20.12.2020
[Gálatas 2.19-20] 19Pois, quando procurei viver por meio da lei, ela me condenou. Portanto, morri para a lei a fim de viver para Deus. 20Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
O nosso mundo precisa do antigo evangelho da graça, uma vez que apenas o novo homem em Cristo, fruto da palavra imutável de Deus, será realmente capaz de, pelo Espírito Santo, viver de uma forma civilizada, educada e de fato amorosa (Gl 5.22-26). O cristianismo bíblico, portanto, não é intolerante, mas CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE:
Isto nos traz a esta série de mensagens que iniciamos na manhã de hoje — Cartas do novo mundo: as 13 cartas do apóstolo Paulo e as velhas necessidades de todo mundo. — O que faremos? Estudaremos cada uma das 13 cartas de Paulo – cada uma em uma mensagem nas próximas 13 mensagens. Destacaremos a ideia central de cada carta e sobrevoaremos o conteúdo todo da carta, interpretando-a e derivando dela as devidas aplicações.
As 13 cartas atribuídas a Paulo formam exatamente um quarto, 25%, de todo o Novo Testamento. Além disso, de todos os escritores do Novo Testamento, Paulo pode inquestionavelmente reivindicar ter sido o mais influente em toda a história da igreja – e do mundo. Por exemplo, foi a redescoberta da teologia de Paulo que motivou a Reforma Protestante do século XVI, aquela revolução teológica que incitou um levante dentro da Igreja Católica Romana e deu nascimento a todas as igrejas Protestantes – o que resultou em transformação radical não só do espectro do cristianismo, como também do mundo.
Pense em como teria sido a Europa e o mundo se não tivesse acontecido a Reforma Protestante. O Ocidente é fruto das cartas de Paulo, sobretudo a carta aos Romanos. Não é exagero alguém pensar dessa maneira, afinal, basta se lembrar da quantidade de pessoas que tiveram a vida transformada (e, à partir de então, transformaram o mundo) uma vez que leram alguma das epístolas deste apóstolo e por elas se pautaram. Cito apenas alguns desses grandes homens da história que foram transformados pelos escritos de Paulo e serviram para transformar o mundo: Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, John Wesley, George Whitefield, Jonathan Edwards e outros tantos na história do cristianismo e do mundo todo. As cartas de Paulo, pois, são de valor incalculável.
A Bíblia Sagrada contém 66 livros – 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo. O Novo Testamento, sob a inspiração e a proteção do Espírito Santo, guarda 13 cartas escritas pelo apóstolo Paulo. Nove, das 13 cartas, foram redigidas para igrejas: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses. As quatro cartas restantes foram endereçadas a indivíduos: 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom.
Evidentemente que Paulo escreveu outras cartas além das que temos no cânon bíblico, mas que se perderam. Por exemplo: houve uma carta anterior à 1Coríntios (1Co 5.9), outras cartas que seus críticos consideravam severas ou enérgicas demais (2Co 10.9-10) e uma carta aos laodicenses – conjugada com a que temos aos colossenses (Cl 4.16). Todas foram assinadas de “próprio punho: Paulo”, “para provar que eu mesmo as escrevi” — relatou o apóstolo em 2Tessalonicenses 3.17.
O apóstolo escreveu dentro de um período de menos de 20 anos; aproximadamente, entre os anos 48 e 68 depois de Cristo. Importante: as 13 cartas que temos estão postas no Novo Testamento por ordem de tamanho: da maior para a menor, não por ordem cronológica: da mais antiga para a mais recente. De fato, a ordem cronológica das cartas é a seguinte: Gálatas, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Coríntios, Romanos, Colossenses, Filemom, Efésios, Filipenses, 1Timóteo, Tito e 2Timóteo. Desse modo, a primeira carta escrita pelo apóstolo foi Gálatas e a última foi 2Timóteo. As cartas paulinas, portanto, estão entre os primeiros documentos do Novo Testamento – para se ter uma ideia, Gálatas (49 d.C.) foi escrita antes de qualquer um dos Evangelhos começar a circular (Mateus e Marcos, por exemplo, foram escritos pelo menos um ou dois anos mais tarde, entre 50 e 70 d.C.).
Paulo estava escrevendo a vários grupos distintos de cristãos nas primeiras décadas do cristianismo com o propósito de encorajá-los, exortá-los, adverti-los, repreendê-los, corrigi-los, instruí-los e alicerçá-los na fé cristã. Ele fora preparado por Deus para extrair o correto conhecimento tanto do Antigo Testamento quanto dos ensinamentos de Jesus Cristo — e, portanto, era capaz de aplicar a verdade bíblica ao velho mundo pagão, dentro e fora do judaísmo, de seu tempo.
Desse modo, essas cartas, colocadas no meio de nosso Novo Testamento, desempenham um papel incalculavelmente importante em nossa compreensão da pessoa de Jesus Cristo, de sua missão entre nós e o que se requer dos cristãos neste velho mundo. Nossa intenção com esta série de mensagens, portanto, é recorrer às epístolas paulinas a fim de obter respostas para as nossas carências reais (à luz do plano de Deus), além de buscar conforto, consolo, ensino e orientação de que tanto precisamos.
Paulo é também singular pelo fato de sabermos mais sobre ele do que sobre qualquer outro escritor do Novo Testamento. Lucas dedica mais da metade do livro de Atos para narrar a história do ministério missionário do apóstolo aos gentios, e podemos obter muito mais sobre ele através dele mesmo, em suas cartas.
Paulo NASCEU EM TARSO, a principal cidade da Cilícia, na costa sul da Asia Menor —a Turquia moderna (At 9.11; 21.39; 22.3). Ele próprio chama Tarso de “cidade importante”, em Atos 21.39. Tarso era uma cidade de importância comercial considerável e possuía uma universidade que se nivelava em fama com as duas grandes daquele tempo: a de Atenas e a de Alexandria. O apóstolo, provavelmente, nunca estudou na universidade de Tarso; sabemos que ele recebeu sua principal educação em Jerusalém (Atos 22.3). Entretanto, é nítido, pelos seus escritos, que ele absorveu a atmosfera e a cultura gregas de Tarso e falou e escreveu em grego com grande fluência. Chega a fazer citações, por exemplo, de pelo menos três poetas gregos em pregações e cartas: Arato (At 17.28), Menander (1Co 15.33) e Epimênides (Tt 1.12). Assim foi que a cultura grega reservava poucas surpresas para Paulo; sua formação pré-escolar, primária e média proporcionaram-lhe um bom preparo para o ensino superior em Jerusalém e a carreira missionária entre os gentios e sua batalha contra os judaizantes.
Paulo possuía a CIDADANIA ROMANA por nascimento (At 22.28), o que era, à época, privilégio incomum. Isto sugere que sua família era importante em Tarso – com toda probabilidade, seu pai ou avô teria recebido a cidadania oficial como recompensa por serviços prestados à cidade. Daí que ele recebeu o nome romano “Paulo”, ao lado do hebraico “Saulo” (Atos 13.9). Mas “Saulo” era o nome que ele usava quando jovem. Ou seja: sua família pode ter vivido totalmente enraizada na cultura grega, desfrutando de privilégios, porém, para o jovem Saulo, foi a fé de seus pais que ocupou todo seu coração e sua devoção. Mas foi uma versão particular daquela fé hebraica que o cativou:
— Irmãos, sou fariseu, como eram meus antepassados — foi a apaixonada alegação de Paulo, o apóstolo, em Atos 23.6.
O FARISAÍSMO era um movimento separado dentro do Judaísmo, o qual enfatizava a obediência estrita da lei, incluindo rigorosa observância das festas e outros rituais associados ao templo em Jerusalém. Por essa razão, o Farisaísmo floresceu na Judéia, havendo poucos fariseus em outras partes do mundo. Mas de alguma forma Paulo, lá em Tarso, recebeu a influência desse movimento e transferiu-se para Jerusalém ainda jovem para estudar aos pés de um dos mestres do Farisaísmo: Gamaliel, o Primeiro (At 22.3), neto do famoso rabino Hillel, a quem todo o movimento atribuía sua fundação. Paulo, portanto, veio de um contexto de grande influência, ele tinha pedigree. Filipenses 3.4-6:
4ainda que, se outros pensam ter motivos para confiar nos próprios esforços, eu teria ainda mais! 5Fui circuncidado com oito dias de vida. Sou israelita de nascimento, da tribo de Benjamim, um verdadeiro hebreu. Era membro dos fariseus, extremamente obediente à lei judaica. 6Era tão zeloso que persegui a igreja. E, quanto à justiça, cumpria a lei com todo rigor.
O que significava ser um fariseu? Atos 26.5:
Também sabem, e talvez estejam dispostos a confirmar, que vivi como fariseu, a seita mais rígida de nossa religião.
Os fariseus, portanto, eram do partido mais rígido no que dizia respeito a conhecer e buscar cumprir cada letra da lei de Deus. Eram bastante ortodoxos em suas doutrinas – Atos 23.8: “pois os saduceus afirmam não haver ressurreição, nem anjos, nem espíritos, mas os fariseus creem em todas essas coisas.”
Este, pois, era Paulo: culturalmente bem-formado e engajado, teologicamente ortodoxo, moralmente conservador e rigorosamente religioso – um fundamentalista religioso. Seu testemunho aos gálatas é impressionante, Gálatas 1.13-14:
13Vocês sabem como eu era quando seguia a religião judaica, como perseguia com violência a igreja de Deus. Não media esforços para destruí-la. 14Superava a muitos dos judeus de minha geração, sendo extremamente zeloso pelas tradições de meus antepassados.
Paulo amava tão profundamente e ao mesmo tempo tão distorcidamente o Antigo Testamento que quando o Messias chegou, ele odiou tanto a sua mensagem que se dedicou, com coração, unhas e dentes, a destruir tanto o conteúdo como os portadores da mensagem da cruz de Cristo.
Esta, pois, é a foto de Paulo, um flash de quem ele foi antes de se tornar cristão: culto, fariseu, fundamentalista, intolerante, cheio de ódio por aquilo que ele julgava heresia, perseguidor e capaz até de matar para fazer prevalecer sua verdade. Até que Jesus Cristo o encontrou e o separou para o “evangelho da paz” (Ef 6.15). Gálatas 1.15-16:
15Contudo, ainda antes de eu nascer, Deus me escolheu e me chamou por sua graça. Foi do agrado dele 16revelar seu Filho a mim, para que eu o anunciasse aos gentios. Quando isso aconteceu, não consultei ser humano algum.
Em Atos 26.12-18, Paulo resumiu seu testemunho de conversão ao rei Agripa:
12“Certo dia, numa dessas missões, dirigia-me a Damasco, autorizado e incumbido pelos principais sacerdotes. 13Por volta do meio-dia, ó rei, ainda a caminho, uma luz do céu, mais intensa que o sol, brilhou sobre mim e meus companheiros. 14Todos nós caímos no chão, e eu ouvi uma voz que me dizia em aramaico: ‘Saulo, Saulo, por que você me persegue? Não adianta lutar contra minha vontade’. 15“‘Quem és tu, Senhor?’, perguntei. “E o Senhor respondeu: ‘Sou Jesus, a quem você persegue. 16Agora levante-se, pois eu apareci para nomeá-lo meu servo e minha testemunha. Conte o que viu e o que eu lhe mostrarei no futuro. 17E eu o livrarei tanto de seu povo como dos gentios. Sim, eu o envio aos gentios 18para abrir os olhos deles a fim de que se voltem das trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus. Então receberão o perdão dos pecados e a herança entre o povo de Deus, separado pela fé em mim’.
A seguir, o apóstolo declara não somente que ele foi fiel ao chamado apostólico, mas também como ele procedeu em seu chamado – deixando-nos uma dica do significado de um ministério de libertação. Veja, Atos 26.19-20:
19“Portanto, rei Agripa, obedeci à visão celestial. 20Anunciei a mensagem primeiro em Damasco, depois em Jerusalém e em toda a Judeia, e também aos gentios, dizendo que todos devem arrepender-se, voltar-se para Deus e mostrar, por meio de suas boas obras, que mudaram de rumo.
Meus Deus! Tome ciência da magnitude dessa OBRA HERCÚLEA DA GRAÇA DE DEUS: transformar “Paulo” em um “apóstolo de Jesus” (Ef 1.1); transformar um romano por jurisdição, hebreu por nascimento e, por opção, um fariseu fundamentalista, intolerante, violento e perseguidor dos cristãos e da igreja; transformar “o pior dos pecadores” (1Tm 1.16) e “o menos digno de todo o povo santo” (Ef 3.8) no maior de todos os cristãos e missionário que jamais existiu! Com efeito, um milagre da graça de Deus!
A literatura antiga nos provê apenas uma pequena descrição física de Paulo. Diz-se no apócrifo Atos de Paulo e Tecla (originalmente composto, pelo que se sabe, em torno do século II) que o apóstolo era “um homem pequeno em estatura, com cabelos finos na cabeça, pernas tortas, bom estado de corpo, com as sobrancelhas coladas e o nariz um tanto adunco [encurvado, na forma de gancho]”. Será mesmo?
Dada a estatura de Paulo na história do cristianismo, talvez o conteúdo não impressivo da descrição física do apóstolo sugira algum grau de autenticidade. Por outro lado, há outro aspecto da pessoa do apóstolo a que o mesmo documento faz menção: “Às vezes ele parecia um homem, e às vezes ele tinha a face de um anjo.” Obviamente que essa linguagem estaria fazendo coro com a descrição que foi feita da pessoa do mártir Estêvão – sobre o qual se lê em Atos 6.15 que “todos os membros do conselho olharam para Estêvão e viram que seu rosto parecia o rosto de um anjo.”
Ao se falar dessa mesma maneira a respeito de Paulo, deixa-se a indicação de como o homem e seu ministério permaneceram sendo venerados nos corredores da história. Ele era pequeno em estatura e feio em aparência física, mas se tornou um gigante espiritual. Um novo homem em Cristo Jesus para transformar o velho mundo.
A conversão de Paulo transformou seu modo de pensar, renovou sua mente – aos romanos, ele escreveu (Rm 12.2):
Não imitem o comportamento e os costumes deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma mudança em seu modo de pensar, a fim de que experimentem a boa, agradável e perfeita vontade de Deus para vocês.
O que mudou no modo de pensar de Paulo, na conversão e após ela?
1 – Sua mente mudou a respeito de Jesus
Apesar de crucificado (portanto, maldito perante a Lei – cf. Dt 21.23), Jesus era sim o Messias. Os homens o penduraram num madeiro, mas Deus, pelo Espírito de Santidade, o ressuscitou dentre os mortos (Rm 1.4). Paulo, agora convertido, não teve qualquer hesitação ao dirigir-se a ele como “Senhor” (At 9.5). Sabia que havia tido uma visão celestial (At 26.19), e que Jesus, ressurgido em glória dentre os mortos, agora estava se dirigindo a ele. A mente de Paulo mudou a respeito de Jesus Cristo.
2 – Sua mente mudou a respeito da Lei
A Lei o levou a perseguir o Messias! Como podia ser isto? Especialmente em suas cartas aos gálatas e aos romanos, temos Paulo respondendo a perguntas com as quais ele, de imediato após a conversão, começou a debater. Ele questionou todo o seu modo de vida como fariseu, e paralelamente sua compreensão do Antigo Testamento—até ser capaz de constatar que as Escrituras testemunhavam em favor de Jesus, não contra ele, e que a Lei nos leva para Cristo.
3 – Sua mente mudou a respeito da salvação
Este ponto segue-se ao anterior. Anteriormente, como fariseu, Paulo havia crido que a salvação dependia de sua obediência e cumprimento da lei. Ele buscava a segurança de um lugar no Reino de Deus por causa de seu zelo pela “tradição de meus antepassados”. Entretanto, não poderia haver lugar no Reino para alguém que perseguiu o Messias! Este era o maior pecado imaginável.
Porém, em vez de julgá-lo e rejeitá-lo, Deus lhe havia revelado seu Filho, e o havia chamado para um importante ministério. Como isto foi possível?
Paulo tinha experimentado sua doutrina da justificação, a mensagem que ele depois anunciou corajosamente por toda a Ásia Menor, por toda a Grécia e, finalmente, em Roma: Deus simplesmente o tinha aceitado e perdoado seu pecado, não porque Paulo tivesse oferecido meticulosamente os devidos sacrifícios no templo, mas porque Jesus tinha sido sacrificado em seu favor.
4 – Sua mente mudou a respeito da igreja
Por que me persegues? — perguntou-lhe o Cristo ressurreto no caminho para Damasco (At 9.3). Não é incorreto ver nesta pergunta do SENHOR o nascimento em Paulo da compreensão sobre a igreja. Havia tão íntima união entre o Cristo e sua igreja que atacá-la era o mesmo que atacá-lo. Em consequência disto, Paulo passou a pensar na igreja como “o corpo de Cristo”, unida a Cristo pelo Espírito Santo que a vivifica e nela habita. Não surpreende, portanto, que Paulo tenha se constrangido tanto enquanto viveu, pelo fato de ter perseguido aqueles cristãos: ele os odiou porque estavam cheios do Espírito Santo e confessavam Jesus como Cristo e Senhor. Mas Paulo mudou sua mente a respeito da igreja.
5 – Sua mente mudou a respeito dos gentios
Não está exatamente claro quando Paulo recebeu sua comissão para ser apóstolo junto aos gentios. Num dos relatos da conversão de Paulo, Ananias lhe informa que Deus o tinha escolhido para ser testemunha de Cristo, “dizendo a todos o que viu e ouviu”, e logo em seguida Paulo tem uma visão no templo, na qual Deus mesmo o envia aos gentios (Atos 22.15, 21). Em outros dois relatos, o próprio Jesus ressurreto, em sua aparição inicial no caminho de Damasco, comissiona-o para pregar o evangelho aos gentios (At 26.16-18).
Anteriormente Saulo, o fariseu, tinha construído sua vida sobre a diferenciação mais acentuada possível entre Israel e os gentios. Gentios podiam encontrar salvação, porém, somente com dificuldade e somente se aceitassem a circuncisão e tomassem sobre si o “jugo da lei”. Essencialmente, eles deveriam tornar-se judeus para ser salvos. Agora, porém, Saulo tinha aprendido duas coisas:
Horrorizado, (1) aprendeu que a Lei (como ele a entendia) tinha-o levado a desviar-se do caminho.
Assombrado, (2) aprendeu que Deus tinha-o agora aceitado livremente pela “graça”, por meio da fé somente em Cristo, apesar de seu uso errado da Lei.
Colocar estas duas coisas juntas significava abolir a diferença entre Israel e os gentios, porque “Existe um só Deus, e ele declara justos tanto judeus como gentios somente pela fé” (Rm 3.30).
O velho mundo do pecado em que vivemos precisa desse novo homem, com coração, mente e atitudes renovados:
O cristianismo e a Bíblia não precisam de atualização, mas de reafirmação com graça e verdade. Apenas o cristianismo, corretamente interpretado pelas Escrituras iluminadas ou esclarecidas pelo Espírito Santo, será capaz de transformar o homem e a sociedade. E tudo começa comigo e com você, individualmente, como bem colocou Paulo aos gálatas (2.19-20):
19Pois, quando procurei viver por meio da lei, ela me condenou. Portanto, morri para a lei a fim de viver para Deus. 20Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
Note:
1. A denúncia que faz a vida cristã
19Pois, quando procurei viver por meio da lei, ela me condenou. Portanto, morri para a lei a fim de viver para Deus.
Há de se morrer para a lei – seja a lei de Deus, seja a lei dos homens. O que significa morrer para a lei? Não viver mais tentando obter justificação obedecendo à lei, não estar mais sob o peso impossível de tentar ganhar a aceitação de Deus (e dos homens) por meio de seus próprios esforços.
2. A descrição que se faz da vida cristã
20Fui crucificado com Cristo; assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. […]
O que significa estar crucificado com Cristo? A resposta óbvia é que nós morremos com Cristo. Morremos para a Lei (Gl 2.19), para o pecado (Rm 6.2) e para nós mesmos (Gl 2.20).
3. A dinâmica que se apresenta da vida cristã
20[…] Portanto, vivo neste corpo terreno pela fé no Filho de Deus, […]
A vida cristã não é vivida “pelo esforço próprio” (Gl 3.3). Não é pautada por regras nem vivida pela força de vontade. A vida cristã é vivida pelo poder do Espírito, quando nos agarramos às promessas e preceitos da Palavra de Deus. A vida cristã é vivida pela fé na promessa de tudo o que Deus promete ser para nós em Cristo Jesus.
4. A demanda que se requer da vida cristã
A vida cristã para Paulo é estar crucificado com Cristo para deixar Cristo viver em nós; a dinâmica desta vida se dá em nosso corpo, lutando para se conformar à imagem de Cristo, vivendo pela fé e no poder do Filho de Deus. Mas, qual a razão de ser desta vida? O apóstolo termina este verso aonde tudo começa na história da salvação:
20[…] que me amou e se entregou por mim.
Além de informar o que motivou Deus na consecução e execução do plano de salvação – amor, graça – Paulo quer, com esta frase, incitar no cristão o louvor. Louvor pelo grande amor de Deus na salvação de seus filhos – “que me amou e se entregou por mim”; ao passo que Paulo quer também no ensinar a forma de amar: entregando-se por outros, para a glória de Deus.
Esse novo homem em Cristo é o que se espera para o velho mundo – para as famílias, os relacionamentos, as rodas de amigos ou conhecidos, a escola ou o trabalho. Esse novo homem, e nada menos do que ele, será a única força capaz de, no poder do Espírito Santo, transformar esse velho mundo do pecado, começando por você.
— Naquele tempo também havia tristeza, e uma escuridão crescente, mas houve pessoas valorosas e feitos que não foram totalmente em vão. — disse Gandalf a Frodo.
É disso que o velho mundo precisa: pessoas valorosas – transformadas pelo antigo evangelho – e de feitos que não serão totalmente em vão. Se assim não for não passará de sabedoria segundo o mundo, legalismo, moralismo, civilidade… ocos e vazios por dentro. Precisamos do novo homem em Cristo para o velho mundo do pecado. Essa é a única esperança para este mundo de polarizações, perseguições, perversões e paixões desenfreadas.
Nas próximas mensagens, Deus permitindo, abriremos cada uma das 13 cartas do novo mundo, escritas por Paulo, para os velhos problemas de todo mundo. A primeira será Romanos, depois, 1Coríntios… Que tal você ler e reler essas cartas?
S.D.G. L.B.Peixoto
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