10.09.2023
[Hebreus 12.14b] procurem ter uma vida santa, sem a qual ninguém verá o Senhor.
Jogar a toalha é uma expressão frequentemente usada em referência à rendição. Diz-se de um treinador, literalmente, jogando uma toalha no ringue, solicitando que a lute termine. Tal prática pode ser em razão de o lutador estar sendo detonado com sequências de socos impiedosos do adversário; e para não ser derrubado em nocaute ou algo pior acontecer, joga-se a toalha, pede-se a trégua.
Agora, nas regras do boxe, somente o árbitro pode parar qualquer luta. Ninguém mais tem o direito de interromper o combate sem a permissão da autoridade do ringue. De fato, o árbitro pode ignorar completamente a toalha no chão. Dependerá de ele achar que a luta está ou não sendo justa e que o lutador que está apanhando está ou não apto para continuar, sem risco de trauma físico.
A CARTA AOS HEBREUS pode ser resumida com este propósito: encorajar os cristãos a não jogarem a toalha, não desistirem do combate da fé. Hebreus 10.39 (NAA): “Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição, mas somos da fé, para a preservação da alma. Então o autor passa a explicar a natureza da fé (11.1-3) e apresenta uma lista longa de exemplos de fé no Antigo Testamento (11.4-40).
E por que ele faz isso?
O pano de fundo da carta é uma onda de perseguição. Os judeus para quem o autor escreveu estavam sendo alvo de abusos cruéis por causa da tão abrupta ruptura com o judaísmo e a surpreendente conversão ao cristianismo. A violência vinha até de amigos e parentes judeus que se ressentiam por terem os seus, uma vez queridos, virado as costas aos costumes e tradições religiosas nos quais nasceram e foram criados. Até mesmo judeus não convertidos ao cristianismo, aqueles que eram próximos aos membros de igrejas, estavam sofrendo por causa de seus laços ou associações com os cristãos.
A AFLIÇÃO EMPREGADA era, em grande parte, sob a forma de pressão social e econômica, embora alguns deles tivessem sido violentados, tiveram os bens tomados às autoridades e foram presos (10.34). Certamente que muitos desses crentes estavam se perguntando a respeito da razão para tanto sofrimento, uma vez que o seu Deus era um Deus de poder e de paz. Dúvidas deste tipo: “Onde está Deus quando nós estamos mais precisando de sua intervenção? Por que, quando nos voltamos para um Deus de amor, todos começaram a nos odiar?” “Vale mesmo a pena seguir Jesus e empenhar-se pela santidade?” E muito mais nesse sentido. Nesse contexto, com efeito, não eram poucos os que estavam jogando a toalha e abandonando a fé.
HEBREUS 12 É UM FORTE APELO À PERSEVERANÇA. Admoesta os crentes cansados a continuarem correndo com perseverança a corrida – que é a maratona da vida cristã (vs. 1-3) –, sem jogarem a toalha, sem retroceder para a perdição (10.39). Hebreus 12 também lembra aos crentes vacilantes de que Deus usa as dificuldades e as aflições como meios de disciplina, como meios de treinar seus filhos e ajudá-los a amadurecer (vs. 4-11). Exorta ainda os crentes em dificuldades a continuarem diligentes e vigilantes na fé (vs. 12-17). Finalmente, adverte os crentes temerosos a não temerem aos homens mais do que a Deus (vs. 18-29), pois o SENHOR é fogo consumidor.
Portanto, se você está na corrida da fé e está considerando jogar a toalha e desistir, Hebreus 12 é para você! Este capítulo exorta os leitores a considerarem o próprio exemplo de perseverança de Jesus, de forma a reagirem adequadamente aos desafios à sua fé (12.1-29). Portanto, OLHE PARA CRISTO… aprenda a dinâmica da santificação…
I. Olhe para Cristo e corra para ganhar o prêmio
O triunfo de Jesus sobre o sofrimento e a morte o qualifica como o padrão de uma vida de fé a ser imitada (vs.1-3). Note que na vida cristã [1.] nós temos um alvo: a semelhança com Cristo; [2.] nós temos uma inspiração: nuvem de testemunhas; [3.] nós temos uma limitação: o peso e o pecado que nos atrapalha; [4.] nós temos um modo padrão: a perseverança; [5.] nós temos um modelo: o próprio Cristo; e [6.] nós temos uma presença: Cristo, o líder e aperfeiçoador da fé – i.e., o desbravador, o pioneiro, o modelo e a fonte da fé; mas também o que completa a fé; aquele que começa e conclui a fé (Fl 1.6).
Hebreus 12.1-3 1Portanto, uma vez que estamos rodeados de tão grande multidão de testemunhas, livremo-nos de todo peso que nos torna vagarosos e do pecado que nos atrapalha, e corramos com perseverança a corrida que foi posta diante de nós. 2Mantenhamos o olhar firme em Jesus, o líder e aperfeiçoador de nossa fé. Por causa da alegria que o esperava, ele suportou a cruz sem se importar com a vergonha. Agora ele está sentado no lugar de honra à direita do trono de Deus. 3Pensem em toda a hostilidade que ele suportou dos pecadores; desse modo, vocês não ficarão cansados nem desanimados.
II. Olhe para Cristo e se submeta à disciplina
A perseverança é a reação adequada dos crentes às provações que Deus usa como treinamento [παιδεία – correção, disciplina, ensino] na nossa vida (vs. 4-11).
Hebreus 12.4-11 4Afinal, ainda não chegaram a arriscar a vida na luta contra o pecado. 5Acaso vocês se esqueceram das palavras de ânimo que Deus lhes dirigiu como filhos dele? Ele disse [em Provérbios 3.11-12]: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor; não desanime quando ele o corrigir. 6Pois o Senhor disciplina quem ele ama e castiga todo aquele que aceita como filho”. 7Enquanto suportam essa disciplina de Deus, lembrem-se de que ele os trata como filhos. Quem já ouviu falar de um filho que nunca foi disciplinado pelo pai? 8Se Deus não os disciplina como faz com todos os seus filhos, significa que vocês não são filhos de verdade, mas ilegítimos. 9Uma vez que respeitávamos nossos pais terrenos que nos disciplinavam, não devemos nos submeter ainda mais à disciplina do Pai de nosso espírito e, assim, obter vida? 10Pois nossos pais nos disciplinaram por alguns anos como julgaram melhor, mas a disciplina de Deus é sempre para o nosso bem, a fim de que participemos de sua santidade. 11Nenhuma disciplina é agradável no momento em que é aplicada; ao contrário, é dolorosa. Mais tarde, porém, produz uma colheita de vida justa e de paz para os que assim são corrigidos.
Algumas considerações sobre a disciplina de Deus. Há muitas lentes pelas quais as pessoas enxergam a disciplina aplicada a eles por Deus.
1. Há pessoas que simplesmente acatam e aceitam a disciplina. Era assim a atitude dos estóicos (muito em alta nestes dias). O estoicismo sustenta que nada neste mundo acontece fora da vontade de Deus; portanto, argumentam eles, não há o que fazer senão aceitar a disciplina. Fazer qualquer outra coisa será como bater a cabeça contra a parede do universo.
Ora, esta é uma tentativa de se aceitar a sabedoria suprema; mas mesmo assim – pense bem – esta é a aceitação não do amor de um pai, mas do poder de um pai. Não é uma aceitação de boa vontade, mas uma aceitação derrotista, é uma rendição inconformada. Preste atenção ao que escreveu um dos estóicos mais famosos de todos os tempos, o imperador romano Marco Aurélio (121–180 d.C.) – trecho de seu diário de Meditações:
Se for suportável, então aguente. Se não for suportável, pare de reclamar. Sua destruição também significará seu fim. Dor e sofrimento são inevitáveis, e reclamar não faz mais do que desperdiçar seu próprio tempo. Se isso não te matar, então saiba que isso vai passar. E se isso te matar, então encontre paz no fato de que seu fim virá com seu próprio fim.
2. Há pessoas que recebem a disciplina de muito mau grado, fazendo de tudo para que ela passe o mais rápido possível. Era muito comum alguns dos romanos dizerem mais ou menos assim: “Jamais permitirei que qualquer coisa interrompa minha vida.” Ainda hoje isso é comum, não é verdade? Ora, receber a disciplina divina com esse espírito – um obstáculo a ser transposto – é o mesmo que considerá-la como algo que nos é infligido e que deve ser enfrentado com desafio, jamais com gratidão pelos frutos que se colherá ao final.
3. Há pessoas que aceitam a disciplina com a autopiedade que no final as destruirá. De fato, há gente que, quando se encontra numa situação difícil, dá a impressão de que é a única pessoas no mundo a quem a vida já machucou. Essa pessoas vivem embriagadas de sua autopiedade.
4. Há pessoas que recebem a disciplina como uma punição divina, da qual se ressentem. Na época dos romanos, por exemplo, todos viam nos desastres nacionais e pessoais nada além da vingança dos deuses. O poeta Lucano (39-65 d.C.) escreveu: “Feliz fosse Roma, de fato, e cidadãos abençoados ela teria, se os deuses estivessem tão preocupados em cuidar dos homens quanto em exigir vingança deles.” O historiador Tácito (56–117 d.C.) sustentou que os desastres da nação eram prova de que o interesse dos deuses não estava na segurança das pessoas, mas na sua punição.
Agora, não se precipite em julgar. Ainda há pessoas que consideram Deus vingativo. Quando algo ruim acontece com elas ou com aqueles que amam, a indagação é sempre a mesma: “O que eu fiz para merecer isso?” E o lamento é feito em tom tão amargo que deixa claro que elas consideram toda a situação como castigo injusto de Deus. Nunca lhes ocorre perguntar: “O que Deus está tentando me ensinar e fazer comigo através desta experiência? O que dele eu preciso ainda conhecer?”
5. Há pessoas que – corretamente – aceitam a disciplina como vinda de um pai amoroso. O Doutor da Igreja do século IV, Jerônimo, disse algo paradoxal, mas verdadeiro: “A maior de todas as iras é quando Deus não está mais zangado conosco quando pecamos”; isto é, quando Deus nos entrega às nossas próprias paixões. Os cristãos sabem que a mão de um pai nunca causará lágrimas desnecessárias aos filhos; de fato, como disse o autor de Hebreus,
Hebreus 12.10-11 10Pois nossos pais nos disciplinaram por alguns anos como julgaram melhor, mas a disciplina de Deus é sempre para o nosso bem, a fim de que participemos de sua santidade. 11Nenhuma disciplina é agradável no momento em que é aplicada; ao contrário, é dolorosa. Mais tarde, porém, produz uma colheita de vida justa e de paz para os que assim são corrigidos.
Deixaremos de sentir autopiedade e ressentimento, e acabaremos com as nossas queixas rebeldes se nos lembrarmos de que não existe disciplina de Deus que não surja do amor que visa ao bem – “a fim de que participemos de sua santidade”. Portanto…
Olhe para Cristo… e corra para ganhar o prêmio… e se submeta à disciplina…
Mas tem mais…
III. Olhe para Cristo e não abra mão da herança eterna
A perseverança na santidade, ao invés da imoralidade ou profanidade, é a atitude correta de quem corre olhando para Cristo, sem abrir mão da herança eterna (vs.12-17).
Hebreus 12.12-17 12Portanto, revigorem suas mãos cansadas e seus joelhos enfraquecidos. 13Façam caminhos retos para seus pés a fim de que os mancos não caiam, mas sejam fortalecidos. 14Esforcem-se para viver em paz com todos e procurem ter uma vida santa, sem a qual ninguém verá o Senhor. 15Cuidem uns dos outros para que nenhum de vocês deixe de experimentar a graça de Deus. Fiquem atentos para que não brote nenhuma raiz venenosa de amargura que cause perturbação, contaminando muitos. 16Vigiem para que ninguém seja imoral ou profano, como Esaú, que trocou seus direitos como filho mais velho por uma simples refeição. 17Como vocês sabem, mais tarde, quando ele quis a bênção do pai, foi rejeitado. Era tarde para que houvesse arrependimento, embora ele tivesse implorado com lágrimas.
IV. Olhe para Cristo e contemple seu privilégio
A superioridade da nova aliança é vista no contraste entre suas cerimônias de instituição (vs.18-24).
Hebreus 12.18-24 18Vocês não chegaram a um monte [Sinai] que se pode tocar, a um lugar de fogo ardente, escuridão, trevas e vendaval, 19ao toque da trombeta e à voz tão terrível que aqueles que a ouviram suplicaram que nada mais lhes fosse dito, 20pois não podiam suportar a ordem que recebiam [em Êxodo 19.13]: “Se até mesmo um animal tocar no monte, deve ser apedrejado”. 21O próprio Moisés ficou tão assustado com o que viu a ponto de dizer [em Deuteronômio 9.19]: “Fiquei apavorado e tremendo de medo”. 22Vocês, porém, chegaram ao monte Sião, à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, aos incontáveis milhares de anjos em alegre reunião, 23à congregação dos filhos mais velhos, cujos nomes estão escritos no céu, e a Deus, que é juiz de todos, aos espíritos dos justos no céu, agora aperfeiçoados, 24a Jesus, o mediador da nova aliança, e ao sangue aspergido, que fala de coisas melhores [perdão] do que falava o sangue de Abel [vingança].
V. Olhe para Cristo e não deixe de ouvir a voz do Senhor
A perseverança significa uma aceitação reverente das exigências de Deus à luz da tremenda magnitude da sua ira (vs. 25-29).
Hebreus 12.25-29 25Tenham cuidado para não se recusarem a ouvir aquele que fala. Porque, se aqueles que se recusaram a ouvir o mensageiro terreno não escaparam, certamente não escaparemos se rejeitarmos aquele que nos fala do céu. 25Quando Deus falou naquela ocasião, sua voz fez a terra tremer, mas agora ele promete [em Ageu 2.6]: “Mais uma vez, farei tremer não só a terra, mas também os céus”. 27Isso significa que toda a criação será abalada e removida, de modo que permaneçam apenas as coisas inabaláveis. 28Uma vez que recebemos um reino inabalável, sejamos gratos e agrademos a Deus adorando-o com reverência e santo temor. 29Porque nosso Deus é um fogo consumidor.
A salvação é pela santificação. A santificação comprova a justificação. E esta é a dinâmica da santificação: OLHE PARA CRISTO…
Vá fundo na santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.
Esta é a minha oração por você:
1Tessalonicenses 3.11-13 11Que Deus, nosso Pai, e nosso Senhor Jesus nos encaminhem a vocês em breve. 12E que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vocês têm uns pelos outros e por todos, da mesma forma que nosso amor transborda por vocês. 13E, como resultado, que Deus, nosso Pai, torne seu coração forte, irrepreensível e santo diante dele para quando nosso Senhor Jesus voltar com todo o seu povo santo. Amém.
Olhe para Cristo! A obra de Cristo na cruz comprou nossa salvação (e santificação) para a nossa glorificação.
Tito 2.11-14 11Pois a graça de Deus foi revelada e a todos traz salvação. 12Somos instruídos a abandonar o estilo de vida ímpio e os prazeres pecaminosos. Neste mundo perverso, devemos viver com sabedoria, justiça e devoção, 13enquanto aguardamos esperançosamente o dia em que será revelada a glória de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo. 14Ele entregou sua vida para nos libertar de todo pecado, para nos purificar e fazer de nós seu povo, inteiramente dedicado às boas obras.
Olhe para Cristo!
S.D.G. L.B.Peixoto
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Pr. Leandro B. Peixoto