29.06.2025
Hebreus 3.7-19 (NVT)
7Por isso o Espírito Santo diz:
“Hoje, se ouvirem sua voz,
8não endureçam o coração
como eles fizeram na rebelião,
quando me puseram à prova no deserto. [até aqui, por enquanto…]
Sinais e alertas nos cercam diariamente. Desde uma simples notificação avisando que a bateria do celular está acabando, até uma luz amarela intermitente pedindo que você reduza a velocidade. Some-se a isso os inúmeros avisos espalhados pelas ruas e rodovias: “Curva Acentuada à Direita”. “Pista Escorregadia”. “Reduza a Velocidade — Área Escolar”. “Trânsito de Pedestres”. “Obras à Frente”. “Pista Irregular”. “Atenção! Animais na Pista”. “Fim do Asfalto”. “Rua sem saída”. E não param por aí. Há também os sons constantes — bipes, alarmes, sirenes e buzinas — que nos mantêm em alerta diante de possíveis riscos.
Mas, em meio a tanto ruído, não é difícil ignorar os avisos mais importantes. Aqueles que foram colocados, justamente, para nos proteger do perigo — da perdição eterna.
Ao longo do caminho sinuoso traçado pela epístola aos Hebreus, surgem passagens que soam como alertas severos. Não são meras sugestões. Não são conselhos opcionais. Nem alarmes falsos. São advertências reais, urgentes, absolutamente necessárias. Alertam para perigos concretos que ameaçam a vida de fé do cristão.
E há uma palavra. Breve. Clara. Estridente. Ela ecoa em cada uma dessas exortações:
“CUIDADO!”
Em nossa jornada através de Hebreus, já nos deparamos com o primeiro sinal de advertência na carta, no capítulo 2, versículos 1: “Precisamos prestar muita atenção às verdades que temos ouvido, para não nos desviarmos delas”! O primeiro alerta, portanto, foi:
“PRESTE MUITA ATENÇÃO ÀS VERDADES DA PALAVRA DE DEUS!”
Agora, na segunda passagem de advertência desta carta, o autor nos convida a reduzir o passo e observar um segundo alerta, no capítulo 3, versículo 8:
“CUIDADO COM UM CORAÇÃO ENDURECIDO!”
São advertências que, infelizmente, muitos ignoram — mas que todos nós precisamos ouvir, vez por outra. Caso contrário, corremos o sério risco de sair desgovernados do caminho da fé, da esperança e do amor em Cristo Jesus — e capotar na perdição eterna.
Duas tragédias em vulcões na Indonésia
Duas mortes recentes em vulcões na Indonésia ganharam destaque no noticiário.
Em abril de 2024, a chinesa Huang Lihong morreu ao cair na cratera do vulcão Ijen, enquanto tentava tirar uma foto. Ignorou os alertas. Tropeçou nas próprias roupas. Caiu de uma altura de aproximadamente 75 metros dentro da cratera. As autoridades classificaram o caso como acidente, sem negligência do guia.
Já há poucos dias, a brasileira Juliana Marins morreu após cair durante uma trilha no Monte Rinjani. A família apontou falhas e lentidão nas operações de resgate.
Esses dois casos lançam luz sobre uma verdade inegável: quem ignora os avisos em áreas de risco se expõe ao perigo fatal. E quem se aventura sem que haja estruturas adequadas para resgate e socorro corre sérios riscos de não voltar.
A tragédia na caverna em Utah, nos Estados Unidos
Em novembro de 2009, John Edward Jones, estudante de medicina de 26 anos, marido e pai de uma filhinha pequena, ficou preso de cabeça para baixo em um túnel estreitíssimo na caverna Nutty Putty, enquanto explorava o local. Durante 27 horas, equipes lutaram desesperadamente para salvá-lo, mas John morreu lentamente, asfixiado, esmagado pelo próprio peso, sem poder voltar para os braços da esposa e da filha que o esperavam. A caverna foi selada para sempre, tornando-se seu túmulo. Há documentários que contam essa história aterrorizante (The Last Descent; ou: A última descida; lançado em 2016).
Atenção! Risco de morte eterna
Na vida cristã, não é diferente.
Quem ignora os alertas da palavra de Deus e vive fora da estrutura da igreja local — que é o meio de Deus para resgatar, socorrer e restaurar os que se desviam ou se ferem ao longo do caminho — corre sérios riscos de morte. Morte eterna.
Por isso, nesta mensagem, trataremos do alerta — dos sinais de advertência que não podemos ignorar: “Não endureçam o coração”. E, Deus permitindo, na próxima, buscaremos, na sabedoria de Hebreus, compreender como a igreja local serve de estrutura de apoio para a perseverança dos crentes rumo à salvação: “Advirtam uns aos outros”.
Estudando Hebreus 3.1-6, na semana passada, aprendemos que Jesus Cristo é superior a Moisés em, pelo menos, dois aspectos. Primeiro, Cristo é Deus, o Criador — foi ele quem fez a casa de Deus e quem formou Moisés (3.3-4). Segundo, Cristo é o Filho de Deus, enquanto Moisés é apenas servo (3.5-6). Por isso, Cristo é maior do que o servo que trabalha dentro da casa de Deus — é maior e mais digno de glória que Moisés. O Filho é o herdeiro da casa; ele é o dono, quem governa e quem provê. Sim, Moisés falava face a face com Deus. Mas a face de Cristo é o resplendor da própria glória de Deus.
Em outras palavras, o que encontramos em Hebreus 3.3-6 é, na verdade, uma reafirmação daquilo que foi dito em Hebreus 1.2: “E agora, nestes últimos dias, [Deus] nos falou por meio do Filho, o qual ele designou como herdeiro [cf. 3.3-4] de todas as coisas e por meio de quem criou [cf. 3.5-6] o universo.”
As mesmas duas glórias de Cristo aparecem aqui em Hebreus 3: Cristo é o Criador de todas as coisas e o Herdeiro de tudo. Isso significa que Jesus criou todas as coisas, inclusive as pessoas — das quais Moisés faz parte —, e significa também que Jesus é o herdeiro de tudo, inclusive da casa na qual Moisés serviu como simples servo.
Portanto, rejeitar Jesus, em incredulidade, é algo muito mais grave do que rejeitar Moisés. Por isso, o povo de Deus precisa ser constantemente encorajado a vencer o pecado da incredulidade e a perseverar na fé e na esperança em Cristo.
Esse é exatamente o ponto que o autor de Hebreus nos apresenta no trecho desta manhã. Tendo demonstrado que Jesus é infinitamente mais glorioso do que Moisés (3.1-6), ele agora nos mostra que endurecer o coração, sob o senhorio de Cristo, é ainda mais grave do que foi sob Moisés (3.7-19).
Para isso, Hebreus traz à memória um trágico exemplo do passado. Israel, no deserto, tornou-se um triste retrato da perda do descanso prometido que resulta da incredulidade (3.7-11). E o que aconteceu com eles serve como alerta para nós. Assim como a incredulidade daquele povo os impediu de entrar em Canaã, também hoje a incredulidade conduz para bem longe da comunhão plena com Cristo — um privilégio reservado apenas àqueles que, pela graça, perseveram na fé (3.12-19).
Nosso texto, em Hebreus 3.7-19, é um desdobramento direto do versículo 6. Portanto, observe atentamente a condição que nos é apresentada ali, em Hebreus 3.6: “Mas Cristo, como Filho, é responsável por toda a casa de Deus; e nós somos a casa de Deus, se nos mantivermos corajosos e firmes em nossa esperança gloriosa.” Alguns manuscritos acrescentam até o fim. Assim: “nós somos a casa de Deus, se nos mantivermos corajosos e firmes até o fim, em nossa esperança gloriosa”.
Observe, antes de tudo, que a conjunção “se” não está descrevendo uma condição para se tornar, mas uma prova de se ser. Note, versículo 6: “nós somos a casa de Deus, se nos mantivermos corajosos e firmes [até o fim] em nossa esperança gloriosa.”
Repetindo: esse “se” não é uma condição para se tornar, mas uma prova de se ser.
Em outras palavras: o versículo 6 não diz: “Vocês se tornarão a casa de Deus, se mantiverem-se firmes e corajosos até o fim, em sua esperança gloriosa.” Não é isso.
O que Hebreus 3.6 de fato diz é isto: “nós somos a casa de Deus, se nos mantivermos corajosos e firmes [até o fim] em nossa esperança gloriosa.”
É como dizer: “Você é goiano se, em vez de perguntar ‘Onde você está?’, diz assim: ‘Tá onde, moço?’ — ah! e se acha que pamonha, pequi e pão de queijo são patrimônios sagrados de Goiás.” Falar desse jeito não faz de você um goiano; apenas revela que você já é. Não é que, ao falar ou pensar de determinada forma, você se torne goiano. Na verdade, é justamente porque fala ou pensa assim que dá prova ser goiano.
Portanto, Hebreus 3.6 ensina que: “se nos mantivermos corajosos e firmes [até o fim] em nossa esperança gloriosa, demonstramos que já somos, de fato, a casa de Deus.” É isso que caracteriza a família de Deus: o povo de Deus espera em Deus, confia em Deus e se gloria em Deus. Esse é o traço distintivo — a evidência humana — de pertencimento à casa de Deus: a igreja do Deus vivo.
Se você deseja ter a certeza de que pertence à casa de Deus, examine-se: você tem colocado sua esperança em Cristo? Sua confiança está em Cristo? Você busca em Cristo a segurança do seu futuro, a alegria do seu coração e a satisfação da sua vida?
Há outro indício que reforça essa interpretação.
Em Hebreus 3.1, o autor chama os leitores de “irmãos santos que participam do chamado celestial”. Isso significa que ele parte do pressuposto de que seus destinatários já são participantes do chamado celestial de Deus. São pessoas a caminho do céu. Não são meros ouvintes desse chamado, mas coparticipantes — partilham dessa vocação.
Portanto, quando o autor introduz o grande “se” no versículo 6 — “se nos mantivermos corajosos e firmes [até o fim] em nossa esperança gloriosa” —, o significado dele é: vocês são, sim!, participantes do chamado celestial; vocês são, sim!, a casa de Deus; e a evidência disso é a perseverança de vocês na confiança e na esperança em Cristo, até o fim.
Agora, avance até o versículo 14 para confirmar que este é exatamente o raciocínio do autor. Ali encontramos uma declaração condicional muito semelhante à do versículo 6. Hebreus 3.14: “Porque nos tornaremos participantes de Cristo, se de fato mantivermos firme até o fim a confiança que nele depositamos no início.”
Ser “participantes de Cristo”, em Hebreus 3.14, equivale, na prática, a ser “participantes da vocação celestial”, como se lê em Hebreus 3.1. E ambos são a mesma coisa que “ser a casa de Deus”, em Hebreus 3.6.
Mas repare cuidadosamente na formulação do versículo 14, porque ela confirma, de forma contundente, que estamos no caminho certo. O texto diz (NAA): “Porque temos nos tornado participantes de Cristo, se — perceba que a condição está no futuro… se —, de fato, guardarmos firme, até o fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos.” Porém, o efeito da condição remonta ao passado: “Porque temos nos tornado participantes de Cristo”.
É lamentável que a NVT tenha traduzido o verbo “tornar” no tempo futuro — “nos tornaremos”. No texto original grego, porém, o verbo está no tempo perfeito (ou pretérito perfeito composto), que expressa uma ação concluída no passado, cujos efeitos permanecem no presente (por exemplo: “tenho me tornado”).
Isso é substancialmente diferente do aoristo, que indica um evento pontual no passado (ex.: “tornei-me”); do imperfeito, que descreve uma ação contínua no passado (ex.: “estava me tornando”); ou do presente, que expressa uma ação contínua no momento atual (ex.: “estou me tornando”); e, naturalmente, do futuro, que se refere a uma ação contínua que ainda ocorrerá (ex.: “estarei me tornando”).
Portanto, fica absolutamente claro que o ponto, em Hebreus 3.14, não é: “Mantenham firme sua confiança até o fim, para, no futuro, se tornarem participantes de Cristo.” O ponto não é: “Nos tornaremos participantes… se…”. De modo algum!
O ponto é: “Porque temos nos tornado… então…”. Em outras palavras: “Mantenham firme sua confiança até o fim, para demonstrarem, evidenciarem, comprovarem que já são participantes de Cristo.” O essencial é isto: aquilo que aconteceu no passado está produzindo frutos no presente e servirá como comprovação cabal no final.
Este ponto é absolutamente crucial, pois demonstra que o autor de Hebreus não acredita que alguém possa, de fato, tornar-se participante de Cristo, compartilhar da vocação celestial e fazer parte da casa de Deus — e depois perder essa salvação.
Isso é de suma importância, especialmente porque, se Deus permitir, em breve veremos outras passagens deste livro que, à primeira vista, poderiam ser interpretadas como se fosse possível perder a salvação.
Mas, diante disso, faça a si mesmo a seguinte pergunta:
Se Hebreus 3.14 afirma: “Temos nos tornado participantes de Cristo [no passado], se [no futuro] mantivermos firme, até o fim, a nossa confiança”, a que conclusão devemos chegar se alguém não mantém firme essa confiança até o fim?
Creio que a resposta é a seguinte: Isso significa que essa pessoa jamais se tornou, de fato, participante de Cristo.
Seria um equívoco — na verdade, seria o oposto do que o texto ensina — afirmar: “Se não mantemos firme nossa confiança, até o fim, então, embora tenhamos sido participantes de Cristo no passado, agora perdemos nossa parte em Cristo.”
O versículo não diz isso. Pelo contrário, ele afirma: “Temos nos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme até o fim a confiança que desde o princípio tivemos.”
Portanto, se alguém não mantém firme essa confiança até o fim, isso não significa que perdeu a salvação. Significa, antes, que nunca foi, de fato, salvo. A falta de perseverança na fé não faz alguém perder a salvação; ela simplesmente revela que essa pessoa nunca pertenceu verdadeiramente a Cristo.
O apóstolo João escreveu, corroborando:
1João 2.18-19 (NVT)
18Filhinhos, chegou a hora final. Vocês ouviram que o anticristo está por vir, e muitos anticristos já apareceram. Por isso sabemos que chegou a hora final. 19Eles saíram de nosso meio, mas, na verdade, nunca foram dos nossos; do contrário, teriam permanecido conosco. Quando saíram, mostraram que não eram dos nossos.
De volta a Hebreus 3. Tudo o que está escrito neste capítulo — e em toda a epístola aos Hebreus — tem como propósito encorajar, fortalecer e despertar os leitores para que sejam diligentes, vigilantes e intencionais na luta por manter uma firme confiança em Cristo.
Permita-me demonstrar isso, para que você perceba quão essencial esse tema é para o autor de Hebreus. Vez após vez, ele nos exorta a perseverar na esperança e a não abrir mão da nossa confiança, porque essa perseverança e essa confiança são a evidência viva de que, de fato, nos tornamos participantes de Cristo.
Por exemplo:
Hebreus 2.1 (NVT). “Portanto, precisamos prestar muita atenção às verdades que temos ouvido, para não nos desviarmos delas.”
Hebreus 3.6 (NVT). “Mas Cristo, como Filho, é responsável por toda a casa de Deus; e nós somos a casa de Deus, se nos mantivermos corajosos e firmes em nossa esperança gloriosa.”
Hebreus 3.14 (NAA). “Porque temos nos tornado participantes de Cristo, se de fato mantivermos firme até o fim a confiança que nele depositamos no início.”
Hebreus 6.11.12 (NVT). “Nosso desejo é que vocês continuem a mostrar essa mesma dedicação até o fim, para que tenham plena certeza de sua esperança. Assim, não se tornarão displicentes, mas seguirão o exemplo daqueles que, por causa de sua fé e perseverança, herdarão as promessas.”
Hebreus 10.23 (NVT). “Apeguemo-nos firmemente, sem vacilar, à esperança que professamos, porque Deus é fiel para cumprir sua promessa.”
Hebreus 10.35 (NVT). “Portanto, não abram mão de sua firme confiança. Lembrem-se da grande recompensa que ela lhes traz.”
Hebreus 12.1 (NVT). “Portanto, uma vez que estamos rodeados de tão grande multidão de testemunhas, livremo-nos de todo peso que nos torna vagarosos e do pecado que nos atrapalha, e corramos com perseverança a corrida que foi posta diante de nós.”
E, ao nos conduzir ao final da carta, o autor se alegra em nos abençoar e em nos lembrar de que a força para perseverarmos até o fim não vem de nós, mas de Deus. Esse é precisamente o ponto de Hebreus 13.21:
“Que o Deus da paz… os capacite em tudo que precisam para fazer a vontade dele. Que ele produza em vocês, mediante o poder de Jesus Cristo, tudo que é agradável a ele, a quem seja a glória para todo o sempre! Amém.
A segurança dos crentes não está na ausência de condições, mas nas promessas do poder de Deus — que nos capacita, pela graça, por meio da fé, a cumpri-las.
E a maneira pela qual experimentamos esse poder de Deus — operando em nós a graça que nos faz perseverar — é por meio das advertências e das promessas da palavra de Deus. É exatamente por isso que esta carta foi escrita.
Deus não opera em nós a perseverança de maneira desconectada de sua Palavra. Ele age por meio da Palavra. Nossa grande salvação e nosso grande Salvador — que são o tema central desta epístola — são os instrumentos que o Espírito Santo utiliza para nos sustentar firmes. Observe a construção do argumento do autor:
Hebreus 3.6-8 (NVT)
6Mas Cristo, como Filho, é responsável por toda a casa de Deus; e nós somos a casa de Deus, se nos mantivermos corajosos e firmes em nossa esperança gloriosa.
7Por isso o Espírito Santo diz:
“Hoje, se ouvirem sua voz,
8não endureçam o coração
como eles fizeram na rebelião,
quando me puseram à prova no deserto.
O Espírito Santo usa a Palavra para experimentarmos o poder de Deus para a nossa perseverança na fé. Por isso, somos chamados a “considerar atentamente a Jesus” (Hb 3.1) e a não negligenciar nossa “tão grande salvação” (Hb 2.3). É para isso que esta carta foi escrita: para nos ajudar a fazer exatamente isso: perseverar.
Diante disso, vejamos como o autor nos auxilia em Hebreus 3.7-19. E, então, Deus permitindo, retornaremos a este texto, no próximo domingo, para explorá-lo mais profundamente — sob o tema; “Advirtam uns aos outros”.
A principal abordagem do autor, em Hebreus 3.7-19, é uma advertência extremamente séria, baseada na maneira como Deus agiu no passado — especialmente em relação a Israel, após tê-los libertado do Egito. Apesar de todo o poder e misericórdia demonstrados em favor deles, eles puseram Deus à prova com murmurações e incredulidade.
O resultado foi que Deus os entregou à própria sorte, determinando que morreriam no deserto, e jurou que “jamais entrariam em seu descanso”, isto é, na terra prometida.
O ponto central é que o povo de Israel se torna um exemplo, uma ilustração, uma lição viva para os leitores da carta. Assim como Deus, com imensa misericórdia, libertou Israel do Egito por meio de sinais e maravilhas, também esses cristãos — a quem Hebreus é dirigido — haviam experimentado grandes manifestações da graça de Deus.
Eles tinham visto “sinais, maravilhas e diversos milagres” (Hb 2.4). Tinham “provado a bondade da palavra de Deus e os poderes do mundo por vir” (Hb 6.5). O Espírito Santo havia operado no meio deles e eles “se tornaram participantes do Espírito Santo” (Hb 6.4). Tudo isso é paralelo ao que os israelitas vivenciaram ao serem tirados do Egito.
De fato, Hebreus 6.4-5 descreve uma série de experiências espirituais marcantes, que remetem, em muitos aspectos, à jornada de Israel no deserto.
Assim como foi com o povo de Israel no deserto, após a libertação do Egito, por um tempo, os leitores de Hebreus também estiveram felizes, cheios de entusiasmo e pareciam confiantes em Deus. Mas isso não durou — é o que indica o teor desta epístola.
E é exatamente por isso que esse exemplo de Israel no deserto é tão importante para o autor de Hebreus. Ele deseja que os cristãos professos permaneçam firmes, perseverem. Porque essa é a única maneira de se provar que, de fato, são a casa de Deus e participantes reais da salvação em Cristo.
Por isso ele diz, em essência: “Olhem para Israel e não sejam como eles.”
O que se aprende?
Israel se endureceu para a voz de Deus (Hb 3.7-11)
7Por isso o Espírito Santo diz:
“Hoje, se ouvirem sua voz,
8não endureçam o coração
como eles fizeram na rebelião,
quando me puseram à prova no deserto.
9Ali seus antepassados me tentaram e me puseram à prova,
apesar de terem visto meus feitos
durante quarenta anos.
10Por isso fiquei irado com aquela geração e disse:
‘Seu coração sempre se desvia de mim;
vocês se recusam a andar em meus caminhos’.
11Assim, jurei em minha ira:
‘Jamais entrarão em meu descanso’”.
O autor descreve o fracasso trágico da geração do êxodo em responder com fidelidade à obra redentora de Deus. Em outras palavras, eles viram as obras graciosas de Deus; presenciaram sinais, maravilhas e milagres de misericórdia; provaram o dom celestial — da grande libertação. Mas, em vez de confiar e descansar em Deus no dia da provação, endureceram o coração para a voz de Deus. Tornaram-se incrédulos. Desconfiaram da bondade de Deus e murmuraram contra ele.
A rebelião em Refidim (Êx 17)
Logo após a saída do Egito, o povo de Israel acampou em Refidim — Êxodo 17 —, onde não havia água para beber. Tomados pela incredulidade e pela queixa constante, começaram a contender com Moisés e, consequentemente, com Deus, questionando se haviam sido tirados do Egito para morrerem de sede, junto com seus filhos e rebanhos.
Diante disso, Moisés clamou ao SENHOR, temendo ser apedrejado pelo povo. Então Deus ordenou que ferisse a rocha em Horebe, da qual jorrou água para saciar a sede deles. Aquele lugar foi chamado de Massá e Meribá, porque ali os israelitas reclamaram e puseram o SENHOR à prova, indagando: “O Senhor está ou não no meio de nós?” (Êx 17.1-7).
A rebelião em Cades-Barnéia (Nm 14)
Em Números 14, na rebelião em Cades-Barnéia, atinge-se o auge da incredulidade da geração do êxodo. Após o relatório dos doze espias enviados a Canaã (Nm 13), dez deles trazem um relato carregado de incredulidade, medo e pessimismo, destacando os gigantes e as cidades fortificadas. O povo, então, se desespera, chora, murmura contra Moisés, Arão e contra o próprio Deus, dizendo: “Por que o SENHOR está nos levando para essa terra só para morrermos em combate? Nossas esposas e crianças serão capturadas como prisioneiros de guerra! Não seria melhor voltarmos para o Egito?” (Nm 14.3). Chegam, inclusive, a sugerir escolher outro líder para conduzi-los de volta ao Egito (Nm 14.4).
Josué e Calebe tentam apelar à confiança em Deus, exortando: “Se o SENHOR se agradar de nós, ele nos levará em segurança até ela e a dará a nós. É uma terra que produz leite e mel com fartura.” (Nm 14.8). Mas o povo, tomado pela incredulidade, quer apedrejá-los. Então Deus pronuncia seu juízo: “Jamais verão a terra que jurei dar a seus antepassados. Nenhum daqueles que me trataram com desprezo a verá.” (Nm 14.23). Apenas Josué e Calebe entrarão. Toda aquela geração — de vinte anos para cima — pereceria no deserto, ao longo de quarenta anos.
O mesmo acontecerá conosco… se (Hb 3.12-19)
A lição é clara e direta: o mesmo acontecerá conosco se — e aqui está aquele grande “se” de Hebreus 3.6 e 3.14 — endurecermos o coração no dia da provação, murmurarmos contra Deus e lançarmos fora nossa confiança e esperança nele.
12Portanto, irmãos, cuidem para que nenhum de vocês tenha coração perverso e incrédulo que os desvie do Deus vivo. 13Advirtam uns aos outros todos os dias, enquanto ainda é “hoje”, para que nenhum de vocês seja enganado pelo pecado e fique endurecido. 14Porque nos tornaremos participantes de Cristo, se de fato mantivermos firme até o fim a confiança que nele depositamos no início. 15Lembrem-se do que foi dito:
“Hoje, se ouvirem sua voz,
não endureçam o coração
como eles fizeram na rebelião”.
16E quem foram os que se rebelaram mesmo depois de terem ouvido? Não foram aqueles que saíram do Egito conduzidos por Moisés? 17E quem deixou Deus irado durante quarenta anos? Não foi o povo que pecou e cujos corpos ficaram no deserto? 18E a quem Deus se dirigiu quando jurou que jamais entrariam em seu descanso? Não foi ao povo que lhe desobedeceu? 19Vemos, portanto, que não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.
A história de Israel é um espelho para a Segunda Igreja Batista em Goiânia.
Não trate a graça de Deus com desprezo — não presuma que ela é apenas um meio de escapar do Egito da miséria, sem estar disposto a depender dela como guia e provisão no deserto desta vida.
Oh, quão numerosos são aqueles que se dizem cristãos e desejam a misericórdia do perdão — apenas para escapar do inferno —, mas que mantêm seus corações endurecidos contra Jesus quando se trata de comunhão diária, de confiar, obedecer e descansar nele!
Crer para viver, não apenas para escapar
Preste bastante atenção: a questão da perseverança não é, em primeiro lugar, uma questão de comportamento. Não comece perguntando: “Que ações Deus quer que eu pratique?”
O tema central deste texto é uma questão do coração.
Trata-se de crer, confiar, esperar em Deus.
Leia o que diz Hebreus 3.10, citando o Salmo 95:
Por isso fiquei irado com aquela geração e disse:
‘Seu coração sempre se desvia de mim;
vocês se recusam a andar em meus caminhos’.
Por que aquele povo não pôde entrar na Terra Prometida?
Você poderia responder:
— “Porque pecaram, se rebelaram e murmuraram.”
Sim, isso é verdade.
Mas repare como o autor conclui o capítulo. Em Hebreus 3.19, ele afirma: “Vemos, portanto, que não puderam entrar no descanso por causa de sua incredulidade.” Ou seja: o pecado persistente, mesmo diante da misericórdia de Deus, é sinal de incredulidade.
Sim, o povo se amargurou e endureceu o coração por causa das provações impostas por Deus (Hb 3.8); sim, pecaram (Hb 3.17). Mas por trás de tudo isso estava o problema fundamental: eles não creram em Deus.
Não confiaram na bondade de Deus — na sua disposição de guiá-los, protegê-los, suprir suas necessidades e satisfazê-los.
Mesmo depois de terem visto as águas do Mar Vermelho se abrirem e atravessado em terra seca, no momento em que ficaram com sede, seus corações se endureceram contra Deus. Recusaram-se a confiar nele. Murmuraram, reclamaram e disseram que teria sido melhor permanecer no Egito.
É exatamente para evitar isso que este livro foi escrito.
Oh! quantos cristãos professos começam sua caminhada com Deus motivados apenas pela possibilidade de terem seus pecados perdoados, escaparem do inferno e irem para o céu, enquanto desfrutam de algumas bençãos nesta vida. Pensam assim:
— “Por que não? O que eu tenho a perder? Eu vou crer.”
Mas, então, uma semana, um mês, um ano ou dez, vinte, trinta anos depois, vem a provação — um tempo de sequidão no deserto.
Vem o cansaço do maná. E surge, de forma sutil, um desejo crescente pelos prazeres passageiros do Egito. Como está registrado em Números 11.5-6 (NVT):
5Que saudade dos peixes que comíamos de graça no Egito! Também tínhamos pepinos, melões, alhos-porós, cebolas e alhos à vontade. 6Mas, agora, perdemos o apetite. Não vemos outra coisa além desse maná!”.
Estar nesta condição é algo assustador.
É perceber que você já não se interessa por Cristo, nem pela sua Palavra, nem pela oração, nem pelo culto, nem pela grande comissão, nem por viver para a glória de Deus. E, ao mesmo tempo, perceber que os prazeres passageiros deste mundo se tornaram, aos seus olhos, mais atraentes do que as coisas do Espírito.
Se esta é sua condição hoje, então eu lhe suplico:
Ouça a voz do Espírito Santo que fala neste texto. Atente para a Palavra de Deus (Hb 2.1). Não endureça seu coração (Hb 3.8). Desperte para o engano do pecado (Hb 3.13). Considere atentamente a Jesus, o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão (Hb 3.1). E mantenha firme sua confiança e o orgulho da esperança em Deus (Hb 3.6).
E, se você nunca deu início à sua caminhada com Deus, então coloque hoje mesmo sua esperança em Cristo. Arrependa-se do pecado e da autossuficiência. Deposite sua confiança em um Salvador grandioso, e glorioso: Jesus Cristo.
Estas coisas foram escritas — e este sermão foi pregado — para que você creia, persevere e tenha vida: vida eterna em Jesus Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto.
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