03.01.2021
[2Coríntios 1.3-4] 3Louvado seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai misericordioso e Deus de todo encorajamento. 4Ele nos encoraja em todas as nossas aflições, para que, com o encorajamento que recebemos de Deus, possamos encorajar outros quando eles passarem por aflições.
Vira e mexe chegam aqueles momentos em que nós perdemos as forças, períodos nos quais nos arrastamos para chegar do outro lado. 2020, certamente, foi um desses altos, longos e escaldantes picos de escalada: a pandemia de COVID-19, enfermidade, desemprego, inflação, brigas políticas, conflitos pessoais, intrigas familiares, decepções… Foram muitas as pessoas que atravessaram os últimos meses no reboque. O pior de tudo é que ainda não acabou. Seguimos todos nesta escalada íngreme, tempestuosa e que parece não irá terminar, pelo menos não tão cedo.
Como você busca força para prosseguir?
Qual é a tração que te mantem em movimento?
O que você faz quando está enfrentando problemas? — Não importa de que natureza ou qual seja a idade, problemas são problemas e eles nos abatem (a todos, do pequeno ao grande, da criança ao idoso).
O que você faz quando está se arrastando?
De que maneira você reage quando algum golpe te prostra em nocaute?
Chega uma hora que você não tem mais força. Simplesmente se entrega. Na maioria das vezes, sequer tem coragem de admitir que esteja com problema, porque acha que a sua provação é muito pequena em comparação com outras pessoas. Ainda assim o seu problema é pesado demais para carregar sozinho. E é mesmo!
O que você faz?
Se por dentro o seu coração está em pedaços, forçando-o a respirar com o fôlego curto de tanta angústia, por fora, olhando ao redor, você descobre que as pessoas parecem não ter a menor habilidade (ou mesmo o desejo) para te ajudar – e muitas vezes elas realmente não têm. O mundo não tolera a fraqueza. Fraqueza é fracasso. Nem a igreja, tantas vezes, tolera o sofrimento. Sofrimento é maldição. Em que pese ser inerente a nós seres humanos pecadores, fraqueza e sofrimento são condições que deixam a maioria, dentro e fora da igreja, absolutamente sem saber o que fazer ou como lidar. Aliás, o que mais se faz é negar e evitar e praguejar a fraqueza e o sofrimento.
Ora, olhe para os outdoors da cidade; contemple os painéis luminosos; ouça os sermões pregados em igrejas, as músicas e os cânticos gospels; acesse os posts nas redes sociais; busque mensagens ou dicas de coaches… todos revelarão a você que poucos sabem de fato como encontrar força na fraqueza e propósito para o sofrimento de um modo que não seja centrado no eu e que glorifique a Deus.
Não é que as pessoas e o mundo desprezem por completo a fraqueza e o sofrimento, mas que essas condições que nos acometem – quando muito, dizem-nos –,servem para conquistarmos e desfrutarmos ainda mais dos benefícios desta vida, gastando-os conosco mesmo, em nossos próprios prazeres sem Deus. Pense, por exemplo, no tipo de mensagem que te diz: “Confie, espere pelo milagre.” O que esse tipo de pensamento de fato faz com você? Essa mentalidade, pregada tantas vezes em nome de Jesus Cristo, coloca seus olhos em milagre (ou na espera dele), em realização, nalguma benção ou naquilo que você tanto deseja desfrutar. Deus? Cristo? Ora, é apenas o meio para se obter aquilo que seu coração de fato ama. Esse tipo de mensagem não te faz desejar Deus ou Cristo como fim, sua grande delícia e seu maior prazer.
Digamos que Paulo fosse o seu pastor e que você o procurasse com algum sofrimento, precisando de um milagre na sua vida. De que modo você acha que o apóstolo pastorearia o seu coração? Talvez algumas de suas próprias palavras ao coríntios, nesta segunda carta, ajudem-lhe a visualizar o método pastoral dos apóstolos:
[2Coríntios 1.3-4] 3Louvado seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai misericordioso e Deus de todo encorajamento. 4Ele nos encoraja em todas as nossas aflições, para que, com o encorajamento que recebemos de Deus, possamos encorajar outros quando eles passarem por aflições.
[2Coríntios 4.16-18] 16Por isso, nunca desistimos. Ainda que nosso exterior esteja morrendo, nosso interior está sendo renovado a cada dia. 17Pois estas aflições pequenas e momentâneas que agora enfrentamos produzem para nós uma glória que pesa mais que todas as angústias e durará para sempre. 18Portanto, não olhamos para aquilo que agora podemos ver; em vez disso, fixamos o olhar naquilo que não se pode ver. Pois as coisas que agora vemos logo passarão, mas as que não podemos ver durarão para sempre.
Pelo menos duas coisas Paulo deixa claro nessas palavras.
PRIMEIRO, O SOFRIMENTO É COMO JANELA QUE POR DEUS MESMO É ABERTA NO NOSSO CORAÇÃO, permitindo-nos retirar nossos olhos de nós mesmos e deste mundo e das coisas que mais amamos nesta vida, fixando-os naquilo que não se pode ver, que jamais passará e durará para sempre: Cristo, a glória de Cristo no céu (2Co 4.16-18). Nosso sofrimento nos faz concluir que não somos deste mundo, não vivemos para este mundo e, portanto, não podemos enterrar nosso mais valioso tesouro com as coisas deste mundo aqui neste mundo. O sofrimento é para nos fazer olhar com encanto para o peso de glória no céu. E dizer como Paulo: “Maranata [Vem, Senhor Jesus]!” (1Co 16.22).
Jesus falou que teríamos aflições e que com bom ânimo nós venceríamos este mundo (Jo 16.33). Mas que significa ter bom ânimo para vencer o mundo? Que é vencer o mundo? Paulo já nos explicou (2Co 4.18):
[1] Vencer o mundo é deixar de olhar para aquilo que agora podemos ver e que pode nos levar a abandonar a corrida e a fé; vencer o mundo e manter o olhar fixo naquilo que não se pode ver, pois as coisas que agora vemos logo passarão, mas as que não podemos ver durarão para sempre.
[2] Vencer o mundo é não deixar que este mundo nos encante com todas as suas glórias a ponto de perdermos a nossa alma; é não deixar que as aflições nos roube a alegria, endureça o coração e nos faça perder a fé. E a maneira de vencê-lo é fixando os olhos em algo mais glorioso, na glória porvir, mas que os olhos naturais não conseguem ver.
[3] Foi assim que Jesus mesmo venceu este mundo e as aflições desta vida, olhando para o que não se pode agora ver e desejando a glória que o aguardava no porvir – Hebreus 12.2:
Por causa da alegria que o esperava, ele [Cristo] suportou a cruz sem se importar com a vergonha. Agora ele está sentado no lugar de honra à direita do trono de Deus.
Portanto, qualquer maneira de se enfrentar o sofrimento que não sirva, em última instância, para o fazer desejar mais de Cristo e da glória com ele no novo céu e na nova terra irá transformar você em um idólatra, e Deus com seu milagre apenas em um meio para você abraçar e beijar o seu ídolo. PORTANTO: o sofrimento é como janela que por deus mesmo é aberta no nosso coração.
SEGUNDO, O SOFRIMENTO É COMO FÓRCEPS QUE NOS ARRANCA DE DENTRO DE NÓS MESMOS, “para que, com o encorajamento que recebemos de Deus, possamos encorajar outros quando eles passarem por aflições” (2Co 1.4). O sofrimento dá-nos à luz para abençoarmos os outros com as consolações que nós estamos recebendo de Deus mesmo (2Co 1.4), enquanto aguardamos a chegada do que ainda não vemos: o glorioso Cristo Jesus em pessoa (2Co 4.18).
Ah! Como somos propensos a viver somente para nós mesmos! Como precisamos ser arrancados de dentro de nós mesmos a fim de vivermos para aquilo que a obra de Cristo nos comprou, como Paulo mesmo disse aqui em 2Coríntios 5.15:
Ele morreu por todos, para que os que recebem sua nova vida não vivam mais para si mesmos, mas para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles.
É o sofrimento que nos arranca de nós mesmos e nos torna mais humanos, sensíveis e abençoadores – ou nos endurece ainda mais, a depender de sua disposição e reação.
Pois bem, Paulo, como pastor, na hora de seu sofrimento, ajudaria você a olhar para o que não se pode ver, e aguardar com fé e esperança o eterno peso de glória em Cristo, enquanto você se doasse totalmente ou entregasse a si mesmo por completo em amor para a abençoar aqueles que estivessem, de igual modo, sofrendo ao seu redor, distribuindo-lhes as mesmas consolações que você estaria recebendo do SENHOR.
Agora, digamos que você quisesse se passar por forte (neste mundo que – como se crê – é só para os fortes), não gostasse de se ver ou de se sentir fraco, o que Paulo lhe diria? Como ele apascentaria seu coração? Ouça, 2Coríntios 12.8-10:
8Em três ocasiões, supliquei ao Senhor que o removesse [o espinho de sofrimento de sua carne], 9mas ele disse: “Minha graça é tudo de que você precisa. Meu poder opera melhor na fraqueza”. Portanto, agora fico feliz de me orgulhar de minhas fraquezas, para que o poder de Deus opere por meu intermédio. 10Por isso aceito com prazer fraquezas e insultos, privações, perseguições e aflições que sofro por Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte.
A lógica de Paulo é contracultural. Enquanto todo mundo diz: seja forte e conquiste seus sonhos, Paulo diz: seja fraco e viva para a glória de Deus. Dito de outro modo: não tente ser forte, não busque força em si mesmo para viver para si mesmo, mas: “Sejam fortes no Senhor e em seu grande poder” (Ef 6.10), “a fim de conquistar essa perfeição para a qual Cristo Jesus [te] conquistou” (Fl 3.12). Aos fortes, Paulo diz: sejam fracos. Aos fracos, Paulo diz: fortaleça-se no Senhor. Ele diz isso a todas as pessoas para que todos possam se voltar para Cristo com arrependimento e fé na vida e obra do Salvador. Esse é o tema central da segunda carta aos Coríntios: força na fraqueza.
De fato, o tema principal de Segunda aos Coríntios é a defesa que Paulo faz de suas credenciais apostólicas e da autoridade de quem foi enviado pelo próprio Cristo – “Eu, Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Cristo Jesus, escrevo esta carta…” (2Co 1.1).
Certos “falsos apóstolos” tinham montado uma campanha eficaz contra Paulo na igreja em Corinto, e ele teve que tomar uma série de medidas enérgicas para vencer a oposição, não por vaidade pessoal, mas pelo bem do evangelho em toda a Acaia.
É tanto que, ao apresentar uma explicação a respeito de seus planos, repassar sua filosofia de ministério e exortar os crentes (cap. 1–7), o apóstolo se preocupou em fundamentar-se no evangelho e revelou sua alegria pela tristeza que veio de Deus ao coração dos da maioria da igreja, produzindo arrependimento e mudança de vida.
Paulo também exortou os coríntios a cumprir sua promessa de fazer uma contribuição generosa para os pobres entre os cristãos na Judeia (cap. 8-9). A tal coleta não só ajudaria a suprir as necessidades imediatas mais elementares de comida, bebida e roupa, mas também (e principalmente) demonstraria o amor e a preocupação dos cristãos gentios na Macedônia e na Grécia pelos cristãos judeus na Judeia, afirmando assim a unidade – pelo evangelho – entre judeus e gentios no corpo de Cristo.
A oposição que foi confrontada por Paulo, na parte final da carta (cap. 10-13), aparentemente consistia de judeus (11.22) que afirmavam ser apóstolos (11.5,13; 12.11), mas que pregavam um falso evangelho (11.4) e estavam escravizando à liderança deles mesmos os irmãos de boa-fé (11.20). Desse modo, os capítulos 10 a 13 foram escritos para expor esses “obreiros enganosos [fraudulentos] disfarçados de apóstolos de Cristo”, ao passo que defendia a autoridade e o ministério dados por Deus a ele, Paulo, como apóstolo de verdade de Jesus Cristo. Não era vaidade pessoal. Era tudo pelo evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo: divisões, insubmissão e falsos mestres na igreja são problemas porque destroem o brilho glorioso do evangelho de Cristo.
Aqueles infiltrados dos infernos se julgavam super-espirituais e exploravam o que chamavam de limitações pessoais senão de pecados mesmo em Paulo. Por exemplo: chamavam-no de desonesto (8–9), covarde (10.1-2), carnal (10.3-9), fraco de presença e sem eloquência no falar (10.10-18). O apóstolo, por sua vez, abriu o coração, revelou suas feridas e desabafou suas dores, falou de seus sofrimentos e fraquezas, demonstrou o tipo de sangue que corria em suas veias e jorrava de suas feridas: E+ ou Evangelho da Cruz. PORTANTO, NÃO PERCA DE VISTAS QUE, ao tratar da perseguição pessoal que estava sofrendo, tendo como propósito proteger o verdadeiro evangelho, Paulo não só defendeu a cruz de Cristo, mas demonstrou como ele encontrava força para prosseguir em meio ao sofrimento decorrente de ser um verdadeiro apóstolo.
Desse modo, o que temos nesta epístola é o material mais autobiográfico e o livro mais pessoal do Novo Testamento. A mente de Paulo você pode conhecer lendo Romano, o cajado de Paulo está esculpido para você apreciar em 1Coríntios, mas se quiser ver o coração de Paulo, conhecê-lo de verdade: seu caráter, motivações, prioridades, desejos e afeições, você terá que ler e reler e degustar esta epístola mais do que qualquer outra. Até mesmo as piadas sarcásticas que se faziam contra a pessoa dele, às quais ele mesmo se propõe a justificar (veja a humildade desse homem!), oferecem-nos algum vislumbre de aspectos da vida pessoal de Paulo que, de outra forma, seriam desconhecidos. Por exemplo:
[1] ao rebater o que chamavam nele de loucura, relatou-nos perseguições e dificuldades não registradas em Atos (2Co 11.23-27);
[2] ao responder ao escárnio que faziam com as fugas humilhantes dele em diversas ocasiões, contou-nos com detalhes de sua fuga de Damasco (2Co 11.32-33);
[3] ao contra-argumentar o que diziam dele sobre não ser espiritual, descreveu-nos as visões e revelações que teve do Paraíso (2Co 12.1-7);
[4] e ao justificar possíveis fraquezas físicas ou mesmo emocionais, informou-nos de seu espinho na carne (2Co 12.7-10).
Se é verdade o que Agostinho (354–430 d.C.) falou, quando escreveu: “Se quiseres conhecer uma pessoa, não lhe perguntes o que pensa, mas sim o que ama” – e parece sim ser verdade, 2Coríntios é a carta para se conhecer quem foi Paulo: um homem que amava Jesus Cristo, o evangelho, a igreja e os eleitos de Deus.
Parte do pano de fundo de Segunda aos Coríntios é o que já estudamos na última mensagem, quando nos debruçamos sobre Primeira aos Coríntios. Paulo estava em Éfeso quando escreveu a primeira carta e esperava que Timóteo visitasse Corinto e voltasse de lá com notícias para ele, 1Coríntios 16.10-11:
10Quando Timóteo chegar, não deve se sentir intimidado por vocês. Ele está realizando a obra do Senhor, assim como eu. 11Não deixem que ninguém o trate com desprezo. Enviem-no de volta para mim com sua bênção. Espero que ele venha junto com os demais irmãos.
Essas recomendações excessivas revelam o tipo de caráter orgulhoso que predominava dentro daquela igreja – espírito de rebeldia mesmo. Bem, Timóteo foi, mas pelo conteúdo de 2Coríntios, sua missão aparentemente resultou em um relatório narrando a oposição que já havia se desenvolvido contra Paulo (e Timóteo, por estar ligado a Paulo) dentro da igreja em Corinto. Paulo, então, fez uma breve e dolorosa visita aos coríntios – esta visita não é mencionada em Atos, mas pode ser inferida dos textos seguintes:
2Coríntios 2.1 Por isso resolvi não entristecê-los com outra visita dolorosa.
2Coríntios 12.14 Agora irei visitá-los pela terceira vez…
2Coríntios 13.1-2 1Esta é a terceira vez que irei visitá-los. “Os fatos a respeito de cada caso devem ser confirmados pelo depoimento de duas ou três testemunhas.” 2Em minha segunda visita, já adverti aqueles que estavam em pecado. Agora, como naquela ocasião, volto a adverti-los e também os demais de que, da próxima vez, não os pouparei.
Pois bem, após essa “visita dolorosa”, a tal “segunda visita” (a primeira foi quando organizou a igreja), Paulo retornou a Éfeso e escreveu com pesar, 2Coríntios 2.1-4:
1Por isso resolvi não entristecê-los com outra visita dolorosa. 2Pois, se eu lhes causar tristeza, quem me alegrará? Certamente não serão aqueles a quem entristeci. 3Esse foi o motivo de eu ter escrito como o fiz, para que, quando eu for, não seja entristecido por aqueles que deveriam me alegrar. Sem dúvida, vocês sabem que minha alegria vem do fato de vocês estarem alegres. 4Escrevi aquela carta com grande angústia, com o coração aflito e muitas lágrimas. Minha intenção não era entristecê-los, mas mostrar-lhes quanto amo vocês.
E ainda sobre aquela carta e o efeito dela, 2Coríntios 7.8-9:
8Não me arrependo de ter enviado aquela carta severa, embora a princípio tenha lamentado a dor que ela lhes causou, ainda que por algum tempo. 9Agora, porém, alegro-me por tê-la enviado, não pela tristeza que causou, mas porque a dor os levou ao arrependimento. Foi o tipo de tristeza que Deus espera de seu povo, portanto não lhes causamos mal algum.
Tudo aquilo havia sido começado por um homem, que, aparentemente, após ter sido repreendido duramente por Paulo, arrependeu-se e mudou de atitude, 2Coríntios 2.5-11:
5Não exagero quando digo que o homem que causou tantos problemas magoou não somente a mim, mas, até certo ponto, a todos vocês. 6A maioria de vocês se opôs a ele, e isso já foi castigo suficiente. 7Agora, porém, é hora de perdoá-lo e confortá-lo; do contrário, pode acontecer de ele ser vencido pela tristeza excessiva. 8Peço, portanto, que reafirmem seu amor por ele. 9Eu lhes escrevi daquela forma para testá-los e ver se seguiriam todas as minhas instruções. 10Se vocês perdoam esse homem, eu também o perdoo. E, quando eu perdoo o que precisa ser perdoado, faço-o na presença de Cristo, em favor de vocês, 11para que Satanás não tenha vantagem sobre nós, pois conhecemos seus planos malignos.
A tal “carta severa” foi levada por Tito aos coríntios. Paulo ficou ansioso para saber os desdobramentos do que havia escrito, então foi a Trôade e depois à Macedônia para se encontrar com Tito em seu retorno de Corinto (2Co 2.12-13; 7.5-16). O apóstolo ficou muito aliviado com o relato que recebeu de que a maioria dos coríntios havia se arrependido da rebelião contra a sua autoridade apostólica. Mas… uma oposição minoritária ainda persistia, evidentemente liderada por um grupo de judaizantes (2Co 10–13). Da Macedônia mesmo, onde se encontrou com Tito, Paulo escreveu Segunda aos Coríntios e a enviou com Tito e outro irmão – Lucas, talvez – (2Co 8.16-24). Isso aconteceu no final de 56 depois de Cristo, e a cidade macedônia da qual foi escrita a carta parece ter sido Filipos. Na sequência, Paulo fez sua terceira viagem a Corinto (12.14; 13.1-2; At 20.1-3), de onde e quando escreveu sua carta aos Romanos.
Ao longo desta carta (2Coríntios), Paulo defende sua conduta, caráter e comissionamento apostólicos. As três divisões principais são: [1] a explicação de Paulo sobre seus planos e ministério (cap. 1–7); [2] a contribuição que Paulo estava levantando para os cristãos da Judeia (cap. 8–9); e [3] a defesa que Paulo faz de seu apostolado (cap. 10–13).
1 – A explicação de Paulo sobre seus planos e ministério
(cap. 1–7)
Depois de sua saudação e ação de graças pelo conforto de Deus em suas aflições e perigos (1.1-11), Paulo explica por que adiou sua tão planejada visita a Corinto.
Não era uma questão de falta de palavra. Com efeito, o apóstolo queria que eles tivessem tempo suficiente para refletir e se arrepender (1.12–2.4).
Paulo graciosamente pediu-lhes que restaurassem o líder do grupo dissidente à comunhão, uma vez que ele já apresentava arrependimento (2.5-13).
É neste ponto que Paulo embarca em uma ampla defesa de seu ministério em termos de sua mensagem, circunstâncias, motivações e conduta (2.14–6.10).
Ele então admoesta os crentes a se separarem da contaminação (6.11–7.1), e expressa seu consolo com a notícia recebida da parte de Tito sobre a mudança de coração da maioria dos crentes da igreja em Corinto (7.2-16).
2 – A contribuição que Paulo estava levantando para os cristãos da Judeia (cap. 8–9)
Os capítulos 8 e 9 nos dão a discussão mais longa e aprofundada sobre os princípios e a prática de ofertar ou contribuir no Novo Testamento.
O exemplo da generosa oferta dos macedônios aos irmãos necessitados em Jerusalém (8.1-6) é seguido por um apelo aos coríntios para que cumpram sua promessa fazendo o mesmo (8.7–9.15). Com relação a isso, Paulo faz uma extensa recomendação dos mensageiros que ele mesmo enviou a Corinto para fazerem os preparativos e recolherem a oferta que a igreja havia prometido. A generosidade daqueles irmãos, argumenta o apóstolo, seria mais do que amplamente recompensada por Deus.
3 – A defesa que Paulo faz de seu apostolado
(cap. 10–13)
Paulo conclui a carta com uma defesa de sua autoridade apostólica e credenciais divinas, a qual é dirigida à minoria ainda rebelde na igreja em Corinto. A mansidão do apóstolo em face da maldade deles em nada diminui sua autoridade como apóstolo (cap. 10).
Para demonstrar suas credenciais apostólicas, Paulo é forçado a se gabar de seu conhecimento, integridade, realizações, sofrimentos, visões e milagres (11.1–12.13).
Por fim, ele revela seus planos de visitá-los pela terceira vez e os exorta a se arrependerem para que ele não tenha que usar de severidade quando for a eles (12.14–13.10). A carta termina com exortação, saudações e bênção apostólica (13.11-14).
O que se pode aprender desta carta?
Paulo nos permite constatar que mesmo os homens e as mulheres de Deus, aqueles que carregam consigo os mais belos ministérios cristãos e que recebem os cuidados mais especiais do SENHOR, sofrem todos igualmente com os embates desta vida – talvez até mais, como vemos na vida de Paulo mesmo. Martinho Lutero, lendo 2Coríntios 4, escreveu o seguinte na margem de sua Bíblia: “Se eu tivesse que dizer às pessoas o quanto eu tenho sofrido no ministério do evangelho cristão ninguém creria em mim”.
Todos nós temos necessidade de força. Somos sim, por natureza, fracos; e o nosso pecado nos colocou sob o jugo do sofrimento – de todos os modelos e tamanhos. A questão, portanto, não é se, mas como e onde achar força para prosseguir, e para quê.
A seguir, alguns usos que podemos fazer desta carta:
1. Paulo revela que encontrou força para prosseguir e não deixou de amar. É tão fácil perder o amor quando se está sofrendo – principalmente, perder o amor por aqueles que nos estão causando o sofrimento. Mas Paulo prosseguiu com fé, esperança e amor, 2Coríntios 6.8-13:
8Servimos quer as pessoas nos honrem, quer nos desprezem, quer nos difamem, quer nos elogiem. Somos chamados de impostores, apesar de sermos honestos. 9Somos tratados como desconhecidos, embora sejamos bem conhecidos. Vivemos à beira da morte, mas ainda estamos vivos. Fomos espancados, mas não mortos. 10Nosso coração se entristece, mas sempre temos alegria. Somos pobres, mas enriquecemos a muitos outros. Não possuímos nada e, no entanto, temos tudo. 11Queridos coríntios, falamos a vocês com toda honestidade e lhes abrimos o coração. 12Não falta amor da nossa parte, mas vocês nos negaram seu afeto. 13Peço que retribuam esse amor como se fossem meus próprios filhos. Abram o coração para nós!
2. Paulo ensina que a forma de amar é entregando-nos a Deus e ao próximo, com confiança e generosidade, visando em tudo suprir necessidades e sanar diferenças, 2Coríntios 8.1-6:
1Agora, irmãos, queremos que saibam o que Deus, em sua graça, tem feito por meio das igrejas da Macedônia. 2Elas têm sido provadas com muitas aflições, mas sua grande alegria e extrema pobreza transbordaram em rica generosidade. 3Posso testemunhar que deram não apenas o que podiam, mas muito além disso, e o fizeram por iniciativa própria. 4Eles nos suplicaram repetidamente o privilégio de participar da oferta ao povo santo. 5Fizeram até mais do que esperávamos, pois seu primeiro passo foi entregar-se ao Senhor e a nós, como era desejo de Deus. 6Por isso pedimos a Tito, que inicialmente encorajou vocês a contribuírem, que os visitasse outra vez e os animasse a completar esse serviço de generosidade.
3. Paulo demonstra que o amor não dispensa a correção, ao contrário, aplica-a com graça e verdade, visando tanto a edificação da pessoa como a do corpo de Cristo, 2Coríntios 13.10:
Escrevo-lhes essas coisas antes de visitá-los, na esperança de que, ao chegar, não precise tratá-los severamente. Meu desejo é usar a autoridade que o Senhor me deu para fortalecê-los, e não para destruí-los.
4. Paulo diz que é na fraqueza e no sofrimento que nós melhor servirmos a Deus e ao próximo, 2Coríntios 1.5-8:
5Pois, quanto mais sofrimento por Cristo suportarmos, mais encorajamento será derramado sobre nós por meio de Cristo. 6Mesmo quando estamos sobrecarregados de aflições, é para o encorajamento e a salvação de vocês. Pois, quando somos encorajados, certamente encorajaremos vocês, e então vocês poderão suportar pacientemente os mesmos sofrimentos que nós. 7Temos firme esperança de que, assim como vocês participam de nossos sofrimentos, também participarão de nosso encorajamento. 8Irmãos, queremos que saibam das aflições pelas quais passamos na província da Ásia. Fomos esmagados e oprimidos além da nossa capacidade de suportar, e pensamos que não sobreviveríamos.
5. Paulo atesta que a fonte de força na fraqueza é a fé na graça de Deus – seguida da alegria em reparti-la com outras pessoas, 2Coríntios 1.9-11:
9De fato, esperávamos morrer. Mas, como resultado, deixamos de confiar em nós mesmos e aprendemos a confiar somente em Deus, que ressuscita os mortos. 10Ele nos livrou do perigo mortal, e nos livrará outra vez. Nele depositamos nossa esperança, e ele continuará a nos livrar. 11E vocês nos têm ajudado ao orar por nós. Então muitos darão graças porque Deus, em sua bondade, respondeu a tantas orações feitas em nosso favor. […] 21É Deus quem nos capacita e a vocês a permanecermos firmes em Cristo. Ele nos ungiu 22e nos identificou como sua propriedade ao colocar em nosso coração o selo do Espírito, a garantia de tudo que ele nos prometeu. 23Agora, invoco a Deus como testemunha de que foi para poupá-los que ainda não voltei a Corinto. 24Isso não significa que queremos controlar vocês, dizendo-lhes como exercer sua fé. Nosso desejo é trabalhar com vocês para que tenham alegria, pois é pela fé que permanecem firmes.
6. Paulo testemunha o quanto precisamos de relacionamentos intencionalmente dedicados ao encorajamento mútuo no Senhor como forma de se buscar e manter a força em Cristo Jesus, 2Coríntios 7.5-7:
5Quando chegamos à Macedônia, não tivemos nenhum descanso. Enfrentamos conflitos de todos os lados, com batalhas externas e temores internos. 6 Mas Deus, que conforta os desanimados, nos encorajou com a chegada de Tito. 7 Sua presença foi uma alegria, como também o foi a notícia que ele nos trouxe do encorajamento que recebeu de vocês. Quando ele nos contou quanto desejam me ver, quanto lamentam o que aconteceu e quão dedicados são a mim, fiquei muito feliz!
Em tudo, Paulo nos diria, olhe para Cristo (com arrependimento e fé) e ache salvação, força na fraqueza e muito mais. Nesta carta, por exemplo, ele nos revela o Senhor Jesus de ângulos bem diferentes e edificantes:
Cristo é apresentado como o conforto do crente (1.5):
Porque, assim como transbordam sobre nós os sofrimentos de Cristo, assim também por meio de Cristo transborda o nosso consolo.
O nosso triunfo (2.14):
Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta a fragrância do seu conhecimento em todos os lugares.
O Senhor (4.5):
Porque não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo como Senhor e a nós mesmos como servos de vocês, por causa de Jesus.
A luz (4.6):
Porque Deus, que disse: “Das trevas resplandeça a luz”, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo.
A nossa reconciliação com Deus e quem nos torna ministros da reconciliação (5.18-21):
18Ora, tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, 19a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos seres humanos e nos confiando a palavra da reconciliação. 20Portanto, somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por meio de nós. Em nome de Cristo, pois, pedimos que vocês se reconciliem com Deus. 21Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.
Olhe para Cristo e encontre força na fraqueza – força para vencer o pecado e conquistar a vida eterna; força para não deixar o amor se esfriar em meio ao sofrimento.
S.D.G. L.B.Peixoto
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