10.03.2024
INFELIZ. Você se sente assim? Infeliz. Insatisfeito. Outra coisa: você busca se saciar em prazeres imediatos? Deixe-me te ajudar a pensar. Situações reveladoras ou flagrantes delitos são mais comuns do que se pensa ou se dá conta. Considere estes exemplos:
Poderíamos estender os exemplos para falar do consumo de álcool, drogas, jogos de aposta ou pornografia, mas já deu para perceber aonde desejamos chegar: no ponto da insatisfação, da infelicidade tão patológica desta era do PRAZER IMEDIATO.
Pegando carona no título do livro da Dra. Anna Lembke – Nação Dopamina –, permitam-me dizer (sem qualquer vulgaridade) que Isaque foi o Patriarca Dopamina – o patriarca que viveu para o prazer imediato –, e por isso ele quase pôs a perder tudo o que Deus havia começado com Abraão, seu pai.
É verdade que nós lemos no Novo Testamento, em Hebreus 11.20 que “Pela fé, Isaque prometeu bênçãos para o futuro de seus filhos, Jacó e Esaú.” Mas, como diz o ditado: “Quem vê cara, não vê coração”; ou: “quem não conhece que o compre”. Sim, meu povo, pois quem lê apenas as palavras de Hebreus 11.20, sem conhecer o relato de Gênesis, não faz a menor ideia de quem realmente foi Isaque, o que ele fez e como ele quase pôs tudo perder. Aliás, Isaque só não pôs tudo a perder porque Deus – do início ao fim da história – agiu com graça para preservar a aliança que havia feito com Abraão.
Bruce Waltke, eminente estudioso do Antigo Testamento, afirmou com propriedade que para aqueles que desejam viver a vida de fé, A HISTÓRIA DA VIDA DE ISAQUE “serve de advertência solene contra o sucumbir à volúpia”. Volúpia é “qualquer sensação muito prazerosa”. De fato, Isaque viveu para a gratificação imediata, o prazer imediato; ele viveu para a dopamina. E nesse sentido, o que se aprende de Isaque é o que não se deve fazer para não correr o risco de se pôr tudo a perder. Ou seja: não viva para o prazer imediato, ou você colocará a vida a perder.
Realmente, em um primeiro momento, pode chocar o que eu estou dizendo a respeito de Isaque. Afinal, que nome bonitinho para um filho: “Isaque” [lit., “Ele ri” ou “Sorriso”]. E é mesmo! Lindo. Mas o Isaque da Bíblia não é lá grandes coisas. Nem sua mãe – outro nome bonitinho para uma filha: – “Rebeca” [lit., laço]. Mas… Deixe-me explicar.
PENSE COMIGO: quando você pensa em Isaque, o que te vem a memória? Eu sei. Posso falar? Vem à sua memória dois momentos em especial. A PRIMEIRA BOA MEMÓRIA sobre a pessoa de Isaque é o nascimento milagroso deste menino:
Gênesis 21.1-3 1O SENHOR agiu em favor de Sara e cumpriu o que lhe tinha prometido. 2Ela engravidou e deu à luz um filho para Abraão na velhice dele, exatamente no tempo indicado por Deus. 3Abraão deu o nome Isaque ao filho que Sara lhe deu.
A SEGUNDA BOA MEMÓRIA sobre Isaque é a passividade ou a submissão do garoto ao pai, Abraão, que colocou o filho (que, por sua vez, deixou ser levado voluntariamente) sobre o altar para ser sacrificado. E, sim, nesta cena, Isaque se destaca nas Escrituras como um tipo de Cristo no Antigo Testamento. A cena, é de fato, comovente:
Gênesis 22.6-13 6Abraão pôs a lenha para o holocausto nos ombros de Isaque, e ele próprio levou o fogo e a faca. Enquanto os dois caminhavam juntos, 7Isaque se virou para Abraão e disse: “Pai?”. “Sim, meu filho”, respondeu Abraão. “Temos fogo e lenha”, disse Isaque. “Mas onde está o cordeiro para o holocausto?” 8“Deus providenciará o cordeiro para o holocausto, meu filho”, respondeu Abraão. E continuaram a caminhar juntos. 9Quando chegaram ao lugar que Deus havia indicado, Abraão construiu um altar e arrumou a lenha sobre ele. Em seguida, amarrou seu filho Isaque e o colocou no altar, sobre a lenha. 10 Então, pegou a faca para sacrificar o filho. 11Nesse momento, o anjo do SENHOR o chamou do céu: “Abraão! Abraão!”. “Aqui estou!”, respondeu Abraão. 12“Não toque no rapaz”, disse o anjo. “Não lhe faça mal algum. Agora sei que você teme a Deus de fato. Não me negou nem mesmo seu filho, seu único filho!” 13Então Abraão levantou os olhos e viu um carneiro preso pelos chifres num arbusto. Pegou o carneiro e o ofereceu como holocausto em lugar do filho.
Realmente, nesta cena, Isaque se submeteu ao pai e ao SENHOR Deus. Mas aqui – é bom você lembrar – Isaque era, no máximo, um adolescente. E o momento decisivo para Isaque não foi este em que ele está passivamente deitado no altar, sob a lâmina do pai. O MOMENTO DECISIVO PARA ISAQUE foi quando ele estava já bem maduro e, sentindo a morte chegar, vê-se defrontando com a necessidade de passar a tocha da bênção divina para a geração seguinte. E neste ponto, no ponto decisivo da aliança de Deus com seu pai Abraão, Isaque é um fracasso total. Leia com atenção, e encontre o erro:
Gênesis 27.1-4 1Certo dia, quando Isaque era velho e estava ficando cego, chamou Esaú, seu filho mais velho: “Meu filho!”. Esaú respondeu: “Aqui estou!”. 2Isaque disse: “Estou velho e não sei quando vou morrer. 3Pegue suas armas, o arco e as flechas, e vá ao campo caçar um animal para mim. 4Depois, prepare meu prato favorito e traga-o aqui para eu comer. Então pronunciarei a bênção [conferindo o direito de primogenitura] que pertence a você, meu filho mais velho, antes de eu morrer”.
Para encontrar o erro – que está no versículo 4: “pronunciarei a bênção que pertence a você, meu filho mais velho” – o leitor terá de se lembrar lá do início da HISTÓRIA DA VIDA ADULTA DE ISAQUE (narrada entre Gênesis 25.19 e Gênesis 28.9). Lá no início de tudo, a gente lê o seguinte [à respeito de quem realmente, segundo Deus planejou, teria o direito à bênção especial da primogenitura]:
Gênesis 25.21-26 21[…] Rebeca ficou grávida de gêmeos. 22Os dois bebês lutavam um com o outro no ventre da mãe, de modo que ela consultou o SENHOR a esse respeito. “Por que isso está acontecendo comigo?”, perguntou ela. 23O SENHOR respondeu: “Os filhos em seu ventre se tornarão duas nações. Desde o começo, elas serão rivais. Uma nação será mais forte que a outra, e seu filho mais velho servirá a seu filho mais novo”. 24Quando chegou a hora de dar à luz, Rebeca descobriu que, de fato, eram gêmeos. 25O primeiro a nascer era ruivo e coberto de pelos; por isso o chamaram de Esaú. 26Depois, nasceu o outro gêmeo, com a mão agarrada ao calcanhar de Esaú; por isso o chamaram de Jacó. […]
O DIREITO DE PRIMOGENITURA era, tradicionalmente, dado ao filho mais velho; e ele se tornava o chefe da família, aquele que levaria adiante a tradição familiar, isto é: definir como a família entendia a si mesma, falar em nome da família e administrar a família e seus bens. Pois bem, antes mesmo de os gêmeos Esaú e Jacó nascerem, Deus estabeleceu que Jacó, ainda que fosse o mais novo, receberia do pai Isaque o direito, a bênção especial da primogenitura, Gênesis 25.23: “seu filho mais velho [i.e., Esaú] servirá a seu filho mais novo [i.e., Jacó]”. — Ponto final. — Entretanto, lá na frente, em franca contestação à vontade de Deus, Isaque disse ao filho Esaú, Gênesis 27.4: “pronunciarei a bênção que pertence a você, meu filho mais velho, antes de eu morrer”.
DETALHE: o que teria de ser feito à luz do dia, aos olhos de todos para que toda a comunidade ficasse sabendo, Isaque estava fazendo às escondidas. Em outras palavras: o direito de primogenitura, a bênção do pai ao filho era um acontecimento festivo, solene e público. Mas Isaque decidiu fazer uma cerimônia íntima, com jantar apenas para ele, com a presença apenas de quem lhe interessava Esaú. Rebeca, entretanto, estava escondida atrás da porta, demonstrando que desde sempre desconfiou da relutância de Isaque, seu marido. A matriarca, então, com planos e atitudes também de jeito nenhum republicanos, atropelou o plano maldito do patriarca:
Gênesis 27.5-10 5Rebeca, porém, ouviu o que Isaque tinha dito a seu filho Esaú. Quando Esaú saiu para caçar, 6ela disse a seu filho Jacó: “Ouvi seu pai dizer a Esaú: 7‘Traga-me uma carne de caça e prepare-me uma refeição saborosa. Então abençoarei você na presença do SENHOR antes de eu morrer’. 8Agora, meu filho, preste atenção e faça exatamente o que lhe direi. 9Vá ao rebanho e traga-me dois dos melhores cabritos. Eu os usarei para preparar o prato favorito de seu pai. 10Depois, leve a comida para seu pai, para que ele a coma e o abençoe antes de morrer”.
Por que Isaque estava fazendo tudo escondido? Porque ele sabia que estava fazendo errado. A bênção, segundo a vontade de Deus, era de Jacó, não era de Esaú. Até Jacó já sabia disso e, espertinho, tentou dar uma ajudinha a Deus:
Gênesis 25.27-34 27Os meninos cresceram. Esaú se tornou um caçador habilidoso que vivia ao ar livre, enquanto Jacó era mais pacato e preferia ficar em casa. 28Isaque amava Esaú porque gostava de comer a carne de caça que ele trazia, mas Rebeca amava Jacó. 29Certo dia, quando Jacó preparava um ensopado, Esaú chegou do deserto, exausto e faminto. 30“Estou faminto!”, disse ele a Jacó. “Dê-me um pouco desse ensopado vermelho!” (Por isso Esaú também ficou conhecido como Edom.) 31“Está bem”, respondeu Jacó. “Mas, em troca, dê-me seus direitos de filho mais velho.” 32“Estou morrendo de fome!”, disse Esaú. “De que me servem meus direitos de filho mais velho?” 33Mas Jacó disse: “Primeiro, jure que seus direitos de filho mais velho agora são meus”. Esaú fez um juramento e, desse modo, vendeu todos os seus direitos de filho mais velho a seu irmão, Jacó. 34Então Jacó deu a Esaú um pedaço de pão e o ensopado de lentilhas. Esaú comeu, levantou-se e foi embora. Assim, ele desprezou seu direito de filho mais velho.
Os profetas também sabiam que o direito de primogenitura pertencia, por vontade soberana do SENHOR Deus, a Jacó, não a Esaú:
Malaquias 1.2-3 2“Eu sempre amei vocês”, diz o SENHOR. Mas vocês perguntam: “De que maneira nos amou?”. E o SENHOR responde: “Foi desta maneira: amei seu antepassado Jacó, 3mas rejeitei o irmão dele, Esaú, e devastei sua região montanhosa. Transformei a propriedade de Esaú num deserto para chacais”.
O apóstolo Paulo também sabia que o direito de primogenitura pertencia ao filho mais novo, por decisão soberana de Deus, antes mesmo de os meninos serem capazes de fazer qualquer coisa por merecer (e a história bíblica revelará em Gênesis que, de fato, nenhum dos dois, nem Jacó (trapaceiro) nem Esaú (leviano), fez por merecer; foi tudo a livre escolha da graça de Deus, garantindo o triunfo do plano e da aliança de Deus):
Romanos 9.7-13 7Só porque são descendentes de Abraão não significa que são, verdadeiramente, filhos de Abraão. Pois as Escrituras dizem: “Isaque é o filho de quem depende a sua descendência”. 8Isso significa que os descendentes físicos de Abraão não são, necessariamente, filhos de Deus. Apenas os filhos da promessa são considerados filhos de Abraão. 9Pois Deus havia prometido: “Voltarei por esta época, e Sara terá um filho”. 10Esse fato não é único. Também Rebeca ficou grávida de nosso antepassado Isaque e deu à luz gêmeos. 11Antes de eles nascerem, porém, antes mesmo de terem feito qualquer coisa boa ou má, ela recebeu uma mensagem de Deus. (Essa mensagem mostra que Deus escolhe as pessoas conforme os propósitos dele 12e as chama sem levar em conta as obras que praticam.) Foi dito a Rebeca: “Seu filho mais velho servirá a seu filho mais novo”. 13Nas palavras das Escrituras [citando Malaquias que nós já lemos]: “Amei Jacó, mas rejeitei Esaú”.
Pois bem, todo mundo sabia da vontade e do plano de Deus: perpetuar sua aliança através de Jacó, não de Esaú. Rebeca sabia disso desde a gestação e passou essa informação para a família. Todos ficaram sabendo. Mas lá no íntimo, desde sempre, Isaque não aceitou a vontade de Deus, e lutou contra ela desde o momento em que soube, até à velhice.
O QUE MOVIA ISAQUE? Se não era a prática da vontade expressa de Deus, O QUE DEIXAVA O CORAÇÃO DE ISAQUE SATISFEITO? Ora, Moisés deixou isso muito claro duas vezes na narrativa bíblica. Uma, durante a juventude dos gêmeos e, outra vez, na hora de passar adiante a bênção de primogenitura. O que deixava Isaque feliz, e no final o destruiu, era comida na boca, prato cheio de boa comida, satisfação imediata, dopamina. Releia comigo:
Gênesis 25.27-34 27Os meninos cresceram. Esaú se tornou um caçador habilidoso que vivia ao ar livre, enquanto Jacó era mais pacato e preferia ficar em casa. 28Isaque amava Esaú porque gostava de comer a carne de caça que ele trazia, mas Rebeca amava Jacó.
Depois, lá no final, nós lemos isto:
Gênesis 27.2-4 2Isaque disse: “Estou velho e não sei quando vou morrer. 3Pegue suas armas [, Esaú], o arco e as flechas, e vá ao campo caçar um animal para mim. 4Depois, prepare meu prato favorito e traga-o aqui para eu comer. Então pronunciarei a bênção que pertence a você, meu filho mais velho, antes de eu morrer”.
Na vida e na morte, a alegria de Isaque era “caça em sua boa” (que é o significado literal de Gênesis 25.28: “Isaque amava Esaú porque gostava de comer a carne de caça que ele trazia”; literalmente, “por causa da caça em sua boca”). Portanto, o desejo de satisfazer imediatamente o seu apetite era o que o guiava e, no final, estragaria tudo em termos humanos. E só não arruinaria o plano de Deus por causa da graça soberana do SENHOR. George Rawlinson – em livro do século XIX, Men of the Bible –, comentou:
O pai ama Esaú “porque comia da sua carne de caça” (25.28), o que demonstra um espírito que desfrutou de uma vida de conforto e despreocupação e se tornou, até certo ponto, marcado pelos prazeres da carne – não de um tipo indecente, porém, assim mesmo grave o suficiente para enfraquecer o caráter de Isaque e colocá-lo num nível inferior de desenvolvimento espiritual, quando comparado com seu pai, Abraão, ou com seu filho Jacó.
De fato, quando se olha para a vida de Isaque em busca de detalhes, o que se descobre é que Isaque viveu na sombra do passado de seu pai Abraão e na sombra do futuro de seu filho Jacó. Afinal, sinceramente: quem é Isaque na narrativa bíblica? Isaque é o filho de Abraão e o pai de Jacó. A história de Isaque, dentre os patriarcas, resumiu-se a isto: ser filho de Abraão e viver para, relutantemente, dar a bênção ao filho Jacó.
É tão verdade o que estamos dizendo que, se você prestar atenção em Gênesis, após Isaque abençoar os gêmeos (em Gênesis 27), ele e Rebeca praticamente desaparecem do enredo. O que leremos será apenas que Isaque e Rebeca enviarão Jacó para a casa de Labão, irmão de Rebeca e tio de Jacó, a fim de salvá-lo da ira de Esaú. Daquele momento em diante, não se terá mais notícia do casal infeliz, até a rápida menção sobre a morte e o sepultamento de Isaque, no final do ciclo da vida de Jacó:
Gênesis 35.27-29 27Então Jacó voltou à casa de seu pai, Isaque, em Manre, perto de Quiriate-Arba (hoje chamada Hebrom), onde Abraão e Isaque viveram como estrangeiros. 28Isaque viveu 180 anos. 29Deu o último suspiro e, ao morrer em boa velhice, reuniu-se a seus antepassados. Seus filhos, Esaú e Jacó, o sepultaram.
Agora, sobre Rebeca, Moisés não faz qualquer menção à morte ou ao sepultamento da matriarca. De fato, as últimas palavras de Rebeca são ao filho fugitivo Jacó, e são estas (as quais ela nunca conseguiria cumprir):
Gênesis 27.42-46 42Quando Rebeca soube das intenções de Esaú, mandou chamar Jacó e lhe disse: “Ouça, Esaú se consola com planos para matar você. 43Portanto, preste atenção, meu filho. Apronte-se e fuja para a casa de meu irmão Labão, em Harã. 44Fique lá até que diminua a fúria de seu irmão. 45Quando ele se acalmar e se esquecer do que você lhe fez, mandarei buscá-lo. Por que eu perderia meus dois filhos no mesmo dia?”. 46Depois, Rebeca disse a Isaque: “Estou cansada dessas mulheres hititas que vivem aqui! Prefiro morrer a ver Jacó se casar com uma delas!”.
Realmente, pois em algum momento entre a fuga de Jacó e o retorno dele de lá das terras de Labão, Rebeca morreu e nunca mais viu seu filho preferido. Só que Moisés, veja que ironia!, em vez de descrever o fim da vida de Rebeca, optou por registrar a memória de Débora (serva de Rebeca), por ocasião do retorno de Jacó para Canaã:
Gênesis 35.6-8 6Por fim, Jacó e todos que estavam com ele chegaram a Luz (também chamada Betel), em Canaã. 7Jacó construiu um altar ali e chamou o lugar de El-Betel, pois Deus lhe havia aparecido em Betel quando ele estava fugindo de seu irmão. 8Pouco tempo depois, Débora, a serva que havia amamentado Rebeca, morreu e foi sepultada ao pé do carvalho no vale perto de Betel. Desde então, a árvore é chamada de Alom-Bacute [lit., carvalho do choro].
FICA A PERGUNTA: teria Rebeca se distraído tanto com a necessidade de fazer a vontade de Deus prevalecer e seu filho preferido receber a bênção de primogenitura, no lugar de Esaú, que não lhe sobrou tempo para ser mãe, delegando essa honra a Débora? Teria sido Débora a verdadeira mãe, a mãe afetiva de Jacó? Talvez a honra prestada a Débora (aqui em Gn 35.6-8), e que não foi dada a Rebeca em qualquer outro lugar nas Escrituras, ofereça-nos alguma luz sobre essa questão. Até porque, se da morte de Rebeca nada se lê em Gênesis, em relação às mortes das outras duas matriarcas nós temos informação em abundância. A morte e sepultamento de Sara (mulher de Abraão, mãe de Isaque e sogra de Rebeca) está contada em Gênesis 23.1-10 . E a morte de Raquel (mulher de Jacó, nora de Isaque e de Rebeca) está registrada em Gênesis 35.16-20. Sobre Rebeca? Nada!
FICO PENSANDO: parece que, se de um lado, Isaque idolatrou o estômago, do outro, Rebeca idolatrou as regras da maternidade. E as coisas só deram certo por causa da graça de Deus.
Você olha para a história de Isaque e Rebeca e diz: não precisava ter sido deste modo. Preste atenção a todos os benefícios dados por Deus a Isaque e Rebeca.
PRIMEIRO, Isaque recebeu educação piedosa e humanamente irretocável:
Gênesis 18.17-19 1Então o SENHOR disse: “Devo esconder meu plano de Abraão? 18Afinal, Abraão certamente se tornará uma grande e poderosa nação, e todas as nações da terra serão abençoadas por meio dele. 19Eu o escolhi para que ordene a seus filhos e às famílias deles que guardem o caminho do SENHOR, praticando o que é certo e justo. Então farei por Abraão tudo que prometi”.
De fato, Isaque teve o testemunho de um pai que praticava o que cria e pregava:
Hebreus 11.17-19 17Pela fé, Abraão, ao ser posto à prova, ofereceu Isaque como sacrifício. Abraão, que havia recebido as promessas, estava disposto a sacrificar seu único filho, 18embora Deus lhe tivesse dito: “Isaque é o filho de quem depende sua descendência”. 19Concluiu que, se Isaque morresse, Deus tinha poder para trazê-lo de volta à vida. E, em certo sentido, recebeu seu filho de volta dos mortos.
SEGUNDO, Isaque e Rebeca experimentaram um casamento “feito nos céus”. O momento e o ambiente em que os olhos dos enamorados se encontram ao mesmo tempo e pela primeira vez indica o sorriso da Providência, exatamente conforme Abraão havia planejado e levado a cabo:
Gênesis 24.62-67 62Nesse meio-tempo, Isaque, que morava no Neguebe, havia regressado de Beer-Laai-Roi [lit., fonte daquele que vive e me vê]. 63Ao entardecer, enquanto caminhava pelo campo e meditava, levantou os olhos e viu que camelos se aproximavam. 64Quando Rebeca levantou os olhos e viu Isaque, desceu do camelo no mesmo instante 65e perguntou ao servo: “Quem é aquele homem que vem pelo campo ao nosso encontro?”. Quando ele respondeu: “É meu senhor”, Rebeca cobriu o rosto com o véu. 66Depois, o servo contou a Isaque tudo que havia feito. 67Isaque a levou para a tenda de Sara, sua mãe, e Rebeca se tornou sua mulher. Ele a amava profundamente e nela encontrou consolação depois que sua mãe morreu.
O mais triste é que, na cena em que Isaque abençoa os filhos gêmeos (Jacó e Esaú), lá em Gênesis 27, não há qualquer diálogo entre o casal que, como lemos, começou tão apaixonado. Isaque pensa que está fazendo escondido de Rebeca e Rebeca age por baixo dos panos para impedir que o desejo de Isaque se realize (i.e., abençoar Esaú com o direito de primogenitura, indo contra a vontade de Deus).
TERCEIRO, já vimos que Isaque fora um menino obediente (Gn 22.6-13) e dado à meditação (Gn 24.63), mas tem mais: ele e Rebeca começaram como um casal de oração – por longos vinte anos eles oraram para conseguir ter filhos:
Gênesis 25.19-26 19Este é o relato da família de Isaque, filho de Abraão. 20Quando Isaque tinha 40 anos, casou-se com Rebeca, filha de Betuel, o arameu de Padã-Arã, e irmã de Labão, o arameu. 21Isaque orou ao SENHOR em favor de sua mulher, pois ela não podia ter filhos. O SENHOR ouviu a oração de Isaque, e Rebeca ficou grávida de gêmeos. […] 26[…] Isaque tinha 60 anos quando os gêmeos nasceram.
POR FIM, até à relativa velhice, a bênção de Deus resplandeceu com todo o brilho de sua glória sobre a vida de Isaque. Gênesis 26, que é o único capítulo inteiro dedicado apenas a Isaque em toda a Bíblia, traz a história de Isaque peregrinando perigosamente entre os filisteus, mas Deus o protege, provê para ele e o faz prosperar com fortuna e influência, com cenas idênticas a algumas das de seu pai Abraão. Inclusive os seguintes: [1.] assim como o pai, Isaque mente a respeito da esposa; e [2.] os poços de água que abençoaram Isaque, seu povo e os rebanhos são os mesmos poços que foram, anteriormente, cavados por Abraão. Esses ecos demonstram que Deus estava cumprindo a promessa de abençoar Abraão e sua descendência (Gn 22.15-19). E como seu pai Abraão, Isaque firmou aliança com Deus:
Gênesis 26.23-25 23Dali [de Gerar, Sitna e Reobote, onde Isaque reabriu os poços de Abraão, mas precisou sair por causa dos filisteus], Isaque se mudou para Berseba, 24onde o SENHOR lhe apareceu na noite de sua chegada e disse: “Eu sou o Deus de seu pai, Abraão. Não tenha medo, pois estou com você e o abençoarei. Multiplicarei seus descendentes, e eles se tornarão uma grande nação. Farei isso por causa da minha promessa ao meu servo, Abraão”. 25Isaque construiu ali um altar e invocou o nome do SENHOR. Armou acampamento naquele local, e seus servos cavaram outro poço.
O QUE PODERIA, ENTÃO DAR ERRADO? Pais crentes e coerentes (filho de ninguém menos do que Abraão e Sara), educação bíblica da melhor qualidade, casamento segundo o protocolo bíblico, jovem piedoso no início, casal de oração e a benção de Deus ao longo de todo o caminho! Como pôde dar errado, meu Deus!? RESPOSTA: o gosto da carne na boca! Literalmente, a carnalidade que Isaque foi deixando crescer na sua alma. Dopamina em excesso. Prazeres imediatos. Bruce Waltke escreveu o seguinte:
É incrível que Isaque pretenda abençoar seu filho Esaú, que não pondera e se comporta como um animal [com desejo de saciar a fome imediatamente], e outorgar-lhe o domínio sobre o irmão gêmeo, que tem uma natureza mais refinada e é ponderado, só porque ama a habilidade de caçador de Esaú, que satisfaz seus desejos. Seu gosto por carne de caça exaure seu “paladar” espiritual. Na cena “Isaque abençoa os gêmeos”, menciona-se três vezes o fato de que Isaque aprecia a comida saborosa (Gn 27.4, 9, 14); a palavra que designa “guisado saboroso” ocorre seis vezes (27.4, 7, 9, 14, 17), e o correlato (“caça”), oito vezes (27.3, 5, 7, 19, 25, 30, 31, 33).
Era isso, portanto, o que movia Isaque, lamentavelmente: caça e comida. E cada vez mais ele queria doses maiores de dopamina, pratos maiores e mais saborosos.
Alexander Whyte, teólogo escocês, no século XIX também (a exemplo de Rawlinson), escreveu estas palavras tão tristes quanto verdadeiras:
Cada vez que leio a história toda de Isaque e mantenho a atenção em sua pessoa, para mim fica claro como um raio de luz que o que a inveja representou para Caim, o vinho para Noé, a indecência para Cam, a riqueza para Ló e o orgulho e a impaciência para Sara, a carne saborosa de caça representou para Isaque.
O sabor de carne, a caça na sua boca foi a realidade dominante de boa parte da vida madura e velhice de Isaque. Como isso é perigoso: fazer do ventre um ídolo!
Romanos 16.17-18 (NAA) 17Irmãos, peço que notem bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que vocês aprenderam. Afastem-se deles, 18porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre. Com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração das pessoas simples.
Filipenses 3.17-19 (NAA) 17Irmãos, sejam meus imitadores e observem os que vivem segundo o exemplo que temos dado a vocês. 18Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu lhes dizia e agora digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. 19O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está naquilo de que deviam se envergonhar, visto que só pensam nas coisas terrenas.
As consequências de se viver com o gosto da carne na boca, viver com a caça na boca foram muito grandes para uma vida só. Chegou a um ponto onde
Gênesis 27.1—28.9 1Certo dia, quando Isaque era velho e estava ficando cego, chamou Esaú, seu filho mais velho: “Meu filho!”. Esaú respondeu: “Aqui estou!”.
2Isaque disse: “Estou velho e não sei quando vou morrer. 3Pegue suas armas, o arco e as flechas, e vá ao campo caçar um animal para mim. 4Depois, prepare meu prato favorito e traga-o aqui para eu comer. Então pronunciarei a bênção que pertence a você, meu filho mais velho, antes de eu morrer”.
5Rebeca, porém, ouviu o que Isaque tinha dito a seu filho Esaú. Quando Esaú saiu para caçar, 6ela disse a seu filho Jacó: “Ouvi seu pai dizer a Esaú: 7‘Traga-me uma carne de caça e prepare-me uma refeição saborosa. Então abençoarei você na presença do SENHOR antes de eu morrer’. 8Agora, meu filho, preste atenção e faça exatamente o que lhe direi. 9Vá ao rebanho e traga-me dois dos melhores cabritos. Eu os usarei para preparar o prato favorito de seu pai. 10Depois, leve a comida para seu pai, para que ele a coma e o abençoe antes de morrer”.
11Jacó respondeu a Rebeca: “Mas meu irmão Esaú é peludo, enquanto eu tenho pele lisa. 12E se meu pai me tocar? Perceberá que estou tentando enganá-lo e, em vez de me abençoar, me amaldiçoará!”.
13Sua mãe, porém, respondeu: “Que caia sobre mim essa maldição, meu filho! Apenas faça o que lhe digo. Vá e traga-me os cabritos”.
14Jacó foi e trouxe os cabritos para sua mãe. Rebeca os usou para preparar uma refeição saborosa, do jeito que Isaque gostava. 15Em seguida, pegou as roupas prediletas de Esaú que estavam na casa dela e as entregou a Jacó, seu filho mais novo. 16Com a pele dos cabritos, cobriu-lhe os braços e a parte lisa do pescoço. 17Depois, entregou-lhe a refeição saborosa, acompanhada do pão que havia acabado de assar.
18Jacó levou a comida para o pai e disse: “Meu pai?”.
“Sim, meu filho”, respondeu Isaque. “Quem é você, Esaú ou Jacó?”
19Jacó disse: “Sou Esaú, seu filho mais velho. Fiz o que o senhor mandou. Aqui está a carne de caça. Sente-se e coma, para que me dê sua bênção”.
20Isaque perguntou: “Como encontrou a caça tão depressa, meu filho?”. Jacó respondeu: “O SENHOR, seu Deus, a colocou no meu caminho”.
21Então Isaque disse a Jacó: “Chegue mais perto, para que eu possa tocá-lo e ter certeza de que você é mesmo Esaú”. 22Jacó se aproximou do pai, e Isaque o tocou e disse: “A voz é de Jacó, mas as mãos são de Esaú”. 23Não o reconheceu, porém, pois as mãos de Jacó estavam peludas, como as de Esaú. Assim, Isaque se preparou para abençoar Jacó. 24“Mas você é mesmo meu filho Esaú?”, perguntou ele. “Sim, eu sou”, respondeu Jacó.
25Então Isaque disse: “Agora, meu filho, traga-me a carne de caça. Depois que comer, eu lhe darei a minha bênção”. Jacó trouxe a comida para o pai, e Isaque comeu. Também bebeu o vinho que Jacó lhe serviu. 26Por fim, Isaque disse a Jacó: “Aproxime-se, por favor, e dê-me um beijo, meu filho”.
27Jacó se aproximou e o beijou. Quando Isaque sentiu o cheiro das roupas, finalmente abençoou o filho. Disse: “Ah! O cheiro de meu filho é como o cheiro do campo que o SENHOR abençoou! […]
30Assim que Isaque terminou de abençoar Jacó, e logo depois de Jacó ter saído da presença de seu pai, Esaú voltou da caçada. 31Preparou uma refeição saborosa, levou-a para seu pai e disse: “Sente-se, meu pai, e coma da minha caça, para me abençoar”.
32Isaque lhe perguntou: “Quem é você?”. Ele respondeu: “Sou Esaú, seu filho mais velho”. 33Isaque começou a tremer incontrolavelmente e disse: “Então quem me serviu a carne de caça? Acabei de comê-la, pouco antes de você chegar, e abençoei quem a trouxe. Essa bênção deve permanecer!”.
34Quando Esaú ouviu as palavras do pai, soltou um forte grito amargurado e suplicou: “Ah, meu pai, e eu? Abençoe-me também!”.
35Mas Isaque disse: “Seu irmão esteve aqui e me enganou. Levou embora a bênção que pertencia a você!”.
36Esaú exclamou: “Não é de admirar que ele se chame Jacó, pois é a segunda vez que me engana. Primeiro, tomou meus direitos de filho mais velho e, agora, roubou minha bênção. O senhor não guardou uma bênção sequer para mim?”.
37Isaque disse a Esaú: “Fiz de Jacó o seu senhor e declarei que todos os irmãos dele o servirão. Garanti a ele fartura de cereais e vinho. O que me resta para dar a você, meu filho?”.
38Esaú suplicou: “Por acaso o senhor tem apenas uma bênção? Ah, meu pai, abençoe-me também!”. Então Esaú chorou em alta voz. […]
41Daquele momento em diante, Esaú passou a odiar Jacó porque seu pai o havia abençoado. Começou a tramar: “Em breve meu pai morrerá. Então, matarei meu irmão Jacó”.
42Quando Rebeca soube das intenções de Esaú, mandou chamar Jacó e lhe disse: “Ouça, Esaú se consola com planos para matar você. 43Portanto, preste atenção, meu filho. Apronte-se e fuja para a casa de meu irmão Labão, em Harã. 44Fique lá até que diminua a fúria de seu irmão. 45Quando ele se acalmar e se esquecer do que você lhe fez, mandarei buscá-lo. Por que eu perderia meus dois filhos no mesmo dia?”.
46Depois, Rebeca disse a Isaque: “Estou cansada dessas mulheres hititas que vivem aqui! Prefiro morrer a ver Jacó se casar com uma delas!”.
28.1Então Isaque mandou chamar Jacó, o abençoou e disse: “Não se case com uma mulher cananita. 2Em vez disso, vá de imediato a Padã-Arã, à casa de seu avô Betuel, e case-se com uma das filhas de seu tio Labão. 3Que o Deus Todo-poderoso o abençoe e lhe dê muitos filhos, e que eles se multipliquem e venham a ser muitas nações. 4 Que Deus dê a você e a seus descendentes as bênçãos que ele prometeu a Abraão. Que você venha a possuir esta terra na qual vive agora como estrangeiro, pois Deus entregou esta terra a Abraão”.
5Assim, Isaque se despediu de Jacó, que foi a Padã-Arã morar com seu tio Labão, irmão de Rebeca, filho de Betuel, o arameu.
6Esaú soube que seu pai, Isaque, havia abençoado Jacó e o enviado a Padã-Arã para encontrar uma esposa e que, ao abençoá-lo, tinha advertido a seu irmão: “Não se case com uma mulher cananita”. 7Também soube que Jacó havia obedecido aos pais e ido a Padã-Arã. 8Quando ficou evidente que seu pai não aprovava as mulheres cananitas, 9Esaú foi visitar a família de seu tio Ismael e, além das duas mulheres cananitas com as quais havia se casado, tomou para si uma das filhas de Ismael. O nome de sua nova mulher era Maalate, irmã de Nebaiote e filha de Ismael, filho de Abraão.
Guiado pelo paladar, Isaque se viu enganado pelos sentidos, pois é isto o que acontece com quem troca a palavra de Deus pelo paladar e a dopamina: fica cego, sem discernimento auditivo, tátil e olfativo, e com o paladar corrompido (afinal, havia e há enorme diferença entre o gosto da carne de caça e carne de cabrito do rebanho). Isaque estava perdido. Só ele não sabia disso, nas palavras de Bruce Waltke:
Isaque, o patriarca, o líder da santa família, se torna o tolo, a vítima de um golpe, um motivo de piada. Numa notável e refinada ironia, Isaque acha que está abençoando Esaú, mas de fato está fazendo o que é agradável a Deus, abençoando o escolhido divino, Jacó. […] O escritor de Hebreus reflete a respeito da surpreendente graça divina, quando recorda apenas a fé de Isaque: “Pela fé, igualmente Isaque abençoou a Jacó e a Esaú, acerca de coisas que ainda estavam para vir.” (Hb 11.20, ARA). Essa estranha condição, em que se misturam virtudes e interesses próprios, é algo que caracteriza muitos que ministram pela fé, porém com hesitação.
Da vida de Isaque e Rebeca EU TIRO OS SEGUINTES: [1.] como é fácil começar bem e terminar mal, [2.] como é fácil deixar a palavra de Deus pela pressão da dopamina, [3.] como é fácil se agarrar às promessas e à vontade de Deus e agir na própria força. Graças a Deus, porém, que do início ao fim é tudo pela graça soberana e decisiva de Deus.
MAS LEVE ISTO AQUI COMO ESPERANÇA PARA VOCÊ: Isaque foi traído por um beijo, o beijo de Jacó (Gn 27.27), por causa de suas próprias escolhas carnais e da obstinação pecaminosa de Rebeca, mas – pela graça de Deus – da linhagem de Isaque e de Abraão veio Jesus Cristo a nós, o qual foi traído também por um beijo, o beijo de Judas, foi assim por causa de sua escolha de fazer da vontade do Pai a sua comida.
Abrace com fé a Jesus Cristo e fuja do caminho de Isaque.
S.D.G. L.B.Peixoto
Mais Sermões
3 de dezembro, 2023
22 de setembro, 2024
2 de maio, 2018
14 de junho, 2020
Mais Séries
O Perigo: Isaque
Pr. Leandro B. Peixoto