros da igreja local, reunidos em assembleia.
Atos 15.22: “Então, pareceu bem aos apóstolos e aos presbíteros [igreja liderada por pastores e presbíteros], com toda a igreja [igreja governada pela congregação], tendo elegido homens dentre eles, enviá-los [igreja servida pelos próprios membros e não por um clero evangélico], […]” Esse é o padrão neotestamentário (Jesus estabeleceu a assembleia da igreja como padrão de autoridade final na vida de uma igreja: Mt 18.17-20).
Por outro lado, o que se observa é que o desprezo ao governo de uma assembleia congregacional, bem como à historicidade da denominação, vem produzindo mini-denominações ou “ministérios” que giram em torno, não de uma fé e prática históricas, provadas e aprovadas pelo lastro da ortodoxia, mas de homens com “novas visões” que a cada dia levam seus seguidores para mais longe da “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). A bem da verdade, fugindo da tradição que recebemos dos apóstolos (2Ts 3.6) e que nos foi transmitida pela fé protestante-reformada (2Tm 2.2), esses homens e mulheres de “nova visão” prosseguem enganando/enredando/escravizando “com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo [princípios elementares, raciocínios humanos] e não segundo Cristo” (Cl 2.8).
Por mais que eles digam que não idolatram “placa de igreja” ou que não vivem para a “instituição” e sim para as pessoas, de fato o que se observa é um bando de gente “idolatrando” a visão de um homem (de fato, escravizados a ela), vivendo para essa visão e usando pessoas para galgar mais espaço dentro da visão da igreja; digo: crente comum, diácono, obreiro, presbítero, pastor; ou ainda: discípulo, discipulador, líder de grupo ou de pequeno grupo ou de célula, supervisor, seminarista, pastor; e por aí vão.
Quinto: Viver para buscar “o mover de Deus”, “o mover do Espírito” sem que se leve em conta o verdadeiro papel do Espírito — isto é: guiar à verdade, regenerar o pecador, convencer do pecado, iluminar a mente e o coração para que se veja a glória de Deus na face de Cristo, conferir poder para que se pregue com paixão e intrepidez o Cristo crucificado, dotar-nos de dons para servir ao corpo de Cristo, capacitar-nos a viver os imperativos da vida cristã — não levar em conta o papel do Espírito Santo deixará os crentes à mercê do engano do coração e suscetíveis aos enganos dos anticristos que já saíram pelo mundo (até que apareça o grande anticristo, o iníquo).
Claro que os que priorizam “o mover de Deus” ou o “mover do Espírito”, em detrimento de doutrina e de verdade (seguindo só a “voz” de Deus no coração), não serão os únicos a seguir o anticristo quando ele se manifestar. Sabemos pela Bíblia que também assim será com a massa daqueles que hoje em milhares de igrejas evangélicas, históricas ou novas, menosprezam a verdade da doutrina bíblica como agente de Deus para nos libertar – “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32, ARA).
O discernimento não é criado no povo de Deus por um mero “mover”. Antes, é criado pela verdade bíblica e pela aplicação da verdade pelo poder do Espírito Santo no coração e na mente. Quando isto acontece — raciocínio e ponderação contemplados pela iluminação do Espírito para a compreensão da verdade (2Tm 2.7) — , o fruto do Espírito será sustentado no crente pela fibra forte de “todo o desígnio de Deus” (At 20.27, ARA). Esse crente será profundamente cristãos e profundamente espiritual, não meramente religioso, emocional ou psicológico.
O denominador comum daqueles que seguirão mentiras e, finalmente, o anticristo não será se ele é “avivado” ou “tradicional”. Será, como Paulo diz (2Ts 2.12), que eles “não deram crédito à verdade”. Ouçam (2Ts 2.9-12, ARA):
9Ora, o aparecimento do iníquo [anticristo] é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios [milagres, moveres] da mentira, 10e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. 11É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação [gr., energeia: energia, mover; poder sobre-humano] do erro, para darem crédito à mentira, 12a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça [violação da lei].
Nosso teste para cada “mover de Deus” que aparecer não será estatístico, deverá primeiro ser bíblico, doutrinário e expositivo. Ou seja:
Esse “despertar” é motivado por um “amor da verdade para serem salvos” e por uma paixão por ouvir todo o desígnio de Deus proclamado?
O que se busca como resultado desse “mover”, mais de Cristo ou mais das coisas debaixo do sol?
O que promove esse “mover”, mais crentes dispostos a correr com perseverança e santidade a vida cristã, olhando para Cristo, ou mais carnalidade, orgulho, mundanismo?
Que fruto se colhe desse “mover”, mais crentes que se compadecem do próximo e dos perdidos sem Cristo, que aceitam “com alegria o espólio [saque, despojo] dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável” (Hb 10.34), ou mais materialismo, egoísmo, orgulho e mundanismo?
Irmãos, perceberam o que está em jogo, quando se abandona e se ataca o protestantismo histórico das igrejas reformadas, p.ex., batistas e presbiterianos?
A BUSCA PELO ESPÍRITO SANTO
Outro ataque comum às igreja protestantes históricas é que elas não buscam o Espírito Santo. Seria verdade? Como buscamos (ou deveríamos buscar) o Espírito Santo?
Frederick Dale Bruner, em parceria com William Hordern, lançou em 1984 um livro intitulado (tradução livre do inglês: The Holy Spirit – Shy Member of the Trinity): O Espírito Santo – Membro Tímido da Trindade. A tese é que esse “membro tímido da Trindade” tem como ministério o desviar-se de si mesmo, apontando-nos para a maravilha de Deus, o Filho, e de Deus, o Pai. Estar cheio do Espírito significa estar cheio de amor por Cristo. Quando Jesus prometeu o Espírito (em João 16.14, NVI), ele disse: “Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.” O Espírito é tímido; é coadjuvante (não por ser menor, mas por ser este o papel dele); ele não se autopromove. Quando olhamos para ele, ele dá um passo atrás e empurra Jesus Cristo para frente.
John Piper argumenta que, ao buscarmos ser cheios do Espírito e empoderados/fortalecidos pelo Espírito, devemos buscá-lo indiretamente — devemos olhar para a maravilha de Cristo. Se desviarmos o olhar de Cristo e buscarmos diretamente o Espírito e seu poder, acabaremos no lamaçal de nossas próprias emoções subjetivas. O Espírito não se auto revela. O Espírito revela Cristo. A plenitude do Espírito é a plenitude que ele dá na medida em que olhamos para Cristo. O poder do Espírito é o poder que sentimos na presença de Cristo. A alegria do Espírito é a alegria que sentimos das promessas de Cristo. Muitos de vocês talvez saibam o que significa prostra-se no chão e clamar ao Espírito Santo por alegria e poder, e nada acontecer; mas no dia seguinte, dedicando-se à meditação sincera sobre a glória de Jesus Cristo na revelação das Escrituras, experimentam a plenitude do Espírito. Portanto:
Dedique-se a ver e sentir a grandeza do amor de Deus em Jesus Cristo e você estará tão em harmonia com o Espírito Santo que o poder dele fluirá poderosamente em sua vida. A experiência espiritual cristã não é uma vaga emoção religiosa. É uma emoção com conteúdo objetivo, e o conteúdo é Jesus Cristo. O Membro tímido da Trindade faz um trabalho poderoso, mas ele nunca se coloca na ribalta, sob as luzes do holofote. Ele é a luz da ribalta, o canhão de luz que ilumina e coloca em relevo nos centro do palco os atributos de Deus Pai e da pessoa de Cristo. Ser cheio do Espírito, portanto, é ter olhos para ver e se encantar, ver e desfrutar a maravilha da vida, da obra e das palavras de Cristo de uma maneira que nos transforma à imagem e semelhança de Cristo: satisfeitos e corajosos, alegres e amorosos, santos e simpáticos. É assim que buscamos (e devemos buscar) o Espírito: para mais de Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto
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