27.02.2022
[Lamentações 4.22] Ó bela Sião [Ó filha de Sião], o castigo de sua maldade chegará ao fim; logo voltará do exílio.
Se você é um consumidor de programas de televisão, provavelmente já se viu preso em algum reality show. Como a própria tradução literal do termo diz, esses “programas de realidade” costumam mostrar pessoas reais em situações inusitadas (p.ex.: A Fazenda, Power Couple), procurando um novo amor (p.ex.: Game dos Clones), tentando estourar na mídia como cantor (p.ex.: The Voice Brasil) ou como cozinheiro ou chef de sucesso (p.ex.: MasterChef), ou simplesmente confinadas em uma casa com várias outras pessoas desconhecidas e câmeras por todos os lados (p.ex.: Big Brother Brasil).
Qual a explicação para as pessoas gostarem de reality shows?
De acordo com um artigo publicado no Psychology Today, existe uma relação bastante direta entre assistir a um reality show e o voyeurismo – é a busca de sensações prazerosas e de saciação da curiosidade. Desse modo, assistir a reality shows seria uma forma segura e acessível de se ter acesso a experiências e informações que, de outra forma, seriam ilegais e inacessíveis. Já a psicóloga de análise comportamental Kimberly Ferreti Pereira disse o seguinte:
Outro ponto [para o sucesso dos reality shows] pode ser a alienação, que nos mantém afastados de nós mesmos e ligados ao mundo. Algumas pessoas não conseguem, não querem ou até não foram ensinadas a lidar com suas questões de vida, e alienar-se ao consumir a vida dos outros na tela de uma televisão ou celular parece suprir esse vazio.
Essas informações foram extraídas do Canaltech, um site de tecnologia na internet, o artigo tem um título bastante provocador: A febre do BBB e por que gostamos de “cuidar da vida dos outros”. Eis a conclusão da articulista, Natalie Rosa:
[…] não é de todo mal se alienar e focar na vida de outras pessoas como forma de entretenimento, visto que a vida é tão dura que qualquer forma de escape na televisão, cinema ou literatura é bem-vinda.
Será?!
Ora, segundo o que temos aprendido em Lamentações de Jeremias – de fato, segundo a visão de mundo bíblica – , qualquer escape como forma de fuga da realidade, fuga para não ter que lidar com a realidade, nunca será o caminho para se encontrar a felicidade ou o bem-estar tão desejado de todos. No mínimo, será uma forma de enganar a si mesmo. Em todo caso, destruirá você, sobretudo eternamente. É o mesmo que alguém com alguma doença letal viver negando que está doente e nunca buscar tratamento. O que vai acontecer com essa pessoa? Ela vai morrer, e rápido.
Uma das muitas razões pelas quais eu APRENDI A AMAR O LIVRO DE LAMENTAÇÕES se dá pelo que o livro não faz. PRIMEIRO, Jeremias não foge da realidade, ele a encara de frente – e com fé na bondade, soberania, santidade e justiça de Deus (como nós estudamos em Lamentações 3). SEGUNDO, Lamentações não apresenta uma fórmula definitiva para a resolução dos nossos problemas ou a cura para as dores que nos afligem, e que vêm sim das mãos do próprio Deus. TERCEIRO, este livro do Antigo Testamento não responde a todas as nossas perguntas existenciais, nossos “por quês”. Não nos comunica as lições de uma forma organizada, tampouco confortável. E não minimiza o significado da luta ou da dor. APRENDI A AMAR LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS PORQUE ele é de fato uma apresentação, um tratamento bíblico da realidade.
Lamentações não é linear, como também não é linear a vida. E é por isso que eu agora amo este livro. Afinal, a vida – sim, mesmo a vida cristã – nem sempre é previsível ou fácil de administrar. O sofrimento, seja ele involuntário ou merecido, não segue a um padrão, e a dor, qualquer dor, certamente não é leve. As emoções, os questionamentos, as lutas, as perdas, os medos ou as frustrações em meio às dificuldades nas quais nos pegamos tantas vezes atolados são muito reais e muito difíceis de processar. É por isso que a categoria de lamento é tão útil para o cristão. O lamento dá voz às nossas lutas, dores e emoções, ao mesmo tempo que direciona nossos pensamentos para Deus. O lamento é inerentemente cristão porque é uma forma de oração através da qual derramamos nosso coração diante de Deus. O lamento é a forma de se sofrer pelo que está acontecendo, ao mesmo tempo em que ele ancora o coração no que se crê e dirige a esperança ao dia do Senhor – ao dia em que Deus corrigirá todas as coisas para sempre.
Lamentações de Jeremias nos ensina a encarar e lidar com a realidade.
Em Lamentações 1 nós fomos apresentados a este livro e à descrição poética e gráfica da queda da cidade de Jerusalém em 586 a.C.. Aprendemos sobre as consequências devastadoras do pecado e como podemos ousar ter esperança, juntando os cacos. Em Lamentações 2 nós vimos a magnitude da santidade e da justiça de Deus e aprendemos que quando ele se volta contra o pecado, aos nossos olhos, o SENHOR chega a parecer um inimigo. Em Lamentações 3 nós subimos ao cume das Lamentações e enxergamos a esperança de novas misericórdias a cada manhã e a confiança na fidelidade de Deus. Além disso, aprendemos que a expressão de Lamentações 3.23 – “Grande é sua fidelidade” – foi declarada enquanto Jerusalém se achava em ruínas; é uma declaração de fé em meio ao caos dos problemas. Em outras palavras, Jeremias estava lamentando a destruição de Jerusalém ao mesmo tempo em que se apegava ao que ele sabia ser verdade sobre Deus. O profeta usou o lamento para expressar sua tristeza e ancorar sua esperança em Deus.
Mas o livro não terminou. Ainda temos mais dois capítulos e eles não são, à primeira vista, otimistas. Ambos os capítulos – Lamentações 4 e 5 – contêm vislumbres de esperança – mais do que os capítulos um e dois – , mas ainda são sombrios. A certeza a respeito de quem é Deus – bom, soberano, santo e justo – e a dor da vida despedaçada ainda coexistem nestes capítulos finais do livro.
Lamentações 4, em particular, relata a misericórdia de Deus que é experimentada após o quebrantamento resultante da quebradeira. A esperança de Lamentações 3 ainda é verdadeira, mas Jeremias continua refletindo sobre como as pessoas realmente estão quebradas em decorrência do pecado que provocou a aplicação da justiça de Deus. Deus mesmo quebrou seu próprio povo de tal forma que a única esperança que lhes restou foi ele somente – Deus, e nada mais. Deus os quebrou para poder moldá-los de novo, ao seu próprio jeito. Deus tirou as coisas que eles usavam como muletas para que eles se apoiassem somente nele, nada mais. Deus os quebrou para que eles se quebrantassem e encontrassem misericórdia. — Você sabia que a Bíblia recomenda esse tipo de quebrantamento? Você sabia que o quebrantamento é o único caminho ordenado por Deus para se achar a misericórdia? Pois é… leia os seguintes texto, por exemplo:
Salmos 34.18-19 18O SENHOR está perto dos que têm o coração quebrantado e resgata os de espírito oprimido. 19O justo enfrenta muitas dificuldades, mas o SENHOR o livra de todas elas.
Salmos 51.16-17 16Tu não desejas sacrifícios, do contrário eu os ofereceria; também não queres holocaustos. 17O sacrifício que desejas é um espírito quebrantado; não rejeitarás um coração humilde e arrependido.
Mateus 11.28-29 28“Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. 29Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma.”
1Pedro 5.6-7 6Portanto, humilhem-se sob o grande poder de Deus e, no tempo certo, ele os exaltará. 7Entreguem-lhe todas as suas ansiedades, pois ele cuida de vocês.
O quebrantamento leva à misericórdia.
Por quebrantamento quero dizer quando Deus remove os objetos de nossa confiança de tal forma que somos levados a confiar somente nele, nada mais. Estou falando de quando suas “muletas” na vida são chutadas e você cai nos braços de Deus, fazendo dele sua única esperança. Às vezes, o quebrantamento vem quando você é quebrado por causa de seu próprio pecado. Às vezes, o quebrantamento pode vir por causa do pecado de outra pessoa cometido contra você. E o quebrantamento também pode vir por causa do mundo quebrado ao seu redor. Independentemente de como chegue a quebradeira, o resultado é o mesmo: o quebrantamento decorrente dela nos desperta para nossa necessidade da misericórdia de Deus, nada mais.
Você consegue pensar nalgum momento em que Deus chutou as “muletas” de sua vida? Como foi? Decepção com alguém? Perda de alguém ou de alguma coisa? Enfermidade? Limitação ou aparência física? Vítima de algum pecado? O que te aconteceu? De que modo você caiu no chão? O que Deus usou para levar você aos braços dele? Não importa, você foi quebrado e é dos cacos que brota o quebrantamento que nos leva à misericórdia de Deus. — Honestamente: Você foi quebrado? Está no chão? Já achou os braços de Deus? Espero que você encontre esperança e conforto em Lamentações 4.
Depois de achar a misericórdia e a fidelidade de Deus no capítulo três, Jeremias, em Lamentações 4, rapidamente retorna seu olhar para a destruição ao seu redor. No entanto, o ponto focal aqui é diferente.
O foco está no estado de quebrantamento do povo de Deus, fruto da destruição, resultado dos cacos de todas as coisas que foram quebradas, coisas nas quais eles anteriormente se escoravam em detrimento de Deus. Leremos o capítulo 4 e veremos que eles perderam a esperança em sua cultura, em seus líderes e nas nações que pudessem vir resgatá-los das garras da Babilônia. A nação de Israel não tinha mais nada em que escorar, exceto Deus. Foram despojados de tudo. Vamos ver como isso se desenrola:
[1.] A degradação da cultura (vs. 1-11)
[2.] A deterioração da liderança (vs. 12-16)
[3.] A decepção com as nações (vs. 17-22)
1. A DEGRADAÇÃO DA CULTURA (vs. 1-11)
Israel se orgulhava de seu status de povo escolhido de Deus. Havia algo especial sobre o país, o templo, a cultura, a fé e seu lugar no mundo. Mas a glória de Israel havia desaparecido completamente. Os “anos de glória” tinham virado relíquia do passado. Se você capturasse uma imagem da nação durante os reinados de Davi, Salomão, Ezequias ou Josias e a comparasse com esta cena que leremos a seguir, certamente que ficaria absolutamente chocado. Tudo em Israel estava degradado e destruído – do estilo de vida deles antes e durante o estado de sítio imposto pelos babilônios ao estado da vida deles após a queda de Jerusalém.
Leiam e observem comigo o estado de degradação e destruição cultural a que chegaram – procure pelos seguintes: o brilho do templo da cidade (v. 1), o desprezo pelo povo de Deus (v. 2), a perda da civilidade ou da compaixão (vs. 3-4), a extravagância que não existia mais (v. 5), a imoralidade que foi lentamente degradando a nação (v. 6), a ostentação que não era mais possível de se bancar (vs. 7-8), a fartura que não existia mais (v. 9) e a crueldade que era praticada (v. 10). Observe:
Lamentações 4.1-10 1Como o ouro perdeu seu brilho! Até o ouro mais puro ficou embaçado. As pedras sagradas estão espalhadas pelas ruas. 2Vejam como os filhos preciosos de Sião, que valem seu peso em ouro puro, são tratados como vasos de barro feitos por um oleiro qualquer. 3Até os chacais amamentam seus filhotes, mas meu povo não age assim. Como as avestruzes no deserto, ignora cruelmente o clamor de seus filhos. 4A língua seca dos bebês gruda no céu da boca, por causa da sede. As crianças imploram por um pedaço de pão, mas ninguém as atende. 5Os que antes comiam as comidas mais finas agora morrem de fome nas ruas. Os que antes vestiam roupas da melhor qualidade agora reviram os montes de lixo. 6A culpa de meu povo é maior que a de Sodoma, que foi destruída de repente, e ninguém ofereceu ajuda. 7Nossos príncipes eram radiantes de saúde, mais brilhantes que a neve e mais brancos que o leite. Seu rosto era rosado como rubis, e sua aparência, como safiras. 8Agora, porém, seu rosto está mais escuro que fuligem; ninguém os reconhece nas ruas. Sua pele está pegada aos ossos, seca como madeira. 9Os que morreram pela espada foram mais felizes que os que morrem de inanição. Famintos, definham por falta de alimento dos campos. 10Mulheres de bom coração cozinharam os próprios filhos. Elas os comeram para sobreviver ao cerco.
Portanto, não foi por capricho divino que o juízo caiu sobre a nação santa, e Jeremias deixa isto bastante claro – Lamentações 4.11: “Agora, porém, a ira do SENHOR está satisfeita; sua ira ardente foi derramada. Em Sião ele acendeu um fogo que queimou a cidade até seus alicerces.”
A degradação cultural levou Israel (ao norte) e finalmente Judá e Jerusalém (ao sul) à destruição. Deus estava disciplinando seus próprios filhos por causa de rebelião. Israel foi quebrada, partida em pedaços. Tudo foi arruinado. Os dias de glória não tinham apenas acabado, estavam despedaçados sobre o chão. Israel, como povo, nação e cultura, estava perdida. Tornaram-se um povo quebrado. Degradaram-se e foram destruídos.
Quando as pessoas estão em crise, geralmente elas procuram algum messias para libertá-las, algum líder, guru ou influenciador que possa lhes dar esperança e conduzi-las a dias melhores. Mas nos versículos 12-16 nós descobrimos que os líderes espirituais do povo havia se deteriorado, estavam completamente desacreditados e fugiram. Resultado: as pessoas não tinham mais confiança naqueles que costumavam liderá-los.
Lamentações 4.12-16 12Nenhum rei em toda a terra, ninguém no mundo inteiro, poderia imaginar que o inimigo entraria pelas portas de Jerusalém. 13Mas foi o que aconteceu por causa do pecado de seus profetas e da maldade de seus sacerdotes, que profanaram a cidade ao derramar sangue inocente. 14Andavam sem destino pelas ruas, como cegos, tão contaminados de sangue que ninguém se atrevia a tocar neles. 15“Afastem-se!”, gritavam para eles. “Estão contaminados! Não toquem em nós!” Fugiram para terras distantes e andaram sem rumo entre as nações, mas nenhuma permitiu que ficassem. 16O SENHOR, em sua ira, os espalhou e deixou de ajudá-los. Ninguém mais respeita os sacerdotes nem honra os líderes.
Os falsos profetas não deram ouvidos à pregação de Jeremias e pregaram ao povo de Israel uma falsa esperança de que não estavam em grave perigo. Às pessoas não fora ensinada a lei do SENHOR, elas também não foram exortadas quando estavam no pecado. Seus líderes espirituais não as advertiram nem as chamaram ao arrependimento. Além disso, esses líderes estavam envolvidos no derramamento de sangue inocente, provavelmente no assassinato de profetas – na linha de Jeremias – cujas mensagens eles odiavam.
O efeito, de acordo com o versículo 14, foi que esses líderes espirituais vagavam pelas ruas como cegos, e suas vestes estavam tão sujas de sangue que ninguém ousava chegar perto deles. Na verdade, o povo sentiu tanta repulsa por seus líderes que os expulsou da cidade! Não perca a trágica ironia das palavras do versículo 15: “Afastem-se! Estão contaminados! Não toquem em nós!”. Ora, isto estava sendo dito sobre os próprios sacerdotes cujo papel era dizer tais palavras ao povo: “Afaste-se! Está contaminado! Não toque nisso!” Os líderes espirituais foram rejeitados e expulsos pelo povo. Mas Deus mesmo era quem estava por trás daquilo tudo – versículo 16: “O SENHOR, em sua ira, os espalhou e deixou de ajudá-los. Ninguém mais respeita os sacerdotes nem honra os líderes.”
Há um jogo de palavras aqui que a gente não vê em português. Em hebraico, a ordem das palavras é “O rosto do SENHOR os espalhou… o rosto dos sacerdotes que eles não respeitaram…” Ou seja: o próprio rosto do SENHOR que era visto como fonte de bênção (por exemplo, Números 6.25-26: “…o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre vós…”) agora estava trazendo julgamento. E parte do julgamento era a rejeição dos sacerdotes. O rosto de julgamento de Deus mudou a maneira de o povo enxergar o rosto de seus sacerdotes deteriorados pelo pecado.
A cultura estava degradada e fora por Deus mesmo destruída. Seus líderes tinham se deteriorado e foram desacreditados pelo próprio Deus aos olhos do povo. E agora? Não havia mais nada dentro de Israel que pudesse os ajudar. Talvez houvesse outra nação que pudesse socorrer aquele povo ameaçado pelos babilônios. Ou não?
Parte do padrão de pecar de Israel no passado era sua rápida procura por aliança com outras nações que eles julgavam ser capazes de os ajudar, socorrendo-os de seus problemas com outras nações ainda mais poderosas. Desse modo, eles dependiam mais de nações vizinhas para salvá-los do que do próprio Deus. Vez após vez o povo de Deus foi advertido a não colocar sua confiança nessas nações, mas a confiar no Senhor. Mas eles não mudavam o padrão.
Durante o cerco de Jerusalém, o povo esperava que o Egito viesse em sua defesa e acabasse com a ameaça e a opressão babilônica. A certa altura, o exército egípcio chegou perto o bastante de afastar as forças babilônicas (Jr 37.5-8), mas qualquer esperança de ser resgatado pelo Egito foi rapidamente frustrada. Não havia mais ninguém para ajudá-los. O exército babilônico não podia ser detido. Deus os mandava se render, aceitando a disciplina do SENHOR através da Babilônia, mas eles se recusavam. Os versículos 18-19 descrevem o terror, o medo e o desespero que o povo sentiu durante o cerco e a destruição subsequente. Observe frases como “nossos passos eram vigiados” e “nossos dias estavam contados” (v. 18). Falharam em tudo o que tentaram (v. 19).
Lamentações 4.18-19 18Não podíamos sair às ruas, pois nossos passos eram vigiados. Nosso fim se aproximava, nossos dias estavam contados; estávamos condenados! 19Nossos inimigos eram mais rápidos que as águias no céu; fugimos para as montanhas, mas eles nos perseguiram. No deserto nos escondemos, mas eles estavam ali, esperando por nós.
Até o rei foi capturado. O versículo 20 é uma referência ao rei Zedequias de Judá que tentou escapar, mas foi capturado. Zedequias era o rei em quem o povo havia depositado toda sua esperança, mas fracassara como líder; ouça:
Lamentações 4.20 Nosso rei, o ungido do SENHOR, a vida de nossa nação, foi capturado nos laços deles. E nós pensávamos que sua sombra nos protegeria de qualquer nação da terra!
“E nós pensávamos que sua sombra nos protegeria de qualquer nação da terra!” Essa declaração revela o quanto aquela gente era propensa a confiar mais em homens e governos do que em Deus. Não foi por pouca coisa, portanto, que foram devastados.
E então chegamos a Edom. O versículo 21 registra uma declaração bastante estranha à respeito dessa nação ao sudeste de Jerusalém:
Lamentações 4.21 Ó povo de Edom, você se alegra e exulta na terra de Uz? Mas você também beberá do cálice da ira do SENHOR; também ficará embriagado e será despido.
Os edomitas eram descendentes de Esaú, e existia uma história de séculos de tensão entre as duas nações. Como sempre, Edom recusou-se a dar qualquer ajuda a Judá durante o cerco e a invasão babilônica e depois se regozijou com a destruição de Jerusalém. Um lamento e um salmo imprecatório escrito durante o cativeiro babilônico inclui uma referência a Edom – preste atenção ao versículo 7:
Salmos 137 1Junto aos rios da Babilônia, sentamos e choramos, ao nos lembrarmos de Sião. 2Pusemos de lado nossas harpas e as penduramos nos galhos dos salgueiros. 3Os que nos levaram cativos queriam que cantássemos; nossos opressores exigiam uma canção alegre: “Cantem para nós uma das canções de Sião!”. 4Mas como poderíamos cantar as canções do SENHOR estando em terra estrangeira? 5Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, que minha mão direita perca sua habilidade. 6Que minha língua se prenda ao céu da boca se eu não me lembrar de ti, se não fizer de Jerusalém minha maior alegria. 7Ó SENHOR, lembra-te do que os edomitas fizeram no dia em que Jerusalém foi conquistada. Disseram: “Destruam-na! Arrasem-na até o chão!”. 8Ó Babilônia, você será destruída; feliz é aquele que lhe retribuir por tudo que fez contra nós. 9Feliz aquele que pegar suas crianças e as esmagar contra a rocha.
A satisfação exultante de Edom foi ultrajante para Israel, e um apelo foi feito a Deus para o dia final do julgamento. Lamentações 4.21-22 usam frases bastante fortes para descrever o que Israel ansiava – julgamento, vergonha, punição, exposição; ouça:
Lamentações 4.21-22 21Ó povo de Edom, você se alegra e exulta na terra de Uz? Mas você também beberá do cálice da ira do SENHOR; também ficará embriagado e será despido. 22Ó bela Sião, o castigo de sua maldade chegará ao fim; logo voltará do exílio. Mas para você, Edom, o castigo está só começando; logo seus muitos pecados serão expostos.
Edom estava sendo avisada de que seu julgamento estava por vir. Ela não escaparia de sua cumplicidade exultante com a Babilônia. Edom, assim como a Babilônia, não seria poupada por Deus.
Enquanto isso, o povo de Deus estava sendo ridicularizado por seus vizinhos e não fora ajudado por nenhuma outra nação – Egito, Edom, ninguém. Nem mesmo seu próprio rei, Zedequias, foi capaz de socorrer Israel. Deus cercou Israel em sua pecaminosidade e removeu qualquer esperança de libertação por parte de governante ou de alguma nação vizinha. Em outras palavras, não havia ajuda terrena para eles. A nação estava sem ajuda, tanto interna quanto externamente.
Você consegue enxergar como o povo de Deus está quebrado no capítulo quatro de Lamentações? A nação inteira se tornou em pedaços – cultura, liderança, governo e nações se despedaçaram diante de seus olhos, e não havia solução aparente. Deus chutou cada muleta em que eles se firmavam. Ele os deixou com apenas uma esperança: Deus.
Há apenas 15 palavras de esperança em todo o capítulo quatro! Mas pelo menos elas estão aqui. Vamos lê-las – Lamentações 4.22a: “Ó bela Sião, o castigo de sua maldade chegará ao fim; logo voltará do exílio.”
A única esperança ou misericórdia oferecida em Lamentações 4 é simplesmente de que Deus é quem está por trás de seu julgamento e que seu futuro, como nação, está nas mãos de Deus. A NVI traduz este versículo deste modo:
Lamentações 4.22 “Ó cidade de Sião, o seu castigo terminará; o SENHOR não prolongará o seu exílio. Mas você, ó terra de Edom, ele punirá o seu pecado e porá à mostra a sua perversidade.
Deus os quebrou de tal modo que a única esperança que lhes restou foi a de que Deus acabaria com seu castigo e que seu exílio não seria prolongado. Em outras palavras, a nação estava à mercê de Deus. E esse não é um lugar ruim para se estar, mesmo quando a vida é difícil, decepcionante ou dolorosa.
Deus prometeu que traria seu povo de volta à terra prometida. Eles não permaneceriam no exílio para sempre. Deus cumpriria sua promessa de aliança com eles e, daquele jeito quebrados e quebrantados, a fidelidade de Deus era tudo com que poderiam contar.
NÃO SEI ONDE DEUS TE TEM NESTE MOMENTO. Talvez você possa se identificar com a imagem que vimos aqui do povo de Deus sendo totalmente quebrado pelas mãos do próprio Deus – para daí se quebrantarem e acharem os braços da misericórdia de Deus. Talvez você possa olhar para a sua própria história e ver as maneiras pelas quais Deus chutou as muletas de sua vida. Tenho certeza de que há pessoas aqui que se enquadram com aquelas que sentem terem sido “esquecidas” por Deus. Talvez você tenha pensamentos como estes rondando sua cabeça e ferindo seu coração:
Qual é a sua dor?
De que modo você se sente quebrado(a) por Deus?
Minha oração é que você veja essas situações de maneira diferente à partir de hoje. Minha esperança é que você veja que se alguma coisa quebrou você, deixando sua vida em pedaços, tudo isso tem um propósito curativo e redentivo: você se quebrantar diante de Deus e achar a misericórdia de Deus.
Embora seja doloroso e difícil, quando Deus nos quebra ele assim procede tendo em vista um bom e belo propósito para a sua vida. O sofrimento de Jó, por exemplo, o levou a ver Deus de forma diferente:
Jó 42.5-6 5Antes, eu só te conhecia de ouvir falar; agora, eu te vi com meus próprios olhos. 6Retiro tudo que disse e me sento arrependido no pó e nas cinzas”.
O sofrimento de Jerusalém serviu para fazê-la esperar e confiar somente em Deus – e manter seus olhos na graça futura do SENHOR, Lamentações 4.22 (NVI): “Ó cidade de Sião, o seu castigo terminará; o SENHOR não prolongará o seu exílio.
FRATURAS QUE TE LEVAM AO QUEBRANTAMENTO, sofrimentos que te fazem ver Deus – conhecer Deus de verdade – nunca, jamais serão demais ou desperdício. A dor que o leva a confiar somente em Deus não é inútil, mas necessária. O segredo, no entanto, é se você consegue abraçar a dor ou o sofrimento que Deus traz quando chuta suas muletas com o propósito de te entregar algo melhor: o próprio Deus.
Deus quebrou Israel porque sua confiança não estava nele. O SENHOR não podia permitir que a nação continuasse no caminho da rebelião contra ele. Deus amava demais seu povo para permitir que ele seguisse seu próprio caminho, e no final fossem eternamente destruído. Veja, esse tipo de perspectiva sobre perdas, danos e dores muda tudo.
Na verdade, essa maneira de enxergar o sofrimento torna você agradecido por Deus ter chutado suas muletas para que você pudesse cair em seus braços e confiar somente nele. Deus te quebra para te quebrantar e o seu quebrantamento te leva à misericórdia; o quebrantamento leva você a Deus. E para o crente, esse é o maior tesouro de todos. Para isso foi que cristo viveu, morreu e ressuscitou: levar-nos a Deus.
1Pedro 3.18 Pois Cristo também sofreu por nossos pecados, de uma vez por todas. Embora nunca tenha pecado, morreu pelos pecadores a fim de conduzi-los a Deus.
O melhor reality show, o melhor programa da realidade que você poderá assistir é o da sua própria vida. Não fuja da realidade, da sua realidade. É na sua realidade (não noutra, não na de outras pessoas) que você encontrará Deus, por meio da vida e da obra de Cristo. Portanto, não queira a realidade que Deus não tem para você.
VIVER UMA REALIDADE PARALELA DESTRUIRÁ VOCÊ, separará você eternamente da glória de Deus. Israel não conseguia, não queria encarar e viver a realidade – isto é, render-se aos babilônios como forma de quebrantamento e o único caminho de volta para os braços de Deus. Eles viviam uma realidade paralela. A realidade de uma vida sem a Babilônia, sem o sofrimento, a dor e a humilhação. Deus, entretanto, tinha um caminho, uma realidade melhor – quebrá-los através dos babilônios para tê-los quebrantados em seus próprios braços e assim moldá-los à imagem de seu Filho Jesus Cristo.
Não resista. Não fuja da realidade. Encare a realidade. Reconheça seus pecados. Confesse-os a Deus. Abrace Jesus Cristo como o sacrifício pelo seu pecado diante de Deus. Faça das palavras de Paulo sua oração:
Filipenses 3.10-11 10Quero conhecer a Cristo e experimentar o grande poder que o ressuscitou. Quero sofrer com ele, participando de sua morte, 11 para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dos mortos!
Aceite sua Babilônia. Deixe Deus quebrar você e quebrante-se. Só assim, e por meio de Cristo, você chegará aos braços de Deus e será verdadeiramente feliz. Há uma citação de C. S. Lewis, no livro O problema da dor, que cabe muito bem aqui (p. 54):
A dificuldade em conciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus que ama só é insolúvel enquanto atribuirmos um significado trivial à palavra “amor” e considerarmos as coisas como se o homem fosse o centro delas. O homem não é o centro. Deus não existe por causa do homem. O homem não existe por si mesmo. “Tu, Senhor e Deus nosso […] criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas.” Fomos feitos, não primariamente para amar a Deus (embora tenhamos sido feitos para isso também), mas para que Deus nos ame, para que sejamos objetos nos quais o amor divino possa descansar “bastante satisfeito”. Pedir que o amor de Deus esteja contente conosco como somos é pedir que Deus deixe de ser Deus: porque ele é o que é, seu amor deve, pela natureza das coisas, ser impedido e repelido por certas manchas em nosso caráter presente, e porque ele já nos ama, deve trabalhar [por meio do sofrimento ou da dor] para nos tornar amáveis. Não podemos nem mesmo desejar, em nossos melhores momentos, que Deus possa se reconciliar com nossas impurezas presentes — [da mesma forma que] um cão, uma vez tendo aprendido a amar o homem, poderia desejar que o homem fosse capaz de tolerar em sua casa a criatura mordedora, verminosa e contaminante da matilha selvagem. O que chamaríamos nesse momento de “felicidade” não é o fim que Deus tem principalmente em vista; mas, quando formos como ele, a ponto de amar sem impedimentos, seremos de fato felizes.
A Babilônia, a dor, o sofrimento é o meio de Deus nos tornar mais amáveis [para ele] e felizes [nele] – uma vez que corremos para seus braços e deixamos ele fazer em nós sua obra: formar Cristo em nós.
S.D.G. L.B.Peixoto
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