11.09.2022
[Gênesis 1.1] No princípio, Deus criou os céus e a terra.
GÊNESIS É FATO OU FICÇÃO? A resposta a essa pergunta é de suma importância, uma vez que a posição adotada sobre a natureza deste livro determinará não somente o modo como se o interpretam como também a maneira como se veem a vida.
Semana passada, na primeira parte desta mensagem, apontamos que
[1.] se Gênesis é ficção, estaria em xeque não apenas o conteúdo dos três capítulos fundacionais de toda a Bíblia (Gn 1—3), mas a veracidade das palavras de Jesus e 10 dos 27 livros do Novo Testamento que tomam Gênesis como fato, não ficção;
[2.] se a história da queda de Adão e Eva no pecado é ficção, se Gênesis 3 não é fato histórico, se não houve uma queda literal no pecado, por parte do primeiro casal que representava a raça humana, então não houve estado anterior de inocência e nenhuma culpa poderia ser atribuída a nós; em outras palavras, se a história da queda de Adão e Eva no pecado é ficção, não somos pecadores por causa de nossa própria rebelião voluntária contra Deus; somos simplesmente pecadores, no sentido mitológico, ficcional;
[3.] se o dilúvio não é uma história real, mas um mito criado para ensinar certas verdades eternas, essa história mitológica até poderia ensinar que Deus não gosta do pecado, só que faria perder a temível verdade de que Deus intervém sim na história para julgar o pecado e o pecador, e de que, a exemplo dos dias de Noé (cf. Lc 17.26-27), o julgamento cabal nos tempos do fim não passa de argumento mitológico.
E então, Gênesis é fato ou ficção?
O ponto de partida para responder se Gênesis é fato ou ficção é estabelecer que Gênesis faz parte da Sagrada Escritura e, portanto, nos foi dado por Deus e fala com autoridade divina. 2Timóteo 3.16 —
Toda a Escritura é inspirada por Deus [i.e., todo o Antigo Testamento é inspirado por Deus; Gênesis é inspirado por Deus] e útil para nos ensinar o que é verdadeiro e para nos fazer perceber o que não está em ordem em nossa vida. Ela [a Escritura inspirada por Deus] nos corrige quando erramos e nos ensina a fazer o que é certo.
Gênesis, portanto, é um livro inspirado por Deus; é a revelação de Deus à humanidade.
Entretanto, a inspiração divina do livro de Gênesis não resolve tudo – sobre ser fato ou ficção a narrativa do texto – por esta razão: Deus também inspirou ficção (i.e., textos bíblicos de natureza fantasiosa para seus próprios propósitos sagrados)… Deus inspirou narrativas imaginárias (parábolas, por exemplo; textos poéticos e até alegóricos, p. ex., Juízes 9.7-15); de igual modo, Deus inspirou narrativas históricas.
E então, Gênesis é fato histórico inspirado por Deus ou ficção com sentido moral e espiritual inspirada por Deus?
Uma vez tomado que toda a Escritura é inspirada por Deus, inclusive Gênesis, o segundo ponto relacionado à nossa questão é o ensino – ou, talvez mais precisamente, a inferência (já que a questão não é tratada de maneira formal ou direta na Escritura)… o segundo ponto relacionado à nossa questão é o ensino ou a inferência da própria Escritura de que Gênesis é documento histórico, não analogia, alegoria, parábola ou poesia; Gênesis é fato, não ficção. Gênesis é história inspirada por Deus, a história das origens.
Colocado na forma de uma pergunta, a pergunta é: A Bíblia como um todo vê o livro de Gênesis como ficção inspirada por Deus, ou o vê como fato, fato histórico inspirado por Deus? — Comprovaremos que o livro de Gênesis é fato histórico inspirado por Deus, recorrendo aos seguintes: [1.] a estrutura da composição de Gênesis; [2.] a teologia do salmista (os cânticos de Israel); [3.] o ensino de Jesus Cristo; [4.] as cosmogonias do mundo antigo; e [5.] a linguagem de Gênesis. Observe:
1. A estrutura da composição de Gênesis
O relato da criação (Gn 1 e 2), o relato da queda e de suas consequências para toda a criação (Gn 3 e 4), o relato do dilúvio (Gn 6 a 9), o relato dos descendentes de Noé e a origem das nações (Gn 10 e 11), o relato da história dos patriarcas – de Abraão até José no Egito (Gn 12 a 50), enfim, o livro todo de Gênesis está costurado como um único documento histórico – de duas maneiras: [1.] as genealogias e [2.] o artifício literário que amarra a história desde a criação dos céus e da terra (em Gênesis 1.1) até a morte de José aos 110 anos e o seu embalsamamento no Egito (em Gênesis 50.25-26).
PRIMEIRO, AS GENEALOGIAS conectam todos os personagens e acontecimentos históricos anteriores e posteriores com a descendência direta de Adão e Eva em Gênesis 1—3, demonstrando que para Moisés (o autor) toda a história de Gênesis, desde o início do livro, deve ser entendida como uma única narrativa histórica, apresentando pessoas e acontecimentos que efetivamente existiram e ocorreram. Com efeito, Abraão, Isaque e Jacó são apresentados como pessoas históricas reais que descendem de Adão e Eva, e, portanto, Adão e Eva também são considerados personagens históricos reais, a partir dos quais nasceu a raça humana. Inda mais, até Lucas, autor do Evangelho que imprime o seu nome, leu desse modo histórico as genealogias de Gênesis, conectando Jesus com a sua ascendência até Adão e Deus (Lc 3.23-38).
Observe, começando por Gênesis:
Gênesis 5.1-11 1Este é o relato dos descendentes de Adão. Quando Deus criou os seres humanos, formou-os semelhantes a ele. 2Criou-os homem e mulher; quando foram criados, Deus os abençoou e os chamou de “humanidade”. 3Aos 130 anos, Adão teve um filho chamado Sete, que era semelhante a ele, à sua imagem. 4Depois do nascimento de Sete, Adão viveu mais 800 anos e teve outros filhos e filhas. 5Adão viveu 930 anos e morreu. 6Aos 105 anos, Sete gerou Enos. 7Depois do nascimento de Enos, Sete viveu mais 807 anos e teve outros filhos e filhas. 8Sete viveu 912 anos e morreu. 9Aos 90 anos, Enos gerou Cainã. 10Depois do nascimento de Cainã, Enos viveu mais 815 anos e teve outros filhos e filhas. 11Enos viveu 905 anos e morreu…
Gênesis 10.1-2, 32 1Este é o relato das famílias de Sem, Cam e Jafé, os três filhos de Noé, que geraram muitos filhos depois do dilúvio. Os descendentes de Jafé 2Os descendentes de Jafé foram: […] 32Esses foram os clãs descendentes dos filhos de Noé, de acordo com suas linhagens. Todas as nações da terra vieram desses clãs depois do dilúvio.
Gênesis 11.10-12, 24-32 10Este é o relato da família de Sem. Dois anos depois do dilúvio, aos 100 anos, Sem gerou Arfaxade. 11Depois do nascimento de Arfaxade, Sem viveu mais 500 anos e teve outros filhos e filhas. 12Aos 35 anos, Arfaxade gerou Salá. […] 24Aos 29 anos, Naor gerou Terá. 25Depois do nascimento de Terá, Naor viveu mais 119 anos e teve outros filhos e filhas. 26Depois que completou 70 anos, Terá gerou Abrão, Naor e Harã. 27Este é o relato da família de Terá, pai de Abrão, Naor e Harã. Harã, que foi o pai de Ló, 28morreu em Ur dos caldeus, sua terra natal, enquanto seu pai, Terá, ainda vivia. 29Tanto Abrão como Naor se casaram. A mulher de Abrão se chamava Sarai, e a mulher de Naor, Milca. (Milca e sua irmã, Iscá, eram filhas de Harã, irmão de Naor.) 30Sarai, porém, não conseguia engravidar e não tinha filhos. 31Certo dia, Terá tomou seu filho Abrão, sua nora Sarai (mulher de seu filho Abrão) e seu neto Ló (filho de seu filho Harã) e se mudou de Ur dos caldeus. Partiram em direção à terra de Canaã, mas pararam em Harã e se estabeleceram ali. 32Terá viveu 205 anos e morreu enquanto ainda estava em Harã.
Percebeu?
Moisés, o autor de Gênesis, sob a inspiração do Espírito Santo, tomou todo o cuidado de costurar sua narrativa histórica, partindo da criação dos céus e da terra, depois da criação de Adão e Eva e seus descendentes, passando por Noé e seus descendentes após o dilúvio, até chegar a Abrão que partiu “em direção à terra de Canaã” (Gn 11.31). — EM OUTRAS PALAVRAS: — Moisés nunca intencionou que seu livro fosse lido como peça de ficção inspirada, uma parábola ou alegoria inspirada, mas como fato histórico inspirado por Deus, da primeira à última palavra do livro: ISTO É, o Deus que criou os céus e a terra é o Deus que Criou Adão, o qual se conecta por descendência com Abraão, Isaque e Jacó – por meio dos quais nasceu Jesus (é só você conferir a genealogia de Jesus em Lucas 3.23-38, ligando Jesus a Adão).
Primeiro, as genealogias de Gênesis… elas costuram o livro de tal modo que não deixa dúvidas de que Moisés, seu autor, almejou que o lêssemos como história inspirada.
SEGUNDO, A EXPRESSÃO INTRODUTÓRIA “Este é o relato de…” ou expressões semelhantes: “Esta é a gênese de…”; “Estas são as gerações de…”, tradução do termo hebraico תּוֹלֵדוֹת – tôledah. Essa expressão introdutória ocorre 10 vezes em Gênesis (2.4; 5.1; 6.9; 10.1; 11.10; 11.27; 25.12; 25.19; 36.1; 36.9; 37.2). Esse artifício literário inicia com o primeiro elo da corrente em Gênesis 2.4 — “Esse é o relato da criação dos céus e da terra. Quando o SENHOR Deus criou a terra e os céus”. — Essa expressão é o título introdutório para cada seção (sempre histórica) subsequente. Observe as 11 seções do livro de Gênesis (as quais são demarcadas pela expressão hebraica תּוֹלֵדוֹת – tôledah:
Portanto, esse artifício literário (o uso da expressão hebraica תּוֹלֵדוֹת – tôledah ou “Este é o relato de…” ou “Esta é a geração de…”) conecta – como uma corrente ininterrupta – a historia da Criação e de Adão e Eva e a queda no pecado com as histórias sobre o dilúvio, a origem das nações, a vida de Abraão, Isaque, Jacó, os doze filhos de Jacó… histórias que inequivocamente devem ser entendidas como narrativas históricas factuais. Assim escreveu o Dr. James Hoffmeier, professor de arqueologia do Oriente Médio (citado por Grudem):
Textos genealógicos [como os que se acham em Gênesis; esses textos genealógicos…] no antigo Oriente Médio, por sua própria natureza, são tratados com seriedade pelos estudiosos e não descartados de forma arrogante como inventados ou fictícios, mesmo que essas listas sejam truncadas ou seletivas. […] A estrutura do livro [de Gênesis] como “história de família” indica que as narrativas devem ser entendidas como históricas, concentrando-se nas origens de Israel com Adão e Eva, o primeiro casal humano e pais de toda a humanidade. […] As narrativas estão tratando de acontecimentos reais com a participação de personagens históricos – e isso inclui Gênesis 1—11. […] O autor da narrativa esforça-se bastante para colocar o Éden no âmbito da geografia conhecida do antigo Oriente Médio, não um país das maravilhas inventado no estilo de Nárnia.
Portanto, da perspectiva do próprio autor, Moisés, todo o livro de Gênesis deve ser entendido como narrativa histórica inspirada por Deus. Gênesis não é ficção inspirada por Deus. Gênesis é fato, fato histórico inspirado por Deus.
2. A teologia do salmista
Os hinos de adoração de Israel também colocam a narrativa da criação no mesmo patamar histórico de todos os atos de Deus em favor de seu povo. Por exemplo, o Salmo 136. Este salmo começa com uma doxologia (vs. 1-4), mas depois passa às razões pelas quais devemos louvar o SENHOR. A primeira dessas razões é sua obra de criação:
Salmo 136.5-9 5Deem graças àquele que criou os céus com muita habilidade. Seu amor dura para sempre! 6Deem graças àquele que colocou a terra no meio das águas. Seu amor dura para sempre! 7Deem graças àquele que fez as luzes celestes: Seu amor dura para sempre! 8o sol para governar o dia, Seu amor dura para sempre! 9a lua e as estrelas para governarem a noite. Seu amor dura para sempre!
AGORA, PRESTE ATENÇÃO!, pois sem qualquer ruptura aparente e certamente sem qualquer indicação de que ele começará a escrever com uma veia histórica, e não mais poética ou menos literal, o salmista passará a listar uma segunda razão pela qual Deus deve ser louvado: sua obra de libertação de Israel do Egito:
Salmo 136.10-12 10Deem graças àquele que matou os filhos mais velhos dos egípcios. Seu amor dura para sempre! 11Ele tirou Israel do Egito. Seu amor dura para sempre! 12Agiu com mão forte e braço poderoso. Seu amor dura para sempre!
O salmo continuará (nos versículo 13 a 22) a falar da abertura do Mar Vermelho, da condução do povo por Deus através do deserto, da derrota dos reis que estavam ocupando a terra que os hebreus possuiriam, do dom da terra e, finalmente, nos versículos 23-26, o salmo falará das bênçãos de Deus para Israel no que era então o tempo presente do salmista e de seus leitores:
Salmo 136.23-26 23Ele se lembrou de nós em nossa humilhação. Seu amor dura para sempre! 24Livrou-nos de nossos inimigos. Seu amor dura para sempre! 25Ele dá alimento a todos os seres vivos. Seu amor dura para sempre! 26Deem graças ao Deus dos céus. Seu amor dura para sempre!
PERCEBA: na teologia do salmista há uma continuidade natural entre os atos de Deus na criação, a libertação do povo do Egito, a provisão durante a peregrinação pelo deserto, a tomada da terra prometida, o sustento de Deus em Canaã e a sustentação do povo no tempo presente – e por todas essas coisas Deus deve ser louvado. OU SEJA: o relato de Gênesis deve ser tomado como história – história que inspira o louvor: Apocalipse 4.11 — “Tu és digno, ó Senhor e nosso Deus, de receber glória, honra e poder. Pois criaste todas as coisas, e elas existem porque as criaste segundo a tua vontade”.
3. O ensino de Jesus Cristo
Além [1.] da estrutura do livro de Gênesis e [2.] da teologia do salmista, outro aspecto especial da Escritura que comprova a historicidade de Gênesis é o ensino de Jesus Cristo. Esse fato, obviamente, tem um peso especial.
Veja, não estamos de jeito nenhum sugerindo que se Jesus não tivesse ensinado especificamente que os eventos e personagens de Gênesis foram reais, então os outros ensinos da Bíblia sobre a historicidade de Gênesis poderiam ser descartados (uma vez que Jesus não falou sobre eles). Não, longe disso, pois sabemos que a Bíblia se complementa; autores, personagens e livros bíblicos se complementam.
Ao trazermos o ensino de Jesus Cristo sobre a historicidade de Gênesis, o que estamos dizendo é que muito interessa aos seus discípulos saber o que o próprio Salvador pensava sobre o tema em questão. Portanto, Jesus considerou mesmo históricos os relatos de Gênesis? Sim, ele considerou histórico o livro de Gênesis. Observe:
Mateus 19.3-6 3Alguns fariseus apareceram e tentaram apanhar Jesus numa armadilha, perguntando: “Deve-se permitir que um homem se divorcie de sua mulher por qualquer motivo?”. 4“Vocês não leram as Escrituras?”, respondeu Jesus. “Elas registram que, desde o princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ [Gn 1.27; 5.2] 5e disse: ‘Por isso o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher, e os dois se tornam um só’ [Gn 2.24]. 6Uma vez que já não são dois, mas um só, que ninguém separe o que Deus uniu.”
A argumentação de Jesus assumiu que Deus é o criador do primeiro homem e da primeira mulher, Adão e Eva, além de ser aquele que instituiu o casamento. De fato, essa argumentação revela a crença de Cristo na compatibilidade dos dois relatos paralelos da criação (Gênesis 1 e 2), visto que sua resposta contém uma referência de apoio extraída de cada um dos dois primeiros capítulos de Gênesis. Além disso, em Marcos 13.19, Jesus falou que “Deus criou o mundo”.
4. As cosmogonias do mundo antigo
Nada do que foi dito até aqui – a estrutura da composição de Gênesis, a teologia do salmista e o ensino de Jesus Cristo – terá muito peso para aqueles que consideram o relato de Gênesis como uma mera versão daqueles relatos da criação que são claramente míticos, os quais circularam no Antigo Oriente (tanto antes quanto depois da época em que Gênesis foi escrito). Há a Epopéia Babilônica da Criação e as cosmogonias do Egito, da Fenícia e da Mesopotâmia. Todas elas têm semelhanças com os relatos de Gênesis.
E aí?
Ora, se Gênesis é apenas uma dessas epopéias, não deveríamos concluir que Jesus estava errado em sua visão da historicidade de Gênesis ou que pelo menos, (alguns sugeriram isto!), Jesus apenas adaptou seu ensino aos pontos de vistas de sua época, embora ele mesmo soubesse que o relato de Gênesis não é factual?
E aí?
De fato, há semelhanças entre as cosmogonias pagãs e o relato de Gênesis. No entanto, essas semelhanças são apenas superficiais. De fato, quase nada é igual. O relato de Gênesis é monoteísta; sua linguagem é concisa; e a narrativa, com vimos, é histórica. Já os relatos das cosmogonias dos outros povos são politeístas, verbosos, exagerados e grosseiramente mitológicos (no sentido fictício, fantástico, irreal). Na melhor das hipóteses, essas cosmogonias de povos pagãos não passam de perversões da tradição oral da história bíblica da criação.
Mesmo assim, estudiosos ainda argumentam que o relato de Gênesis é mitológico, não histórico. Neste ponto vale muito uma observação feita pelo erudito de Oxford, ninguém menos do que C. S. Lewis – o qual foi, dentre outros, especialista acadêmico em escritos mitológicos. Lewis disse que quando algum erudito lhe diz que partes da narrativa bíblica são mitos, ele não quer saber quais são as credenciais dessa pessoa na área de sua erudição bíblica, mas sim quantos mitos ela de fato leu e realmente conhece. — OU SEJA: o relato histórico de Gênesis está longe de ser semelhante aos textos mitológicos da antiguidade; e quem realmente conhece mitologia saberá identificar as diferenças literárias grosseiras entre as partes.
Portanto, Gênesis é fato. Gênesis não é ficção. Gênesis é história inspirada por Deus. Gênesis não é mito inspirado por Deus. É fato histórico. A história das origens.
5. A linguagem de Gênesis
Depois de todo o exposto – [1.] a estrutura da composição de Gênesis; [2.] a teologia do salmista; [3.] o ensino de Jesus Cristo; e [4.] as cosmogonias do mundo antigo – , alguns ainda poderão argumentar que estamos perdendo tempo ao apresentar nossas provas em favor da historicidade do livro de Gênesis.
Por quê?
Ora — eles dirão — se a linguagem de Gênesis 1—3 é mitológica ou não, tanto faz, pois a linguagem utilizada em Gênesis ainda é inadequada para dar um relato verdadeiramente factual da criação. Ou seja: a linguagem de Gênesis não é científica e, não sendo científica, não servirá, portanto, para explicar a origem do Universo.
Vamos pensar um pouquinho.
O relato da criação (enquanto fato e verdade) poderia ter sido escrito de três maneiras: [1.] na forma de linguagem científica, [2.] na forma direta de prosa histórica ou [3.] na forma de poesia. Bem, a poesia está fora de cogitação, uma vez que seria incapaz de ir longe e profundo o bastante para registrar tais fatos históricos. Restam-nos, portanto, a linguagem científica e a prosa histórica.
Qual dessas seria a linguagem mais adequada para se registrar a história das origens? Linguagem científica ou prosa histórica? E se o relato da criação nos tivesse sido deixado na forma de linguagem científica? — Cito o Dr. Frederick Arthur Filby, que foi professor de química na Inglaterra por muitos anos; ele registrou suas convicções em 1963 na obra Criação Revelada: um estudo de Gênesis 1 à luz da ciência moderna:
As ciências que investigam mais profundamente os fatos fundamentais da matéria e da vida são provavelmente a astrofísica, a física nuclear e a bioquímica. Mas essas ciências são escritas não tanto em palavras como em símbolos. São necessárias muitas páginas de símbolos para discutir a natureza de um único átomo de hidrogênio, por exemplo. Estima-se que para dar um relato completo da posição dos grupos e elos de um único vírus de “peso molecular de 300 milhões” seria necessário um livro de 200 páginas.
Se a descrição científica de um único átomo de hidrogênio, ou de um vírus pequeno demais para ser visto sem um microscópio, toma o volume de um livro inteiro, que esperança há de algum dia se fazer um relato científico da criação do homem e do universo? No entanto, Gênesis 1 em sua forma original usa apenas 76 raizes de palavras diferentes. Se Gênesis 1 fosse escrito em linguagem científica absoluta para dar um relato da criação, não haveria homem vivo, ou jamais existiu, que fosse capaz de compreendê-lo. Ainda assim, se fosse escrito em qualquer tipo de linguagem científica, apenas os poucos favorecidos seriam capazes de compreendê-la. Teria que ser reescrito a cada geração para se adequar às novas descobertas e aos novos termos da ciência. Não poderia ser escrito em nossa linguagem científica de meados do século XX, pois nenhuma geração anterior teria sido capaz de ter compreendido seu significado, e para nossos filhos já estaria desatualizada. A descrição científica do “como” do universo está além da compreensão de qualquer cérebro humano, mas Gênesis 1 foi escrito para todos os leitores, não para nenhum…
Qual seria então o melhor método para o Criador utilizar para (1) dar início ao seu livro e (2) estabelecer que o Deus da Bíblia também é o Deus da criação – em linguagem simples o suficiente para todos os homens em todos os séculos?
A resposta é… Gênesis 1… a composição mais incrível dentre todas as literaturas do mundo, usando apenas 76 formas de palavras diferentes fundamentais para toda a humanidade, organizadas em um maravilhoso padrão poético, mas livre de quaisquer figuras de linguagem altamente fantasiosa. Gênesis 1 fornece a abertura perfeita para o livro de Deus [a história das origens] e estabelece tudo o que os homens realmente precisam saber sobre os fatos da criação. Nenhum homem poderia tê-lo inventado: é uma maravilha literária tão grande e impressionante quanto uma planta ou um pássaro. É obra de Deus, suficiente para a compreensão de qualquer criança hebraica ou pensador grego ou cristão latino nos corredores da história; suficiente para a compreensão de cavaleiros medievais ou cientistas modernos ou crianças em idade pré-escolar; suficiente para a compreensão de pessoas urbanas ou pecuaristas ou pescadores; suficiente para a compreensão dos povos lapões [moradores das regiões mais geladas do planeta] ou dos etíopes, dos orientais ou dos ocidentais, de ricos ou de pobres, de velhos ou de jovens, de simples ou de instruídos… suficiente para todos entenderem! Somente Deus poderia escrever tal capítulo… e ele o fez. [Gênesis 1 é a história das origens!]
É bastante convincente essa declaração, sobretudo por brotar da convicção de um cientista tão bem treinado, um doutor em ciências. Ademais, Dr. Filby é direto ao ponto, pois a mais fundamental de todas as questões é se Deus falou ou não nas Escrituras como a Bíblia afirma que ele falou – e falou a verdade sobre a história e sobre todas as coisas de um modo que todos pudessem, em qualquer época ou lugar, compreender.
Na segunda mensagem desta série, observamos que Gênesis trata das origens e dos primórdios de tudo: Deus é o criador de todas as coisas – do tempo, da matéria, do espaço e do universo; Deus é o criador do homem e da mulher; ele é o criador da família; ele nos relatou em Gênesis 3 a origem do mal (o qual não foi criação de Deus!); ele proporcionou o meio de salvação para o homem; Deus é o Deus que salva pela graça, por meio da fé em Cristo Jesus; é o Deus da graça soberana; e também aquele que julga e julgará tanto o pecado como o pecador. Tudo isso e muito mais está relatado em estágios embrionários na história das origens, no livro de Gênesis.
Em tudo isso, Gênesis serve a um propósito fundamental, que é nos forçar a voltar às origens do que diz respeito aos nossos próprios valores de pensamento, às origens de nossa visão de mundo, nossa cosmovisão – às origens de como nós lemos e interpretamos a vida. Gênesis nos força a esta pergunta: Deus falou? Ele falou em Gênesis? Deus revelou a história das origens em Gênesis? Responda negativamente, e tudo, a vida, se torna em caos. Responda sim, e tudo o que se segue ficará cada vez mais claro:
Hebreus 1.1-4 1Por muito tempo Deus falou várias vezes e de diversas maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas. 2E agora, nestes últimos dias, ele nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro de todas as coisas e por meio de quem criou o universo. 3O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é e, com sua palavra poderosa, sustenta todas as coisas. Depois de nos purificar de nossos pecados, sentou-se no lugar de honra à direita do Deus majestoso no céu, 4o que revela que o Filho é muito superior aos anjos, e o nome que ele herdou, superior ao nome deles.
A história das origens remete a Cristo: a criação é o palco para a exibição da glória de Cristo – Cristo é criador; herdeiro; irradiador da glória de Deus (expressando de forma exata o que Deus é); Cristo também é o sustentador de todas as coisas, o salvador e é superior a tudo e a todos, nos céus e na terra. A história da criação, de fato, é a história da criação do palco para a exibição da glória de Cristo: com vistas a que eu e você experimentemos, provemos, conheçamos pessoalmente o SENHOR e nos alegremos nele – eternamente.
S.D.G. L.B.Peixoto
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