03.06.2018
O BATISMO CRISTÃO [PAR. 6]
Mateus 28.18-19
18Jesus se aproximou deles e disse: “Toda a autoridade no céu e na terra me foi dada. 19Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-osem nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Quando “batismo” não é batismo
Completaremos hoje a série de mensagens sobre as ordenanças da igreja (total de dez). Semana passada, pela manhã, foi a última mensagem sobre a ceia do Senhor (total de quatro). Agora é a última mensagem sobre o batismo (total de seis).
Nas duas primeiras mensagens sobre batismo, nós estudamos o que os batistas creem sobre batismo, a terceira mensagem abordou os benefícios de ser batizado, a quarta mensagem contestou o batismo infantil praticado pela igreja católica romana e a quinta mensagem, na semana retrasada, foi uma argumentação contrária ao batismo infantil praticado pelas igrejas protestantes reformadas. Estão todas no nosso site na internet.
Recapitulando o que cremos e como definimos o batismo (Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira(DD-CBB); artigo 9o):
O batismoe a ceia do Senhor são as duas ordenanças da igreja, estabelecidas pelo próprio Jesus Cristo, sendo ambas de natureza simbólica. O batismo consiste na imersão do crente em água, após sua pública profissão de fé em Jesus Cristo como Salvador único, suficiente e pessoal. Simboliza a morte e sepultamento do velho homem e a ressurreição para uma nova vida em identificação com a morte, sepultamento e ressurreição do Senhor Jesus Cristo e também prenúncio da ressurreição dos remidos. O batismo, que é condição para ser membro de uma igreja, deve ser ministrado sob a invocação do nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Poder dizer o que alguma coisa é, envolve ser capaz de dizer o que ela não é. Pois bem, tendo definido o que ébatismo, agora nós estamos em condições de dizer o que não ébatismo. Mas, por que nos preocupar com o que não é batismo?
Primeiro, ao considerar com maior atenção o tema do batismo, na forma como o temos definido à luz do Novo Testamento, algumas pessoas que acreditam ter sido batizadas podem se perguntar se de fatoelas foram batizadas. Esperamos ajudá-las.
Segundo, com o fluxo crescente de pessoas chegando de outras igrejas para a nossa, faz-se necessário auxiliar os candidatos à membresia a discernir se o que eles chamam de “batismo” é de fato batismo bíblico.
Sendo assim, vamos pesquisar quatro dos cenários mais comuns em que “batismo” não é batismo. Antes, porém, olhemos para um texto comumente utilizado por aqueles que julgam ter sido “batizados”; pois se baseando nele, alguns têm se recusado a receber o batismo bíblico — Efésios 4.5: “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo”.
Um só batismo?
Um só batismo? O que Paulo quer dizer? Em Efésios 4.1–6, Paulo está fazendo uma exortação à unidadedo corpo; o apóstolo está exortando a igreja à unidade baseada nas verdades do únicoDeus e sua obra únicade salvação. Observe (Ef 4.1-6):
1Portanto, como prisioneiro no Senhor, suplico-lhes que vivam de modo digno do chamado que receberam. 2Sejam sempre humildes e amáveis, tolerando pacientemente uns aos outros em amor. 3Façam todo o possível para se manterem unidos no Espírito, ligados pelo vínculo da paz. 4Pois há um só corpo e um só Espírito, assim como vocês foram chamados para uma só esperança. 5Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, 6um só Deus e Pai de tudo, o qual está sobre todos, em todos, e vive por meio de todos.
Os cristãos começaram a discordar sobre o mododo batismo e o seu significadodesde o início da história da igreja, mas não é disto que Paulo está tratando aqui (cf. Comentário bíblico de Charles Hodgeem Efésios, Seção I, vv. 1-16 e Martyn Lloyd-Jonesno cap. 10 de A unidade cristã, exposição sobre Efésios 4.1-16, vol. 4, Ed. PES, ). Neste texto, ao dizer (v. 5): “um só batismo”, o apóstolo está se referindo ao batismo de todos os crentes em um só corpo, conforme descrito por ele mesmo em 1Coríntios 12.13, onde se lê:
Alguns de nós são judeus, alguns são gentios, alguns são escravos e alguns são livres, mas todos nós fomos batizados em um só corpo pelo único Espírito, e todosrecebemos o privilégio de beber do mesmo Espírito.
“Um só batismo”, portanto, parece estar indicando o resultado da obra regeneradora do Espírito, quando alguém se torna um crente genuíno em Cristo, sendo inserido no corpo: a igreja. Dessa forma, conforme já argumentamos noutras mensagens, o batismo em água é apenas um sinal externo (Lloyd-Jones: “representação externa”) da realidade interior do crente em Cristo, resultado da obra regeneradora do Espírito (cf. Jo 3.5 e 8; Tt 3.5).
Em síntese: em Efésios 4.1-6, Paulo apela à unidade, destacando a profunda unidade espiritual entre todos os crentes genuínos, pois estão “em Cristo” (Jo 17.21 e 23) — foram todos (em “um só batismo”, de uma vez por todas) “batizados em um só corpo pelo único Espírito” (1Co 12.13), pela graça de “um só Senhor”, fruto de “uma só fé”(doutrina), tornando-se todos filhos de “um só Deus e Pai de tudo”, independentemente de sexo, raça, classe social ou nacionalidade (Gl 3.26-29). Logo, “um só batismo”(Ef 4.5) não serve de base para o argumento de que, tendo sido “batizado” uma vez, não se batiza de novo.
Primeiro, porque, conforme acabamos de ver, o texto de Paulo não está se referindo ao batismo nas águas (modo ou significado), mas à obra regeneradora do Espírito Santo, salvando e inserido (batizando, mergulhando) o cristão no corpo que é a igreja (Lloyd-Jones, págs. 113-114).
Segundo, e isto nos leva a prosseguir em nosso estudo, se batismo, como cremos pelo Novo Testamento, é o símbolo externode uma realidade interna do coração (obra regeneradora do Espírito), batismo só será batismo quando a pessoa de fato foi salva pela graça de Deus e por meio da fé somente em Cristo (produzida pelo Espírito na regeneração), dando publica profissão de fé de sua nova condição em Jesus Cristo. Qualquer coisa diferente disto não terá sido batismo. Prossigamos.
O “batismo” infantil
“Batismo” infantil, segundo cremos pelo Novo Testamento, não é de fato batismo. Por mais bem intencionados que estejam aqueles que o praticam, por mais sofisticados que sejam seus argumentos teológicos, a Bíblia simplesmente não autoriza que alguma igreja batize infantes, mesmo que sejam filhos de crentes. (Veja nossos argumentos nas duas últimas mensagens que pregamos sobre o batismo.)
Em síntese: batismo não regenera (conforme creem os católicos romanos) nem é sinal de promessa para a comunidade da aliança, substituindo a circuncisão (conforme creem os protestantes reformados).
Batismo é um sinal externo de que o evangelho produziu efeito na vida de alguém: pela graça a pessoa foi regenerada e por meio da fé ela está unida a Cristo; batismo, portanto, aponta para uma promessa já cumprida na vida de quem está sendo batizado.
Então, se foi “batizado” na infância, você precisa ser batizado pela primeira vez, “após sua pública profissão de fé em Jesus Cristo como Salvador único, suficiente e pessoal”. Apesar das nobres intenções da igreja que lhe “batizou”, você continua na mesma posição de todos aqueles que, com arrependimento e fé, vieram a Cristo e ainda não foram batizados.
O “batismo” de não convertidos
Algumas pessoas, a pedido próprio, são batizadas, tratando o ato como uma profissão de fé em Cristo, porém, mais tarde, elas tomam consciência de que na ocasião do batismo elas não eram, de fato, convertidas. Então, deve essa pessoa ser batizada de novo? Não, claro que não! Na verdade, ela precisa ser batizada pela primeira vez.
Uma vez batizada, a pessoa foi batizada. No entanto, se a pessoa não era convertida na ocasião do “batismo”, se aquele “batismo” não foi uma profissão genuína de fé salvadora e um pacto sincero de submissãoa Jesus Cristo pela fé, então aquele “batismo” não foi, de fato, um batismo. Se na época do “batismo” a pessoa não era regenerada, se não tinha sido batizada (mergulhada) em Cristo (Ef 4.5), ela não terá sido batizada. Se este é o seu caso, você precisa ser batizado ou batizada pela primeira e única vez.
O “batismo” em igreja que prega outro evangelho
Batismo é um sinal ou emblema do evangelho. O batismo retrata o drama das boas-novas de Jesus Cristo alcançando, salvando e libertando o pecador. Ser batizado é se identificar com Jesus Cristo e com sua obra salvadora. Batismo, portanto, depende do evangelho — não havendo evangelho, não há batismo.
Conforme Paulo escreveu, o evangelho anunciado pelos apóstolos é o que deve ser crido para a salvação, do contrário, terá sido vã a fé de quem creu (1Co 15.1-4); e se foi vã a fé, o “batismo” não deu testemunho de fé genuína para a salvação; não foi batismo:
1Agora, irmãos, quero lembrá-los das boas-novas que lhes anunciei anteriormente. Vocês as receberam e nelas permanecem firmes. 2São essas boas-novas que os salvam, se continuarem a crer na mensagem como lhes anunciei; do contrário, sua fé é inútil. 3Eu lhes transmiti o que era mais importante e o que também me foi transmitido: Cristo morreu por nossos pecados, como dizem as Escrituras. 4Ele foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, como dizem as Escrituras.
É plenamente possível uma igreja, que se descreve evangélica, afastar-se do evangelho e ainda assim achar que éigreja de Jesus Cristo — isto para a sua perdição e para a perdição de quem segue o “novo evangelho” pregado pela “igreja”. Mas, conforme Paulo mesmo escreveu, devemos todos ficar alertas, pois o que não falta é gente enganada (Gl 1.6-7):
6Admiro-me que vocês estejam se afastando tão depressa daquele que os chamou para si por meio da graça de Cristo. Vocês estão seguindo um caminho diferente que se faz passar pelas boas-novas, 7mas que não são boas-novas de maneira nenhuma. Estão sendo perturbados por aqueles que distorcem deliberadamente as boas-novas de Cristo.
A pessoa que creu noutro evangelho (diferente daquele que Paulo anunciou aos coríntios, aos gálatas e aos romanos, por exemplo) e foi batizada, na verdade não foi batizada, pois terá crido em vão (1Co 15.2) por ter crido em evangelho diferente (Gl 1.6-7).
O evangelho é a chave do reino dos céus (Mt 16.13-20). Uma igreja que não prega, protege e pratica o evangelho, colocando várias outras coisas além de Cristo (leis, crendices, rituais, batismo ou seja lá o que for), não terá pregado o evangelho de Deus (Rm 1.1 e 16-17) nem poderá dizer que é igreja.
Portanto, não tendo havido o evangelho de Deus (Rm 1.1 e 16-17), não terá havido batismo. Quem crê no evangelho deverá ser batizado, mesmo que tenha sido “batizado” anteriormente. Ouça esta experiência de Paulo na cidade de Corinto (At 19.1-7):
1Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo viajou pelas regiões do interior até chegar a Éfeso, no litoral, onde encontrou alguns discípulos. 2Ele lhes perguntou: “Vocês receberam o Espírito Santo quando creram?”. “Não”, responderam eles. “Nem sequer ouvimos que existe o Espírito Santo.” 3“Então que batismo vocês receberam?”, perguntou ele. “O batismo de João”, responderam. 4Paulo disse: “João batizava com o batismo de arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que viria depois, isto é, em Jesus”. 5Assim que ouviram isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus. 6Paulo lhes impôs as mãos e o Espírito Santo veio sobre eles, e falaram em línguas e profetizaram. 7Eram ao todo uns doze homens.
Ou seja, é possível ter sido “batizado” sem ter ouvido o evangelho; neste caso, “batismo” não terá sido batismo. Quem crê no evangelho de Cristo, tendo recebido o Espírito Santo, precisa ser batizado (obs.: a descida do Espírito Santo ou batismo com o Espírito Santo está sempre vinculada à apresentação do evangelho; veja, por exemplo, o caso de Pedro, ao ter pregado aos gentios: At 10.34-48 — enquanto ouviamo evangelho, receberamo Espírito Santo e, somente então, eles foram batizadosnas águas).
“Batismo” em igreja que nega o evangelho ou prega outro evangelho não é batismo.
O “batismo” sem conexão com uma igreja
O batismo é um ato da igreja, não de cristãos que, individualmente, decidem praticar o batismo nalgum lugar qualquer (p.ex.: vai passear em Israel e lá no rio Jordão a pessoa é batizada por algum pastor; isso não é batismo, é banho turístico). Quem liga alguém à membresia ou desliga alguém da membresia (da igreja local) é a igreja reunida (Mt 18.15-20). Portanto, quem autoriza ou desautoriza o batismo é a igreja em assembleia (Mt 16.18-19).
Funciona assim: reunida em assembleia, a igreja ouve as profissões públicas de fé; baseada no que ouviu dos candidatos, ela autoriza alguém a batizá-los, ou não (geralmente, o pastor, por ser ele o bispo— supervisor das almas [1Tm 3.1]; presbítero— pessoa responsável por ensinar [1Tm 5.17]; pastor— pessoa designada por Deus para cuidar do rebanho [1Pe 5.1-4]). Por isso que, na realização dos batismos, costumo dizer:
Baseado em sua pública profissão de fé, comissionado por Deus [Mt 28.18-20] e autorizado por esta igreja [Mt 18.18-20], eu batizo você, irmão(ã), em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
E os missionários? Missionários, que batizam lá no campo, estão vinculados e cobertos por suas igrejas locais que os enviaram para realizar a obra do ministério (ou pelo menos deveriam estar). Portanto, tendo sido o evangelho apostólico pregado no poder do Espírito Santo pelos missionários, e recebido com arrependimento e fé pelos que estão sendo discipulados, missionários batizam, autorizados pelas suas igrejas; assim é que nascem novas igrejas lá no campo missionário (igrejas plantam igrejas por intermédio dos missionários que ela envia — veja o caso da igreja em Antioquia, em At 13).
Batismo precisa ser conectado a uma igreja (Mt 18.18-20 e 16.18-19).
Quando “batismo” não é batismo
Hoje, concluindo esta série sobre batismo, focamo-nos nos casos em que “batismo” não é batismo. Se a sua experiência se encaixa em qualquer das condições apresentadas, espero que fique encorajado a buscar cumprir a ordenança bíblica, conforme nos orienta o Senhor e os autores inspirados do Novo Testamento.
Quando “batismo” não é batismo, a pessoa precisa ser devidamente batizada.
S.D.G. L.B.Peixoto
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