

02.11.2025
Hebreus 4.15 (NVT)
15Nosso Sumo Sacerdote entende nossas fraquezas, pois enfrentou as mesmas tentações que nós, mas nunca pecou.
Jesus foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança. Sim, Cristo enfrentou as mesmas tentações que nós — mas sem jamais pecar.
Povo de Deus, que afirmação grandiosa! E quantas perguntas ela suscita.
Poderia Jesus ter pecado? Sendo plenamente homem, mas também plenamente Deus? E se pecasse… Deus teria pecado? Se foi tentado como nós, isso incluiria pensamentos impuros? Desejos desordenados, como os que tantas vezes nos assolam?
Essas não são questões triviais. Tocam o mistério da encarnação, a perfeição moral de Cristo e a profundidade de sua obra redentora. Devem ser enfrentadas — não com especulação, mas com reverência e fidelidade às Escrituras.
Estamos avançando em nossa série de exposições bíblicas em Hebreus. Chegamos a um dos trechos mais sublimes da carta. Ouça com fé, Hebreus 4.14-16, na NVT:
Visto, portanto, que temos um grande Sumo Sacerdote que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus, apeguemo-nos firmemente àquilo em que cremos. Nosso Sumo Sacerdote entende nossas fraquezas, pois enfrentou as mesmas tentações que nós, mas nunca pecou. Assim, aproximemo-nos com toda confiança do trono da graça, onde receberemos misericórdia e encontraremos graça para nos ajudar quando for preciso.
Antes de explorarmos toda a riqueza desse texto — o faremos na próxima mensagem, se Deus quiser — detenhamo-nos em seu núcleo, o versículo 15: “Nosso Sumo Sacerdote entende nossas fraquezas, pois enfrentou as mesmas tentações que nós, mas nunca pecou.”
Então… o que isso significa? Por que essa verdade é tão vital para nossa caminhada hoje? É isso que examinaremos, no breve tempo que temos nesta manhã.
Antes de prosseguir, faço aqui uma breve observação: ao tratar desse tema, apoio-me nos ombros de gigantes — especialmente John Piper e R. C. Sproul. Sou apenas um nanico; eles, gigantes.
Para examinarmos o tema diante de nós — Jesus foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança (Hb 4.15) — precisamos, antes, estabelecer cinco fatos bíblicos essenciais. Sem isso, corremos o risco de nos perder no assunto.
PRIMEIRO: A palavra grega traduzida como “tentado” em Hebreus 4.15 é pepeirasmenon, derivada do verbo peirazō e do substantivo peirasmos. No Novo Testamento, essas formas são traduzidas tanto como “tentar” quanto como “testar” ou “provar”. A raiz é a mesma; o contexto é que define o sentido. Compreender isso é fundamental.
SEGUNDO: Deus nos prova. Ele provou Abraão (Hb 11.17), prova também a nós (Tg 1.12) e, em sua graça, até nos convida a prová-lo, confiando nele: “Provai-me nisto [nos dízimos], diz o SENHOR dos Exércitos” (Ml 3.10, ARA).
TERCEIRO: Deus não pode ser tentado pelo mal e não tenta ninguém a fazer o mal, como afirma Tiago 1.13 (NVT): “E, quando vocês forem tentados, não digam: ‘Esta tentação vem de Deus’, pois Deus nunca é tentado a fazer o mal, e ele mesmo nunca tenta alguém.”
QUARTO: Cristo foi tentado. Mateus 4.1 (NVT) declara: “Em seguida, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto para ser tentado pelo diabo.” Hebreus 4.15 (NVT) afirma que Jesus “…enfrentou as mesmas tentações que nós, mas nunca pecou.” Aliás, Hebreus 7.26 (ARA) diz que nos era necessário um sumo sacerdote como ele: “Santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus.” Portanto, Cristo foi sim tentado — mas sem pecado.
QUINTO: Tiago define a tentação assim (Tg 1.14, NAA): “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.” Portanto, desejos legítimos, como a fome após o jejum, não são pecado. Tornam-se tentação pecaminosa quando passam a dominar e conduzir ao mal.
Esses são os fatos bíblicos fundamentais sobre tentação e provação:
— a mesma palavra grega é usada para ambas;
— Deus nos prova ou testa, mas não nos induz ao pecado;
— Cristo foi tentado, mas sem pecado;
— e a tentação pecaminosa nasce da cobiça, que arrasta a pessoa ao pecado.
Para compreendermos tudo com clareza, é essencial reconhecer que Tiago 1.14 usa a palavra “tentação” de forma muito específica — mais restrita que o uso comum.
A tentação é para ser entendida, geralmente, como um convite externo ao pecado, algo que podemos resistir e, ainda assim, permanecer inocentes. Nesse sentido é que Jesus foi tentado no deserto: o diabo o convidou ao pecado, mas ele resistiu sem cair.
Tiago, porém, fala de algo mais profundo. Para ele, a tentação acontece quando o convite externo se transforma em atração interna — que seduz e arrasta a pessoa até o pecado. E por que Tiago define assim? Porque quer deixar claro: Deus nos prova ou testa, mas não nos tenta ao mal. Tiago afirma: “Ninguém, ao ser tentado, diga: ‘Sou tentado por Deus’” (Tg 1.13, ARA). Em outras palavras: Deus pode nos provar — sim; mas não nos induz ao pecado.
Tiago usa a mesma palavra grega (peirasmos) para os dois casos. Em Tiago 1.2-3 e 1.12, peirasmos significa provação — algo bom, que fortalece a fé. Já em Tiago 1.14, peirasmos indica tentação ao pecado — algo mau, que brota da nossa cobiça.
Ou seja, a mesma palavra pode expressar ideias opostas: provação e tentação. O que define o sentido é o contexto. Por isso, Tiago é cuidadoso — e nós também devemos ser.
Eis a questão: se Jesus foi tentado como nós, isso incluiria pensamentos impuros? Desejos desordenados como os que nos assolam?
Absolutamente não! Mateus 4.1 e Hebreus 4.15 usam o verbo grego peirazō num sentido amplo: Jesus foi testado por pressões externas — mas sem que isso gerasse desejos pecaminosos internos. Ele enfrentou toda forma de provação — como nós — mas jamais nutriu cobiça, lascívia ou qualquer inclinação ao mal.
Portanto, quando Tiago afirma que Deus “não pode ser tentado” (Tg 1.13), não há contradição com Hebreus 4.15 ou Mateus 4.1. Tiago usa “tentado” em sentido restrito: quando o desejo interior seduz, arrasta e leva ao pecado. Isso jamais ocorreu com Cristo.
Tiago faz essa distinção para mostrar que, embora Deus nos prove, nunca nos arrasta ao pecado. Isso vem de nós. Nosso coração caído não precisa de ajuda divina para desejar o mal — precisa da ajuda de Deus para vencê-lo.
E essa ajuda vem por um milagre: o novo nascimento. Tiago declara (1.18, ARA): “Segundo o seu querer, [o Pai] nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas.”
Deus nos faz nova criação — por meio do evangelho.
Em outras palavras: para vencer a tentação, como Tiago a define, é preciso nascer de novo. E o novo nascimento vem pela verdade de Cristo.
E por que isso é possível?
Porque Jesus foi tentado externamente — pelo diabo e pelas circunstâncias: fome, sofrimento, solidão, rejeição, decepção, agressão, privação, contato com mulheres, oferta de glória sem cruz e muito mais. Mas nunca foi dominado internamente pelo pecado. Permaneceu puro — o sacrifício sem mácula por nós.
Por isso, povo de Deus, sejamos profundamente gratos. Até que Jesus volte — ou até morrermos — ainda lutaremos com tentações externas e desejos internos. Foi o que levou Paulo a clamar: “Como sou miserável! Quem me libertará deste corpo mortal dominado pelo pecado?” (Rm 7.24, NVT). E ele mesmo responde: “Graças a Deus, a resposta está em Jesus Cristo, nosso Senhor.” (Rm 7.25a).
Jesus foi provado — mas não pecou. Como Tiago ensina (1.14-15), a tentação começa com o desejo que seduz, gera o pecado — e, amadurecido, produz morte. Nada disso se aplicou a Cristo. Ele foi exposto à provação, como nós, mas jamais teve qualquer desejo que o arrastasse ao pecado. Nele, não havia nada que respondesse ao mal — nem em pensamento. Afinal, Cristo mesmo ensinou: “Todo aquele que olhar para uma mulher com intenção impura, já cometeu adultério com ela no coração” (Mt 5.28, ARA). Mas em Jesus não havia esse olhar. Nenhuma inclinação impura. Nenhum consentimento interior.
Ele foi tentado — mas sem pecado.
Jesus é sem pecado. Pedro declara: “Ele não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pe 2.22). E João confirma: “Nele não existe pecado” (1Jo 3.5). Essa é a base da sua obra expiatória e a razão por que pode se compadecer de nós: sentiu toda a força da tentação — e não pecou.
Mas aqui surge a controvérsia: Se ele nunca pecou, como pode saber, de fato, o que sentimos? Como alguém que nunca cedeu pode entender a luta de quem cai?
Justamente por isso.
Quem mais sente o peso da tentação é quem mais resiste a ela. Ceder cedo é aliviar o fardo. Só quem persevera até o fim conhece seu peso real.
C. S. Lewis disse: “Somente aqueles que tentam resistir sabem quão forte é a tentação. Um homem que cede após cinco minutos não sabe o que seria resistir uma hora.” E poderíamos dizer: não sabe o que seria resistir por uma vida inteira.
Pense num casamento difícil. Manter-se fiel, ano após ano. Ou resistir à tentação sexual por décadas. Isso é sentir o peso da luta.
Pessoas que sempre cedem vivem uma vida “protegida”. Conhecem pouco da maldade — pois nunca enfrentaram sua força. Cristo, por jamais ter cedido, conhece a tentação como ninguém. Ele é o único realista completo.
Ah, meu irmão, minha irmã, não pense que, por ter vivido no pecado, você entende mais sobre a tentação do que alguém que luta, dia após dia, no temor do Senhor. Pense na alma piedosa que, com lágrimas, diz: “Não.” Uma, duas, mil vezes, a vinda inteira. Que se deita cansada — mas limpa. Que triunfa, em Deus.
Essa pessoa conhece o peso da luta. Mas só Cristo conhece o peso total. Ele foi tentado em tudo — mas sem pecado. E é por isso que ele pode compadecer-se de nós.
Passemos agora a outra questão: Jesus poderia ter pecado? Era possível ele pecar?
Depende do que se entende por “possível”. Se significa que ele tinha uma mente humana, com vontade e discernimento — sim. Jesus era plenamente homem. Tinha corpo, emoções, razão. Sentia fome, cansaço, desejo — sem pecado. Portanto, por óbvio, ele poderia escolher o pecado, tal como Adão escolheu pecar.
Mas há outro sentido para “possível”. E aqui a teologia histórica nos orienta. Há diferença entre capacidade natural e capacidade moral.
Capacidade natural é o que todo ser humano possui: pensar, sentir, escolher. Jesus tinha essa capacidade — era verdadeiramente humano.
Capacidade moral, porém, é outra coisa: é ter uma disposição interior ao mal. E isso, Jesus nunca teve. Nele não havia pecado, nem desejo pecaminoso, nem inclinação ao mal. R. C. Sproul escreveu: “A natureza humana de Jesus era como a de Adão antes da queda. Ele tinha a posse peccare (capacidade de pecar) e a posse non peccare (capacidade de não pecar). Adão pecou; Jesus não.”
Jesus foi tentado externamente, mas jamais houve em seu interior qualquer desejo de ceder. Cobiçar já é pecado. E Jesus nunca cobiçou. Nunca desejou pecar. Nunca teve prazer na injustiça. Era perfeito — e, por isso, não podia pecar.
Assim, cumpriu sua missão como o segundo Adão. Onde o primeiro falhou, o Segundo venceu — para a nossa salvação.
Sproul também afirmou:
Cristo foi santificado e ministrado de forma única pelo Espírito. Para pecar, é preciso desejar o pecado. Mas a natureza humana de Jesus foi marcada por zelo pela justiça. Ele disse: ‘A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou’ (Jo 4.34). Enquanto ele não desejasse pecar, não pecaria — e, de fato, não pecou.
Sproul reconhece:
Creio ser um erro dizer que a natureza divina de Cristo impediu sua natureza humana de pecar. Isso tornaria suas tentações e provações uma farsa. A natureza humana de Jesus, ungida pelo Espírito, foi quem venceu como segundo Adão — por nós.
Em resumo: do ponto de vista natural, Jesus podia ser tentado. Mas do ponto de vista moral, não podia pecar — porque nele nada havia que o inclinasse ao mal.
1. Confie em Cristo como seu Salvador sem pecado.
Ele foi tentado em tudo, mas sem pecado. Só ele pode representá-lo diante de Deus. Dependa dele para o perdão e para a salvação.
2. Recorra a Cristo nas suas tentações.
Ele entende sua luta. Vá até o trono da graça com confiança, pois ele se compadece de você e concede socorro no momento certo (Hb 4.16).
3. Lute contra o pecado com seriedade.
Não ceda facilmente. Resista com fé, no poder do Espírito, lembrando-se que a força da tentação não o vence quando você está em Cristo.
S.D.G. L.B.Peixoto.
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Pr. Leandro B. Peixoto