24.04.2016
CONFISSÃO DE FÉ
Mateus 16.13-20
13 Chegando Jesus à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?” 14 Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas”. 15 “E vocês?”, perguntou ele. “Quem vocês dizem que eu sou?” 16 Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. 17 Respondeu Jesus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. 18 E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la. 19 Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus”. 20 Então advertiu a seus discípulos que não contassem a ninguém que ele era o Cristo.
Nós estamos estudando a vida de Pedro. Queremos aprender como Deus transforma pedra bruta em joia rara; coração de pedra em caráter escultural. No texto de hoje nós descobrimos que confissão de fé é essencial neste processo.
A essa altura da história, Pedro já estava seguindo intimamente o Senhor havia pelo menos dois anos. A crucificação aconteceria dentro de pouco mais de seis meses. Além do chamado atendido e do ensino apreendido, houve milagres, curas e sinais; vários deles testemunhados por Pedro e pelos demais apóstolos. Era, portanto, de se esperar que os Doze entendessem a verdadeira natureza de Jesus. Só que não. Os discípulos ainda estavam confusos. Exceto Pedro.
Marcos registra no seu evangelho que, pouco antes desse interrogatório de Jesus, dessa passagem que nós estamos estudando (Mt 16.13-20), Jesus ainda foi obrigado a indagá-los. Observe o texto de Marcos:
Mc 8.14-21 | 14 Os discípulos haviam se esquecido de levar pão, a não ser um pão que tinham consigo no barco. 15 Advertiu-os Jesus: “Estejam atentos e tenham cuidado com o fermento dos fariseus e com o fermento de Herodes”. 16 E eles discutiam entre si, dizendo: “É porque não temos pão”. 17 Percebendo a discussão, Jesus lhes perguntou: “Por que vocês estão discutindo sobre não terem pão? Ainda não compreendem nem percebem? O coração de vocês está endurecido? 18 Vocês têm olhos, mas não veem? Têm ouvidos, mas não ouvem? Não se lembram? 19 Quando eu parti os cinco pães para os cinco mil, quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram?” “Doze”, responderam eles. 20 “E quando eu parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de pedaços vocês recolheram?” “Sete”, responderam eles. 21 Ele lhes disse: “Vocês ainda não entendem?”
Depois de tanto tempo seguindo Jesus, eles continuavam cegos. Tanto é verdade que o texto que se interpõe entre essa pergunta – “Vocês ainda não entendem?” – e a confissão de Pedro narrada em Marcos 8.27-30 (a mesma confissão do nosso texto em Mateus 16.13-20) é a cura de um cego em Betsaida (Mc 8.21-26).
Por que essa cura? Por que a cura de um cego justo neste ponto?
Jesus queria deixar claro que não é tempo de igreja que determina a genuinidade da fé de alguém; não é tempo de caminhada que define se alguém é ou não genuinamente convertido; não é o fato de estar no grupo, constar no rol de membros que atesta a salvação de uma pessoa. Muitos estão há tempos na jornada, já aprenderam o vocabulário, conhecem as regras parlamentares, mas “ainda não entenderam” quem é Jesus – são totalmente cegos ou são cegos em processo de cura – ainda não enxergam claramente (cf. Mc 8.23-25).
Pedro e os discípulos precisavam responder a pergunta sobre quem é Jesus. Nós também! Confissão de fé era indispensável. Hoje também! Por quê?
1. Confissão de fé exalta a Jesus Cristo
Confissão de fé exalta a Jesus Cristo. Observe.
Mt 16.13 | Chegando Jesus à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?”
Cesaréia de Filie era o local da antiga cidade de Paneas, cujo nome se deriva do deus Pã. Na mitologia grega, ele é o deus dos bosques, dos campos, dos rebanhos e dos pastores. Dizia-se que reside em grutas e vaga pelos vales e pelas montanhas, caçando ou dançando com as ninfas (espíritos naturais femininos). Uma caverna de pedra calcária lá existia, contendo um altar no qual a deidade pagã era adorada pelos sírio-fenícios.
Posteriormente, Herodes, o Grande, mudaria o nome da cidade em honra a César Augusto. Lá construiu um templo onde Augusto seria adorado como deus. O templo era próximo à gruta de Pã.
A área estava, sem dúvida, repleta de associações pagãs tanto para Jesus quanto para os discípulos. O cenário, portanto, era o lugar perfeito para ouvir que nem Pã nem César Augusto – mas Jesus! – é o Filho do Deus vivo.
Outro fato curioso nessa narrativa é que Jesus começa perguntando o que os outros estão dizendo a seu respeito.
Mt 16.13 | Chegando Jesus à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?”
É só adiante, no verso 15, apenas depois de Jesus ouvir sobre quem os outros diziam ser o Filho do homem que ele indaga pessoalmente aos discípulos.
Mt 16.15 | “E vocês?”, perguntou ele. “Quem vocês dizem que eu sou?”
Por que Jesus quer saber dos outros, primeiro? Aliás, por que o Senhor está fazendo perguntas? Ele não precisava indagar as pessoas, pois, como está registrado no evangelho de João, ele conhecia todo mundo e não precisava que lhe falassem a respeito dos corações das pessoas (Jo 2.24-25).
Jesus está, na verdade, oferecendo aos discípulos a oportunidade de confessar exatamente quem eles creem que ele é, em contraste com o que os outros acreditam, confrontando a idolatria e o paganismo das pessoas (Cesaréia de Filipe). Michael Card, comentando esse texto, escreveu assim:
A pergunta do Senhor deve ser encarada como a concessão de uma chance de dar o passo seguinte na fé e no entendimento de sua real identidade.
Quem crê confessa publicamente a sua fé em Cristo Jesus.
Mt 10.32-33 | 32 Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. 33 Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus.
Cristo quer ser exaltado pela nossa confissão de fé; o nome dele precisa sobressaltar nossas vidas e vozes, confrontando os ídolos e corrigindo os erros de nossa geração.
Confissão de fé exalta a Jesus Cristo.
2. Confissão de fé expõe os falsos ensinos
Confissão de fé também expõe os falsos ensinos. Ao responder a primeira pergunta de Jesus, os apóstolos expõe os erros e as crenças populares.
Mt 16.13-14 | 13 Chegando Jesus à região de Cesaréia de Filipe, perguntou aos seus discípulos: “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?” 14 Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, Jeremias ou um dos profetas”.
A expressão “Filho do homem” usada pelo Senhor é a sua preferida para se auto descrever. Suas raízes estão numa visão no livro de Daniel, que diz assim:
Dn 7.13-14 | 13 “Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença. 14 Ele recebeu autoridade, glória e o reino; todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído.”
Ao perguntar:
Mt 16.13 | “Quem os outros dizem que o Filho do homem é?”
Jesus quer saber se as pessoas o conhecem pelo que ele realmente é; ou seja:
Deus encarnado, cem por cento homem e cem por cento Deus – “alguém semelhante a um filho de homem” (Dn 7.13).
Deus santo, separado de tudo e de todos; sem pecados – “vindo com as nuvens do céus” (Dn 7.13).
Deus soberano, senhor absoluto de todos os reinos e pessoas – “Ele recebeu autoridade, glória e o reino… Seu domínio é um domínio eterno que não acabará, e seu reino jamais será destruído” (Dn 7.14).
Deus digno de ser adorado – “todos os povos, nações e homens de todas as línguas o adoraram” (Dn 7.14).
Seria assim que os outros pensavam de Jesus? Com certeza não. Observe que as respostas das multidões de então são as mesmas de hoje.
Quando se fala em Jesus entre as pessoas, geralmente nós observamos as seguintes reações:
Superstição – “Alguns dizem que é João Batista”
Transformam Cristo numa entidade pagã. Creem numa superstição.
Reencarnação ou, como dizia Herodes, uma reaparição de João Batista (Mt 14.1)?
A verdade é que para muita gente a fé em Jesus é uma fé supersticiosa.
Imitação – “Outros, Elias”
Transformam Cristo em apenas uma possibilidade legítima.
Plágio ou imitação de outras crenças religiosas, do profetismo dos dias de Elias (Ml 4.5-6)?
Muita gente encara o cristianismo como simplesmente mais uma, dentre tantas, expressões legítimas de fé e religiosidade.
Redução – “Ainda outros, Jeremias ou um dos profetas”
Transformam Cristo em um mero profeta de moral e bons costumes.
Alguém com o mesmo espírito dos profetas?
A maioria não nega a existência de Jesus. Negam que ele é Deus, mas abraçam seus ensinos éticos e morais como também o fazer com os de Gandhi, Buda, Maomé, Xico Xavier e tantos outros.
A crença e o imaginário popular, à parte da graciosa revelação do Senhor, não conseguem ver o todo, não enxergam a verdade plena de quem é Jesus.
Quando a Bíblia compara Jesus a João Batista é para destacar o mistério de seu nascimento e maneira de pregação – convocando pecadores ao arrependimento.
Ao falar que Cristo era semelhante a Elias, a Palavra de Deus está destacando o tom confrontador de sua pregação diante do estado de depravação moral, social e espiritual das pessoas.
Falando que o Senhor era como Jeremias ou um dos profetas, as Escrituras ressaltam a compaixão, a tristeza e as lágrimas dele pelos pecadores que não se arrependem.
Confissão de fé serve para expor os falsos ensinos.
3. Confissão de fé edifica a igreja
Até aqui vimos que [1] confissão de fé é adoração, pois ela exalta a Cristo; [2] confissão de fé é apologética, pois expõe os falsos ensinos. Agora nós veremos que [3] confissão de fé absolutamente necessário, pois ela edifica a igreja.
Veja como, em alguns passos.
3.1 – Somos salvos pela graça, por meio da fé; é dom de Deus
Mt 16.13-14 | 15 “E vocês?”, perguntou ele. “Quem vocês dizem que eu sou?” 16 Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. 17 Respondeu Jesus: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus.
Deus nos faz nascer de novo, inicia em nós a salvação, provoca em nós fé, e nós confessamos o seu nome para a salvação. Pela graça, por meio da fé nós somos salvos e inseridos no Corpo de Cristo que é a igreja.
3.2 – A igreja de Cristo é edificada sobre o ensino dos apóstolos, sobre a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos
Mt 16.18 | 18 E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja,
Em sua primeira carta, Pedro dirá que os cristãos são “pedras vivas na edificação de uma casa espiritual [que é a igreja]” (1Pe 2.4-8). Isso é fruto da associação deles com Cristo (a pedra angular), conforme a revelação, conforme a doutrina dos apóstolos e dos profetas (Ef 2.20-21; Ap 21.14).
A igreja de Cristo é edificada ou construída com crentes que fundamentam a sua fé nos ensinos das Escrituras – que é fruto do labor ministerial dos apóstolos e dos profetas. Todos que tentam edificar fundamento diferente deste se tornam pedras de tropeço – até mesmo Pedro. Adiante, ao tentar dissuadir Jesus da Cruz, ouça o que Pedro ouviu do Senhor:
Mt 16.23 | Jesus virou-se e disse a Pedro: “Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens.”
A igreja é edificada sobre a confissão de fé dos apostolos, expressa nos Escritos Sagrados, na Bíblia.
3.3 – A igreja de Cristo será vitoriosa pela pregação do evangelho e a manutenção de sua pureza
Mt 16.18 | 18 […] e as portas do Hades não poderão vencê-la. 19 Eu lhe darei as chaves do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que você desligar na terra terá sido desligado nos céus”.
A morte e as hostes do mal não conseguirão deter o avanço da igreja.
A igreja prevalecerá pregando o evangelho, abrindo as portas do Reino dos céus. Fariseus religiosos trancam as portas do Reino dos céus, mas crentes em Jesus Cristo abrem as portas pela pregação do evangelho (At 2, 8, 10).
Para prevalecer, além de pregar o evangelho, a igreja também precisará exercer disciplina sobre os que insistem em permanecer no pecado (cf. Mt 18.18), ligando pessoas arrependidas (2Co 2.5-11) e desligando pessoas de coração endurecido pelo pecado (1Co 5.1-5).
Veja como a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira se harmoniza com o que acabamos de dizer:
Capítulo 8 – Igreja
Igreja é uma congregação local de pessoas regeneradas e batizadas após profissão de fé. É nesse sentido que a palavra “igreja” é empregada no maior número de vezes nos livros do Novo Testamento. Tais congregações são constituídas por livre vontade dessas pessoas com finalidade de prestarem culto a Deus, observarem as ordenanças de Jesus, meditarem nos ensinamentos da Bíblia para a edificação mútua e para a propagação do evangelho. As igrejas neotestamentárias são autônomas, têm governo democrático, praticam a disciplina e se regem em todas as questões espirituais e doutrinarias exclusivamente pelas palavras de Deus, sob a orientação do Espírito Santo. […]
Confissão de fé edifica a igreja.
Confissão de fé
Pois bem, vivemos num mundo carregado de confissões diferentes de fé. O caminho de Cristo, no entanto, é bem distinto de tudo. Ele é exclusivo. Tão exclusivo que o Senhor arranca de Pedro uma confissão de fé que confronta todas as crenças populares, desmascara o paganismo e destrói a idolatria.
“E vocês? Quem vocês dizem que eu sou?” (Mt 16.15).
A resposta certa é a de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16) – Tu és o Deus encarnado, o Deus santo, o Deus soberano, o Salvador de todo aquele que crê, o único Deus digno de ser adorado.
Pois bem, depois de tudo o que foi dito, com base em Mateus 16.13-20, hoje à noite você precisa tomar uma decisão que envolve três atitudes:
Confissão de fé é o que se requer de todos, pois exalta a Jesus Cristo.
Confissão de fé é o que se requer de todos, pois expõe os falsos ensinos.
Confissão de fé é o que se requer de todos, pois edifica a igreja.
O esculpimento de nosso caráter passa pela confissão de fé.
Confesse a Cristo.
Filie-se a uma igreja.
Submeta-se à sua ministração.
Confissão de fé é o que Jesus requer de todos.
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