12.10.2025
Hebreus 4.1-11 (NVT)
1Assim, uma vez que permanece a promessa de que entraremos no descanso de Deus, devemos ter cuidado [ou: devemos temer] para que nenhum de vocês pense que falhou. 2Porque essas boas-novas também nos foram anunciadas, como a eles, mas a mensagem de nada lhes valeu, pois não a receberam com fé e não se uniram àqueles que ouviram. 3Pois nós, os que cremos, entramos em seu descanso. Quanto aos demais, Deus disse:
“Assim, jurei em minha ira:
‘Jamais entrarão em meu descanso’”,
embora suas obras estejam prontas desde a criação do mundo. 4Sabemos que estão prontas por causa da passagem que menciona o sétimo dia: “No sétimo dia, Deus descansou de todo o seu trabalho”. 5Mas, em outra passagem, Deus diz: “Jamais entrarão em meu descanso”.
6Portanto, o descanso está disponível para que alguns entrem nele, mas os primeiros que ouviram essas boas-novas não entraram por causa de sua desobediência. 7Por isso Deus estabeleceu outra ocasião para que entrem em seu descanso, e essa ocasião é “hoje”. Ele anunciou isso por meio de Davi muito tempo depois, nas palavras já citadas:
“Hoje, se ouvirem sua voz,
não endureçam o coração”.
8Se Josué lhes tivesse dado descanso, Deus não teria falado de outro dia de descanso por vir. 9Logo, ainda há um descanso definitivo à espera do povo de Deus. 10Porque todos que entraram no descanso de Deus descansam de seu trabalho, como Deus o fez após a criação do mundo. 11Portanto, esforcemo-nos para entrar nesse descanso. Mas, se desobedecermos, como no exemplo citado, cairemos.
Quando pensamos em descanso, logo imaginamos cenários agradáveis: viagens, cochilos, lugares tranquilos. Isso tudo é muito bom, e necessário, mas… Se a alma não estiver em paz, nada disso basta. É possível sair de férias sem repousar. Porque o verdadeiro descanso não é apenas geográfico — é espiritual.
E a boa notícia é que esse descanso está disponível. Já foi pago. Está ao alcance da fé — da sua fé em Jesus Cristo. Como traz o estribilho de um antigo hino batista:
Vem já! Vem já! Alma cansada, vem já!
Manso e suave Jesus convidando,
Chama: ó pecador, vem!
E ainda outro nos lembra:
Oh! Que paz perdemos sempre,
Oh! Que dor no coração,
Só porque nós não levamos
Tudo a Deus em oração!
Tudo isso — e muito mais — nós podemos cantar, e melhor: podemos experimentar. Porque, conforme lemos em Hebreus 4.1-11, Deus providenciou um descanso espiritual verdadeiro para o seu povo — um descanso que pode ser desfrutado todos os dias.
O problema é que, ao que tudo indica, poucas almas cansadas entram nesse descanso. Mas ele continua disponível. E está ao alcance da fé — da sua fé.
O capítulo 3 de Hebreus termina com uma advertência solene: foi a incredulidade que impediu Israel de entrar no descanso prometido. Como afirma Hebreus 3.19: “não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.”
Na última mensagem desta série, no dia 3 de agosto, vimos que essa verdade nos chama a uma prática indispensável: exortar uns aos outros diariamente, com amor e verdade, para que a incredulidade não encontre espaço em nossos corações. Hebreus 3.12-13 nos convoca a cuidar uns dos outros, para que ninguém seja enganado pelo pecado e tenha o coração endurecido.
Portanto, jamais se esqueça: a incredulidade é um inimigo constante. E não podemos enfrentá-la sozinhos. Perseverar na fé é um chamado comunitário — um projeto de Deus para seu povo caminhar junto. A nossa espiritualidade não é individual. É congregacional.
Quando compreendemos isso, nossos cultos e nossos pequenos grupos deixam de ser apenas encontros inspirativos e sociais, e passam a ser espaços de fortalecimento espiritual. Nossos relacionamentos se tornam meios concretos de graça, sustento e fé viva.
Porque, no fim das contas, nossa entrada no descanso de Deus depende da nossa fé — e nossa fé cresce quando caminhamos juntos, centrados no evangelho de Cristo.
Em Hebreus 4, o autor retoma a advertência anterior com uma nova conclusão. O versículo 1 começa com um “Assim…” — sinal de que ele está conectando seu argumento à afirmação final de Hebreus 3.19: “não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.” E então lemos, na sequência do texto, em Hebreus 4.1: “Assim, uma vez que permanece a promessa de que entraremos no descanso de Deus, devemos ter cuidado para que nenhum de vocês pense que falhou.”
Mas aqui precisamos ser cuidadosos. As traduções NVT e NAA suavizam indevidamente o peso do verbo grego phobēthōmen, traduzindo como “ter cuidado” e “tenhamos cuidado”, respectivamente. Entretanto, a tradução mais precisa, como vemos na ARA, é: “temamos”. O verbo phobeō — de onde vem a palavra “fobia” — transmite claramente a ideia de temor, reverência, alarme. O autor está enfaticamente dizendo: Temam!
Temam o quê?
Temam que alguém entre nós chegue a pensar que a promessa do descanso de Deus falhou. Temam a possibilidade de considerar o céu inacessível. Temam até mesmo parecer ter perdido esse descanso — porque, se continuarmos num caminho de incredulidade e negligência, de fato o perderemos.
O texto é claro e solene: trata-se de uma exortação à vigilância espiritual, motivada por um temor santo diante da possibilidade real de exclusão do descanso eterno. Aliás, o autor já vinha construindo esse tipo de advertência ao longo de Hebreus 3, preparando o terreno para a exortação em Hebreus 4.1. Observe o fluxo do argumento:
Hebreus 3.6: “Nós somos a casa de Deus, se nos mantivermos corajosos e firmes em nossa esperança gloriosa.”; Hebreus 3.14: “Porque temos nos tornado participantes de Cristo, se de fato mantivermos firme até o fim a confiança que nele depositamos no início.”; Hebreus 3.19: “Vemos, portanto, que não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.”; Hebreus 4.1: “Assim, uma vez que permanece a promessa de que entraremos no descanso de Deus, temamos que algum de vocês pense que falhou.”
Portanto, é exatamente isso que devemos temer: ficar aquém do descanso de Deus.
Mas… o que é, exatamente, que devemos temer?
O que pode, de fato, nos impedir de entrar nesse descanso — e de desfrutá-lo?
A conexão com Hebreus 3.19 certamente nos mostra que aquilo que devemos temer é a incredulidade. Leia, Hebreus 3.19: “Não puderam entrar no descanso [de Deus] por causa da incredulidade.” Portanto, tema essa incredulidade, porque é ela que impedirá você de entrar no descanso de Deus — o refúgio da salvação; o céu de Deus.
Tema a incredulidade. Tema não confiar em Deus.
É esse o temor que Hebreus 4.1 nos chama a cultivar. E você pode ver isso claramente se continuarmos a leitura a partir do versículo 2.
Observe: Hebreus 4.2 começa com a conjunção “Porque”. Isso indica que o autor está apresentando uma razão para o que acabou de afirmar no versículo anterior — uma justificativa para o chamado ao temor.
“Temam”, ele diz no versículo 1. E, no versículo 2, ele explica por quê: “Porque essas boas-novas também nos foram anunciadas, como a eles, mas a mensagem de nada lhes valeu, pois não a receberam com fé e não se uniram àqueles que ouviram.”
Em outras palavras: ouvir o evangelho não basta. A palavra anunciada só produz fruto onde encontra fé viva. O povo de Israel ouviu as boas-novas, mas não creu. Ouviram a promessa, mas não confiaram em Deus. E por isso não entraram no descanso.
Essa é a razão do nosso temor: a incredulidade é capaz de anular o benefício da promessa — não porque a promessa falhe em si mesma, mas porque o coração não crê.
O autor de Hebreus está comparando a situação de Israel no deserto com a dos crentes do seu tempo — e, por extensão, com a nossa também. Eles ouviram “essas boas-novas” (Hb 4.2). E nós também ouvimos as mesmas boas-novas.
Mas que boas-novas foram essas, anunciadas a eles?
Entre muitas outras, destaca-se a palavra de Deus dada a Israel no Monte Sinai, onde o Senhor lhes prometeu perdão para os pecados:
Êxodo 34.6-7 (NVT)
6O SENHOR passou diante de Moisés, proclamando: “Javé! O SENHOR! O Deus de compaixão e misericórdia! Sou lento para me irar e cheio de amor e fidelidade. 7Cubro de amor mil gerações e perdoo o mal, a rebeldia e o pecado. […]
Portanto, já se vê, — note bem!— desde os primeiros livros do Antigo Testamento, que amor, misericórdia e perdão — inclusive para todo tipo de iniquidade, transgressão e pecado — sempre estiveram disponíveis a Israel.
Isso é graça. Isso é boa-nova. Sim! Graça já no Antigo Testamento.
Mas há mais.
As boas-novas incluíam também a promessa de que Deus os conduziria à terra que mana leite e mel — e de que estaria com eles, se confiassem nele e não se rebelassem:
Números 14.8-9 (NVT)
8E, se o SENHOR se agradar de nós, ele nos levará em segurança até ela e a dará a nós. É uma terra que produz leite e mel com fartura. 9Não se rebelem contra o SENHOR e não tenham medo dos povos da terra. Diante de nós, eles estão indefesos! Não têm quem os proteja, mas o SENHOR está conosco! Não tenham medo deles!”.
Portanto, o autor de Hebreus afirma que os israelitas ouviram o evangelho (Hb 4.2,6), assim como os seus leitores (Hb 4.3).
Claro! Não se trata aqui do evangelho em sua plenitude revelada — com o fundamento claro na morte e ressurreição de Cristo, como os leitores do Novo Testamento já haviam recebido —, mas sim das boas-novas da misericórdia divina: que Deus perdoa pecados, que é gracioso e fiel, e que promete descanso e alegria àqueles que nele confiam.
Havia, portanto, uma grande semelhança entre a situação de Israel no deserto e a dos leitores desta carta. Ambos ouviram boas-novas. Mas, no caso de Israel, essas boas-novas não foram cridas. E, por isso, não entraram no descanso de Deus — não experimentaram a alegria prometida. Assim, os destinatários da carta deveriam temer que o mesmo acontecesse com eles.
Hebreus 4.1-2 (NVT)
1Assim, uma vez que permanece a promessa de que entraremos no descanso de Deus, devemos ter cuidado [ou: devemos temer] para que nenhum de vocês pense que falhou. 2Porque essas boas-novas [i.e.; as boas-novas do perdão e do alegre descanso prometido] também nos foram anunciadas, como a eles, mas a mensagem de nada lhes valeu, pois não a receberam com fé e não se uniram àqueles que ouviram.
Em outras palavras: eles não creram. Duvidaram de Deus. Desconfiaram do seu caráter. Não creram na promessa de que ele lhes daria um futuro melhor do que o que haviam deixado no Egito. E, por isso, desistiram de Deus — e desejaram voltar à vida antiga.
E qual foi o resultado dessa incredulidade? O versículo 2 diz que a promessa “de nada lhes valeu”. Não teve proveito algum para eles. Não os salvou. Como lemos em Hebreus 3.19, eles não entraram no descanso de Deus. Caíram no deserto. Deus jurou, em sua ira, que jamais entrariam em seu descanso — uma figura solene de não chegar ao céu.
Portanto, o ponto de Hebreus 4.2 é exatamente o mesmo de Hebreus 3.19: uma razão clara pela qual devemos temer a incredulidade. “Não puderam entrar por causa da incredulidade” (Hb 3.19). “Temamos […] porque […] as boas-novas de perdão e a promessa de descanso de nada lhes valeu” (Hb 4.1-2).
Ou seja: temamos a incredulidade, porque quando as boas-novas para Israel não foram acompanhadas de fé, não lhes trouxeram proveito algum, e eles pereceram no deserto.
O ponto principal é este: tema que isso aconteça com você. Tema ouvir as promessas de Deus — e não confiar nelas. Tema ouvir o evangelho de Jesus Cristo e desprezá-lo. Porque, se isso acontecer, o resultado será o mesmo: você não entrará no descanso de Deus — não descansará no céu de Deus — se não confiar em suas promessas.
A promessa da Escritura é clara: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10.13). Invocar a Jesus em fé resulta em receber dele o perdão dos pecados (At 22.16) e a dádiva da vida eterna (Jo 3.16). Resulta em deixar para trás a culpa que nos separa de Deus e nos oprime, e encontrar em Cristo o descanso que a alma tanto anseia, não apenas para hoje, mas para toda a eternidade.
Esse é o ponto principal, a grande ideia de Hebreus 4.1-11: temer a incredulidade. De fato, no último versículo do parágrafo, o autor diz a mesma coisa, só que em outras palavras. Hebreus 4.11 (NVT): “Portanto, esforcemo-nos para entrar nesse descanso. Mas, se desobedecermos, como no exemplo citado, cairemos.”
Em outras palavras, Israel caiu da alegria prometida de Deus por causa da desobediência da incredulidade. E a mesma coisa pode acontecer com qualquer cristão professo. Para evitar que isso aconteça — e para mostrar que somos mais do que meros cristãos nominais — ele diz: “esforcemo-nos para entrar nesse descanso” — o céu de Deus.
Sejam diligentes! Prestem muita atenção às verdades que ouviram (Hb 2.1); não negligenciem tão grande salvação (Hb 2.3); considerem atentamente a Jesus (Hb 3.1); não endureçam o coração (Hb 3.8); cuidem para não ter um coração perverso e incrédulo (Hb 3.12); exortem-se uns aos outros todos os dias contra o engano do pecado (Hb 3.13); e temam a incredulidade que os impedirá de entrar no descanso prometido (Hb 4.1).
Você percebe a grande lição aqui?
A vida cristã é uma vida de fé — dia após dia, hora após hora, momento a momento — fé nas promessas de Deus: promessas de nos ajudar, guiar, cuidar, perdoar e conduzir a um futuro de santidade e alegria que satisfará infinitamente mais os nossos corações do que se o abandonássemos e colocássemos nossa confiança em nós mesmos ou nas promessas vazias deste mundo.
E essa confiança diária e constante nas promessas de Deus não é automática. Ela é fruto de diligência diária — e do temor apropriado que nos preserva fiéis até o fim.
Agora, reflita comigo sobre esse temor por um momento. Você pode estar se perguntando: “Quer dizer, então, que a vida cristã ideal é vivida em constante temor de se perder?”
Tenha cuidado aqui — não faça essa pergunta a mim como se estivesse duvidando da minha palavra. É Hebreus 4.1, escrito a “irmãos santos” (Hb 3.1), que ordena: “Temamos, portanto” (ARA).
E Hebreus 4.1 não é único no Novo Testamento.
Jesus disse em Lucas 12.5, usando a mesma palavra empregada em Hebreus 4.1: “Temam a Deus, que tem o poder de matar e lançar no inferno. Sim, a esse vocês devem temer.” Paulo escreveu em Filipenses 2.12: “Trabalhem com afinco a sua salvação, obedecendo a Deus com temor e temor. E também em Romanos 11.20: “É verdade, mas lembrem-se de que esses ramos foram cortados porque não creram e que vocês estão ali porque creem. Portanto, não se orgulhem, mas temam o que poderia acontecer.”
Portanto, tenha cuidado ao questionar essa verdade. É a palavra de Deus — não a minha — que diz que o cristão deve temer.
Assim, com humildade e reverência, perguntamos:
Devemos viver nossas vidas com medo de perder o céu?
Não é bem assim. Jamais se esqueça de Hebreus 2.14-15 (NVT):
14Visto, portanto, que os filhos são seres humanos, feitos de carne e sangue, o Filho também se tornou carne e sangue, pois somente assim ele poderia morrer e, somente ao morrer, destruiria o diabo, que tinha o poder da morte. 15Só dessa maneira ele libertaria aqueles que durante toda a vida estiveram escravizados pelo medo da morte.
Alto e claro, não é?
Cristo morreu para nos libertar do temor — do medo que escraviza.
Cristo, portanto, deseja um povo destemido: um povo que viva sem medo diante de qualquer diagnóstico ou prognóstico; que habite com coragem nos lugares mais hostis à fé cristã; que vá com ousadia até os povos não alcançados, por trás de portas fechadas para o evangelho; que fale de Cristo aos vizinhos sem medo.
Como?
Pela fé em suas promessas.
A fé nas promessas de Deus nos torna destemidos diante das ameaças dos homens (Hb 10.34). Esse é o tipo de povo que a fé em Cristo forma: um povo destemido, firme diante da dor, da perda e até da morte. Um povo que vive em meio aos amores e às ameaças do mundo com o coração ancorado na certeza de que nada pode separá-lo do amor de Deus — em Cristo (Rm 8.35-39).
Portanto, há apenas uma coisa a temer: a incredulidade nas promessas de Deus. Porque quando confiamos nelas, nenhuma força do coração, da terra ou do inferno é capaz de nos abalar.
Quando confia nas promessas de Deus, você consegue viver absolutamente destemido diante de qualquer coisa — até da morte, até do próprio Deus: “Assim, aproximemo-nos com toda confiança do trono da graça, onde receberemos misericórdia e encontraremos graça para nos ajudar quando for preciso.” (Hb 4.16, NVT).
Quando você lê: “Tema!” (Hb 4.1), não pense que é para fazer você viver o tempo todo com um sentimento ruim. Amedrontado! Nada disso. Esse sentimento só deverá surgir quando aparecer as tentações de desconfiar das promessas de Deus. E, mesmo então, esse temor servirá apenas para empurrá-lo de volta ao lugar seguro das promessas do Senhor.
Assim, a vida cristã normal está ciente do perigo assustador da incredulidade, mas não vive paralisada por ele. Vive pela fé.
O temor só se levanta quando a fé começa a enfraquecer — e, mesmo então, só permanece o tempo suficiente para conduzi-lo de volta à paz confiante da fé nas promessas de Deus, reveladas nas Escrituras e, pelo sangue de Cristo, compradas para os crentes.
Agora, há mais um ponto que precisamos observar em Hebreus 4. Nós nos detivemos nos versículos 1, 2 e 11, mas os versículos 3 a 10 foram escritos para reforçar o ponto principal que já estudamos nos outros três versículos (vs. 1, 2 e 11), a saber: seja diligente para entrar no descanso de Deus e tema não entrar nele por causa da incredulidade; mantenha viva a sua fé e combata a incredulidade.
Pois bem, a forma como os versículos 3 a 10 sustentam esse ponto é demonstrando, a partir da história do povo de Israel, no Antigo Testamento, que existe um descanso a ser alcançado — isto é: que Deus tem um plano para que o seu povo participe com ele do maravilhoso descanso celestial, onde todo cansaço e todo fardo — no corpo, na mente, na alma — serão removidos.
Jesus disse:
Mateus 11.28-30 (NVT)
28“Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. 29Tomem sobre vocês o meu jugo. Deixem que eu lhes ensine, pois sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para a alma. 30Meu jugo é fácil de carregar, e o fardo que lhes dou é leve”.
Hebreus 4.3-10 demonstra que a promessa do descanso de Deus está profundamente enraizada no Antigo Testamento. Trata-se de uma realidade antiga, contínua e ainda acessível — mas somente pela fé. O texto é denso, cheio de referências interligadas. Por isso, convido você a acompanhar um breve esboço, onde veremos como o autor de Hebreus constrói seu argumento. Ele nos conduz por cinco momentos da história bíblica para mostrar que, ao longo dos tempos, Deus jamais fechou a porta do seu descanso — mas sempre a manteve aberta para aquele que crê.
1. O descanso na criação
Hebreus 4.3-4 (NVT) 3Pois nós, os que cremos, entramos em seu descanso. Quanto aos demais, Deus disse: “Assim, jurei em minha ira: Jamais entrarão em meu descanso’”, embora suas obras estejam prontas desde a criação do mundo. 4Sabemos que estão prontas por causa da passagem que menciona o sétimo dia: “No sétimo dia, Deus descansou de todo o seu trabalho”.
Deus descansou após completar sua obra. Esse descanso não foi por cansaço, mas por satisfação — o repouso perfeito do Criador. É esse mesmo descanso que o Senhor Deus Altíssimo oferece a todos que creem: um estado de satisfação, plenitude, comunhão e paz em sua presença.
2. A incredulidade no deserto
Segundo, o autor de Hebreus se volta ao período em que Israel andava errante no deserto, rebelando-se contra Deus:
Hebreus 4.5-7 (NVT) 5Mas, em outra passagem, Deus diz: “Jamais entrarão em meu descanso”. 6Portanto, o descanso está disponível para que alguns entrem nele, mas os primeiros que ouviram essas boas-novas não entraram por causa de sua desobediência. 7Por isso Deus estabeleceu outra ocasião para que entrem em seu descanso, e essa ocasião é “hoje”. Ele anunciou isso por meio de Davi muito tempo depois, nas palavras já citadas: “Hoje, se ouvirem sua voz, não endureçam o coração”.
Note: Hebreus 4.5, citando o Salmo 95.11, afirma: “Jamais entrarão em meu descanso.” A terra prometida era uma figura — um símbolo, uma sombra do descanso final de Deus. Mas, por causa da incredulidade, aquela geração foi excluída.
Isso levanta uma questão importante: ainda há descanso disponível para o povo de Deus? A resposta vem em Hebreus 4.6: “O descanso está disponível para que alguns entrem nele, mas os primeiros que ouviram essas boas-novas não entraram por causa da desobediência.” Ou seja: o descanso de Deus permanece acessível — não na terra, mas em Cristo. O repouso definitivo, o “descanso sabático” (Hb 4.9), está aberto à fé.
E Hebreus 4.7 reforça esse ponto: “Deus estabeleceu outra ocasião… e essa ocasião é hoje.” Citando o Salmo 95 novamente, o autor clama: “Hoje, se ouvirem sua voz, não endureçam o coração.” A promessa permanece. O convite está de pé. E o tempo é hoje, agora.
3. A entrada em Canaã sob Josué
Terceiro, em Hebreus 4.8, o autor se volta ao tempo de Josué, que conduziu Israel à terra prometida. De fato, conforme Josué 22.4 declara, o Senhor havia concedido descanso ao povo. Mas… seria esse o descanso final prometido por Deus?
Hebreus 4.8 responde com clareza: “Se Josué lhes tivesse dado descanso, Deus não teria falado de outro dia.” Ou seja, embora Josué tenha introduzido o povo em Canaã, aquele descanso era parcial, provisório — não o descanso definitivo de Deus.
Como sabemos disso? Porque, séculos depois, conforme já lemos em Hebreus 4.7, Deus ainda falava, por meio de Davi no Salmo 95, de “outra ocasião”, mostrando que o verdadeiro descanso ainda estava por vir — e continua disponível, hoje.
Canaã foi apenas uma sombra, uma antecipação do descanso eterno que se encontra definitiva e eternamente em Cristo (Hb 4.9-10).
4. O chamado renovado em Salmos
Quarto, séculos após Josué, Davi ainda exortava o povo, dizendo: “Hoje, se ouvirem sua voz, não endureçam o coração” (Hb 4.7 / Sl 95.7-8). Essa afirmação reforça o que já dissemos: que o descanso de Deus não se limitava à conquista de Canaã, nem ao tempo de Josué, nem ao de Davi. Seria quando, afinal? Seria em Cristo, o descanso definitivo.
5. O descanso definitivo em Cristo
O autor conclui: resta ainda um descanso sabático ou definitivo para o povo de Deus. Esse descanso é encontrado na obra consumada de Cristo, onde o crente descansa das suas próprias obras, assim como Deus — com enorme satisfação — descansou das suas.
Hebreus 4.9-10 (NVT) 9Logo, ainda há um descanso definitivo à espera do povo de Deus. 10Porque todos que entraram no descanso de Deus descansam de seu trabalho, como Deus o fez após a criação do mundo.
Aplicações essenciais
Esses cinco momentos — Criação (vs. 3-4), Deserto (vs. 5-7), Canaã (v. 8), Davi (v. 7) e Cristo (vs. 9-10) — revelam a progressão da promessa do descanso de Deus e sua consumação no evangelho de Jesus Cristo.
A partir deles, extraímos quatro aplicações essenciais:
1. Fomos criados para o descanso de Deus.
Deus nos formou para desfrutar de comunhão com ele — paz, plenitude e alegria em sua presença. Mas a incredulidade nos lançou para longe desse estado glorioso. O Éden foi perdido por rebelião. A alma humana vive inquieta por causa do pecado.
2. Cristo é o caminho de volta ao repouso.
Deus, em sua graça, preparou o caminho de retorno ao descanso — e esse caminho é Jesus Cristo. Em sua vida, morte e ressurreição, o caminho para o verdadeiro repouso foi reaberto. Nele, encontramos descanso para nossas almas cansadas e sobrecarregadas (Mt 11.28-29).
3. Cristo é a realidade, e as sombras passaram.
Comidas, bebidas, a terra e o sábado eram sombras — Cristo é a substância (Cl 2.16-17). Por isso, nossa fé não se ocupa com símbolos ou sombras do passado, não se sustenta em dietas ou dias santos, mas com a Pessoa viva de Jesus, na obra consumada de Cristo. Ele é o nosso tesouro, nossa delícia, nosso descanso, nossa satisfação e nossa justiça diante de Deus.
4. O Antigo Testamento é cheio de graça. Hebreus 4 mostra com clareza: as boas-novas do perdão e do descanso já foram anunciadas no Antigo Testamento. Israel ouviu o evangelho (Hb 4.2, 4.6), mas sem fé a mensagem não produziu fruto.
A graça de Deus já estava operando na história redentora.
Hoje, temos maiores privilégios — porque conhecemos o cumprimento dessas promessas em Cristo. Mas com isso vem maior responsabilidade: se Israel pereceu por não crer nas promessas parciais, quanto mais nós seremos cobrados, se negligenciarmos a plenitude da graça revelada em Jesus.
Assim, tema. Tema não crer! Tema a incredulidade.
Eis o resumo da mensagem de Deus para você: há um descanso aberto — hoje. A porta não está fechada. O tempo não passou. Você não perdeu sua última chamada. Hebreus 4.9 declara: “Ainda há um descanso definitivo à espera do povo de Deus.”
A porta está aberta. Deus continua chamando. E o tempo é agora.
Talvez você pense: “Sim, um descanso permanece para o povo de Deus — mas não para mim.” Mas eu lhe digo: não se exclua!
Ouça Hebreus 4.3 — a palavra final sobre quem pode entrar: “Nós, os que cremos, entramos em seu descanso.”
A entrada está diante de você: pela fé em Cristo Jesus.
Todo aquele que confia nas promessas de Deus — seladas com o sangue de Jesus — e persevera nessa fé, faz parte do povo de Deus. Tem perdão. E acha descanso.
Portanto, em nome do Senhor Deus Altíssimo, em nome do Cristo Jesus, em nome do Pai e do Filho, eu o chamo nesta manhã: Confie na promessa do descanso de Deus. Entre pela fé — somente pela fé, em Cristo somente.
O descanso está aberto — e o convite é para você. Hoje.
Esforce-se para entrar no descanso de Deus.
Senhor nosso Deus, acabamos de ouvir a tua Palavra e não queremos sair daqui como meros ouvintes esquecidos. Ajuda-nos a responder em fé ao que ouvimos, crendo de todo o coração na promessa do teu descanso.
Conduze-nos, ó Cristo, aos teus braços, pois sabemos que só em ti há descanso verdadeiro. Somente em ti encontramos alívio para a alma cansada. Por isso, entregamos a ti os nossos fardos e descansamos em teu convite gracioso: “Vinde a mim, e eu vos aliviarei.” Socorro, Senhor! Ajuda-nos, Senhor.
E, ó, Espírito Santo! Sela esta palavra em nossos corações. Que ela não seja roubada pela incredulidade, mas dê fruto de perseverança até o fim. Reconhecemos que sozinhos nada podemos, por isso te pedimos: faz nascer em nós fé viva, firme e constante, para que um dia entremos plena e definitivamente mente no descanso eterno do Senhor Deus Altíssimo.
Oramos em nome de Jesus.
Amém.
E agora:
Que o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, aperfeiçoe vocês em todo o bem, para que possam fazer a vontade dele. Que ele opere em nós o que é agradável diante dele, por meio de Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre. Amém!
(Hebreus 13.20-21)
S.D.G. L.B.Peixoto.
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Esforcem-se para entrar no descanso de Deus
Pr. Leandro B. Peixoto